“A
educação e o pré-sal
O estudo Indicadores de desenvolvimento
sustentável-2012 e a Pesquisa por Amostragem de Domicílios (Pnad 2011),
realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos
oferecem preciosas informações para consulta e tomada de decisões. Tais
publicações nos permitem cruzar inúmeros indicadores das dimensões social,
econômica, ambiental e institucional. Vamos fazer aqui uma análise de um
indicador da dimensão social: a taxa de escolaridade. No perfil ideal de
escolaridade para um país como o Brasil, o recomendável seria que a população
dedicasse de 11 a 13 anos de sua vida aos estudos, mas somente 24,5% da
população brasileira com mais de 25 anos tem 11 anos ou mais de estudo. Nos
Estados Unidos, para efeito comparativo, 85,3% da população tem o equivalente
ao nosso ensino médio e 27,9% tem curso superior.
Mas a
realidade aqui é outra. O que faremos para reverter essa situação? Ao
relacionar a taxa de escolaridade nos últimos 16 anos com outros indicadores,
podemos chegar a algumas conclusões. O índice Gini, que expressa o grau de
concentração de renda da distribuição do rendimento da população (quanto mais
próximo de zero maior a igualdade), passou, no Brasil, de 0,592 para 0,501, um
decréscimo de 15,32%; a taxa de fecundidade, de 2,5 filhos para 1,9 filhos por
família, um decréscimo de 24%. Todos esses índices têm relação entre si e
mostram a importância da taxa de escolaridade para a geração de riquezas e
consequente bem-estar para uma nação. Outro indicador relacionado à educação é
a taxa de escolarização (percentual da população que frequenta a escola na sua
faixa etária). Com idade entre 15 e 17 anos, a taxa de escolarização é de
83,7%, e entre 18 e 24 anos, é de 28,9%. Isso significa que temos hoje, no
Brasil – pasmem – mais de 17 milhões de jovens fora da escola. Trata-se de um
desafio gigantesco que temos pela frente: colocar nossos jovens na sala de
aula.
Mas o que tem a ver a
escolaridade do brasileiro com royalties do petróleo do pré-sal? Vejamos. Em
2011, havia no Brasil 53,8 milhões de estudantes, sendo que a rede pública era
responsável por 78% desse total. Isso nos mostra que para melhorar a educação
significativamente no país é preciso mais recursos financeiros e melhor gestão
sobre esse montante e sobre o sistema educacional com um todo.
O Congresso Nacional,
que vem discutindo esse assunto há anos, apresentou recentemente uma proposta
de distribuição dos royalties entre os governos federal, estaduais e
municipais, além da destinação desses para investimentos na educação. Houve um
debate nacional entre os congressistas, mas não vimos nenhuma manifestação dos
professores nem de seus representantes e muito menos dos estudantes.
Se os recursos
financeiros dos royalties fossem destinados à educação, tomando como base a
produção anual de petróleo brasileiro, somente isso corresponderia a um
acréscimo de pelo menos o equivalente a 10% do investimento brasileiro atual em
educação. Sabemos que isso não é o suficiente para mudar radicalmente a
educação, mas também não é pouca coisa. Sem educação não haverá desenvolvimento
sustentável, nem crescimento econômico que se sustente porque não haverá
sociedade justa sem oportunidades para todos. A educação é a base.”
(RONALDO
GUSMÃO. Presidente do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec), em artigo
publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição
de 17 de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2308 – ano 46 – nº 7, de
13 de fevereiro de 2013, páginas 80 e 81, de autoria de GUSTAVO IOSCHPE, que é economista, e que merece igualmente integral
transcrição:
“Como
identificar um bom professor
Vou
fazer uma pergunta fácil: você teve algum professor especial, que fez diferença
na sua vida? Se você passou mais de dez anos estudando, aposto que não apenas a
resposta foi positiva, como imediatamente lhe veio à mente aquele (a) professor
(a). Agora, uma pergunta mais difícil: você poderia descrever as qualidades
desse professor especial, de forma que seus atributos pudessem ser copiados por
todos os outros professores em atividade?
Uma
série de estudos demonstra que um bom professor exerce influência substancial
sobre seus alunos, não apenas durante o período escolar mas por toda a vida.
Boa educação melhora a saúde, diminui a criminalidade e aumenta o salário. Eric
Hamushec, pesquisador de Stanford, calcula que um professor esteja entre os 25%
do topo da categoria e que tenha uma turma de trinta alunos gera, a cada ano,
um aumento na massa salarial desses alunos de quase 500 000 dólares ao longo da
vida deles. O problema é que, mesmo que todos saibam intuitivamente quem é um
bom professor, ainda não conseguimos explicar e decompor o seu comportamento de
forma que seja possível identificar os bons profissionais, promovê-los e
reproduzir a sua atuação. Os estudos estatísticos, que se valem de dados
facilmente quantificáveis, nos trazem alguns bons indícios – por exemplo, a
experiência do professor só importa nos dois a cinco primeiros anos de
carreira; professores que faltam às aulas têm alunos que aprendem menos;
professores que obtiveram notas melhores em testes padronizados, estudaram em
universidades mais competitivas e têm mais habilidade verbal exercem impacto
positivo sobre o aprendizado dos alunos; quanto mais sindicalizados os
professores, mais elas faltam e mais insatisfeitos estão com a carreira; e
professores com expectativas mais altas para seus alunos também obtêm
resultados superiores. Essas são todas variáveis “de fora”; estudos mais
recentes começam a entrar na escola e na sala de aula e tentam explicar os
componentes de um bom professor.
Um
estudo lançado em janeiro representa um grande passo à frente (esse e todos os
outros estudos citados aqui estão em www.twitter.com/gioschpe).
Patrocinado pela fundação Bill & Melinda Gates, ele conseguiu criar um
“mapa da mina” para a identificação de bons professores, depois de acompanhar
milhares de professores e alunos em sete distritos escolares americanos
(incluindo Nova York, Dallas e Denver) ao longo de três anos. Normalmente, só
cito neste espaço estudos publicados em revistas acadêmicas ou simpósios, que
são revisados e criticados por outros acadêmicos, porque é pequena a
probabilidade de uma fundação privada reconhecer em um relatório que, “depois de
três anos de esforços e milhões de dólares gastos, não encontramos nada de
relevante”. Nesse caso, porém, creio que
a exceção é justificada, não apenas por se tratar de uma fundação séria, que
chamou pesquisadores renomados para o trabalho, mas também por seu design
inovador.
Em
2009-2010, o estudo tentou criar instrumentos que identificassem professores
competentes. Chegou a um menu de três itens: observação de professores em sala
de aula, questionários preenchidos pelos alunos e ganhos dos alunos em testes
padronizados, ou seja, quanto os alunos daquele determinado professor ganhavam
em aprendizado de um ano a outro nesses testes (equivalente ao nosso Enem ou
Prova Brasil). Fez-se um trabalho cuidadoso para estabelecer quem deveria
observar os professores, quantas vezes e olhando para quais dimensões; como
inquirir alunos; e, no quesito valor agregado, teve-se a precaução de
controlar uma série de variáveis dos
alunos (status social, situação familiar etc.) para que se pudesse isolar a
qualidade do professor, não do aluno.
Mesmo
com todos esses cuidados, ainda há muito que não sabemos nem controlamos que
pode interferir nos resultados. Pode ser que os melhores alunos procurem os
melhores professores, os que os melhores professores escolham dar aulas para
turmas ou séries melhores, e aí o que pareceria o impacto do professor seria
uma complexa interação entre professores e alunos que inviabilizaria qualquer
análise. (Seria como examinar a eficácia de um médico julgando apenas a taxa de
cura de seus pacientes. Se os casos mais complicados procuram os melhores
médicos, ou se os melhores médicos procuram os pacientes mais intratáveis, é
provável que os melhores médios e os piores tenham pacientes com expectativa de
vida similar, apesar e de terem competências radicalmente distintas.) A
fundação então conseguiu fazer o que se faz nas ciências exatas para isolar o
efeito de uma variável: no ano seguinte, distribuiu os professores
aleatoriamente. A turma a que cada um ensinaria foi totalmente determinada por
sorteio. Mais de 1 000 professores, atendendo mais de 60 000 alunos, participaram. E os
resultados são fascinantes.
Em
primeiro lugar, a performance esperada dos professores ficou muito próxima da
performance real (ambas medidas pelo aprendizado de seus alunos). Ou seja, os
professores identificados como bons através das observações de seus pares,
questionários de alunos e valor agregado em anos anteriores continuaram, grosso
modo, sendo bons professores ensinando a turmas aleatoriamente escolhidas.
Em
segundo lugar, foi possível sofisticar o modelo. Testaram-se quatro variações
das ferramentas de avaliação dos professores, e notou-se que uma das melhores
combinações era aquela que dava peso igual (33% a cada um) aos três componentes
(performance em teste, observação e questionário de alunos). Quando alguns
professores reclamam que é reducionismo avaliá-los somente pela performance de
seus alunos em testes, aparentemente têm razão: é melhor adicionar essas duas
outras variáveis. Também se testaram vários modelos diferentes de observação
docente, desde aquele em que o professor é avaliado por seu diretor até versões
mais complexas. Os modelos mais confiáveis se mostraram aqueles em que o
professor foi avaliado por pelo menos quatro observadores, em aulas diferentes,
sendo dois deles pessoas da administração da escola (é importante que seja mais
de uma para evitar a influência de conflitos/preferências pessoais) e dois,
outros professores, treinados para a tarefa.
Nenhum
estudo é definitivo, muito menos um feito por uma fundação, e nada garante que
os mesmos achados serão encontrados no Brasil, ainda que normalmente o que apareça nos Estados Unidos
também se verifique aqui. Mas, ante o modelo atual, obviamente fracassado, em
que o professor é contratado por concurso no início da carreira e depois fica
esquecido em sua sala de aula, fazendo o que bem entender e sendo promovido por
nível de estudo e experiência, o horizonte descortinado por essa pesquisa é bem
mais promissor. Precisamos encontrar e premiar os bons professores. E ter
ferramentas objetivas e mensuráveis para tirar os maus profissionais da sala de
aula. Sem isso, dificilmente sairemos dessa pasmaceira.”
Eis, portanto, mais importantes, pedagógicas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –,
para a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, soberanas, civilizadas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até à pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e
diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar
por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e
comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício,
em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e
danos, inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas
com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta
sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa
capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades
de ampliação e modernização de
setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); mobilidade
urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto
tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; assistência social;
previdência social; segurança alimentar e nutricional; emprego, trabalho e
renda; moradia; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa
civil; agregação de valor às commodities; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer;
turismo; comunicações; sistema financeiro nacional; minas e energia; qualidade (planejamento,
eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade,
competitividade), entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada,
civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de
Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias,
da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da
paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...