(Agosto
= mês 12; faltam 12 meses para a Olimpíada 2016)
“Reforma
humana e valores reais
Reforma. Ultimamente,
essa é uma das palavras mais pronunciadas nos meios de comunicação do nossos
país. Vira e mexe ela está sendo balbuciada por alguém. Travam-se intermináveis
discussões a respeito da reforma política, da reforma previdenciária, da
reforma econômica, da reforma do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), da
reforma trabalhista, da reforma do Judiciário. São tantas reformas que levam a
crer que está tudo completamente estragado, paralisado, precisando, portanto,
ser refeito.
Mas em
meio a toda essa discussão parece que o pivô central de todas as reformas, que é
o próprio ser humano, está se esquivando das suas responsabilidades e, como
sempre, delegando ao “sistema” (que precisa ser substituído e não reforma) a
totalidade da culpa dos nossos fracassos nacionais. A principal reforma pela
qual precisamos passar é a reforma humana, estamos precisando a aprender a ser
gente.
Voltando
um pouquinho na história da humanidade, veremos no passado semelhanças, alguns
exemplos, das mesmas situações, observando a essência das coisas, que acontecem
até hoje e que foram mencionadas no parágrafo anterior.
Um dos
maiores impérios da humanidade, o Império Romano, é caracterizado por uma
atitude muito simples que colocaram em prática: dividiram a população em dois
grupos – existia o povo romano, que merecia todas as glórias, e o povo bárbaro,
que eram todos aqueles que não eram romanos. Independentemente de onde eram e
de como viviam, estes mereciam ser perseguidos, se fosse preciso
escravizados... eram vistos como segunda categoria de gente.
Uma
das maiores religiões ocidentais, infelizmente, fez, em certa época, a mesma
coisa, dividindo as pessoas em dois grupos: católicos e não católicos. Os
primeiros dignos de todas as benesses divinas, e os segundos, pessoas
consideradas desalmadas, ditas como bruxas, merecedoras das chamas da
inquisição da Inquisição e de todos os estragos provocados pelas cruzadas. Nos
dias atuais, estamos presenciando o movimento ao contrário, os que foram
perseguidos hoje perseguem. A semente do encalço parece ter germinado e os
frutos estão aí, vistos todos os dias nos noticiários.
Com o
processo de expansão dos povos europeus, a partir das grandes navegações, não é
que a história se repete? Os europeus consideravam-se civilizados, avançados, e
todos os povos que foram “conquistados”, “descobertos”, foram considerados por
eles “raças inferiores”. E a justificativa: viviam de uma forma diferente, eram
seres sem alma. Houve um período em que os nativos, das diversas regiões do
planeta, foram vistos e tratados como animais.
Terceiro
milênio, a dicotomia continua. Separamos as pessoas em indivíduos da esquerda e
da direita; sujeitos homoafetivos e heterossexuais; católicos e protestantes;
islâmicos e cristãos; rurais e urbanos; intelectuais e analfabetos; ricos e
pobres; negros e brancos. E o que é mais importante vai ficando de lado: a
reforma humana.
Ao
analisar o passado, verificamos que, ao defender “bandeiras”, modelos, milhares
de pessoas foram exterminadas, excluídas. Independia de serem essas pessoas
boas ou ruins, honestas ou desonestas, justas ou injustas, o jeito dominador de
ser imperava e ponto final.
Mas,
afinal de contas, o que seria a reforma humana? Significa começar a enxergar os
valores que realmente interessam. E os valores são honestidade, sensatez,
hombridade, zelo, caráter, sensibilidade. E isso não tem relativismo. Significa
valorizar a pessoa além das suas crenças, credos, gostos e jeitos, significa
ter atitude de gente; significa acreditar que ainda é possível construir uma
sociedade mais justa e fraterna.
O que
adianta uma pessoa ser branca ou negra, católica ou protestante, homo ou
hétero, letrada ou analfabeta, ser filiada a esse ou àquele partido se suas
atitudes são preconceituosas, discriminatórias, malfazejas, injustas, corruptas
e desumanas? Acabará colaborando com todas as mazelas da sociedade.
Imaginemos
agora o contrário, não importando se a pessoa for branca ou negra, católica ou
protestante, homo ou hétero, letrada ou analfabeta, filiada a esse ou àquele
partido. Se ela pratica a caridade, a justiça, cuida do bem comum, valoriza as
pessoas, cultiva os valores humanos, não seria maravilhoso? Estará colaborando,
com toda a certeza, para uma sociedade equilibrada, justa, digna da vida
humana.
Todas
as outras reformas só darão certo quando o ser humano der certo. Quando
conseguir sair do casulo, da máscara, como diria Platão, da caverna. Quando
permitir-se atravessar os ritos da metamorfose ambulante. Quando deixar de, a
qualquer preço, defender bandeiras, estereótipos, convicções que desumanizam.
Caso contrário, ficaremos eternamente secando gelo e nunca veremos nossos
intermináveis problemas começarem a ser resolvidos. Já passou da hora de
valorizarmos o que realmente interessa!”.
(WALBER
GONÇALVES DE SOUZA. Professor do Centro Universitário de Caratinga – MG, em
artigo publicado no jornal ESTADO DE
MINAS, edição de 4 de agosto de 2015, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso
trabalho de Mobilização para a Cidadania
e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 11 de
agosto de 2006, mesmo caderno, página 11, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo
Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:
“Contribuição
da escatologia
Escatologia não é um
vocábulo usual na linguagem comum das pessoas. Na verdade, deve ser um campo de
significação ainda bastante desconhecido. Até mesmo porque sua etimologia deita
raízes na língua grega. Apesar de ser comum o uso de vocábulos advindos da cultura
helênica, na língua portuguesa, este não é suficientemente um tempo de profunda
formação humanística e de conhecimentos que refinam o sentido da vida ou
especializam as pessoas para o relacionamento, talvez como em tempos idos.
Aliás, essa falta de formação humanística, em geral, está comprometendo o
sentido de urbanidade que deve, com dinâmicas próprias, presidir o
relacionamento humano e garantir que não se perca o sentido hierárquico das
relações e das significações nas instituições que compõem a sociedade. Do
contrário, vão aumentar cada vez mais as manifestações insanas de delinqüência
que estão nutrindo o caos da violência nas cidades, a falta de limites e
exacerbado subjetivismo norteando comportamentos antiéticos e nada cidadãos. Se
não houver cuidado especial e atenção redobrada, a sociedade se inviabilizará.
Entre as ditaduras sobressairá aquela do subjetivismo, mesmo de tipo grupal,
num desrespeito total aos valores que ajudam na relativização de posições e
considerações para dar espaço ao que interessa ao bem de todos, em geral, e
fortalecimento das instituições a serviço na sociedade. O mundo, então, vai se
tornar, cada vez mais, um inferno de horrores, arbitrariedades e perversidades.
Não haverá, absolutamente, a paz para ninguém. Essa é uma indicação que não
pode deixar na ilusão os que pensam que guerras, tirando a tranquilidade, estão
acontecendo apenas do outro lado do mundo. Não é verdade.
Ainda
que alguns desfrutem de suas condições pacatas e se deleitem de suas benesses,
algo atingirá sempre o coração humano impedindo-o de livrar-se dessa angústia
infernal que está sendo espalhada como joio venenoso nos corações. E as guerras
cobrirão, nas suas diferentes modalidades, como uma grande capa, o mundo, de
norte a sul e de leste a oeste. O conteúdo tratado nesse campo do saber, a
escatologia, desperta pouco interesse numa dinâmica cultural que se pauta mais
pelo descartável. Escatologia é um campo do saber teológico que trata das
coisas últimas. Ora, as coisas de agora é que interessam, de verdade. A cultura
contemporânea define sua dinâmica, prioritariamente, no tratamento das coisas e
questões do momento. O que interessa mais, é o hábito, são as questões
momentosas. De modo geral, essas questões tomam o lugar do que é, de fato, mais
importante, e do é essencial na construção da vida e na correção de rumos para
que a sociedade vença a institucionalização da injustiça e a concepção feudal e
pouco solidária e cristã que está configurando o cenário da hora atual. Vale
aqui levar em consideração a observações de bons analistas quando apontam que,
hoje, desperta mais interesse, por exemplo, o caso de delinqüencia de uma
filha, que arma a morte dos pais e depois vai ficar com seu companheiro
assassino, do que as discussões substantivas que interessam para dar rumo novo
à sociedade. Há uma opção clara por aquilo que instiga e fustiga, mais do que
por aquilo que constrói, corrige e aprofunda. Assim, se alimenta um quadro de
incontáveis deslizes éticos, desrespeitos e inversão de papéis confundindo a
significação real dos funcionamentos. É preciso que a sociedade se pergunte,
cada vez mais, pela gênese desse fenômeno, antes que seja tarde demais.
A
escatologia tem uma contribuição importante fazendo par com outras áreas do
saber humano. Ela pode oferecer a compreensão e os elementos para a superação
dessa perda terrível de raízes na história contemporânea. Essa perda de raízes
se revela, pois, na violência crescente contra nações, culturas, povos e
pessoas. Há uma grande desorientação num mundo que está sem bússola. Há uma
perda de referências e de limites que gera arbitrariedades e leva às opções
carentes de critérios. Valem os próprios critérios. Fora dos próprios critérios
não pode se fazer nada e nada pode ter validade. É preciso recuperar o sentido
da verdadeira esperança para redimir a situação decadente do momento atual.
Nesse processo, é particularmente útil a esperança cristã. Seus fundamentos e
sua significação são capazes de reeducar eticamente povos e culturas
diferentes, saindo dessa delinquência horrenda da atualidade. Há uma ordem nova
que precisa ser reconquistada para os lugares, as instituições e os papéis não
sirvam apenas para acirrar os orgulhos, os interesses espúrios e essa
insatisfação patológica que envolve as pessoas e as desanimam da alegria do
altruísmo e do gosto de fazer o bem. Esse processo educativo da verdadeira
esperança, na escatologia, inclui uma certeza que precisa impactar os corações:
a morte. Pense na sua e na morte dos seus. Pode ser logo.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em
junho a marca de 372,0% ao ano...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do
procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A
Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o
problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu
caráter transnacional; eis, portanto,
que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas
simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de
suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do
nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente
irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na
Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das
empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c) a
dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para
2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$
868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os
projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização,
da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!
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