“Descer para subir
Nunca
aprendi tanto nestes últimos meses em que pude colaborar com uma ação social na
comunidade do Papagaio, em Belo Horizonte. Pode ser que você já tenha visto
essa comunidade quando sobe a avenida Nossa Senhora do Carmo, via de grande
fluxo e uma das entradas da nossa cidade. Talvez o lugar possa passar
desapercebido, invisível, mas lá pulsam vida, respeito ao outro, valores de
família e educação. Trabalho honesto e dedicado.
Os
próprios moradores, com outros de vários pontos da cidade, se unem para fazer
marmitas e distribuir entre eles e entre outros que precisam. “Quem tem fome,
tem pressa”. Um olhar cuidadoso entre os que, mesmo em suas dificuldades,
conseguem olhar para o outro.
Pessoas
de uma inteligência e sensibilidade que me marcaram como pesquisador da
performance e profissional das relações. Pessoas de uma conexão e samba no pé,
são “Bacharéis do Samba” da vida real. Aliás, é preciso saber sambar para
dançar essa música da transformação social. Mesmo com um mundo de cabeça para
baixo.
Ao lado
de Meirinha, Berê, Priscila, Ketlen, Gisele, Patrick, Bruna, Drica, Samaris,
Noemi, Alejandro, Josef Poderosa e os muitos apoiadores invisíveis, que
contribuem com as doações a cada ação, aprendi a descer dos meus conhecimentos
e visões prévias para subir o morro da evolução da vida. Lá não importam meus
títulos, não importam os livros que escrevi, quem eu sou, onde moro e a
relevância do que eu faço. Sou, nesse cenário, o faxineiro e o assistente de
cozinha.
Essa
experiência ecoou na minha alma ainda mais ao comemorar, há alguns dias, os 100
anos de um dos educadores mais marcantes na história do Brasil: o professor
Paulo Freire. Mesmo que, ultimamente, alguns insistam em politizar todos os
temas e, claro, queiram desconstruir o papel e o significado de Paulo Freire, é
preciso rigor para falar desse ícone na relação com os mais simples e
desconsiderados em nossa sociedade. Suas indignações e transformações são
vistas nessa ação no Papagaio e no Carrapato: ou fale de vida e respeito ao
outro, ou fique calado!
É
inegável que ele tem um lugar no mundo garantido pelo reconhecimento do seu
trabalho, com contribuições para a educação, as artes, as ciências e até a
engenharia. E nós aprendemos a ler aquela realidade ali. Paulo Freire, em sua
antropologia, apontava que possuímos três marcas. A primeira é a de
curiosidade, a partir da qual podemos aprender a ler o mundo. A segunda marca é
a de sermos seres inacabados e, por isso, precisarmos dos outros para nos
ajudarem a subir o morro dos outros olhares. E a terceira marca é que somos
seres da partilha. O quanto vamos aprender a compartilhar vai marcar o quanto
vamos receber nesta vida.
É urgente colocar ainda
mais a psicologia a serviço da transformação social de estruturas opressoras e
reforçar como ponto de partida o estudo da realidade. A manifestação da fome e
da violência na vida cotidiana é explícita, multifacetada e, muitas vezes,
naturalizada como uma resposta normal das pessoas aos seus problemas. A
violência e a fome são parte de processos que empobrecem a vida e a qualidade
das relações entre as pessoas. A violência física, psicológica, simbólica ou a
violência estatal e a violência revolucionária são diferentes manifestações de
processos de grande relevância para a psicologia.
Mas, se você não souber
descer dos seus achismos e construir diálogo, nunca vai subir às outras fases
da vida. “Se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que
permaneça: nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação de um
mundo em que seja menos difícil amar.” (E que aprendamos a descer para subir –
inserção ousadamente minha). (Trecho de “Pedagogia do Oprimido”, Paulo
Freire).”.
(Otávio Grossi. otaviogrossi@saudeintegral.com.br,
em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 4 de
outubro de 2021, caderno OPINIÃO, página 16).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de
artigo publicado no site www.domtotal.com,
edição de 08 de outubro de 2021, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e que merece igualmente
integral transcrição:
“Evangelho da vida
O
Dia do Nascituro, 8 de outubro, contribui para lembrar a sociedade: a vida deve
ser defendida em todas as suas etapas, desde a primeira, na concepção, até a
última, no declínio com a morte natural. Proteger a vida significa ser contra o
aborto, mas também exige uma crítica profética à falta de políticas públicas e
a outras dinâmicas sociais que igualmente matam. O Evangelho da vida está no
centro da missão e da mensagem de Jesus. Por isso mesmo, a Igreja deve ser
irrestritamente fiel aos valores do Evangelho da vida, buscando sempre partilhá-los.
Cenários e práticas que ameaçam a existência de cada pessoa devem incomodar os
cristãos. Esse incômodo aponta para a autenticidade da fé celebrada, professada
e testemunhada. Os discípulos de Jesus não podem estar em paz enquanto convivem
com desigualdades e com práticas que ameaçam a inviolabilidade da vida.
Dissociar a vivência da fé cristã do compromisso com a defesa de cada pessoa,
especialmente dos mais vulneráveis, é sério risco, um tipo de anestesia
paralisante. E não basta defender ferrenhamente apenas uma etapa da vida, se
esquecendo, desconsiderando ou silenciando-se em relação aos prejuízos cruéis
impostos às muitas outras.
A
profecia cristã tem um dimensionamento global – exige a defesa da vida em todas
as suas fases. Não se pode, pois, correr o risco de cair no desequilíbrio,
constituindo uma espécie de fanatismo a respeito de determinada etapa enquanto
se cultiva a indiferença pelas demais. Assim, as narrativas cristãs em defesa
da vida, articulando linguagem e compreensão, precisam contribuir para que a
sociedade reconheça: todos têm direito de viver dignamente. É preciso dedicar
atenção ao conjunto de estatísticas que expõem atentados contra a vida. Essa
realidade deve incomodar os discípulos de Cristo, chamados a constatar: uma sociedade
que se diz cristã é ferida por vergonhosas desigualdades e privilégios – pesos
ainda maiores sobre os ombros dos pobres e desvalidos.
A fé
cristã vivida com autenticidade precisa inspirar nova compreensão e,
consequentemente, atitudes condizentes com as muitas lições do Evangelho,
orientadas para a defesa da vida em todas as suas etapas. Trata-se de
insubstituível ponto de partida para os discípulos de Jesus que evita
alienações, indiferenças, redução da fé a um instrumento intimista e
subjetivista – rejeitando a sua essencialidade, distanciando-se do verdadeiro
Deus da vida. Distanciamento comprovado pela carência de mudanças na sociedade
atual, um palco de disputas e manipulações fratricidas , homicidas e
feminicidas, com exclusões inaceitáveis para um autêntico cristão.
O núcleo
central da missão redentora de Jesus Cristo, sublinhado em sua palavra – “Eru
vim para que todos tenham vida, a tenham em abundância” – precisa ser
cotidianamente reconhecido. A palavra forte do Mestre ilumina essa verdade:
homens e mulheres são chamados a uma plenitude de vida que ultrapassa as
dimensões da existência terrena, por consistir em participar da própria vida de
Deus. Aí estão raízes intocáveis e inegociáveis da sacralidade da vida. E o
reconhecimento de que a vida é dom sagrado leva ao compromisso com a
inviolabilidade do dom de viver de cada pessoa, principalmente dos pobres e
sofredores. A grandeza temporal da vida tem raízes na sublimidade da vocação
sobrenatural, apontando que a vivência autêntica da fé cristã significa
profética luta em defesa do ser humano.
O
reconhecimento do direito à vida, considerando todas as suas etapas, é o
alicerce seguro que sustenta a convivência humana e a comunidade política.
Cresce, pois a urgência de os cristãos – e dos que a eles se aliam por
partilharem convicções, princípios e valores – anunciarem o Evangelho da vida.
As muitas crises na sociedade brasileira – sanitária, econômica, política,
ética, social, cultural – devem interpelar os discípulos de Jesus, homens e
mulheres de boa vontade, para desarmar as armadilhas arquitetadas pela ganância
e pelo lucro – com suas manipulações e inverdades que enjaulam cidadãos e
cidadãs em lógicas prejudiciais ao desabrochar da vida plena, atrasando, sempre
mais, o sonho de uma sociedade impulsionada pela fraternidade universal.
Os
cristãos não ignorem a realidade desafiadora da contemporaneidade, hibernando
em “zonas de conforto”. Ao invés disso, é urgente crescer na veneração e no
compromisso com a vida do outro, especialmente do pobre e indefeso, por uma
sociedade solidária e fraterna. A doutrina do Evangelho da vida só é vivida e
testemunhada quando inspira a busca por rumos novos, capazes de afastar a
sociedade dos cenários vergonhosos da desigualdade social e de outros atentados
contra a vida, dom inviolável. É hora de novas lógicas, gerando renovadas
narrativas com força libertadora. Lembra bem o papa Francisco: ninguém se salva
sozinho. Todos no mesmo barco. Valha, de verdade, o Evangelho da vida.”.
Eis,
portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e
reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história –
que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 131 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da
democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b) o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são:
c) a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2021, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 2,236 trilhões (53,83%), a título de juros, encargos, amortização e financiamentos (ao menos com esta última rubrica, previsão de R$ 1,603 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e
eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz:
“... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos,
mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite
da dívida pública...”).
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos
tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte,
acessibilidade); minas e energia;
emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema
financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança
alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal;
defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e
inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento
– estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
60
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2021)
- Estamos nos descobrindo através da Excelência
Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando
nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira ...
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da
sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral:
econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e
preservação dos nossos recursos naturais ...
- A alegria da vocação: juntando diamantes...
porque os diamantes são eternos!
Afinal, o Brasil é uma
águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão
olímpica e de coragem!
E P Í L O G O
CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador,
Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e
não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados
com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do
saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse
construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e
dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim!
Eternamente!”.
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