“Engenharia
nacional exige respeito
Engenharia é arte.
Pressupõe dominar e aplicar conhecimentos científicos e empíricos, aliados ao
desenvolvimento de habilidades específicas, com o propósito de converter
recursos naturais em formas adequadas (oferta de energia, construções, estradas
etc.), que atendem às necessidades humanas. Por isso, exige alto grau de
profissionalismo que só pode ser obtido por meio de uma formação acadêmica consistente,
seguida de esmero na aplicação do conhecimento tecnológico e de uma postura
ética no atendimento do interesse coletivo.
Não
resta, pois, dúvida alguma sobre a amplitude e a importância da engenharia para
que as comunidades, sobretudo dos grandes centros urbanos, tenham qualidade de
vida e equidade, contribuindo inquestionavelmente para o desenvolvimento
econômico dos estados federativos e do país. Contribuição essa que reflete
diretamente na vida das pessoas, na criação de empregos e renda, e no crescimento
do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Mas, no Brasil de hoje, parece que
tudo isso foi esquecido. A atual recessão econômica, agravada pela crise
política, atinge em cheio a atividade de engenharia, ceifando oportunidades de
trabalho, sem oferecer alternativa aos profissionais que chegam ao mercado.
Para
alguns incautos, a atividade é vista hoje sob a ótica da ação condenável das
empreiteiras envolvidas nos escândalos da Lava-Jato. No mundo dos negócios, dos
interesses corporativos e estratégicos, equivocadamente, a engenharia é tratada
como mercadoria de segunda linha, como uma moeda de troca. Se uma obra não for
feita por um engenheiro, pode ser feita por outro qualquer (a qualificação não
é relevante), ou, quem sabe, importando mão de obra dos franceses ou dos
chineses, que também são bons nisso.
É
deplorável (muito embora não nos surpreenda pela visão apequenada) que nossos
governantes atuais não entendam a engenharia como atividade essencial e
estratégica, a ser valorizada no planejamento dos empreendimentos e na
consecução de objetivos sociais. Se é para ver a nossa profissão assim
aviltada, é melhor que tenhamos a coragem de lutar para substituir no poder
nossos despreparados governantes por meios democráticos e constitucionais.
Temos
que dizer não à corrupção, temos que exigir planejamento nas atividades de
governo e combater aqueles espertos empresários que querem transformar a
atividade de formar engenheiros em máquinas de auferir grandes lucros
financeiros (e com a ajuda do dinheiro público do Fies). Neste momento de
fragilidade que o país e o setor de engenharia atravessam, é preciso que a
atividade seja compartilhada entre profissionais que busquem o bem, que as
soluções de cunho tecnológico sejam precisas e inequívocas, sem margem para
irresponsabilidades como a queda de viadutos, rompimento de barragens e outras
mazelas como de que assistimos em Minas Gerais.
Esses
recentes e lamentáveis episódios, escritos por mãos movidas essencialmente pela
obtenção de ganhos financeiros e/ou outras vantagens, típicas de nossa cultura
e comportamento permissivos, têm que ter um ponto final. Até porque, em Minas
Gerais, nem sempre foi assim. Em passado recente, em nosso estado, a ação de
proeminentes engenheiros no exercício da profissão, da gestão pública e da
política, criou a tradição de ganhos significativos para toda a comunidade.
Vale
lembrar as iniciativas marcantes e sobejamente conhecidas de profissionais como
Lucas Lopes, Celso Mello de Azevedo, Aureliano Chaves de Mendonça, João Camilo
Penna, Eliseu Resende, Alysson Paulinelli, Itamar Franco e tantos outros que
souberam honrar nossa profissão. É preciso, pois, dar um basta ao atual estado
das coisas. Não podemos perder de vista a nossa missão de usar a criatividade,
a inventividade e o poder de transformação para o bem de todos. A engenharia
nacional exige respeito!”.
(AUGUSTO
CELSO FRANCO DRUMMOND. Engenheiro, presidente da Sociedade Mineira de
Engenheiros, em artigo publicado no jornal ESTADO
DE MINAS, edição de 18 de março de 2016, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de DOM
WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e
que merece igualmente integral transcrição:
“Trevas
cobriam o abismo
‘A terra estava deserta
e vazia, as trevas cobriam o abismo...’. Assim começa a narração do Livro do
Gênesis, permitindo uma analogia com o atual momento político do Brasil. A
política partidária instalou incontestavelmente o caos na sociedade. Está
perdida a capacidade para o diálogo que gera consensos e entendimentos. Não
paira, absolutamente, o espírito de Deus no mundo da política. É uma escuridão
que fomenta o caos – um “salve-se quem puder” que passa por cima do bem comum
como um trator. Não há esperança de que a política partidária consiga,
rapidamente, oferecer contribuições para os rumos da nação. A lista de
desmandos, escolhas absurdas, interesseiras e manipulações é interminável.
Comenta-se,
em muitas esferas da sociedade, sobre a expectativa do surgimento de um líder
político capaz de gerar agregação e apontar novas direções. Isso parece difícil
de ocorrer, justamente pelo atual cenário vivido pela política partidária. Quem
seria capaz, agora, de reverter essa difícil situação? O mundo da política
partidária no Brasil configura-se como um devastador desastre humano à
semelhança das incidências horrendas que ferem o meio ambiente.
A deterioração
da esfera política e o tratamento inadequado das questões ambientais se
desenvolvem a partir da mesma raiz. Aqui vale relembrar as palavras do papa
Francisco, na sua exortação apostólica A
alegria do Evangelho, quando se refere à nova idolatria do dinheiro. O caos
vem dessa idolatria. É inexistente a nobreza de fazer política pelo bem comum,
com o objetivo de ajudar a nação a alcançar patamares de civilidade e de
funcionamentos que promovam, sem populismos, os seus cidadãos. A falta dessa
nobreza é resultado de carência na formação humanística que ilumina intuições,
capacita para o bem, muito acima do interesse de enriquecimentos ilícitos. O
papa Francisco afirma que “uma das causas dessa situação está na relação
estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre
nós e nossas sociedades”. Essa verdade explica os desajustes no tecido da
cultura, que delineia a identidade da sociedade e influencia suas direções.
O papa
Francisco oferece a chave de interpretação desse caos instalado que produz, por
exemplo, a crise financeira que pesa sobre os ombros de todos. A base da
desordem é a negação da primazia do ser humano. Esse colapso antropológico tem
muitas feições. Descompassa relações, articulações de grupos e segmentos na
sustentação de uma sociedade que deve se mover no horizonte da justiça e da
solidariedade. É triste constatar o que ocorre na política partidária. O desejo
de ocupar cargos públicos não vem acompanhado do sentido cidadão mais profundo
de ajudar decisivamente na construção de uma sociedade solidária e justa.
Trata-se de interesse doentio pelo dinheiro, para alimentar ilusórias sensações
de poder e segurança. Uma ambição que produz essa economia sem rosto e sem um
objetivo verdadeiramente humano.
Ora, a
idolatria do dinheiro é perigosa, gera ilusões e desgasta o mais nobre sentido
da política, que é promover o bem comum. Essa idolatria é tão terrível que faz
crescer, de modo generalizado, a sensação de que não há mais tempo para fazer o
que é necessário. Isso fica explícito nas muitas lamentações e ladainhas
exaustivamente propaladas. O interesse mesmo é ganhar sempre mais, produzir
menos. Nada de sacrifícios e esforços para alcançar o bem de todos. Uma luz
precisa brilhar para iluminar essas trevas.
E de
onde ela pode vir? Em primeiro lugar, da corresponsabilidade e seriedade cidadã
de cada indivíduo. Sistemicamente, essa luz pode e precisa brilhar com o
fortalecimento, em seriedade e audácia, dos diferentes segmentos da sociedade –
empresarial, religioso, judiciário, acadêmico e intelectual, artístico e outros
mais. Cada setor, pela seriedade e honestidade, tem o dever de dissipar as
trevas que preenchem o abismo onde está inserida a sociedade brasileira. Que
venha de todas as pessoas e grupos, pelo compromisso com o bem, a justiça e a
verdade, essa a luz que tem a força para resgatar o país do caos.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em fevereiro a ainda
estratosférica marca de 419,60% para um período de doze meses; e mais, também
em fevereiro, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 10,36%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 1,044 trilhão), a exigir
alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
-
Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...