segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A CIDADANIA, AS PRIMÍCIAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL E UMA NOVA POLÍTICA BRASILEIRA

“Brincadeiras que ensinam
        Os bebês nascem com as capacidades de ver, ouvir e realizar ações reflexas, como fechar os olhos quando uma luz forte os atinge. Durante os primeiros anos de vida, eles desenvolvem habilidades diversas, desde as mais básicas, até algumas de maior complexidade, como falar e andar. O crescimento físico é muito rápido durante a fase lactente e se estabiliza lentamente até a puberdade. Enquanto a infância transcorre, as habilidades intelectuais aumentam e as capacidades motoras são refinadas. As crianças começam a entender melhor o mundo ao redor e a assimilar regras, cores, formatos etc. Também adquirem comportamentos sociais, como sorrir, para interagir com as pessoas à sua volta, ou chorar, para demonstrar dor, fome ou descontentamento.
         Em razão dessa expansão das habilidades da criança, as brincadeiras corporais são de grande importância. Brincando, ela não apenas se diverte, mas também recria e interpreta o mundo em que vive. Constrói conhecimentos e desenvolve capacidades importantes, como atenção, memória, imitação e imaginação, entre outras. Ao brincar, a criança potencializa seu desenvolvimento, já que assim aprende a conhecer, a fazer, a conviver e, sobretudo, a ser. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, as brincadeiras proporcionam a ampliação da linguagem e do pensamento. Nesse sentido, a participação dos pais é essencial. A maneira como eles interagem com os seus filhos e as atividades compartilhadas entre si certamente fazem toda a diferença no amadurecimento e no ganho de autonomia. Nesse ato de brincar, as posturas e os gestos da criança integram o que classificamos de “ato motor”: subir e descer, andar, correr, entrar debaixo dos móveis, rolar no chão, imitar os bichos etc. Ao brincar de roda, por exemplo, a criança coordena o movimento do corpo conforme o ritmo da música e do grupo, favorecendo, além das habilidades motoras (equilíbrio, capacidade de engatinhar, de andar, de pegar objetos etc.) e da organização do seu corpo no espaço – ao aprender a se desviar de objetos e evitar tropeços e pancadas –, a socialização. Enquanto brinca, ela integra corpo, símbolos e regras, combinação responsável por sua inserção no mundo histórico e cultural. Ao interagir com seus colegas e ao manipular objetos, a criança desenvolve a capacidade de construir referenciais de comunicação, pois, quanto maior o “vocábulo” gestual e, por conseguinte, as possibilidades de comunicação intermediadas pela linguagem corporal. Oferecer à criança variedades de objetos como retalhos de pano, panelas, colher de pau, garrafas plásticas ou sapato do pai ou da mãe possibilita que ela crie novas maneiras de brincar e contribui para a construção de sua personalidade.
         A criança é corpo e movimento em tudo que ela faz. Seu corpo é ativo no espaço que ocupa, comunica-se e interage com os outros ao seu redor. Ele necessita estar, ser, sentir, expressar-se. Chora, ri, grita, corre e brinca. A linguagem presente no gesto e nos movimentos, simples ou complexos, permite a ela ser e estar no mundo – o mundo da diversidade – que faz com que cada uma procure formas de imitá-lo e interpretá-lo para aprender a viver.”

(GISLAINE CAETANO CARVALHAR, psicóloga-psicopedagoga e arte-terapeuta, vice-diretora da Trilha da Criança Centro Educacional, e FLÁVIA MEDRADO, pós-graduada em educação infantil, professora da Trilha da Criança Centro Educacional, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 14 de agosto de 2015, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Reconstrução política
        A reconstrução política é meta basilar neste momento crítico vivido pela sociedade brasileira. Trata-se de prioridade, que deve anteceder qualquer questão meramente partidária. É incontestável a necessidade de se promover uma qualificação específica no âmbito dos partidos, que precisam superar os interesses cartoriais e o fisiologismo. Quando se priorizam interesses mesquinhos de grupos, são comprometidas instâncias democráticas e cidadãs, produzindo crises. É lamentável quando o âmbito partidário torna-se um “quartel” na defesa de interesses de poucos, na contramão da cidadania, para alimentar esquemas de corrupção e a depredação do erário.
         Os desvirtuamentos da política em razão das mediocridades partidárias são evidentes, urgindo reconfigurações mais radicais. O problema é que há resistências de todo o tipo. Basta analisar o tanto que se discutiu a respeito da reforma política. A casa maior do Legislativo não conseguiu assimilar contribuições sérias e com força para conduzir a política partidária no rumo de uma qualificação melhor. É terrível a postura de certos políticos, que deveriam exercer a nobre missão de representar o povo e de se colocar a seu serviço com lucidez legislativa capaz de reorientar caminhos. Hoje, por exemplo, no “olho do furacão” da crise econômica, agravada pela crise política, alguns representantes da população, em causa própria, votam aumento de seus próprios salários. Exemplar, cidadã e destemida foi a atitude de uma comunidade que impediu a vereança do seu município de aumentar os próprios vencimentos.
         Há, na verdade, uma “ladainha” de vícios no âmbito da política partidária que precisa de correções, retardadas pela falta de estatura dos que se oferecem à tarefa-missão de representar o povo, suas comunidades e seus interesses. Condenáveis são as disputas partidárias, o tirar proveito de situações, a atitude de se apresentar como tendo “a carta na manga” para solucionar problemas complexos. Percebe-se que é preciso uma reconstrução política que atinja as raízes da cidadania. Para isso, é necessário, agora, aprender as lições que toda crise ensina, numa cultura cidadã nova e diferente. Ao lado do empenho nos urgentes entendimentos políticos, para a formação de consenso em torno de agendas que viabilizem a superação da crise econômica, é hora de um pacto de reeducação cidadã.
         Não basta apenas corrigir as instâncias governamentais e as instituições políticas. É preciso convocar cada cidadão, da criança ao mais velho, a acolher e a refletir sobre o peso próprio da crise. Não se pode correr o risco de deixar essa discussão simplesmente na mesa dos representantes do povo, dos governos. As pancadas nas panelas – como legítima manifestação de protesto cidadão – precisam ser martelos na consciência de todos. Assim, será possível alcançar uma sensibilidade que sustente atitudes na contramão do consumismo, do desperdício, da indiferença para com os pobres e do desrespeito ao bem comum. Também poderá ser superada a produção que busca somente o lucro, dando lugar a razões nobres e próprias de uma cidadania que consegue ir além de interesses particulares.
         É importante e indispensável que as lições das crises “martelem” as consciências na mesa das casas de cada família, nas salas das escolas, nos templos religiosos, no auge dos shows artísticos, nas festas e eventos de todo tipo, nas manifestações públicas e em cada coração. Trata-se de caminho para obter o entendimento e a lucidez que são necessários diante das muitas adversidades. Existem saídas para as crises. Porém, elas não são encontradas, porque, de modo geral, não se quer abrir mão de privilégios, reconfigurar gastos, orçamentos e projetos.
         Pode-se chegar ao absurdo de não se mover, esperando que alguém ou alguma instância “faça milagre”, na ilusão de depois continuar a usufruir de benesses até então garantidas. Isto é prática que revela mesquinhez. Das crises, podem nascer consequências positivas. Basta lembrar que certos países, em período pós-guerra, reconfiguraram o tecido de sua cultura para se reerguerem e avançar no que é interesse de todos. Que o momento atual da sociedade brasileira torne-se oportunidade para as mudanças necessárias, particularmente em uma reconstrução política que ampare o exercício da cidadania.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
      
     b) o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em  junho a marca de 372,0% ao ano... e mais, em julho, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade    “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br) (e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!  
  
             


     

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