quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A CIDADANIA, AS EXIGÊNCIAS DA REFORMA HUMANA E A LUZ DA SUSTENTABILIDADE (12/12)

(Agosto = mês 12; faltam 12 meses para a Olimpíada 2016)

“Reforma humana e valores reais
        Reforma. Ultimamente, essa é uma das palavras mais pronunciadas nos meios de comunicação do nossos país. Vira e mexe ela está sendo balbuciada por alguém. Travam-se intermináveis discussões a respeito da reforma política, da reforma previdenciária, da reforma econômica, da reforma do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), da reforma trabalhista, da reforma do Judiciário. São tantas reformas que levam a crer que está tudo completamente estragado, paralisado, precisando, portanto, ser refeito.
         Mas em meio a toda essa discussão parece que o pivô central de todas as reformas, que é o próprio ser humano, está se esquivando das suas responsabilidades e, como sempre, delegando ao “sistema” (que precisa ser substituído e não reforma) a totalidade da culpa dos nossos fracassos nacionais. A principal reforma pela qual precisamos passar é a reforma humana, estamos precisando a aprender a ser gente.
         Voltando um pouquinho na história da humanidade, veremos no passado semelhanças, alguns exemplos, das mesmas situações, observando a essência das coisas, que acontecem até hoje e que foram mencionadas no parágrafo anterior.
         Um dos maiores impérios da humanidade, o Império Romano, é caracterizado por uma atitude muito simples que colocaram em prática: dividiram a população em dois grupos – existia o povo romano, que merecia todas as glórias, e o povo bárbaro, que eram todos aqueles que não eram romanos. Independentemente de onde eram e de como viviam, estes mereciam ser perseguidos, se fosse preciso escravizados... eram vistos como segunda categoria de gente.
         Uma das maiores religiões ocidentais, infelizmente, fez, em certa época, a mesma coisa, dividindo as pessoas em dois grupos: católicos e não católicos. Os primeiros dignos de todas as benesses divinas, e os segundos, pessoas consideradas desalmadas, ditas como bruxas, merecedoras das chamas da inquisição da Inquisição e de todos os estragos provocados pelas cruzadas. Nos dias atuais, estamos presenciando o movimento ao contrário, os que foram perseguidos hoje perseguem. A semente do encalço parece ter germinado e os frutos estão aí, vistos todos os dias nos noticiários.
         Com o processo de expansão dos povos europeus, a partir das grandes navegações, não é que a história se repete? Os europeus consideravam-se civilizados, avançados, e todos os povos que foram “conquistados”, “descobertos”, foram considerados por eles “raças inferiores”. E a justificativa: viviam de uma forma diferente, eram seres sem alma. Houve um período em que os nativos, das diversas regiões do planeta, foram vistos e tratados como animais.
         Terceiro milênio, a dicotomia continua. Separamos as pessoas em indivíduos da esquerda e da direita; sujeitos homoafetivos e heterossexuais; católicos e protestantes; islâmicos e cristãos; rurais e urbanos; intelectuais e analfabetos; ricos e pobres; negros e brancos. E o que é mais importante vai ficando de lado: a reforma humana.
         Ao analisar o passado, verificamos que, ao defender “bandeiras”, modelos, milhares de pessoas foram exterminadas, excluídas. Independia de serem essas pessoas boas ou ruins, honestas ou desonestas, justas ou injustas, o jeito dominador de ser imperava e ponto final.
         Mas, afinal de contas, o que seria a reforma humana? Significa começar a enxergar os valores que realmente interessam. E os valores são honestidade, sensatez, hombridade, zelo, caráter, sensibilidade. E isso não tem relativismo. Significa valorizar a pessoa além das suas crenças, credos, gostos e jeitos, significa ter atitude de gente; significa acreditar que ainda é possível construir uma sociedade mais justa e fraterna.
         O que adianta uma pessoa ser branca ou negra, católica ou protestante, homo ou hétero, letrada ou analfabeta, ser filiada a esse ou àquele partido se suas atitudes são preconceituosas, discriminatórias, malfazejas, injustas, corruptas e desumanas? Acabará colaborando com todas as mazelas da sociedade.
         Imaginemos agora o contrário, não importando se a pessoa for branca ou negra, católica ou protestante, homo ou hétero, letrada ou analfabeta, filiada a esse ou àquele partido. Se ela pratica a caridade, a justiça, cuida do bem comum, valoriza as pessoas, cultiva os valores humanos, não seria maravilhoso? Estará colaborando, com toda a certeza, para uma sociedade equilibrada, justa, digna da vida humana.
         Todas as outras reformas só darão certo quando o ser humano der certo. Quando conseguir sair do casulo, da máscara, como diria Platão, da caverna. Quando permitir-se atravessar os ritos da metamorfose ambulante. Quando deixar de, a qualquer preço, defender bandeiras, estereótipos, convicções que desumanizam. Caso contrário, ficaremos eternamente secando gelo e nunca veremos nossos intermináveis problemas começarem a ser resolvidos. Já passou da hora de valorizarmos o que realmente interessa!”.

(WALBER GONÇALVES DE SOUZA. Professor do Centro Universitário de Caratinga – MG, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 4 de agosto de 2015, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 11 de agosto de 2006, mesmo caderno, página 11, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Contribuição da escatologia
        Escatologia não é um vocábulo usual na linguagem comum das pessoas. Na verdade, deve ser um campo de significação ainda bastante desconhecido. Até mesmo porque sua etimologia deita raízes na língua grega. Apesar de ser comum o uso de vocábulos advindos da cultura helênica, na língua portuguesa, este não é suficientemente um tempo de profunda formação humanística e de conhecimentos que refinam o sentido da vida ou especializam as pessoas para o relacionamento, talvez como em tempos idos. Aliás, essa falta de formação humanística, em geral, está comprometendo o sentido de urbanidade que deve, com dinâmicas próprias, presidir o relacionamento humano e garantir que não se perca o sentido hierárquico das relações e das significações nas instituições que compõem a sociedade. Do contrário, vão aumentar cada vez mais as manifestações insanas de delinqüência que estão nutrindo o caos da violência nas cidades, a falta de limites e exacerbado subjetivismo norteando comportamentos antiéticos e nada cidadãos. Se não houver cuidado especial e atenção redobrada, a sociedade se inviabilizará. Entre as ditaduras sobressairá aquela do subjetivismo, mesmo de tipo grupal, num desrespeito total aos valores que ajudam na relativização de posições e considerações para dar espaço ao que interessa ao bem de todos, em geral, e fortalecimento das instituições a serviço na sociedade. O mundo, então, vai se tornar, cada vez mais, um inferno de horrores, arbitrariedades e perversidades. Não haverá, absolutamente, a paz para ninguém. Essa é uma indicação que não pode deixar na ilusão os que pensam que guerras, tirando a tranquilidade, estão acontecendo apenas do outro lado do mundo. Não é verdade.
         Ainda que alguns desfrutem de suas condições pacatas e se deleitem de suas benesses, algo atingirá sempre o coração humano impedindo-o de livrar-se dessa angústia infernal que está sendo espalhada como joio venenoso nos corações. E as guerras cobrirão, nas suas diferentes modalidades, como uma grande capa, o mundo, de norte a sul e de leste a oeste. O conteúdo tratado nesse campo do saber, a escatologia, desperta pouco interesse numa dinâmica cultural que se pauta mais pelo descartável. Escatologia é um campo do saber teológico que trata das coisas últimas. Ora, as coisas de agora é que interessam, de verdade. A cultura contemporânea define sua dinâmica, prioritariamente, no tratamento das coisas e questões do momento. O que interessa mais, é o hábito, são as questões momentosas. De modo geral, essas questões tomam o lugar do que é, de fato, mais importante, e do é essencial na construção da vida e na correção de rumos para que a sociedade vença a institucionalização da injustiça e a concepção feudal e pouco solidária e cristã que está configurando o cenário da hora atual. Vale aqui levar em consideração a observações de bons analistas quando apontam que, hoje, desperta mais interesse, por exemplo, o caso de delinqüencia de uma filha, que arma a morte dos pais e depois vai ficar com seu companheiro assassino, do que as discussões substantivas que interessam para dar rumo novo à sociedade. Há uma opção clara por aquilo que instiga e fustiga, mais do que por aquilo que constrói, corrige e aprofunda. Assim, se alimenta um quadro de incontáveis deslizes éticos, desrespeitos e inversão de papéis confundindo a significação real dos funcionamentos. É preciso que a sociedade se pergunte, cada vez mais, pela gênese desse fenômeno, antes que seja tarde demais.
         A escatologia tem uma contribuição importante fazendo par com outras áreas do saber humano. Ela pode oferecer a compreensão e os elementos para a superação dessa perda terrível de raízes na história contemporânea. Essa perda de raízes se revela, pois, na violência crescente contra nações, culturas, povos e pessoas. Há uma grande desorientação num mundo que está sem bússola. Há uma perda de referências e de limites que gera arbitrariedades e leva às opções carentes de critérios. Valem os próprios critérios. Fora dos próprios critérios não pode se fazer nada e nada pode ter validade. É preciso recuperar o sentido da verdadeira esperança para redimir a situação decadente do momento atual. Nesse processo, é particularmente útil a esperança cristã. Seus fundamentos e sua significação são capazes de reeducar eticamente povos e culturas diferentes, saindo dessa delinquência horrenda da atualidade. Há uma ordem nova que precisa ser reconquistada para os lugares, as instituições e os papéis não sirvam apenas para acirrar os orgulhos, os interesses espúrios e essa insatisfação patológica que envolve as pessoas e as desanimam da alegria do altruísmo e do gosto de fazer o bem. Esse processo educativo da verdadeira esperança, na escatologia, inclui uma certeza que precisa impactar os corações: a morte. Pense na sua e na morte dos seus. Pode ser logo.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em  junho a marca de 372,0% ao ano...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!  
     
        


      

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