quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A CIDADANIA, A ÉTICA E AS RELAÇÕES DE TRABALHO

“Capítulo 2 – LIDERANÇA E ESPIRITUALIDADE

[...] Em contextos abertos para a excelência, o vínculo entre as pessoas se forma porque a ética permite que divergências ocorram de forma salutar, sem destruir o respeito e preservando espaço para o gozo estético: a satisfação e a felicidade profundas que experimentamos quando podemos produzir o belo, sendo este uma forma melhor de trabalhar, de proceder, uma solução brilhante, a solução de problemas recorrentes, dentre outros, participando de algo melhor. Os estudos de antropologia e neurologia apontam cada vez mais para a conclusão de que o ser humano nasce com propensão natural para a ética e para a moral, assim como nasce com propensão para a linguagem. A estética, que se confunde com ética de inúmeras formas, refere-se a essa capacidade humana para criar e para ter preferência pelo belo. Bom e belo confundem-se na cultura e no universo da emoção. A negação da possibilidade de produzir e usufruir do belo é uma forma de violência. Não há ética onde não há possibilidade de vivência estética.

Como a estética está diretamente relacionada à motivação e ao entusiasmo, não há motivação verdadeira onde essa dimensão humana é reprimida. [...]”
(CARMEN MIGUELES, in Liderança baseada em valores: caminhos para a ação em cenários complexos e imprevisíveis / Carmen Migueles & Marco Tulio Zanini (organizadores); Angela Fleury... [et al.]. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, páginas 58 e 59).

Mais uma IMPORTANTE contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADA NIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 8 de agosto de 2010, Caderno MEGACLASSIFICADOS/TRABALHO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL, página 2, de autoria de JÚLIO CÉSAR VASCONCELOS, Consultor organizacional, personal & professional coaching, que merece INTEGRL transcrição:

‘Ética e relações de trabalho

Urge como nunca falar e discutir sobre ética no Brasil nos tempos atuais neste nosso mundo globalizado. Segundo o Relatório 2009 da ONG Transparência Internacional, o Brasil ficou classificado (pasmem!) como o septuagésimo quinto país mais corrupto do mundo entre outros 180 países, com 3,7 pontos, numa escala de zero a 10. O problema é sério e precisa ser tratado de forma radical.

Se voltarmos na linha do tempo, desde os idos de 1500, vemos Pero Vaz Caminha, em sua famosa carta ao rei de Portugal, pedindo à Sua Alteza a “gentileza” de conseguir uma “boquinha” para seu genro Osório, que se encontrava degredado na África por ter roubado uma igreja e batido no padre:
“Vossa Alteza, que há de ser de mim muito bem servida, a ela peço que, por me fazer graça especial, mande vir da ilha de São Thomé a Jorge de Osório, meu genro, o que de lá receberei em muita mercê...”

Mais à frente, em 1808, encontramos D. João VI fugindo da invasão de Napoleão a Portugal e vindo para o Rio de Janeiro, na época com 60 mil habitantes, com toda a família imperial, além de uma enorme trupe de mais de 10 mil pessoas, entre serviçais, puxa-sacos e apadrinhados. Criou-se então a cerimônia do beija-mão, ritual por meio do qual os súditos do rei iam prestar-lhe homenagem, demonstrar submissão e, de quebra, pedir-lhe algum favorzinho para si e para seus familiares.

O problema é que a coisa se alastrou como praga, chegando aos dias atuais, atingindo todos os níveis, independentemente das classes políticas ou sociais.

Como professor da disciplina ética e relações no trabalho em cursos de pós-graduação, tenho tido oportunidades as mais variadas de ver o enorme estrago que a falta de ética produz na sociedade. Normalmente, peço aos alunos que descrevam e analisem casos em que eles observam o envolvimento de questões no trabalho, na comunidade, na sociedade e em seguida realizamos um seminário para compartilhamento das experiências relatadas.

A participação de todos é estimulante, acalorada, mas ao mesmo tempo dramática. Nos relatos, dilemas de meios e destinatários afloram em tomadas de decisões bastante questionáveis. A lógica maquiavélica dos fins justificando os meios, várias vezes, prevalece na prática. Algumas pérolas despontam para embasar justificativas lamentáveis:

“Se todos roubam, só eu não vou roubar?”
“Se o governo cobra impostos abusivos, nós temos mesmo é que sonegar.”
“É só um pequeno aumento no recibo do táxi para ajudar no salário.”

Os contraexemplos são os mais variados. Nesse rol aparecem relatos de alunos que assinam a lista de presença para colegas que faltaram às aulas, alunos que deixam colegas assinarem trabalhos nos quais não tiveram participação, tudo em nome do companheirismo e da amizade. Aparecem cidadãos que compra CDs piratas, profissionais vendendo recibos falsos para abater no Imposto de Renda, motoristas infratores pagando o policial corrupto livrá-los da multa, empregados levando pequenos objetos da empresa para casa, secretárias de paróquias pegando dinheiro da sacolinha do padre e uma lista interminável.

Em níveis mais avançados, surgem imagens retratando quantidades enormes de dinheiro publico, escondidos em meias, cuecas e malas, verbas desviadas com concubinas e viagens para inauguração de obras eleitoreiras, políticos vendo suas contas bancárias inflarem com dinheiro de verbas indenizatórias, benesses e propinas deslavadas.

Até a religião, que deveria ser um marco da moralidade, aparece nos relatos, traindo seus fiéis com enormes quantias de dinheiro fugindo do país em malas abarrotadas e crianças sendo sexualmente molestadas.

Depois do seminário, normalmente surge uma sensação de desconforto, interrogação e uma necessidade imperativa de mudar. Surge então no ar uma pergunta que não quer calar: como podemos cobrar lisura dos nossos representantes, se grande parte dos cidadãos não tem coerência necessária entre seus julgamentos, cobranças e atos? As eleições estão aí, como e quem nós vamos eleger para nos representar?

A conclusão surge de maneira traumática: é necessário rever urgentemente nossos princípios, valores, atitudes e hábitos. Se quisermos de fato mudar nosso país, temos que começar pela base, e esta base está dentro de nós e somente nós podemos mudá-la. Precisamos que a ética moral, respaldada em princípios e valores sólidos, prevaleça sobre a imoralidade. Em meio a tanto impropério e falta de integridade, vale a pena repetir os belíssimos versos da poetiza Eliza Lucinda, Só de sacanagem:

“A luz é simples, regada aos conselhos simples de meu pai, minha mãe, minha vó e os justos que o precederam: não roubarás, devolva o lápis do coleguinha, este apontador não é seu meu filho... Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear, mais honesto ainda eu vou ficar, só de sacanagem, mais honesto ainda eu vou ficar, só de sacanagem... Sei que não dá para mudar o começo, mas se a gente quiser vai dar para mudar o final!...”’

Está, pois colocado, de forma CONCISA, COMPETENTE, QUALIFICADA, um cenário que, longe de ARREFECER o nosso ânimo, muito mais, nos MOTIVA e nos FORTALECE nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que permita então a PARTILHA de suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para eventos como a COPA DO MUNDO DE 2014, a OLIMPÍADA DE 2016 e os projetos do PRÉ-SAL, que estejam IGUALMENTE comprometidos com VIGOROSAS ações na EDUCAÇÃO, na SAÚDE, no SANEAMENTO AMBIENTAL (vale dizer: água TRATADA, esgoto TRATADO, lixo TRATADO e drenagem pluvial), HABITAÇÃO, TRABALHO-RENDA-EMPREGO, MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE URBANA, RODOVIAS, FERROVIAS, HIDROVIAS, PORTOS, AEROPORTOS, ARMAZENAGEM, ENERGIA, SEGURANÇA PÚBLICA, CIÊNCIA e TECNOLOGIA, PESQUISA e DESENVOLVIMENTO, TELECOMUNICAÇÕES, CONECTIVIDADE, QUALIDADE-PRODUTIVIDADE-COMPETITIVIDADE, AGREGAÇÃO DE VALOR... e sempre segundo as exigências da MODERNIDADE, da era da GLOBALIZAÇÃO, do CONHECIMENTO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um mundo da PAZ e FRATERNIDADE UNIVERSA...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...

Um comentário:

Anônimo disse...

Como professora, de certa forma formadora de opiniões, concordo com o absurdo cultural do "jeitinho brasileiro", em nome da "facilidade". É cultural, mas não eterno, ainda podemos mudar alguma coisa, em nossas cabeças e de nossos jovens.
Parabéns pelo artigo.