“A
ética da pesquisa científica
Tema crucial. A
pesquisa alimenta o sistema moderno em todos os campos. A inteligência humana
caracteriza-se pela inquietude, e, no Ocidente, assumiu forma extremamente
aguda. As linhas da ansiedade variam enormemente. Ora, o ser humano busca
resposta às efervescências interiores no Infinito de Deus. Santo Agostinho, os
místicos a sede do Absoluto como supremo grito do coração humano à espera da
contemplação eterna. E aí estão as obras de espiritualidade a traçar-nos a
subida do monte Carmelo ou o galgar das Moradas de Deus.
Ora,
essa mesma força interior volta-se para a conquista da Terra. Os colonizadores
venceram mares, enfrentaram procelas, descobriram continentes. E, por isso,
aqui estamos, nas Américas.
Ora,
outros mergulharam nas profundidades do eu psíquico. Atingiram esferas até
então vividas e sofridas, mas desconhecidas, chamando-as de Ide, superego.
Reino na psicanálise, da psicologia profunda.
Ora, o
desafio veio da matéria, das leis físicas, dos corpos, das estruturas
constitutivas das coisas. Os sentidos empenham-se em pôr ordem na floresta de
seres. Seduziu-os o mistério das leis que regem tanto o universo grandioso dos
astros como o micro das partículas. Mais. Não lhe bastou o funcionamento já
dado. Quis ir mais longe. E foi. Começou a inventar, a partir das coisas conhecidas, outras
imaginadas que viessem modificar o modo humano de agir. E a pesquisa científica
pôs-se a transitar por mares nunca dantes navegados. Entrou pela estrada da
criação. Qual o limite dessa aventura?
Nesse
ponto, nasce o conflito com a ética. Enquanto conhecia as leis postas pelo
Criador, seguia tranquilo na consciência de que louvava a Deus. Desde as formas
mais simples até as mais sofisticadas de conhecimento científico permitiram o
louvor de Deus. No início e no fim, estava Ele, Alfa e Ômega. E quando começou
a sair da rota, veio-lhe a pergunta: Cabe-nos também o papel de criador? Quem
nos dirá os caminhos a trilhar, se nos sentimos onipotentes?
A
ética parou para responder. Não encontrou resposta na própria matéria. Ela
permanece muda, disponível. Teve que voltar-se para o ser humano. Que
transformações do mundo, das coisas nos fazem humanos? Que pesquisas favorecem
o caminhar da humanidade pelas vias do bem, da verdade, da beleza, da
solidariedade? Perguntas gerais. Difícil resposta porque nem sempre se veem
claros os frutos das pesquisas.
Talvez
o critério se estabeleça de maneira clara se o olhar se voltar pela lado
negativo. Que não podemos tocar, qual terreno misterioso, sem profanar o
sacrário da existência humana, sobretudo lá onde se gera a vida?
Complica-se
gravemente a ética quando se apossam das pesquisas não o ser humano na transparência
do próprio mistério, mas forças econômicas e políticas sem nenhuma referência
ética. Interessa-lhes o resultado da materialidade a fim de obter mais lucro ou
poder. A maior ameaça da pesquisa à ética vem da primazia absoluta do interesse
comercial chamado lucro. Ao ídolo maior do capitalismo se queima o incenso da
ciência. Os seus nefastos e perversos efeitos cedem diante do tilintar do
capital ambicionado.”
(J. B.
Libânio. Teólogo, escritor e professor; padre jesuíta, em artigo publicado
no jornal O TEMPO Belo Horizonte,
edição de 9 de junho de 2013, caderno O.PINIÃO,
página 19).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de junho
de 2013, caderno OPINIÃO, página 9,
de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, que
é diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências
Sociais (IICS), doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), e
que merece igualmente integral transcrição:
“Iluminar
a cena
O jornalista Carl
Bernstein – famoso no mundo inteiro depois da série de reportagens, escrita com
Bob Woodward, que revelou o escândalo Watergate e derrubou o presidente Richard
Nixon – não forma com o time dos corporativistas da mídia. Sua crítica, aberta
e direta, aos eventuais desvios das reportagens representa excelente
contribuição ao jornalismo de qualidade. “O importante é saber escutar”, diz
Bernstein. “As respostas são sempre mais importantes que as perguntas que você
faz. A grande surpresa no jornalismo é descobrir que quase nunca uma história
corresponde àquilo que imaginávamos.”
O bom
jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história. A
distorção, no entanto, escapa à perspicácia do leitor médio. Daí a gravidade do
dolo. Na verdade, a batalha da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação
deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. Todos os
manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo
assunto. Mas alguns procedimentos, próprios de opções ideológicas invencíveis,
transformam um princípio irretocável num jogo de aparência.
A
apuração de mentira representa uma das mais graves agressões à ética e à
qualidade informativa. Matérias previamente decididas em guetos sectários
buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro
lado não é honesta, não se apóia na busca da verdade, mas num artifício que
transmite um simulacro de isenção, uma ficção de imparcialidade. O assalto à
verdade culmina com uma estratégia exemplar: repercussão seletiva. O pluralismo
de fachada, hermético e dogmático, convoca pretensos especialistas para
declarar o que o repórter quer ouvir. Mata-se a notícia. Cria-se a versão.
A
reportagem de qualidade é sempre substantiva. O adjetivo é adorno da
desinformação, o farrapo que tenta cobrir a nudez da falta de apuração. É
importante que os responsáveis pelas redações tomem consciência desta verdade
redonda: a imparcialidade (que não é neutralidade) é o melhor investimento.
A
precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade. A
incompetência foge dos bancos de dados. Na falta de pergunta inteligente, a
ditadura das aspas ocupa o lugar da informação. O jornalismo de registro,
burocrático e insosso é o resultado acabado de uma perversa patologia: o
despreparo de repórteres e a obsessão de editores com o fechamento. Quando
editores não formam os seus repórteres, quando a qualidade é expulsa pela
ditadura do deadline, quando as pautas não nascem da vida real, mas de
pauteiros anestesiados pelo clima rarefeito das redações, é preciso ter a
coragem de repensar todos os processos.
Autor
do mais famoso livro sobre a história do jornal The New York Times, Gay Talese vê alguns problemas a partir da
crise que atingiu um dos jornais mais influentes do mundo. Embora faça uma
vibrante defesa do Times, “uma
instituição que está no negócio há mais de cem anos”, Talese põe o dedo em
algumas chagas que, no fundo, não são exclusividade do diário americano. Elas
ameaçam, de fato, a credibilidade da própria imprensa. “Não fazemos matéria
direito, porque a reportagem se tornou muito tática, confiando em e-mail,
telefones, gravações. Não é cara a cara. Quando eu era repórter, nunca usava o
telefone. Queria ver o rosto das pessoas. Não se anda na rua, não se pega o
metrô ou um ônibus, um avião, não se vê, cara a cara, a pessoa com que se está conversando”, conclui Talese.
A
autocrítica interna deve ser acompanhada por um firme propósito de
transparência e de retificação. Uma imprensa ética sabe reconhecer os seus
erros. As palavras podem informar corretamente, denunciar situações injustas,
cobrar soluções. Mas podem também esquartejar reputações, destruir patrimônios,
desinformar. Confessar um erro de português ou uma troca de legenda é fácil.
Mas admitir a prática de prejulgamento, de engajamento ideológico ou de
leviandade noticiosa exige pulso e coragem moral. Reconhecer o erro, limpa e
abertamente, é condição da qualidade e,por isso, um dos alicerces da
credibilidade.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna
vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, isto é, próximos de
zero; II – a corrupção, como um
câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente
irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta
sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa
capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades
de ampliação e modernização de
setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; saneamento ambiental (água
tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana,
logística reversa); habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; logística; pesquisa e desenvolvimento;
ciência, tecnologia e inovação; assistência social; previdência social;
segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia
federal; defesa civil; turismo; esporte, cultura e lazer; sistema financeiro
nacional; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades
e potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa das Confederações; a 27ª Jornada Mundial
da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada
de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século
21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da
informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da
sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da
paz, da igualdade – e com equidade, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...