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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, O PRÉ-SAL, A EDUCAÇÃO E O BOM PROFESSOR


“A educação e o pré-sal

O estudo Indicadores de desenvolvimento sustentável-2012 e a Pesquisa por Amostragem de Domicílios (Pnad 2011), realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos oferecem preciosas informações para consulta e tomada de decisões. Tais publicações nos permitem cruzar inúmeros indicadores das dimensões social, econômica, ambiental e institucional. Vamos fazer aqui uma análise de um indicador da dimensão social: a taxa de escolaridade. No perfil ideal de escolaridade para um país como o Brasil, o recomendável seria que a população dedicasse de 11 a 13 anos de sua vida aos estudos, mas somente 24,5% da população brasileira com mais de 25 anos tem 11 anos ou mais de estudo. Nos Estados Unidos, para efeito comparativo, 85,3% da população tem o equivalente ao nosso ensino médio e 27,9% tem curso superior.
         Mas a realidade aqui é outra. O que faremos para reverter essa situação? Ao relacionar a taxa de escolaridade nos últimos 16 anos com outros indicadores, podemos chegar a algumas conclusões. O índice Gini, que expressa o grau de concentração de renda da distribuição do rendimento da população (quanto mais próximo de zero maior a igualdade), passou, no Brasil, de 0,592 para 0,501, um decréscimo de 15,32%; a taxa de fecundidade, de 2,5 filhos para 1,9 filhos por família, um decréscimo de 24%. Todos esses índices têm relação entre si e mostram a importância da taxa de escolaridade para a geração de riquezas e consequente bem-estar para uma nação. Outro indicador relacionado à educação é a taxa de escolarização (percentual da população que frequenta a escola na sua faixa etária). Com idade entre 15 e 17 anos, a taxa de escolarização é de 83,7%, e entre 18 e 24 anos, é de 28,9%. Isso significa que temos hoje, no Brasil – pasmem – mais de 17 milhões de jovens fora da escola. Trata-se de um desafio gigantesco que temos pela frente: colocar nossos jovens na sala de aula.
Mas o que tem a ver a escolaridade do brasileiro com royalties do petróleo do pré-sal? Vejamos. Em 2011, havia no Brasil 53,8 milhões de estudantes, sendo que a rede pública era responsável por 78% desse total. Isso nos mostra que para melhorar a educação significativamente no país é preciso mais recursos financeiros e melhor gestão sobre esse montante e sobre o sistema educacional com um todo.
O Congresso Nacional, que vem discutindo esse assunto há anos, apresentou recentemente uma proposta de distribuição dos royalties entre os governos federal, estaduais e municipais, além da destinação desses para investimentos na educação. Houve um debate nacional entre os congressistas, mas não vimos nenhuma manifestação dos professores nem de seus representantes e muito menos dos estudantes.
Se os recursos financeiros dos royalties fossem destinados à educação, tomando como base a produção anual de petróleo brasileiro, somente isso corresponderia a um acréscimo de pelo menos o equivalente a 10% do investimento brasileiro atual em educação. Sabemos que isso não é o suficiente para mudar radicalmente a educação, mas também não é pouca coisa. Sem educação não haverá desenvolvimento sustentável, nem crescimento econômico que se sustente porque não haverá sociedade justa sem oportunidades para todos. A educação é a base.”
(RONALDO GUSMÃO. Presidente do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2308 – ano 46 – nº 7, de 13 de fevereiro de 2013, páginas 80 e 81, de autoria de GUSTAVO IOSCHPE, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Como identificar um bom professor
         
          Vou fazer uma pergunta fácil: você teve algum professor especial, que fez diferença na sua vida? Se você passou mais de dez anos estudando, aposto que não apenas a resposta foi positiva, como imediatamente lhe veio à mente aquele (a) professor (a). Agora, uma pergunta mais difícil: você poderia descrever as qualidades desse professor especial, de forma que seus atributos pudessem ser copiados por todos os outros professores em atividade?
         Uma série de estudos demonstra que um bom professor exerce influência substancial sobre seus alunos, não apenas durante o período escolar mas por toda a vida. Boa educação melhora a saúde, diminui a criminalidade e aumenta o salário. Eric Hamushec, pesquisador de Stanford, calcula que um professor esteja entre os 25% do topo da categoria e que tenha uma turma de trinta alunos gera, a cada ano, um aumento na massa salarial desses alunos de quase 500 000 dólares ao longo da vida deles. O problema é que, mesmo que todos saibam intuitivamente quem é um bom professor, ainda não conseguimos explicar e decompor o seu comportamento de forma que seja possível identificar os bons profissionais, promovê-los e reproduzir a sua atuação. Os estudos estatísticos, que se valem de dados facilmente quantificáveis, nos trazem alguns bons indícios – por exemplo, a experiência do professor só importa nos dois a cinco primeiros anos de carreira; professores que faltam às aulas têm alunos que aprendem menos; professores que obtiveram notas melhores em testes padronizados, estudaram em universidades mais competitivas e têm mais habilidade verbal exercem impacto positivo sobre o aprendizado dos alunos; quanto mais sindicalizados os professores, mais elas faltam e mais insatisfeitos estão com a carreira; e professores com expectativas mais altas para seus alunos também obtêm resultados superiores. Essas são todas variáveis “de fora”; estudos mais recentes começam a entrar na escola e na sala de aula e tentam explicar os componentes de um bom professor.
         Um estudo lançado em janeiro representa um grande passo à frente (esse e todos os outros estudos citados aqui estão em www.twitter.com/gioschpe). Patrocinado pela fundação Bill & Melinda Gates, ele conseguiu criar um “mapa da mina” para a identificação de bons professores, depois de acompanhar milhares de professores e alunos em sete distritos escolares americanos (incluindo Nova York, Dallas e Denver) ao longo de três anos. Normalmente, só cito neste espaço estudos publicados em revistas acadêmicas ou simpósios, que são revisados e criticados por outros acadêmicos, porque é pequena a probabilidade de uma fundação privada reconhecer em um relatório que, “depois de três anos de esforços e milhões de dólares gastos, não encontramos nada de relevante”.  Nesse caso, porém, creio que a exceção é justificada, não apenas por se tratar de uma fundação séria, que chamou pesquisadores renomados para o trabalho, mas também por seu design inovador.
         Em 2009-2010, o estudo tentou criar instrumentos que identificassem professores competentes. Chegou a um menu de três itens: observação de professores em sala de aula, questionários preenchidos pelos alunos e ganhos dos alunos em testes padronizados, ou seja, quanto os alunos daquele determinado professor ganhavam em aprendizado de um ano a outro nesses testes (equivalente ao nosso Enem ou Prova Brasil). Fez-se um trabalho cuidadoso para estabelecer quem deveria observar os professores, quantas vezes e olhando para quais dimensões; como inquirir alunos; e, no quesito valor agregado, teve-se a precaução de controlar  uma série de variáveis dos alunos (status social, situação familiar etc.) para que se pudesse isolar a qualidade do professor, não do aluno.
         Mesmo com todos esses cuidados, ainda há muito que não sabemos nem controlamos que pode interferir nos resultados. Pode ser que os melhores alunos procurem os melhores professores, os que os melhores professores escolham dar aulas para turmas ou séries melhores, e aí o que pareceria o impacto do professor seria uma complexa interação entre professores e alunos que inviabilizaria qualquer análise. (Seria como examinar a eficácia de um médico julgando apenas a taxa de cura de seus pacientes. Se os casos mais complicados procuram os melhores médicos, ou se os melhores médicos procuram os pacientes mais intratáveis, é provável que os melhores médios e os piores tenham pacientes com expectativa de vida similar, apesar e de terem competências radicalmente distintas.) A fundação então conseguiu fazer o que se faz nas ciências exatas para isolar o efeito de uma variável: no ano seguinte, distribuiu os professores aleatoriamente. A turma a que cada um ensinaria foi totalmente determinada por sorteio. Mais de 1 000 professores, atendendo mais de    60 000 alunos, participaram. E os resultados são fascinantes.
         Em primeiro lugar, a performance esperada dos professores ficou muito próxima da performance real (ambas medidas pelo aprendizado de seus alunos). Ou seja, os professores identificados como bons através das observações de seus pares, questionários de alunos e valor agregado em anos anteriores continuaram, grosso modo, sendo bons professores ensinando a turmas aleatoriamente escolhidas.
         Em segundo lugar, foi possível sofisticar o modelo. Testaram-se quatro variações das ferramentas de avaliação dos professores, e notou-se que uma das melhores combinações era aquela que dava peso igual (33% a cada um) aos três componentes (performance em teste, observação e questionário de alunos). Quando alguns professores reclamam que é reducionismo avaliá-los somente pela performance de seus alunos em testes, aparentemente têm razão: é melhor adicionar essas duas outras variáveis. Também se testaram vários modelos diferentes de observação docente, desde aquele em que o professor é avaliado por seu diretor até versões mais complexas. Os modelos mais confiáveis se mostraram aqueles em que o professor foi avaliado por pelo menos quatro observadores, em aulas diferentes, sendo dois deles pessoas da administração da escola (é importante que seja mais de uma para evitar a influência de conflitos/preferências pessoais) e dois, outros professores, treinados para a tarefa.
         Nenhum estudo é definitivo, muito menos um feito por uma fundação, e nada garante que os mesmos achados serão encontrados no Brasil, ainda que  normalmente o que apareça nos Estados Unidos também se verifique aqui. Mas, ante o modelo atual, obviamente fracassado, em que o professor é contratado por concurso no início da carreira e depois fica esquecido em sua sala de aula, fazendo o que bem entender e sendo promovido por nível de estudo e experiência, o horizonte descortinado por essa pesquisa é bem mais promissor. Precisamos encontrar e premiar os bons professores. E ter ferramentas objetivas e mensuráveis para tirar os maus profissionais da sala de aula. Sem isso, dificilmente sairemos dessa pasmaceira.”

Eis, portanto, mais importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, soberanas, civilizadas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
      
     a) a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até à pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; emprego, trabalho e renda; moradia; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; sistema financeiro nacional; minas e energia; qualidade (planejamento, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...