“Há
modelo de educação?
Ao olharmos para a
história da educação no Brasil descobrimos – ou relembramos – que ela é
recentíssima. Há um século, frequentar a escola ou ter professores tutores era
para poucos seletos. Ilustres nobres. Essa realidade vem mudando, mesmo que
lentamente. E de lá para cá não é possível negar as tecnologias, as mudanças e
os paradigmas que o mundo em constante transformação impôs e impõe a cada dia.
A
partir das nossas vivências aprendemos que as pessoas se transformam ao longo
de suas vidas e trajetórias. Os conceitos vão mudando e a educação muda na
mesma velocidade. Hoje, há certa exigência para que a educação “acorde”. É como
se uma pressão forçasse os muros da escola para que a “vida real” entrasse no
seu espaço. O modelo do passado e o que vigora hoje se distinguem, mas têm a
mesma essência: existe um conteúdo a ser seguido, um livro a ser concluído, um
planejamento pronto. O mundo mudou à revelia na última década, mas na escola
permaneceu o “modelo”, apesar de toda a diferença global. Resistir às
diferenças e às mudanças é impor padrões a pessoas e a “brasis” tão diversos.
Existo um nó a ser desfeito nessa relação de transformação. De tempos em tempos
há alguém para provocar olhares para o “novo”. Nos tempos atuais, o que se instala
é o “novo modelo” de educação. Se as pessoas são diferentes e mudam, como
encontrar um modelo educacional? Não há modelo! O momento é de quebra de uma
bengala que amparava um caminhada de pouco investimento na educação. É preciso
trocar a bengala por lentes de aumento. Muitos e grandes teóricos já falavam
sobre letramento há décadas e, hoje, se discute leiturização. Em vez de o
professor retirar da cartola algo do currículo, ele fomenta uma discussão a
partir do que está acontecendo no mundo, no que o atinge de maneira direta.
Existe a preocupação em estimular para, a partir de então, juntos estudarem as
questões propostas. É premente uma sala de aula interdisciplinar, que propõe
uma quebra dos muros que separam o que é bom de ser estudado. Antes, o
professor detinha o conhecimento e sozinho ensinava, do seu jeito, da maneira como
aprendeu. Caso acontecesse algo que o sujeito destoasse do grupo, a culpa da
não aprendizagem era dele e da família.
Na
escola que se pretende fora do modelo, inclusão é a palavra de ordem. As
pessoas são diferentes e por isso aprendem de formas diferentes. Trocam-se os
métodos para se adequarem as dificuldades do aluno.
O
letramento amplia as possibilidades de o aluno chegar ao conhecimento por
formas diversas. Como o professor pode ser detentor do conhecimento num mundo
globalizado? Impossível! O professor detém vários conhecimentos, mas sua maior
especialização é na metodologia. Hoje, a compartimentalização que antes era
considerada didática é rompida. Uma escola que se organiza a partir de
experiências é uma escola mais humanizada. É premente mudar o mundo e a mudança
começa na escola de cada bairro para que o lastro seja de oportunidade de
mudança e de crescimento de fato e direito.”
(CAROLINA
SANTANA. Professora de pedagogia do Uni-BH, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de agosto
de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
18 de agosto de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de VIVINA DO C. RIOS BALBINO, Psicóloga,
mestre em educação, professora aposentada pela Universidade Federal do Ceará e
autora do livro Psicologia e psicologia escolar
no Brasil, e que merece igualmente integral transcrição:
“Reflexões
sobre o Enem
Em 2014, quase 16 mil
escolas de todo o país foram às provas objetivas e de redação do Enem,
totalizando quase 1,3 milhão de estudantes, mas, infelizmente, a presença de
escolas públicas com as melhores médias do Brasil nas provas continua minoritária.
A escola pública com melhor média aparece somente na 22ª posição do ranking: o
Instituto Federal do Espírito Santo, em Vitória, colégio técnico que seleciona
seus alunos. A melhor escola pública é o Colégio Aplicação da Universidade
Federal de Viçosa (UFV), que ocupa a nona posição no ranking e é a única
pública entre as 20 melhores escolas do Enem 2014.
As
outras escolas públicas que aparecem entre as 100 melhores no Enem são: Colégio
Aplicação do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (21º);
Instituto Federal do Espírito Santo – IFES Vitória (32º); Colégio Militar de
Belo Horizonte (66º); Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (88º); Colégio Militar de Juiz de Fora
(92º); Câmpus I BH – Cefet – MG (94º); Colégio Pedro II – Câmpus Centro (99º);
e Colégio Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (100º).
Fato importante a destaca: todas elas são escolas públicas diferenciadas:
técnicas, militares ou ligadas a alguma universidade. As escolas públicas
tradicionais continuam com baixo resultado, e isso deve ser objeto de
discussões e melhorias.
O
ranking nacional por médias novamente é liderado pelas particulares com perfis
de alunos de classe média alta: Objetivo Integrado de SP pelo sexto ano
consecutivo tem a maior média dos alunos, com 742,96 pontos; Colégio de
Aplicação Farias Brito de Fortaleza, com 737,88; Olimpo de Goiânia, com 735,02;
Christus Colégio Pré-Universitário de Fortaleza, com 731,38; e Bernoulli
Unidade Lourdes de Belo Horizonte, com 730,33 pontos. Entre as 20 melhores
escolas com as melhores médias nas provas objetivas (linguagens e códigos,
matemática, ciências humanas e ciências da natureza) e que tiveram índice de
permanência na escola superior a 60%, 18 são particulares e duas são federais.
Infelizmente,
observa-se cada vez mais que, estrategicamente e visando lucros, muitas grandes
escolas particulares selecionam turma de “alunos com alto rendimento” com CNPJ
diferente, formando uma pequena e nova escola anexa à grande e que compete
garantindo as notas altas do Enem e muitos lucros. Penso que a qualidade do
ensino brasileiro em geral deve ser a meta de todos os exames do Ministério da
Educação (MEC), desestimulando qualquer estratégia de manipulação de dados. O
ranking 2014 confirma a desqualificação do ensino público e mostra o aumento
das perversas práticas das grandes escolas particulares de “querer a alta
performance” de um pequeno grupo talentoso no topo das médias tão distantes da
situação real das escolas públicas brasileiras. Esse panorama precisa ser
repensado e, principalmente, as escolas públicas precisam melhorar. Continuam
os antigos problemas: má formação do educador, más condições de trabalho, baixo
salário e dificuldade de colocar em prática um currículo com foco na
competências e habilidades. De posse dos dados de Prova Brasil, Provinha
Brasil, Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e Enade, o MEC deveria
apresentar também projeto de melhorias.
Penso
que os amplos dados dos exames, MEC precisam ser mais debatidos e melhorados.
Afinal, esses exames têm alto custo e visam melhorias de ensino para todos os
alunos, e não para turmas segmentadas de “talentosos” representando um grande
colégio particular para fins lucrativos. Enquanto a média nacional é de 517,60
pontos, a médias das 20 escolas com pontuação mais alta sobe para 717,60.
Considerando a nota da redação, a diferença entre as 20 melhores escolas e a
média brasileira é ainda muito maior. Essa desproporção absurda e injusta
precisa ser analisada, e melhorias, promovidas, para que os alunos do ensino
médio de todas as escolas, especialmente públicas, de norte a sul, possam ser
beneficiados com o ensino de qualidade, proporcionando também o acesso às
universidades públicas brasileiras.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em junho a marca de 372,0% ao ano... e mais, em
julho, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo
Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos
os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune
à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais.
De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e
do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de
burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br) (e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
O BRASIL
TEM JEITO!
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