sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A CIDADANIA E O DESEJO DE SER FELIZ

“[...] No entanto, há milhões de pessoas que, ainda hoje, não têm acesso à comida e à bebida. O maior escândalo deste início de século e de milênio é a existência de pelo menos 1 bilhão de famintos entre os 6,5 bilhões de habitantes da Terra. Só no Brasil, 30 milhões estão excluídos dos bens essenciais à vida. E inúmeras pessoas trabalham de sol a sol para assegurar o pão de cada dia. Em toda a América Latina morrem de fome, a cada ano, cerca de 1 milhão de crianças com menos de 5 anos.

A fome mata mais que a Aids. No entanto, a Aids mobiliza campanhas milionárias e pesquisas científicas caríssimas. Por que não há o mesmo empenho no combate à fome? Por uma simples razão: a Aids não faz distinção de classe social, contamina pobres e ricos. A fome, porém, só afeta os pobres.
Não se pode comungar com Jesus sem comungar com os que foram criados à imagem e semelhança de Deus. Fazer memória de Jesus é fazer com que o pão (símbolo de todos os bens que trazem vida) seja repartido entre todos. Hoje, o pão é injustamente distribuído entre a população mundial. Basta dizer que 80% dos bens industrializados produzidos no mundo são absorvidos por apenas 20% de sua população. Ou seja, se toda a riqueza da Terra fosse um bolo dividido em 100 fatias, 1,6 bilhão de pessoas ficariam com 80 fatias. E as 20 fatias restantes teriam de ser repartidas para matar a fome de 4 bilhões e 900 milhões. Basta dizer que apenas quatro homens, todos dos EUA, possuem fortuna pessoal superior à riqueza somada de 42 nações subdesenvolvidas, que abrigam cerca de 600 milhões de pessoas!

Jesus deixou claro que comungar com ele é comungar com o próximo, sobretudo com os mais pobres. No “pai-nosso” ensinou-nos uma oração com dois refrões: “Pai nosso” e “pão nosso”.

Não posso chamar Deus de “Pai” e de “nosso” se quero que o pão (os bens da vida) seja só meu. Portanto, quem acumula riquezas, arrancando o pão da boca do pobre, não deveria sentir-se no direito de se aproximar da eucaristia. No capítulo 25, 31-44 de Mateus, Jesus enfatiza que a salvação se sujeita ao serviço libertador aos excluídos, com quem ele se identifica. E na partilha dos pães e peixes, episódio conhecido como “multiplicação dos pães”, Jesus ressalta a socialização dos bens da vida como sinal da presença libertadora de Deus.”
(FREI BETTO, em artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de abril de 2010, Caderno CULTURA, página 10, intitulado Comungar).

Mais uma igualmente IMPORTANTE e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 17 de agosto de 2010, Caderno OPINIÃO, página 11, de autoria de SÉRGIO CAVALIERI, Presidente da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa de Minas Gerais (ADCE-MG), que merece INTEGRAL transcrição:

“E a felicidade?

A qualidade de vida das pessoas não pode ser medida exclusivamente por um conjunto de fórmulas e indicadores econômicos com se faz quando se calcula o Produto Interno Bruto (PIB) de um país, índice que, de forma enviesada, representa a soma de todas as riquezas produzidas dentro das fronteiras nacionais. Essa é a premissa que caracteriza a nova sociedade do século 21, que privilegia a felicidade das pessoas no ambiente em que vivem, em que trabalham e em que se relacionam com outras pessoas. O PIB, portanto, já não é mais o senhor absoluto de todas as verdades quando se mede o desempenho da economia de um país. Um PIB elevado pode não traduzir uma economia saudável, que cumpra o seu objetivo maior de proporcionar qualidade de vida e bem-estar à sociedade. A partir dessa constatação, outros índices estão sendo criados para complementar e abrandar a frieza das informações contidas no PIB – um deles é o Índice de Valores Humanos (IVH), de responsabilidade do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Com foco nas áreas da educação, saúde e trabalho, o IVH reflete as expectativas, sonhos, percepções e aspirações da sociedade, funcionando como bússola eficaz na definição e implementação de políticas públicas.

É um avanço em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que contempla apenas três dimensões – educação, renda e longevidade – e, assim, como o PIB, se fundamenta em dados objetivos e matemáticos, que nem sempre mostram a percepção das comunidades pesquisadas. Não é nosso objetivo discutir os números do IVH brasileiro, calculado e divulgado pela primeira vez este ano pelo Pnud, embora eles revelem a existência de dois Brasis – o do Sul/Sudeste e o do Norte/Nordeste. Vale dizer: a realidade que o PIB brasileiro mostra nos últimos anos não é exatamente a mesma registrada pelo IVH. Contradições como esta têm estimulado o surgimento de novos índices, que, assim, como o IVH, buscam suprir as deficiências e o cartesianismo do PIB. Um deles é FIB, índice que se propõe a medir a “felicidade interna bruta” da sociedade de uma nação. Trata-se de uma iniciativa do presidente francês Nicolas Sarkozy, apoiada por gente de peso, entre eles o economista Joseph Stiglitz, professor da Columbia University e Prêmio Nobel de Economia em 2001. Stiglitz justifica sua posição dizendo que não é suficiente apenas medir a produção da economia: é preciso medir também o bem-estar das populações. Já o Índice do Planeta Feliz (IPF), criado na Inglaterra, leva em conta indicadores do grau de satisfação das pessoas, bem-estar, expectativa de vida, bem como os impactos causados pela sociedade à natureza. Faz muito sentido: o IPF, por certo, seria capaz de mensurar os resultados negativos do desastre ecológico provocado pelo vazamento do poço da British Petroleum, no Golfo do México. Este, na verdade, é um debate que também mobiliza a atenção dos dirigentes cristãos de empresas, como fica explícito na Declaração de Cochabamba, divulgada em junho, ao término do 10º Simpósio que reúne anualmente o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) e a Uniap-LA, entidade que representa as ADCEs do nosso continente. A Carta é clara ao defender uma economia de mercado solidária, que incorpore as pessoas e faça com que a riqueza gerada pela economia, como mede o PIB, resulte no bem comum, sendo benéfico para todos os segmentos da sociedade, como propõe o IVH, o FIB e IPF, especialmente em relação aos mais empobrecidos e excluídos.

Ser empresário neste começo de século – especialmente ser empresário cristão – significa compreender que o homem não será humano se não for irmão; que o capital humano é o primeiro capital e que as empresas são sociedades de capital, mas, antes, são sociedades de pessoas. Também significa promover e difundir na empresa o sentido da ética e o compromisso social, os direitos fundamentais, especialmente o direito à vida, à saúde, à educação e ao trabalho, à água, à terra e ao ar, exatamente as variáveis consideradas, em índices como o IVH e o FIB, como essenciais à qualidade de vida do mundo contemporâneo e das gerações futuras. Pode parecer um posicionamento ingênuo. Não é. O IVH e o FIB não se opõem à produção, nem aos índices tradicionais utilizados para medi-la. Cumprem, isto sim, a sempre oportuna missão de lembrar que o crescimento econômico não pode ser objetivo que se encerre em si mesmo e que, ao contrário, deve promover o desenvolvimento humano, atender às aspirações dos cidadãos, respeitar seus valores e princípios, gerando desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e felicidade.”

São, pois, páginas que nos mostram em PROFUNDIDADE as novas CONCEPÇÕES que demarcam o SÉCULO XXI e o novo MILÊNIO e nos MOTIVAM e nos FORTALECEM nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, LIVRE, SUSTENTAVELMENTE DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que possa PARTILHAR suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, segundo as exigências aqui adequadamente expostas, da era da GLOBALIZAÇÃO, do CONHECIMENTO, da INFORMAÇÃO, das NOVAS TECNOLOGIAS e da SUSTENTABILIDADE, e também de um mundo da PAZ, FRATERNIDADE e FELICIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...

2 comentários:

Anônimo disse...

Interessante este foco de medir o bem estar da população. Vemos que alguns empresários já partem para a nova concepção que novo o mundo globalizado de que não basta ter as necessidades básicas atendidas para se alcançar o desenvolvimento e crescimento tão almejados. tem que haver bem estar social e que o maior motivador das pessoas já não é mais apenas os altos salários, mas a satisfação diante da vida e do trabalho. Empresas já investem em transformar o local de trabalho em acolher e se preocupa com a felicidade do empregado. Bem os governos também terão que se adequar e ver que não se mede mais apenas os índices economicos e tem sim que buscar o bem-estar social. li um artigo que dizia que somente é o verdadeiro vencedor aquele que faz outros crescerem com ele e para isto, ser cristão e buscar subir com o outro e não por cima dele é o caminho para que quer estar no topo.

Anônimo disse...

Enriquece as presentes páginas o artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 30 de agosto de 2010, Caderno ECONOMIA, página 12, Coluna BRASIL S/A, de autoria de PAULO PAIVA:

"Civilização míope

Estou diante de um fantástico artigo do economista Jeffrey Sachs, diretor do Instituto da Terra na Universidade Columbia. O artigo é sobre o reino de Butão, vizinho da Índia, encravado no Himalaia. Ali, reina o budismo. E acredite: o pequeno reino do Butão tem muito o que ensinar ao vasto Ocidente.

A principal lição é: para os governantes do Butão, o desafio econômico não é o "crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas da Felicidade Interna Bruta", (GNH, na sigla em inglês), diz Sachs. O significado disso é uma diferença brutal na forma de se conduzir a economia de um país.

Dentro da filosofia budista, parte da GNH gira em torno da satisfação de necessidades básicas, "como saúde, redução da mortalidade materna e infantil, maior conquista educacional e melhor infraestrutura, especialmente eletricidade, água e saneamento", frisa o artigo.

Mas o GNH vai além. Ele indaga, por exemplo, como o crescimento econômico pode ser combinado com sustentabilidade educacional, e "como as pessoas podem manter sua estabilidade psicológica numa época de mudanças velozes, marcadas por urbanização e uma investida dos meios de comunicação globais numa sociedade que não tinha televisões até uma década atrás".

Questionado sobre o GNH e o significado da felicidade num fórum sobre desenvolvimento, o premiê do Butão, Jigme Thinley deu uma resposta singular: "Cada um de um nós é um ser físico e frágil. Quantas bobagens - alimentação inadequada, comerciais de TV, carrões, novos aparatos eletrônicos e modas mais recentes - podemos enfiar em nós mesmos sem desregular o nosso próprio bem-estar psicológico?". Boa pergunta.

Pedidos

Ao contrário do Butão, o Ocidente é cristão. Os ensinamentos de Buda e Cristo não são muito diferentes. Diferente é a forma como são vividos.

Aqui, o que manda é o consumismo desenfreado. Cristo é visitado nas igrejas de vez em quando. E a maioria dos pedidos que recebe de seu rebanho é de bens materiais.

O Brasil, particularmente, vive uma onda consumista sem precedentes. A ascensão econômica das classes C eD está movimentando bilhões de reais em compras. As classes A e B, teoricamente a elite do país, têm currículo de 500 anos de miopia, estupidez, falta de amor à pátria e nenhum projeto para país. E o que dói é perceber que tudo que a turma C e D quer é se parecer com os cegos da A e B.

É o que mostra, por exemplo, pesquisa de André Torretta, fundador da consultoria A Ponte Estratégica, publicada no podcast Rio Bravo. A pesquisa é sobre o conceito de luxo dos emergentes da classe C. De acordo com a Ponte Estratégica, existem três tipos de luxo para esta nova classe média (renda familiar mensal de R$ 1.115,00 a R$ 4.807,00): o inatingível, o luxo da autoestima e o luxo do pertencimento.

Na cobertura

O inatingível é verbalizado como o "cara" que mora na cobertura, tem um carro importado e sapatos caríssimos. Já "o luxo da autoestima", diz Torretta, "é muito ligado à área de moda e acessórios. Uma marca para eles é algo muito diferente do que é para nós. Nós queremos ter o que ninguém tem. A nova classe média quer ter o que o que todo mundo tem".

O luxo do pertencimento é o mais sensível de todos. Eles verbalizam que o luxo de pertencer à sociedade é ser bem atendido numa loja, por exemplo. "Um dos entrevistados diz que adora usar terno e gravata porque entra nas lojas e as pessoas o recebem bem", completa Torretta.

Nosso drama

Este é nosso drama. Somos um país de cegos formando cegos. A inteligência está morta. Questionar a política econômica é quase um crime. Todos falam que vamos virar uma potência, mas ninguém pergunta o preço.

Se novo, peço ajuda a Cazuza: "Brasil, esta é a sua cara. Mas, grande pátria, em nenhum instante eu vou de trair"."