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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A CIDADANIA, O DEVER DE PRESTAR CONTAS E O CAMINHO INDESVIÁVEL DA EDUCAÇÃO

“Presta contas
        A Igreja Católica, no seu Compêndio de Doutrina Social, nº 410, reza: “Aqueles que têm responsabilidades políticas não devem esquecer ou subestimar a dimensão moral da representação, que consiste no empenho de compartilhar a sorte do povo e em buscar a solução dos problemas sociais. Nessa perspectiva, autoridade responsável significa também autoridade exercida mediante o recurso às virtudes que favorecem o exercício do poder com espírito de serviço (paciência, caridade, modéstia, moderação, esforço de partilha): uma autoridade exercida por pessoas capazes de assumir autenticamente, como finalidade do próprio agir, o bem comum e não o prestígio ou a aquisição de vantagens pessoais”. É incontestável e lamentável o déficit dessa capacidade moral nos sistemas administrativos, público e privado. Está em falta pessoas de competência moral para o exercício de funções e responsabilidades em vista do bem comum. Esse déficit incontestável está revelando o descuido nesse imprescindível investimento, a formação da consciência moral cidadã.
         A competência moral não cresce e não se consolida na proporção do crescimento das competências em matéria de administração e gestão moderna. Nasce aí os comprometimentos nos funcionamentos, gerando deformações terríveis como a corrupção política, uma das mais graves, corroendo os princípios da moral e das normas da justiça social. Há um comprometimento generalizado do funcionamento do Estado, influindo negativamente na relação entre governantes e governados. A Operação João-de-barro, de uma vergonhosa série, devassa em municípios pelo desvio de verbas e esquema de favorecimento, no quadro lamentável da orquestração da corrupção, por falta de conduta e envergadura moral, explícita, mais uma vez, “a razão de uma crescente desconfiança em relação à política e aos seus representantes, com o conseqüente enfraquecimento das instituições. A corrupção política discorde, na raiz, a função das instituições representativas, porque as usa como terreno de barganha política entre solicitações clientelistas e favores de governantes. Desse modo, as opções políticas favorecem os objetivos restritos de quantos têm os meios para influenciá-las e impedem a realização do bem comum de todos os cidadãos”, diz também o Compêndio da Doutrina Social da Igreja nº 411.
         Compreende-se, como diz o Documento de Aparecida nº 78, este fruto da 5ª Conferência dos Bispos da América Latina e do Caribe, Aparecida 2007, uma das razões mais graves do porquê “a vida social em convivência harmônica e pacífica está se deteriorando gravemente em muitos países da América Latina e do Caribe pelo crescimento da violência, que se manifesta em roubos, assaltos, seqüestros, e o que é mais grave, em assassinatos que a cada dia destroem mais vidas humanas e enchem de dor as famílias e a sociedade inteira. A violência se reveste de várias formas e tem diversos agentes: o crime organizado e o narcotráfico, grupos paramilitares, violência comum, sobretudo, na periferia das grandes cidades, violência de grupos juvenis e crescente violência intrafamiliar. Suas causas são múltiplas: a idolatria do dinheiro, o avanço de uma ideologia individualista e utilitarista, a falta de respeito pela dignidade de cada pessoa, a deterioração do tecido social, a corrupção inclusive nas forças da ordem e a falta de políticas públicas de eqüidade social”. Nesse contexto, constata-se, lamentavelmente, o enfraquecimento dos partidos políticos. Não estão conseguindo interpretar as aspirações da sociedade civil orientando-a para o bem comum.
         Os partidos políticos não estão conseguindo, como é próprio de sua identidade e missão, oferecer aos cidadãos a possibilidade efetiva de concorrer para a formação de opções políticas. Os partidos políticos se tornam simples plataforma de projetos pessoais e de conchavos em função de garantir a indivíduos a oportunidade e a vez de galgar prestígio e de obter vantagens pessoais. Esse fator, contracenando com o uso da máquina administrativa sem probidade, aumenta o desencanto com a política, avolumando o descrédito, com o risco de uma desconsideração pela participação na construção dos destinos da sociedade civil. Está faltando gente com envergadura moral e desenvoltura, para prestar contas. Essa incapacidade tem raízes na idolatria do dinheiro e do poder.
         O evangelista Lucas, 16, 1-8, conta a parábola do administrador previdente, acusado de esbanjar os bens do seu patrão. Quando ouviu a intimação “presta conta da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens”, com medo das conseqüências, como o trabalho duro ou a mendicância, age estultamente, como “os filhos deste mundo que são mais espertos que os filhos da luz”, acomodando tudo em vantagem própria e dos seus clientes. Está faltando gente, filhos da luz, transparentes, retos, vida honesta, capazes de prestar conta.”

(DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO. Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 27 de junho de 2008, caderno OPINIÃO, página 11).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal HOJE EM DIA, edição de 2 de julho de 2008, caderno Opinião, página 5, de autoria de BENEDICTO ISMAEL CAMARGO DUTRA, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, é um dos coordenadores do www.library.com.br, site sem fins lucrativos, e autor dos livros Encontro com o Homem Sábio, A Trajetória do Ser Humano na Terra e Nola, o manuscrito que abalou o mundo, editados pela Editora Nobel com o selo Marco Zero, e que merece igualmente integral transcrição:

“A base da economia está na educação

        Educar não significa apenas e tão somente preparar as novas gerações para o trabalho. É também e, principalmente, formar pessoas conscientes de seu papel como cidadãos. Por isso, o investimento nessa formação é essencial. No Brasil estamos muito atrasados nesse sentido, e também no que tange à saúde, planejamento urbano e tudo o que leva ao desenvolvimento econômico de um modo geral.
         É chegada a hora de repensar o conceito de educação de forma a que esteja em consonância com as necessidades da vida. Saturar a mente com teorias não ajuda muito, assim como também não funciona oferecer apenas conhecimentos tecnológicos. Atualmente, o Brasil e o mundo passam por uma fase muito delicada com muitos acontecimentos negativos simultâneos, o que conduz ao artificialismo econômico. Esse conjunto de fatores obriga ao emprego de muita criatividade, o que, em outras palavras, significa usar o bom senso. Vivemos num país privilegiado, que possui enorme potencial para produzir alimentos e é dotado de riquezas minerais abundantes, inclusive petróleo. Paradoxalmente, a oferta de bens sempre foi limitada e a demanda, contida, mediante acréscimos na taxa de juros.
         Aumentar a renda com aplicações em títulos do Governo se tornou um hábito. Por que correr riscos em investimentos em produção se há juros disponíveis, com taxas lucrativas? Produzir menos e, ao mesmo tempo, assegurar boa taxa de retorno para aplicar as reservas permitiu bons níveis de ganhos e acumulação de capitais. No entanto, não tardou para que essa situação reduzisse as oportunidades de emprego. Desde o Plano Real, importar tem sido a opção mais cômoda. Além disso, exportamos matérias-primas semi-elaboradas e também estamos criando empregos no exterior por meio de importações de produtos baratos que não param de crescer.
         Recentemente, a taxa de juros Selic foi aumentada em 0,5%, interrompendo um ciclo de queda. Muitos estudiosos consideram que continuamos pagando juros à taxas elevadas, o que valoriza o Real e estimula as importações. Enfim, estamos vivendo a grande guerra econômica, e não sabemos o que realmente está se passando nos bastidores da luta pelo poder sob o impacto das decisões dos mandarins das finanças. É muito provável que eles também estejam perdendo o controle da situação.
         Atualmente, existe no Brasil um grande contingente de população sem preparo, que mal sabe ler. As escolas se enfraquecem. Os professores desanimam. Os estudantes não se dedicam aos estudos, pois não percebem oportunidades de emprego no futuro imediato e, ao mesmo tempo, não recebem estímulos dos pais para se esforçarem na obtenção na obtenção de conhecimentos. Com isso, as novas gerações permanecem despreparadas para tudo na vida.
         Temos que ser criativos para oferecer uma educação que propicie maior discernimento aos estudantes, ensinando-os a pensar, a ler corretamente, a falar fluentemente e a escrever com clareza. É preciso dar-lhes oportunidades, mesmo que os turnos de trabalho tenham que ser reduzidos para que surjam mais vagas. É possível uma série de ações, como estabelecer atividades culturais ou de utilidade pública, formar monitores capacitados para lidar com os jovens e coordenar as suas atividades em oficinas, parques e jardins, hortas comunitárias e atividades atléticas.
         Com o advento de novas tecnologias e com a globalização da produção, estão sendo gerados menos empregos. Se não atentarmos para isso, se não dermos preparo aos jovens para que se empenhem em atividades construtivas, eles tenderão a ações marginais, aumentando a violência urbana. Além disso, também tendem a se agravar as crises financeiras e de alimentos. Com o aumento do preço do petróleo, a situação poderá ficar insustentável, tendendo para uma rebelião civil em muitos locais.
         Em suas análises, o economista Celso Furtado concluiu que estávamos muito longe daquilo que poderíamos ter sido, apesar do enorme potencial com que fomos dotados. Pode-se perceber, de fato, que necessitamos de líderes dispostos a trabalhar de forma construtiva. No mundo há uma grande ausência de lideranças representativas, o que se revela na pobreza que assola os continentes. Faltam pessoas capazes de transformar o Planeta em um lugar hospitaleiro e, no caso brasileiro, fazer do país um exemplo de sociedade humana.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados (a propósito, e mais uma vez, dizer que a inflação fragiliza a economia, inibindo investimentos, tanto internos como externos, e matando a confiança entre as classes sociais...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!