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quarta-feira, 17 de maio de 2017

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, A ESSÊNCIA DO UNIVERSO INTERIOR E OS DESAFIOS E EXIGÊNCIAS DA ESCOLA TRANSFORMADORA

“A via harmoniosa que integra os 
corpos do homem ao seu arquétipo
Impulsionados pela vontade espiritual, os indivíduos estão sendo chamados a integrar seus corpos à nota harmônica do arquétipo-síntese humano. Uma vez realizada essa união, os corpos poderão servir plenamente ao ser interno, meta que, desde sempre, esteve reservada a eles.
A unificação da consciência e dos corpos do ser a essa nota harmônica traz-lhes clareza e equilíbrio, transforma completamente sua vida.
É por intermédio do espírito que os corpos do homem contata esses padrões arquétipos. Quando se estabelece a sintonia entre o eu consciente e o nível profundo onde a harmonia integral existe, a vibração arquetípica age com mais liberdade sobre a matéria. Esse é o caminho da cura, que pode ser compartilhada pelo âmago de cada átomo, de cada substância ou de cada célula.
O estabelecimento de uma ressonância entre a vibração das partículas dos corpos e a da matriz cósmica corrige desarmonias, elimina o supérfluo, o ultrapassado ou o dissonante, e leva essas partículas a reencontrar sua função real e sua estrutura correta. Para que isso possa ocorrer, é necessária a entrega por parte do indivíduo. É o desapego e a abertura à consciência elevada que garantem a maleabilidade da matéria e sua receptividade à energia arquetípica.
Os impulsos emanados dos arquétipos atuam sobre os corpos por meio de uma onda vibratória muito potente, de modelação. E, assim como um instrumento musical afinado pode ser usado como referência para a afinação de outro, um ser que exprima o padrão arquetípico puro serve de referência para a aproximação de outros à própria nota harmônica.
O caminho breve para a harmonização não é, portanto, o de insistir em curas parciais, mas o de sintoniza-se, em silêncio e em atenta tranquilidade, com a vida interna, porta-voz da Vontade Maior, espelho do modelo superior para o ser.
A fim de penetrar esse universo sutil, a consciência deve despojar-se do racionalismo críticos e dos aspectos inferiores da mente. Na origem, a mente humana foi criada para atuar como instrumento de revelação da vida interior no mundo concreto. Se por ter sido mal usada tornou-se um obstáculo a essa realização, cabe ao ser abrir-se à Graça.
Tanto o universo macrocósmico quanto o microcósmico são compostos de consciências em diferentes graus de condensação. Desde a energia vivificante, curadora e libertadora que um ser humano pode emitir, até a mutação do estado vibratório global de um planeta, tudo é consciência em movimento e expressão. Seja na existência solar, seja no núcleo de um átomo, ela está presente, unindo níveis e dimensões, constituindo a vida interna do universo.
Quanto mais o homem se deixa trabalhar pelo silêncio interior, mais se aproxima dessa vida universal. Em alinhamento com seu núcleo profundo, suas palavras não transmitem só ideias, mas sobretudo a vibração de sua essência.
A correta utilização das palavras, fruto da sabedoria do silêncio, pode gerar campos energéticos que favorecem a comunicação dos homens com a sua realidade interna. Palavras emitidas em sintonia com a vida profunda emanam ondas curadoras e transformadoras. Cada som proferido deve ser lapidado, sintético. Assim, desperta-se a capacidade de elevar a vibração do nível mental da humanidade. A linguagem deve espelhar a comunicação interior; ela pode ser exata e poética, técnica e amorosa, cósmica e humana ao mesmo tempo.”.

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 14 de maio de 2017, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 13 de maio de 2017, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de EUDÁSIO CAVALCANTE MELO, professor, graduado em filosofia, pós-graduado em história, psicopedagogia e gestão educacional, e que merece igualmente integral transcrição:

“Se educo, logo transformo
        Gostaria de iniciar esta reflexão sobre o papel da escola no mundo contemporâneo meio que meio que plagiando René Descartes, grande filósofo francês renascentista, quando diante de um momento de grandes e consideráveis transformações, em função da mudança de paradigma, em que a Terra deixa de ser o centro do Universo e dá lugar ao Sol, o que significou uma nova visão de mundo. Ele afirma de forma categórica, diante das dúvidas geradas com relação ao conhecimento dentro deste novo contexto: “Penso, logo existo”.
         E tenho, como resultado da minha prática em sala de aula, refletido e de uma certa forma me preocupado com ação da escola como instituição educadora e espaço de transformação. Estamos vivendo um momento muito difícil na educação das nossas crianças e adolescentes. E essa dificuldade está diretamente ligada a este contexto histórico em que existe uma crise generalizada em todos os setores da nossa sociedade. E como a escola não pode ser vista de forma desconexa do todo neste contexto social, o processo educativo foi atingido em cheio por esta crise devastadora.
         Qual o verdadeiro papel e qual o grau de colaboração da escola na formação integral dos indivíduos nas suas relações sociais, uma vez que ela gera interferência no modo de ser e agir das pessoas? Para darmos uma resposta plausível à questão acima, que motiva este artigo, e entender melhor esse momento que estamos vivendo, faz-se necessário analisar todo um processo histórico anterior. É verdade afirmar que a história é cíclica, e que a esta trajetória cíclica podemos chamar de períodos históricos, e que no final de cada período vamos encontrar momentos que podemos chamar de desconstrução, como resultado de crises naturalmente geradas no final do ciclo. Estamos vivendo um final de ciclo, no qual percebemos um caos instituído nas diversas áreas que compõem nosso contexto social, econômico, político e, mais preocupante, familiar.
         Voltando na história, mais precisamente no século 15, nos deparamos com um momento de desconstrução, qual seja, o final de um período de aproximadamente 10 séculos de história, o período medieval, montado num modelo de sociedade estamental extremamente obediente à sua hierarquia natural e aos preceitos e valores religiosos cristãos que controlavam o processo de conhecimento da época. Junto a isso, uma economia predominantemente agrícola. Tal estrutura dava sustentação aos sistema medieval.
         A partir do século 15, a história toma um novo rumo. Mudanças significativas geraram um novo sistema econômico capitalista, a instituição de uma sociedade baseada no desenvolvimento de pequenas indústrias manufatureiras, a classe intelectual mais livre para pensar e, como consequência, o desenvolvimento das ciências como construção do saber humano. Aqui encontramos uma característica que foi própria da época, um homem individualista baseado na ideia do “eu posso”. No entanto, saber é poder. E para acompanhar melhor esta linha de evolução da história, faz-se necessário referenciar alguns acontecimentos importantes dentro deste ciclo, tais como a Primeira e Segunda Revolução Industrial, Primeira e Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria, globalização econômica, tudo isso como resultado da capacidade do homem de pensar e transformar o mundo através da tecnologia. E, para fechar, como resultado de tudo isso, não podemos nos esquecer da instituição de novos valores, uma necessidade inerente à própria evolução, ou seja, novas relações entre o homem e suas crias tecnológicas, novas relações do homem consigo mesmo e com o outro.
         Creio que agora podemos falar da escola como um espaço onde se aprende e onde se transforma. Essa seria a escola ideal. Afirmo seria, já que a resposta é fácil de ser dada: o sistema educacional não acompanhou toda essa evolução antes elencada. Não conseguiu, em momento algum da história, ser um espaço atrativo em que o aluno pudesse sentir prazer em estar. Historicamente, a escola foi usada como instrumento para formar alunos em vista de interesses alheios, ou seja, exteriores e distantes dos seus projetos pessoais. Aqui está parte do fracasso da escola. Uma escola que não transforma e que não está preocupada com a interioridade humana, mas uma escola que privilegia os interesses exteriores ao próprio homem. Uma escola que não cria possibilidades, mas que possibilita a própria alienação dos seus educandos, gerando limitações e falta de atitudes naqueles que a frequentam.
         Outro aspecto importante que mostra este descompasso da escola na sociedade contemporânea é que ela continua sendo uma mera reprodutora de um conhecimento que não gera no aluno uma visão mais aberta do mundo que o rodeia, não conseguindo evitar que o aluno faça perguntas do tipo: “Para que vou aprender este ou aquele conteúdo?” – o que caracteriza o real desinteresse dos alunos.
         Na verdade, a escola está sobrecarregada. Como as famílias estão fragilizadas nas suas relações estruturais, a escola está tendo que assumir papéis que não fazem parte daquilo que ela se propôs a fazer como instituição geradora de aprendizagem. O mundo continua num processo constante de transformações e parece que a escola não consegue acompanhar e, por isso, não se põe apta a atender às demandas da sociedade contemporânea, gerando, assim, um certo desencontro entre aquela que simplesmente repete as suas práticas internas e estagnadas no tempo e uma sociedade dinâmica que se renova a todo instante.
         É necessário, portanto, que a escola repense a sua prática e sua dimensão social, assumindo o seu papel de agente de transformação, de inclusão e não de exclusão. Para que isso se torne uma realidade, as mudanças devem começar pela construção de um novo paradigma que vise a uma formação mais integral e integrante dos seus educandos, capacitando-os para enfrentar os reais desafios e exigências da sociedade contemporânea, entendendo que a nova escola contemporânea deve resgatar a imagem e valor dos seus formadores, colocando-os não como meros transmissores de conhecimento, mas como um instrumento necessário e imprescindível na construção de mentes pensantes. E, assim, ajudar e incentivar os seus educandos na busca e na valorização de um conhecimento que primeiro os ajude a transformar-se interiormente e, como consequência, provocar uma transformação exterior na construção de uma sociedade mais humana e mais humanizante, em que a tecnologia seja um instrumento de aproximação e não de isolamento entre as pessoas. Uma educação que não retire das pessoas o direito de usufruir o direito maior de todos os direitos humanos, o de pensar.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em março/2017 a ainda estratosférica marca de 490,3% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 328,0%; e já o IPCA também no acumulado dos últimos doze meses, em abril, chegou a 4,08%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 946,4 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        
 
 




           


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A CIDADANIA, A HUMANIDADE NA ELABORAÇÃO CIENTÍFICA E A CONSTRUÇÃO DA CULTURA DA FRATERNIDADE UNIVERSAL

“Nossa cultura conferiu valor 
absoluto ao espírito científico
        A nossa cultura, a partir do chamado Século das Luzes (1715-1789), aplicou de forma rigorosa a compreensão de René Descartes (1596-1650) de que o ser humano é “Senhor e mestre” da natureza, podendo dispor dela ao seu bel-prazer. Conferiu um valor absoluto à razão e ao espírito científico.
         Com isso, se fecharam muitas janelas do espírito que permitem também um conhecimento, sem necessariamente passar pelos cânones racionais. O que mais foi marginalizado e até difamado foi o coração, órgão da sensibilidade e do universo das emoções, sob o protesto de que ele atrapalharia “as ideias claras e distintas” (Descartes) do olhar científico. Assim surgiu um saber sem coração, mas funcional ao projeto da modernidade, que era – e continua sendo – o de fazer do saber um poder como forma de dominação da natureza, dos povos e das culturas.
         Curiosamente, toda a epistemologia moderna, que incorpora a mecânica quântica, a nova antropologia, a filosofia fenomenológica e a psicologia analítica, tem mostrado que todo conhecimento vem impregnado das emoções do sujeito e que sujeito e objeto estão indissoluvelmente  vinculados, às vezes por interesses escusos (J. Habermas).
         Foi a partir de tais constatações e com a experiência desapiedada das guerras modernas que se pensou no resgate do coração. Finalmente, é nele que reside o amor, a simpatia, a compaixão, o sentido de respeito, base da dignidade humana e dos direitos inalienáveis.
         Isso que nos parece novo e uma conquista – os direitos do coração – era o eixo da grandiosa cultura maia na América Central, particularmente na Guatemala. Como não passaram pela circuncisão da razão moderna, guardaram fielmente suas tradições, que provêm dos avós, ao largo das gerações.
Participei várias vezes de celebrações maias, sempre ao redor do fogo. Começam invocando o coração dos ventos, das montanhas, das águas, das árvores e dos ancestrais. Fazem suas invocações no meio de um incenso nativo perfumado e produtor de muita fumaça.
Ouvindo-os falar das energias da natureza e do universo, parecia-me que sua cosmovisão era muito afim, guardadas as diferenças de linguagem, da física quântica. Tudo para eles é energia e movimento entre a formação e a desintegração que conferem dinamismo ao universo. Eram exímios matemáticos e haviam inventado o número zero. Seus cálculos do curso das estrelas se aproximavam em muito aos que alcançamos com os modernos telescópios.
Dizem que tudo o que existe nasceu do encontro amoroso de dois corações, o do céu e o da Terra, que é um ser vivo que sente, intui, vibra e inspira os seres humanos. Estes são os “filhos ilustres, indagadores e buscadores da existência”, afirmações que nos lembram Martin Heidegger.
A essência do ser humano é o coração, que deve ser cuidado para ser afável, compreensivo e amoroso. Toda a educação que se prolonga ao largo da vida é para cultivar a dimensão do coração. Os irmãos de La Salle mantêm, na capital guatemalteca, um imenso colégio, onde jovens maias vivem na forma de internato bilíngue, no qual se recupera e sistematiza a cosmovisão maia, ao mesmo tempo em que assimilam e combinam saberes ancestrais com os modernos saberes, especialmente os ligados à agricultura e a relações respeitosas com a natureza.
Apraz-me concluir com um texto que uma mulher sábia me repassou no fim de um encontro com indígenas maias. “Quando tens que escolher entre dois caminhos, pergunta-te qual deles, pergunta-te qual deles tem coração. Quem escolhe o caminho do coração, mais se equivocará” (Popol Vuh).”.

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 19 de fevereiro de 2016, caderno O.PINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Olhares sobre o Brasil
        Os olhares sobre a realidade brasileira, que é complexa e plural, devem ser muitos e com grande acuidade. Uma visão estreita é incapaz de perceber as muitas necessidades, de enxergar os caminhos que devem ser seguidos para sair das crises deste tempo. Os olhares têm que avançar para além do território das opiniões ou das listas de lamentações. Também não podem focalizar apenas as atribuições e responsabilidades dos outros, como tática para se eximir das próprias tarefas. A visão míope de um segmento pode significar atrasos em processos e graves prejuízos, com consequências irreversíveis.
         Analisar a realidade é exercício que requer conhecimento e adequada interpretação para configurar a indispensável corresponsabilidade de todos os cidadãos na construção de uma sociedade solidária, alicerçada na cultura da justiça, da paz e do respeito incondicional à dignidade de toda pessoa.
         Assim, todos estão desafiados a reavaliar seus conceitos e colaborar com as transformações urgentes e com ações mais eficazes. Sem essa premissa, há o risco de se supervalorizar a própria atuação, achar que já se faz muito, que os trabalhos atendem às expectativas. Afinal, não seria pela prevalência dessa ilusão que a política na realidade brasileira, particularmente a partidária, convive com a incapacidade para apontar novos rumos e promover o diálogo entre cidadãos?
         Há uma miopia crônica generalizada, salvaguardadas as exceções. Isso se comprova na incompetência de grupos diversos para debelar processos que alimentam a corrupção, a indiferença em relação aos mais pobres. Também é sinal da falta de visão, nos setores público e privado, a timidez para investir em projetos capazes de promover novas dinâmicas que contribuam para se alcançar uma sociedade mais igualitária.
         Não basta apenas planejar bem o próprio negócio. Há um modo necessário de se olhar a realidade por meio de valores inegociáveis, de princípios, de sensibilidade política e cultural, que, audaciosamente, remete cada cidadão à direção do bem comum. A partir dessa visão, as ações fundamentam-se no amor e não se reduzem às estratégias de pequenos grupos que reforçam a segregação econômica, social, política, cultural e até mesmo religiosa.
         Assim, os dias da quaresma oferecem oportunidade importante: a vivência da Campanha da Fraternidade deste ano. Trata-se de exercício ecumênico que nasce da fé cristã, nas diferentes confissões religiosas, para articular experiências e, dessa forma, contribuir com o contexto socioeconômico, político e cultural. Quem crê em Cristo não pode apenas usufruir das consolações espirituais ou se restringir a arrumar os próprios ambientes, projetos e templos. É compromisso que nasce da fé contribuir mais decisivamente na transformação da realidade.
         Por isso, os cristãos no Brasil devem, a partir da Campanha da Fraternidade 2016, configurar uma experiência ecumênica capaz de transformar a realidade. O que se objetiva não é a organização de bancadas no Parlamento, nas assembleias, na simples defesa de interesses corporativos, pessoais, com fechamentos e dogmatismos que desconsideram o diálogo indispensável em uma sociedade plural. Busca-se agir a partir da misericórdia, que não negocia jamais a ética e a moralidade e também não passa o trator em cima de ninguém em nome de Deus.
         A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, na promoção da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016, com o tema “Casa comum: nossa responsabilidade”, empenham-se na tarefa de fazer ecoar o apelo que pede união entre os cristãos, para além de suas diferenças, em torno da defesa e promoção da vida. O saneamento básico, no horizonte de uma alicerçada ecologia integral, é a bandeira que se quer erguer, inspirando outros segmentos da sociedade. Com os cristãos de mãos unidas, a realidade brasileira pode mudar. Nessa direção, as confissões religiosas estão desafiadas a contribuir para que a fé ilumine e inspire os olhares sobre o Brasil.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em janeiro a ainda estratosférica marca de 410,97% para um período de doze meses; e mais, também em janeiro, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 10,71%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  

 

  

         

quarta-feira, 22 de julho de 2015

A CIDADANIA, OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO E AS COMPLEXAS DEMANDAS DA JUVENTUDE

“Um olhar de esperança pela educação
        Tem sido um desafio gigantesco para nós, professores/educadores, o buscar entender a situação por que passa a educação hoje. Se fizermos uma análise da trajetória histórica da educação, vamos encontrar momentos bem distintos, e gostaria de lembrar apenas uma situação, qual seja, a passagem de uma educação elitizada para uma educação mais acessível aos menos favorecidos. Isso nos basta para entender a importância que tem a educação dentro de qualquer contexto social, uma vez que não podemos visualizar um futuro promissor sem refletir, antes, numa educação que esteja comprometida em levar as pessoas a pensar e, mais ainda, a sonhar.
         Essa ideia nos pensar de forma mais preocupante sobre o futuro da educação. Ao longo dos anos, esse humanismo foi sendo substituído por uma formação mais tecnicista. Se levarmos em consideração o contexto histórico, isso começa a acontecer no início da Idade Moderna, sobretudo, com o pensamento de René Descartes, a partir do qual se constrói um paradigma no qual aquele que pensa, o homem, deve estar deve estar separado do objeto pensado. Essa novidade impulsionou o desenvolvimento da ciência nas suas várias áreas específicas, consequentemente, influenciou na elaboração dos currículos escolares ao longo desses anos todos.
         Progresso à vista. A grande árvore do conhecimento começa a ser podada. Uma nova concepção do que seja conhecer está sendo moldada. São galhos espalhados e separados do seu tronco original e, como consequência prática dessa mudança na educação, podemos apontar a instituição de um currículo fragmentado sem nenhum compromisso com a totalidade do saber, do conhecimento, trazendo uma preocupante carência de sabedoria, isso porque “ciência e tecnologia lançaram-se em uma correria cega sem prestar atenção à paisagem de humanidade que as cerca, sem sonhar com o que deixaram atrás delas, para melhor obedecer ao espírito frenético de conquistas que as arrasta para um terrível futuro”, afirma, sabiamente, Georges Gusdorf, no prefácio do livro Interdisciplinaridade e patologia do saber, de Hilton Japiassu.
         Diante de todo esse quadro apresentado, podemos afirmar que o nosso sistema educacional precisa de uma restauração, uma vez que está envelhecido e enrugado na forma de conduzir o conhecimento àqueles que frequentam as nossas escolas, crianças e jovens, que continuam desorientados e pouco instruídos em relação ao futuro que lhes aguarda. O sistema educacional está no CTI, precisando de socorro.
         Esse é o nosso grande desafio: estabelecer um diálogo entre as diferentes disciplinas e construir no corpo discente uma consciência diferente da que se percebe hoje no dia a dia das escolas, qual seja, de que devemos estudar apenas em função de uma nota, o que, na verdade, não representa o resultado de uma aprendizagem real. Só assim resgataríamos a autoestima necessária para gerar em cada aluno o prazer de ir à escola e acabarmos de uma vez por todas com esse marasmo que tomou conta das nossas instituições escolares. Trato aqui, portanto, de uma questão que vai muito além dos reais problemas políticos que interferem no resultado final da educação.
         Precisamos, imediatamente, de nos preocupar menos com resultados estatísticos para nos preocupar mais com resultados reais, que é uma educação voltada para o desenvolvimento da interioridade humana, que se reflete diretamente na construção de uma consciência plena voltada para os valores que edificam uma sociedade comprometida com a garantia de um futuro feliz, cujo modelo, paidea, já encontramos em pleno século 5 a.C., na Grécia Antiga de Sócrates, Platão e Aristóteles, como exigência de mudanças dentro de contexto histórico educacional da pólis grega.
         E é o próprio Platão quem nos ajuda a entender o valor e o significado da Paidea Grega como “(...) a essência de toda a verdadeira educação ou Paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento”. Só nos resta agora uma única coisa: mudar as nossas atitudes, o que representa, com toda certeza, um olhar de esperança pela educação.”

(EUDÁSIO CAVALCANTE. Professor, graduado em filosofia, pós-graduado em história e psicopedagogia, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 21 de julho de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 20 de julho de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, jornalista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Juventude ameaçada
        O crescimento dos casos de Aids, o aumento da violência e a escalada das drogas ameaçam a juventude. A deterioração econômica e a falta de perspectiva de trabalho exacerbam o clima de desesperança. A percepção da falência do Estado em áreas essenciais (educação, saúde, segurança, transporte) causa muita frustração. Para muitos jovens, infelizmente, os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida deles.
         Desemprego, gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, Aids e drogas compõem a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as portas para uma explosão de violência. Além disso, a moçada não foi preparada para a adversidade. E a delinquência é, frequentemente, a manifestação visível da depressão.
         A situação é reflexo de uma cachoeira de equívocos e de uma montanha de omissões. O novo perfil da delinquência é o resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio de setores do mundo do entretenimento que se empenham em apagar qualquer vestígio de valores. Tudo isso, obviamente, agravado e exacerbado pela falência de políticas públicas e a ausência de expectativas.
         Os pais da geração transgressora têm parte da culpa. Choram os desvios que cresceram no terreno fertilizado pela omissão. O delito não é apenas reflexo da falta de autoridade familiar. É muitas vezes, um grito de revolta e carência. A pobreza material agride o corpo, mas a falta de amor castiga a alma. Os adolescentes necessitam de pais morais, e não de pais materiais.
         Reféns da cultura da autorrealização, alguns pais não suportam ser incomodados pelas necessidades dos filhos. O vazio afetivo – imaginam na insanidade do seu egoísmo – pode ser preenchido com carros, boas mesadas e um celular para os casos de emergência. Acuados pela desenvoltura antissocial dos filhos, recorrem ao salva-vidas da psicopatia. E é aí que a coisa pode complicar. Como dizia Otto Lara Resende, com ironia e certa dose de injusta generalização, “a psicanálise é a maneira mais rápida e objetiva de ensinar a odiar o pai, a mãe e os melhores amigos”. Na verdade, a demissão do exercício da paternidade está na raiz do problema.
         Se a crescente falange de adolescentes criminosos deixa algo claro, é o fato de que cada vez mais pais não conhecem os próprios filhos. Não é difícil imaginar em que ambiente afetivo se desenvolvem os integrantes das gangues juvenis. As análises dos especialistas em políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo. Menos da crise da família. Mas o nó está aí. Se não tivermos a firmeza de desatá-lo, assistiremos, acovardados, a uma espiral de violência sem precedentes. É uma questão de tempo. Infelizmente.
         Ao traçar o perfil de alguns desvios da sociedade norte-americana, o sociólogo Christopher Lasch, autor do livro A rebelião das elites, sublinha as dramáticas consequências que estão ocultas sob a aparência da tolerância: “Gastamos a maior parte da nossa energia no combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoa se sentissem bem consigo mesmas.” O saldo é uma geração desorientada e vazia. A despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de superpredadores.
         O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeros patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio.
         É preciso ir às causas profundas da delinquência. Ou encaramos tudo isso com coragem ou seremos tragados por uma onda de violência jamais vista. O resultado final da pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e da crise da autoridade está apresentando consequências dramáticas. Chegou para todos a hora de falar claro. É preciso pôr o dedo na chaga e identificar a relação que existe entre o medo de punir e os seus efeitos antissociais.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do IBGE, a inflação de junho medida pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – e acumulada nos últimos doze meses atingiu 8,89%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...”;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e segundo o estudo “Transporte e Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho, divulgado pela Confederação Nacional do Transporte, se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria uma economia anual de R$ 3,8 bilhões...);

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!