“Estatísticas
importam; entendê-las, também
Quem poderia imaginar
que, em três, meses, a população mundial se familiarizaria tanto com curvas
epidemiológicas e taxas de mortalidade? Assim que a pandemia do coronavírus
chegou, nos vimos envolvidos por uma nova forma de olhar a realidade; por meio
da evolução no número de mortes por coronavírus e o que estas representam para
a sociedade.
Mas,
nesse contexto, será que realmente entendemos esses números? O que vemos na
prática são muitos erros no entendimento de atores públicos, de parta da
imprensa e do público em geral, em relação à importância da coleta de
estatísticas fiáveis, assim como da interpretação dos números da pandemia. No
início do mês, Andreas Backhaus, economista e pesquisador do Instituo Federal
de Pesquisas Populacionais da Alemanha (BiB), publicou um artigo resumindo os
erros mais comuns que se observam nesse campo, em escala mundial. Entre vários,
dois merecem destaque especial: a contagem de óbitos e o mau uso dos diferentes
indicadores de mortalidade.
Em
geral, os países utilizam classificações bem diferentes para o registro de
óbitos pela Covid-19; além disso, há polêmica sobre como diferenciar uma morte
por Covid-19 daquelas nas quais há outras doenças concomitantes. Por isso, as
estatísticas de mortes publicadas de forma comparativa não refletem com
exatidão o impacto da pandemia no planeta.
Os
conceitos que refletem a mortalidade durante a pandemia, frequentemente
interpretados de forma incorreta, são basicamente: taxa de letalidade de casos
(case fatality rate – CFR), a taxa de letalidade de infecções (infection
fatality rate – IFR) e a taxa de mortalidade (mortality rate – MR). Em resumo,
o CFR divide as mortes confirmadas por Covid-19 pelos casos confirmados de
infecções pelo vírus; o IFR, por sua vez, divide as mesmas mortes confirmadas
pelo número total de infecções, independemente de estas terem sito confirmadas
por testes. Dado que muitas infecções são assintomáticas e permanecem não
confirmadas, o IFR é muito menor em comparação com o CFR. A taxa de
mortalidade, por sua vez, divide as mortes confirmadas por Covid-19 pelo total
da população, resultando em valores ainda menores.
O CFR é
fortemente influenciado por políticas de teste praticadas em cada país, assim
como pelas diferentes capacidades de testagem. O IFR é menos afetado por tais
problemas, mas requer estimativas confiáveis do número total de infecções. Por
último, a MR proporciona um olhar retrospectivo, uma vez que a nova doença
tenha se disseminado. São, portanto, cálculos diferentes, voltados para
finalidades distintas.
O Brasil
conta com grandes sistemas de dados e centros de pesquisa, dedicados a gerar
dados confiáveis e comparáveis. Devemos exigir neste momento, como sociedade,
que a coleta e a publicação do número de óbitos por Covid-19 sejam feitas de
forma séria e transparente, e o número de pessoas testadas seja o mais alto
possível. Só assim será possível entender os efeitos da pandemia sobre a
população e prevenir erros futuros.”.
(Daniela Vono
de Vilhena. Pesquisadora do Instituto Max Planck para Pesquisas
Demográficas (Alemanha) e doutora em demografia, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 26 de
junho de 2020, caderno OPINIÃO,
página 15).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no site www.domtotal.com,
mesma edição, de autoria de DOM WALMOR
OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e que merece igualmente
integral transcrição:
“Casa
e rua: outro lugar
‘Fique em casa’ é o mais
interpelante apelo desses últimos meses ante o necessário e indispensável
isolamento social. Esse apelo remete ao ambiente mais significativo e
referencial da vida de cada pessoa, a casa, o lugar sagrado da família. A
orientação “fique em casa” tem força no combate efetivo à pandemia da Covid-19,
evitando a disseminação do vírus que é letal para muitas vítimas, submetendo
famílias ao luto. Uma pandemia que gera ainda colapsos na saúde e incidências
na economia. Não é fácil a obediência ao imperativo de ficar em casa, evitando
aglomerações e contatos desnecessários. E esse imperativo estampa, ainda mais,
o grave problema do déficit e das más condições habitacionais do Brasil, uma
vergonha.
A
realidade de vilas e favelas reflete a acentuada desigualdade social que
caracteriza o país. Para os que não têm habitação adequada, como ficar em casa?
E como se não bastasse, há ainda uma questão que torna mais cruel essa
situação: no outro extremo, entre os que têm casa, a orientação para permanecer
no lar é tratada com escárnio. Há, inclusive, os que incitam a população a ir
para as ruas, obviamente aumentando os riscos de contaminação. Pessoas insensíveis
a uma realidade óbvia: a saúde requer moradia digna e sustentável. O equilíbrio
na natureza, fundamental para prevenir pandemias, não é alcançado apenas com o
bem-estar de pequena parcela da população. A exclusão de muitos gera
adoecimentos que ameaçam toda a sociedade.
Especificamente
sobre a segregação sofrida pelos que não têm casa, a referência alcança também
aqueles que até possuem um endereço, mas destituído de mínimas condições para a
habitação. Esse cenário revela a fragilidade social que não isenta, inclusive,
os que se acham protegidos da contaminação por um vírus. A saúde do planeta, de
uma sociedade, depende de condições menos desiguais no campo da moradia – cada
um tem direito a uma casa digna para viver. Assim, a orientação “fique em casa”
deve também representar um clamor que leva a um novo significado relacionado à
rua – fortalecendo o seu sentido de agregação das diferenças, da cooperação, do
encontro, de intercâmbios e serviços ao próximo, que é irmão, para gerar
inclusão e vencer abismos sociais que adoecem.
Mas
sempre se reconheça: a força social e política da rua nunca substituirá a
importância da casa, com seu sentido mais forte e fundamental – é a primeira
escola do amor, da fé, dos ensinamentos indispensáveis à civilidade, do
desenvolvimento da competência em gerar e cultivar vínculos. A casa tem uma
sacralidade que ultrapassa os limites estreitos de relacionamentos. É, para
além de sua configuração natural, sagrada sustentação do viver e do aprender a
viver. Apesar disso, movimentos civilizatórios levaram à relativização do valor
pedagógico e existencial da casa que, para muitos, tornou-se apenas um
alojamento noturno, um “point” para atendimento de algumas necessidades muito básicas,
a exemplo do repouso, sem considerar tantas outras, igualmente essenciais. As
pessoas desaprenderam, assim, por exemplo, sobre a importância da convivência
possibilitada pela casa. Há dificuldade para se relacionar qualificadamente com
quem se partilha o mesmo ambiente. Paradoxalmente, por estar desabituado a
ficar no próprio lar, o ser humano também é incapaz de lidar com a solidão. Até
se deprime. Percebe-se uma dificuldade para cultivar a interioridade. Ficar em
casa torna-se, neste contexto, desafiador, e revela carências humanísticas que
levam a esgotamentos psíquicos e aqueles inerentes à própria natureza.
Casa e
rua devem ser consideradas a partir do renovado significado, compreendidas como
outro lugar, diferente do que até então se imaginava. Sem a casa, as
instituições se enfraquecem e há despersonalização do ser humano. A Igreja de
Cristo, por exemplo, nasce nos lares e, de casa em casa, fortalece a sua
presença servidora no coração do mundo. Ao perdurar a exigente e indispensável
convocação “fique em casa”, a sociedade aproveite para cultivar e enriquecer a
compreensão a respeito da casa e da rua. Nesses espaços, sejam adotados estilos
de vida renovados para superar fragilidades e enfermidades.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 130 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da
democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em abril a estratosférica marca de
313,43% nos últimos doze meses, e a taxa
de juros do cheque especial chegou ainda em históricos 119,32%; e já o IPCA, em
maio, também no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 1,88%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 518
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, à falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2020, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos
Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,651 trilhão (44,79%), a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,004 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega,
do direito e da justiça:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).
Destarte,
torna-se absolutamente inútil lamentarmos
a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de
infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à
luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização
das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
58 anos
de testemunho de um servidor público (1961 – 2019)
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...
- Por
uma Nova Política Brasileira ...
- Pela
excelência na Gestão Pública ...
- Pelo
fortalecimento da cultura da sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares
do desenvolvimento integral: econômico; social, com promoção humana, e,
ambiental, com proteção e preservação dos nossos recursos naturais ...
- A
alegria da vocação ...
Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou
asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...
E
P Í L O G O
CLAMOR
E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador, Legislador e Libertador, fonte de
infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra sobre
pedra
Dos impérios edificados com os ganhos espúrios,
ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da
dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim! Eternamente!”.
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