“Um
olhar de esperança pela educação
Tem sido um desafio
gigantesco para nós, professores/educadores, o buscar entender a situação por
que passa a educação hoje. Se fizermos uma análise da trajetória histórica da
educação, vamos encontrar momentos bem distintos, e gostaria de lembrar apenas
uma situação, qual seja, a passagem de uma educação elitizada para uma educação
mais acessível aos menos favorecidos. Isso nos basta para entender a
importância que tem a educação dentro de qualquer contexto social, uma vez que
não podemos visualizar um futuro promissor sem refletir, antes, numa educação
que esteja comprometida em levar as pessoas a pensar e, mais ainda, a sonhar.
Essa
ideia nos pensar de forma mais preocupante sobre o futuro da educação. Ao longo
dos anos, esse humanismo foi sendo substituído por uma formação mais
tecnicista. Se levarmos em consideração o contexto histórico, isso começa a
acontecer no início da Idade Moderna, sobretudo, com o pensamento de René
Descartes, a partir do qual se constrói um paradigma no qual aquele que pensa,
o homem, deve estar deve estar separado do objeto pensado. Essa novidade
impulsionou o desenvolvimento da ciência nas suas várias áreas específicas,
consequentemente, influenciou na elaboração dos currículos escolares ao longo
desses anos todos.
Progresso
à vista. A grande árvore do conhecimento começa a ser podada. Uma nova
concepção do que seja conhecer está sendo moldada. São galhos espalhados e
separados do seu tronco original e, como consequência prática dessa mudança na
educação, podemos apontar a instituição de um currículo fragmentado sem nenhum
compromisso com a totalidade do saber, do conhecimento, trazendo uma
preocupante carência de sabedoria, isso porque “ciência e tecnologia
lançaram-se em uma correria cega sem prestar atenção à paisagem de humanidade
que as cerca, sem sonhar com o que deixaram atrás delas, para melhor obedecer
ao espírito frenético de conquistas que as arrasta para um terrível futuro”,
afirma, sabiamente, Georges Gusdorf, no prefácio do livro Interdisciplinaridade e patologia do saber, de Hilton Japiassu.
Diante de todo esse quadro apresentado,
podemos afirmar que o nosso sistema educacional precisa de uma restauração, uma
vez que está envelhecido e enrugado na forma de conduzir o conhecimento àqueles
que frequentam as nossas escolas, crianças e jovens, que continuam
desorientados e pouco instruídos em relação ao futuro que lhes aguarda. O
sistema educacional está no CTI, precisando de socorro.
Esse é
o nosso grande desafio: estabelecer um diálogo entre as diferentes disciplinas
e construir no corpo discente uma consciência diferente da que se percebe hoje
no dia a dia das escolas, qual seja, de que devemos estudar apenas em função de
uma nota, o que, na verdade, não representa o resultado de uma aprendizagem
real. Só assim resgataríamos a autoestima necessária para gerar em cada aluno o
prazer de ir à escola e acabarmos de uma vez por todas com esse marasmo que tomou
conta das nossas instituições escolares. Trato aqui, portanto, de uma questão
que vai muito além dos reais problemas políticos que interferem no resultado
final da educação.
Precisamos,
imediatamente, de nos preocupar menos com resultados estatísticos para nos
preocupar mais com resultados reais, que é uma educação voltada para o
desenvolvimento da interioridade humana, que se reflete diretamente na
construção de uma consciência plena voltada para os valores que edificam uma
sociedade comprometida com a garantia de um futuro feliz, cujo modelo, paidea,
já encontramos em pleno século 5 a.C., na Grécia Antiga de Sócrates, Platão e
Aristóteles, como exigência de mudanças dentro de contexto histórico
educacional da pólis grega.
E é o
próprio Platão quem nos ajuda a entender o valor e o significado da Paidea
Grega como “(...) a essência de toda a verdadeira educação ou Paideia é a que
dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a
mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento”. Só nos resta agora uma
única coisa: mudar as nossas atitudes, o que representa, com toda certeza, um
olhar de esperança pela educação.”
(EUDÁSIO
CAVALCANTE. Professor, graduado em filosofia, pós-graduado em história e
psicopedagogia, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 21 de julho de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania
e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 20 de julho
de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, jornalista, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Juventude
ameaçada
O crescimento dos casos
de Aids, o aumento da violência e a escalada das drogas ameaçam a juventude. A
deterioração econômica e a falta de perspectiva de trabalho exacerbam o clima
de desesperança. A percepção da falência do Estado em áreas essenciais
(educação, saúde, segurança, transporte) causa muita frustração. Para muitos
jovens, infelizmente, os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida
deles.
Desemprego,
gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, Aids e drogas
compõem a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as
portas para uma explosão de violência. Além disso, a moçada não foi preparada
para a adversidade. E a delinquência é, frequentemente, a manifestação visível
da depressão.
A
situação é reflexo de uma cachoeira de equívocos e de uma montanha de omissões.
O novo perfil da delinquência é o resultado acabado da crise da família, da
educação permissiva e do bombardeio de setores do mundo do entretenimento que
se empenham em apagar qualquer vestígio de valores. Tudo isso, obviamente,
agravado e exacerbado pela falência de políticas públicas e a ausência de
expectativas.
Os
pais da geração transgressora têm parte da culpa. Choram os desvios que
cresceram no terreno fertilizado pela omissão. O delito não é apenas reflexo da
falta de autoridade familiar. É muitas vezes, um grito de revolta e carência. A
pobreza material agride o corpo, mas a falta de amor castiga a alma. Os
adolescentes necessitam de pais morais, e não de pais materiais.
Reféns
da cultura da autorrealização, alguns pais não suportam ser incomodados pelas
necessidades dos filhos. O vazio afetivo – imaginam na insanidade do seu
egoísmo – pode ser preenchido com carros, boas mesadas e um celular para os
casos de emergência. Acuados pela desenvoltura antissocial dos filhos, recorrem
ao salva-vidas da psicopatia. E é aí que a coisa pode complicar. Como dizia
Otto Lara Resende, com ironia e certa dose de injusta generalização, “a
psicanálise é a maneira mais rápida e objetiva de ensinar a odiar o pai, a mãe
e os melhores amigos”. Na verdade, a demissão do exercício da paternidade está
na raiz do problema.
Se a
crescente falange de adolescentes criminosos deixa algo claro, é o fato de que
cada vez mais pais não conhecem os próprios filhos. Não é difícil imaginar em
que ambiente afetivo se desenvolvem os integrantes das gangues juvenis. As
análises dos especialistas em políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos
politicamente corretos. Fala-se de tudo. Menos da crise da família. Mas o nó
está aí. Se não tivermos a firmeza de desatá-lo, assistiremos, acovardados, a
uma espiral de violência sem precedentes. É uma questão de tempo. Infelizmente.
Ao
traçar o perfil de alguns desvios da sociedade norte-americana, o sociólogo
Christopher Lasch, autor do livro A
rebelião das elites, sublinha as dramáticas consequências que estão ocultas
sob a aparência da tolerância: “Gastamos a maior parte da nossa energia no
combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoa se sentissem bem
consigo mesmas.” O saldo é uma geração desorientada e vazia. A
despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de
superpredadores.
O
inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeros
patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade,
começa a ganhar contornos de solução válida. A pena é que tenhamos de pagar um
preço tão alto para redescobrir o óbvio.
É
preciso ir às causas profundas da delinquência. Ou encaramos tudo isso com
coragem ou seremos tragados por uma onda de violência jamais vista. O resultado
final da pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e da crise da
autoridade está apresentando consequências dramáticas. Chegou para todos a hora
de falar claro. É preciso pôr o dedo na chaga e identificar a relação que
existe entre o medo de punir e os seus efeitos antissociais.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do IBGE, a inflação de
junho medida pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – e acumulada nos
últimos doze meses atingiu 8,89%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do
procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava
Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o
problema é que o sistema é cancerígeno...”;
eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos
borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um
verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque,
rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim,
é crime...); III – o desperdício, em
todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e segundo o estudo “Transporte e
Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho, divulgado
pela Confederação Nacional do Transporte, se fossem eliminados os gastos adicionais
devido a esse gargalo, haveria uma economia anual de R$ 3,8 bilhões...);
c) a
dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para
2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$
868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os
projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização,
da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!
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