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quarta-feira, 22 de julho de 2015

A CIDADANIA, OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO E AS COMPLEXAS DEMANDAS DA JUVENTUDE

“Um olhar de esperança pela educação
        Tem sido um desafio gigantesco para nós, professores/educadores, o buscar entender a situação por que passa a educação hoje. Se fizermos uma análise da trajetória histórica da educação, vamos encontrar momentos bem distintos, e gostaria de lembrar apenas uma situação, qual seja, a passagem de uma educação elitizada para uma educação mais acessível aos menos favorecidos. Isso nos basta para entender a importância que tem a educação dentro de qualquer contexto social, uma vez que não podemos visualizar um futuro promissor sem refletir, antes, numa educação que esteja comprometida em levar as pessoas a pensar e, mais ainda, a sonhar.
         Essa ideia nos pensar de forma mais preocupante sobre o futuro da educação. Ao longo dos anos, esse humanismo foi sendo substituído por uma formação mais tecnicista. Se levarmos em consideração o contexto histórico, isso começa a acontecer no início da Idade Moderna, sobretudo, com o pensamento de René Descartes, a partir do qual se constrói um paradigma no qual aquele que pensa, o homem, deve estar deve estar separado do objeto pensado. Essa novidade impulsionou o desenvolvimento da ciência nas suas várias áreas específicas, consequentemente, influenciou na elaboração dos currículos escolares ao longo desses anos todos.
         Progresso à vista. A grande árvore do conhecimento começa a ser podada. Uma nova concepção do que seja conhecer está sendo moldada. São galhos espalhados e separados do seu tronco original e, como consequência prática dessa mudança na educação, podemos apontar a instituição de um currículo fragmentado sem nenhum compromisso com a totalidade do saber, do conhecimento, trazendo uma preocupante carência de sabedoria, isso porque “ciência e tecnologia lançaram-se em uma correria cega sem prestar atenção à paisagem de humanidade que as cerca, sem sonhar com o que deixaram atrás delas, para melhor obedecer ao espírito frenético de conquistas que as arrasta para um terrível futuro”, afirma, sabiamente, Georges Gusdorf, no prefácio do livro Interdisciplinaridade e patologia do saber, de Hilton Japiassu.
         Diante de todo esse quadro apresentado, podemos afirmar que o nosso sistema educacional precisa de uma restauração, uma vez que está envelhecido e enrugado na forma de conduzir o conhecimento àqueles que frequentam as nossas escolas, crianças e jovens, que continuam desorientados e pouco instruídos em relação ao futuro que lhes aguarda. O sistema educacional está no CTI, precisando de socorro.
         Esse é o nosso grande desafio: estabelecer um diálogo entre as diferentes disciplinas e construir no corpo discente uma consciência diferente da que se percebe hoje no dia a dia das escolas, qual seja, de que devemos estudar apenas em função de uma nota, o que, na verdade, não representa o resultado de uma aprendizagem real. Só assim resgataríamos a autoestima necessária para gerar em cada aluno o prazer de ir à escola e acabarmos de uma vez por todas com esse marasmo que tomou conta das nossas instituições escolares. Trato aqui, portanto, de uma questão que vai muito além dos reais problemas políticos que interferem no resultado final da educação.
         Precisamos, imediatamente, de nos preocupar menos com resultados estatísticos para nos preocupar mais com resultados reais, que é uma educação voltada para o desenvolvimento da interioridade humana, que se reflete diretamente na construção de uma consciência plena voltada para os valores que edificam uma sociedade comprometida com a garantia de um futuro feliz, cujo modelo, paidea, já encontramos em pleno século 5 a.C., na Grécia Antiga de Sócrates, Platão e Aristóteles, como exigência de mudanças dentro de contexto histórico educacional da pólis grega.
         E é o próprio Platão quem nos ajuda a entender o valor e o significado da Paidea Grega como “(...) a essência de toda a verdadeira educação ou Paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento”. Só nos resta agora uma única coisa: mudar as nossas atitudes, o que representa, com toda certeza, um olhar de esperança pela educação.”

(EUDÁSIO CAVALCANTE. Professor, graduado em filosofia, pós-graduado em história e psicopedagogia, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 21 de julho de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 20 de julho de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, jornalista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Juventude ameaçada
        O crescimento dos casos de Aids, o aumento da violência e a escalada das drogas ameaçam a juventude. A deterioração econômica e a falta de perspectiva de trabalho exacerbam o clima de desesperança. A percepção da falência do Estado em áreas essenciais (educação, saúde, segurança, transporte) causa muita frustração. Para muitos jovens, infelizmente, os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida deles.
         Desemprego, gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, Aids e drogas compõem a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as portas para uma explosão de violência. Além disso, a moçada não foi preparada para a adversidade. E a delinquência é, frequentemente, a manifestação visível da depressão.
         A situação é reflexo de uma cachoeira de equívocos e de uma montanha de omissões. O novo perfil da delinquência é o resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio de setores do mundo do entretenimento que se empenham em apagar qualquer vestígio de valores. Tudo isso, obviamente, agravado e exacerbado pela falência de políticas públicas e a ausência de expectativas.
         Os pais da geração transgressora têm parte da culpa. Choram os desvios que cresceram no terreno fertilizado pela omissão. O delito não é apenas reflexo da falta de autoridade familiar. É muitas vezes, um grito de revolta e carência. A pobreza material agride o corpo, mas a falta de amor castiga a alma. Os adolescentes necessitam de pais morais, e não de pais materiais.
         Reféns da cultura da autorrealização, alguns pais não suportam ser incomodados pelas necessidades dos filhos. O vazio afetivo – imaginam na insanidade do seu egoísmo – pode ser preenchido com carros, boas mesadas e um celular para os casos de emergência. Acuados pela desenvoltura antissocial dos filhos, recorrem ao salva-vidas da psicopatia. E é aí que a coisa pode complicar. Como dizia Otto Lara Resende, com ironia e certa dose de injusta generalização, “a psicanálise é a maneira mais rápida e objetiva de ensinar a odiar o pai, a mãe e os melhores amigos”. Na verdade, a demissão do exercício da paternidade está na raiz do problema.
         Se a crescente falange de adolescentes criminosos deixa algo claro, é o fato de que cada vez mais pais não conhecem os próprios filhos. Não é difícil imaginar em que ambiente afetivo se desenvolvem os integrantes das gangues juvenis. As análises dos especialistas em políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo. Menos da crise da família. Mas o nó está aí. Se não tivermos a firmeza de desatá-lo, assistiremos, acovardados, a uma espiral de violência sem precedentes. É uma questão de tempo. Infelizmente.
         Ao traçar o perfil de alguns desvios da sociedade norte-americana, o sociólogo Christopher Lasch, autor do livro A rebelião das elites, sublinha as dramáticas consequências que estão ocultas sob a aparência da tolerância: “Gastamos a maior parte da nossa energia no combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoa se sentissem bem consigo mesmas.” O saldo é uma geração desorientada e vazia. A despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de superpredadores.
         O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeros patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio.
         É preciso ir às causas profundas da delinquência. Ou encaramos tudo isso com coragem ou seremos tragados por uma onda de violência jamais vista. O resultado final da pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e da crise da autoridade está apresentando consequências dramáticas. Chegou para todos a hora de falar claro. É preciso pôr o dedo na chaga e identificar a relação que existe entre o medo de punir e os seus efeitos antissociais.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do IBGE, a inflação de junho medida pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – e acumulada nos últimos doze meses atingiu 8,89%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...”;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e segundo o estudo “Transporte e Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho, divulgado pela Confederação Nacional do Transporte, se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria uma economia anual de R$ 3,8 bilhões...);

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!