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segunda-feira, 10 de abril de 2017

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL E OS DESAFIOS DA CIDADANIA, DA LIDERANÇA E DA UNIDADE INTERIOR NA SUSTENTABILIDADE

“Cidadania e liderança
        A realidade do mundo está em constante transformação, exigindo cada vez mais que a escola acompanhe essas mudanças. Hoje, não podemos ter um ensino fragmentado, dissociado da realidade, mas sim engajado com a dinâmica social, rumo à formação de cidadãos éticos e responsáveis.
         A escola deve ser um local de promoção e integração de todos os participantes, numa construção e resgate da cidadania. Na escola não se adquire apenas conhecimentos, mas aprendem-se também valores e normas de comportamento. Pouco a pouco, crianças e jovens vão construindo as noções próprias ao seu desenvolvimento e rumo à sua cidadania. Vão compreendendo e colocando em exercício direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando no dia a dia atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si mesmo o respeito. Portanto, o papel da escola deve estar equilibrado entre a função de preparar cidadãos tanto para desenvolver suas qualidades e potencialidades como para a vida em sociedade. Para isso, deve a escola desenvolver características como o pluralismo de ideias, a liberdade, a justiça, a autonomia e a cidadania. O exercício da cidadania vem de uma prática escolar participativa, crítica, responsável e democrática.
         Nem a internet, palco global de encontros, pode tirar de cena o protagonismo da escola na formação do adolescente, educando-o para agir e se realizar como um ser social, porque na escola as relações são “concretas”. Ali, a convivência face a face e as relações corpo a corpo dos educadores tornam-se um laboratório de conhecimentos vivos e experiências sobre a vida futura.
         A escola é também um dos componentes que podem contribuir de forma significativa para a formação de líderes positivos, sujeitos atuantes e responsáveis, com determinadas funções na sociedade. É na escola que o jovem ganha a chance de tornar-se um cidadão do futuro. A escola para o jovem é um território que acolhe tudo, é onde eles se sentem à vontade para exercitar suas vivências e convivências. Ali ele está se individualizando, afirmando sua identidade, rompendo vínculos e formando outros valores na busca de sua autonomia.
         Quem sou eu? O que eu posso ser? Qual o meu papel na sociedade? É nesse território que se dão conhecimentos, encontros e relações. É nesse ambiente de grupos de iguais e ao lado de professores, veículos de novos valores, que o jovem aprende a se virar de verdade para resolver problemas com independência. É ali que aprende a ouvir, negociar, ceder, participar, cooperar, respeitar. Aprende a ser solidário e consciente de seus direitos, deveres e responsabilidades. Aprende a desenvolver suas potencialidades e com segurança a desenvolver a capacidade de liderar.
         A escola é um importante espaço de convivência da cidadania e de formação de liderança. É o principal espaço de construção e compartilhamento de conhecimentos, experiências, valores e vivências.”.

(FERNANDA MOTA BICALHO. Professora de história do Colégio Sagrado Coração de Jesus, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 7 de abril de 2017, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Investir na unidade
        A humanidade sofre sérias consequências quando deixa de investir na unidade interior – ponto de equilíbrio e sustentação que permite a cada pessoa agir de modo assertivo nos diversos campos da vida. Sem a unidade interior, as muitas possibilidades oferecidas pela inteligência humana não são suficientes para superar os obstáculos que pesam sobre a humanidade. E, muitas vezes, o “progresso” desconsidera as estaturas humanitária e espiritual que precisam permear as atitudes de cada pessoa. Percebe-se, frequentemente, um descompasso entre a dimensão existencial e a posição que se ocupa, no campo profissional ou no exercício de outras responsabilidades. Para além da competência técnica, da experiência ou da força política, é preciso investir na unidade interior, o ponto de equilíbrio.
         Mas não se busca esse caminho. Concentra-se fortemente, e até exclusivamente, nos projetos que resultam em conquistas de poder, nas oportunidades que garantam ganhos financeiros. Tudo a partir de uma compreensão equivocada do que é bem-estar, considerando apenas como a experiência de usufruir das coisas, das benesses. Esse modo de compreender obscurece o olhar humano, que não consegue mais enxergar a necessidade do investimento na unidade interior. Há uma exigência fundamental que deve desafiar todo indivíduo: o cuidado com o próprio “poço”. Há um “poço interior” que alicerça a conduta de cada pessoa e define os rumos de suas escolhas. Incide, determinantemente, sobre a qualidade dos exercícios cidadãos, profissionais e familiares. A medida, portanto, não está “do lado de fora”. Decisivo e mais importante é o “poço, a interioridade de cada pessoa, responsável pela consciência, pelos sentimentos e pela articulação humanística dos valores.
         A interioridade é que gera competência para as ações cidadãs. Sem investir nesse âmbito, os comprometimentos são muitos, a mediocridade  torna-se regra. Não basta ter alcançado um título, vencido eleições, ocupar cargos e nem mesmo a convicção de se estar onde está por ser merecido. Cada pessoa deve mensurar seus atos, considerando a qualidade de suas intervenções e sua influência nos necessários processos de transformação. Tudo temperado por uma simplicidade que forja um tecido cultural de respeito e unidade. Assim, é possível superar descompassos que estabelecem o caos na sociedade.
         A humanidade perdida precisa, com mais velocidade, reencontrar rumos. Por isso, a importância do empenho em buscar a unidade interior, alicerce para condutas adequadas, balizadas por valores que podem deter os problemas humanitários, a exemplo das guerras, migrações forçadas, insensibilidade diante da dor dos pobres e crescimento incontrolável da violência. Em busca da unidade interior, há um percurso a trilhar: é preciso e urgente investir em uma espiritualidade que possibilite aprender a lidar com a interioridade. E que contribua, assim, com o exercício diário de limpar o próprio “poço”. A espiritualidade pode qualificar o sentir e o agir de cada indivíduo, tornando-o instrumento de construção da solidariedade e da cultura da paz.
         Chega agora, mais um vez, a oportunidade de ouro para se investir na unidade interior e requalificar o tecido humano: a vivência da semana santa, a semana maior. Não como um “feriadão”, mas reconhecendo nesse tempo a chance de se fazer um fecundo retiro espiritual. Esse exercício é fundamental para limpar a própria interioridade de tudo o que se origina nos limites e fragilidades humanas. O segredo é fixar o olhar em Jesus Cristo. De modo silencioso e amoroso, deixar-se tocar por seus gestos, por suas palavras e pelo acolhimento de suas indicações. Uma experiência que não pode ser substituída por futilidades, pela fugacidade de sensações.
         Vale a pena vivenciar e engajar-se na celebração da semana santa, no coração da própria família e na comunhão da comunidade de fé, compreendendo o sentido de cada uma dessas celebrações. Um investimento forte e determinante na ordem pessoal e social para renovar a unidade interior, alicerce que sustenta as competências e a vida cidadã. Eis um remédio indispensável.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em fevereiro/2017 a ainda estratosférica marca de 481,46% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 326,96%; e já o IPCA em março, no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 4,57%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 946,4 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        
 
 
   
          
 


             

quarta-feira, 1 de julho de 2015

A CIDADANIA, A ARTE DE APRENDER E EMPREENDER, A CRISE HÍDRICA E A CULTURA DA SUSTENTABILIDADE (11/13)

(Julho = mês 11; faltam 13 meses para a Olimpíada 2016)

“Aprender a empreender
        Complexidade, instabilidade, mudança: essas três palavras podem muito bem descrever o ambiente no qual nos encontramos na atualidade. Viver tem se transformado numa aventura na qual somos cada vez mais exigidos a dar o nosso melhor, a fazer a diferença, a agregar valor.
         Nesse contexto, quando é o tempo adequado para se começar a capacitação de uma pessoa? Onde é o local adequado e quem serão os elementos de transformação que levarão essa tarefa a efeito? Na minha experiência de 13 anos em lidar com jovens, tenho observado o crescimento da angústia que se expressa na urgência em definir entre os múltiplos caminhos para a construção de uma carreira. A carreira é posta diante dos jovens cada vez mais precocemente, exigindo que façam suas escolhas. Essa decisão, que se transforma no ponto de partida para toda uma vida, deve ser tomada aos 15, 16, no máximo, aos 17 anos!
         Recordo bem que, há cinco anos, na reta final para a escolha de que curso seguir, mais uma vez me deparei com a situação padrão: quase metade dos alunos ainda não sabia que curso escolher. Alguns, estimulados pela família, tendiam a certos cursos, outros, na falta de clareza, apoiavam-se nas escolhas dos melhores amigos. Outros ainda, perdidos em meio a tantas opções, vagavam em meio a um estado de total angústia. De repente, aparece aquela que parecia ser uma tendência inexorável: em cinco anos, faltariam ao país cerca de 200 mil engenheiros, necessários para tocar obras, gerir projetos e construir um país promissor. O que se viu foi uma debandada generalizada de alunos em direção aos diversos cursos de engenharia. Notei que, mesmo entre aqueles que já haviam se decidido, subitamente, mudaram seus rumos.
         Decisão frágil, baseada no externo, conduziu vasta parcela de alunos para um 2015 no qual uma grave crise paralisa obras e projetos e desemprega engenheiros, jogando na absoluta surpresa aqueles que já se imaginavam garantidos numa carreira de sucesso.
         Esse pequeno exemplo é adequado para esclarecer a importância em se preparar os jovens para realizarem suas escolhas profissionais em bases mais sólidas: não o externo, mas sim na sua dimensão interna, onde estão seus talentos, suas preferências e, exatamente por isso, suas maiores possibilidades de sucesso.
         O ensino do empreendedorismo, já no ensino médio, se propõe a preencher essa lacuna ao apoiar o aluno a assumir o protagonismo de sua própria história. A apresentação e a prática de comportamentos tais como a iniciativa e a proatividade, o comprometimento para com seus valores e ideais, a exigência de realizar com excelência tudo aquilo a que se propuser são exemplos pertinentes do que pode o ensino do empreendedorismo realizar na vida de um jovem capaz e interessado. Uma vez enraizados, esses comportamentos serão úteis para toda a vida, possibilitando a construção de uma carreira valorosa e útil, para si mesmo e para a sociedade que o cerca.”

(Carlos Ronan de A Braga. Professor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 28 de junho de 2015, caderno O.PINIÃO, página 21).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 27 de junho de 2015, caderno PENSAR, página 2, de autoria de INEZ LEMOS, psicanalista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Crise hídrica e

 NARCISISMO
        
         A lógica em que o uso da água foi inserida em nossa cultura é a lógica da mercantilização, do consumo exacerbado e do lucro. Há tempos a água deixou de ser recurso natural, um bem coletivo, para se transformar em mercadoria a ser vendida. No imaginário empresarial, é um produto a ser negociado como um objeto de consumo qualquer. O sucesso do capitalismo depende do quanto de fetiche e de ilusão consegue-se criar em torno de uma mercadoria. É quando a água abandona o valor de uso e incorpora o valor de troca. Ela circula na perspectiva da acumulação, o mundo dos negócios a utiliza para alavancar investimentos. É peça-chave nas empresas, dela dependem o capital, os meios de produção.
         A crise hídrica nos impõe um paradoxo: como conciliar conceitos e práticas sociais petrificados no discurso da rentabilidade e da ostentação, em que competição, cliente preferencial e patrimônio confrontam com o discurso da ética e da necessidade de economizar água? De repente, inicia-se o processo de deslocamento de posição: a água não deve mais ser vista como mercadoria rentável, seu uso deve ser racionado. O discurso agora é o da consciência social e da cidadania, pois se trata de um bem natural, de uso coletivo. Se educarmos as crianças no excesso e na lógica do desperdício, como enfrentar tal desafio? Na TV, logo depois de anúncios de sapatos e cosméticos, temos os órgãos responsáveis pela captação e distribuição da água solicitando que a população economize, poupe, não desperdice tão precioso recurso natural.
         Quando convocamos a população prestar atenção em seus hábitos, a investigar se eles estão adequados ao conceito de cidadania e ética, supomos que ela esteja sensibilizada para a questão. Mas isso não ocorre, pois não educamos as crianças em valores envolvendo significantes que instituem a prática de poupar, implicar, cuidar, prevenir, respeitar. Cuidar da água é prevenir, contraponto ao descaso com a natureza, rios, mananciais e florestas. Muitos nascem e crescem entre asfalto, condomínios e jardins artificiais, convivem com o arremedo da natureza e não percebem o quanto estão distantes da origem das coisas. Alienados do processo de produção das mercadorias, julgam normal usar e abusar.
         Para que possamos aderir ao apelo de usar água de forma racional, deveríamos ser sensibilizados para tal, pois racionar implica sacrifício, mudança de hábitos, abandonar o conforto e abraçar uma causa desconfortável, que pode gerar mal-estar. A subjetividade contemporânea não prevê felicidade na lógica da economia. O brasileira cresceu na cultura do desperdício, poupar não está em nossa agenda. Gostamos do excesso – e racionalizar água implica banhos rápidos, além de outras práticas que garantem menor consumo. Para tanto, é necessária a intervenção no corpo desejante, pois ações governamentais não podem ficar à mercê da boa vontade da população.
         Em Considerações atuais sobre a guerra e sobre a morte, Freud desconstrói a ideia de progresso e registra a descrença no ser humano em questões coletivas, questões que envolvem o bem social. Nesse momento, a esperança iluminista se desfaz: igualdade, liberdade e fraternidade. Diante da devastação provocada pela guerra e da banalização da morte, evidenciou-se o fracasso da razão universal, constatando-se que o exercício do mal estaria no centro da razão civilizada. Ao deparar com a presença da morte e do mal na orientação psíquica, Freud perde a ilusão que sustentava a dimensão simbólica da vida social. Ao constatar que a política não consegue dar conta das diferentes subjetividades, cunha a expressão “narcisismo das pequenas diferenças”. Ou seja: pouco se pode esperar de cada um quando se trata do bem-comum.
         Para que o cidadão assuma as campanhas de economia de água, ele deve ser mobilizado em novas posturas, aderir a restrições e limites sem sofrer. Poucos governos trabalham com prevenção e sensibilização, inserindo desde cedo o cidadão no princípio educativo. Quando a criança é educada convivendo com a frustração, quando os pais a deixam na falta, não tentam supri-la em tudo, ela aceita melhor as interdições e renuncia às pulsões de forma mais tranquila. Educar para a cidadania exige coragem dos pais em coibir excessos e caprichos dos filhos, conduzindo a criança a aceitar as restrições necessárias. Geralmente, nada se consegue quando a interdição ocorre sem que ela, desde pequena, tenha sido inserida na lei. É de pequeno que o corpo pulsional é contaminado pelas exigências do projeto civilizatório.
         Mal-estar, frustração e irritação são efeitos da renúncia pulsional. Há mal-estar quando temos que restringir demandas e caprichos. Quanto mais se educa o filho no excesso, permitindo e, muitas vezes, incentivando apelos descabidos, contribui-se para que o sofrimento se instale. O mal-estar contemporâneo é gestado no excesso de permissividade. A ausência de interdição explica a dificuldade dos pais em impor leis e limites. A sociedade de consumo explora a ausência da metáfora paterna. Permitir vende mais do que reprimir, o que ajuda a explicar a crise de autoridade, a crise na função paterna e materna.
         Quando o espaço privado entra em crise, o público também sofre as consequências. O declínio do poder paterno provoca o declínio do poder público. Quanto maior a ausência de intervenção pulsional, menor a chance de o cidadão aderir às campanhas de regulamentação e socialização do uso da água ou de outros recursos naturais. O pacto selado entre as famílias é o que garante o pacto na sociedade.
         Toda vez que surgem propostas que rompem com o imaginário social petrificado no individualismo consumista, exigindo ética no uso do espaço público, há desconforto e perda de gozo. Tudo o que fere a fantasia fálica de privilegiado e poderoso, significantes sustentados na ilusão de completude, provoca uma contratransferência, pois o indivíduo estabelece uma relação fálica (de poder) com o objeto – no caso, com a água. Gastar água ao bel-prazer é operar no gozo – quando o sujeito não quer saber, tampouco se implicar.
         A questão passa, então, pela necessidade de ativar no cidadão a consciência em relação ao uso racional da água. Como encetá-lo em práticas educativas adversas ao mundo da ostentação e acumulação patrimonialista? Educar na ética exige que a criança seja inserida na ordem simbólica que sustenta o enunciado. O discurso que predomina na sociedade de mercado não articula significantes que sustentam a lógica do bem comum, exigindo parcimônia nos hábitos. Educamos para o lucro, opulência e fartura. É quando a criança cresce vendo os adultos usando a água sem restrições: escovando os dentes com a torneira aberta, tomando banhos prolongados ou exigindo da faxineira lavar as calçadas.
         Toda mudança requer sacrifício, adesão a novos paradigmas. Como migrar da lógica da competição para a lógica da colaboração? Tornam-se necessárias rupturas internas, abandonar montagens perversas que debocham da metáfora paterna. Montagens cristalizadas em atos pouco transparentes e que não se ajustam às escolhas fundadas nos princípios de cidadania. Cultuar privilégios não é reivindicar ética, lisura no uso da coisa pública. Ao regular o uso da água, devemos dialogar com as subjetividades – operar com o simbólico desconstruindo a lógica objetiva, racional. Deslocar-nos da esfera do cliente para a esfera do cidadão: desviar o uso da água da lógica do mercado, em que o cliente bom é o que mais consome.
         Um novo cidadão há de surgir na defesa das causas públicas quando novas formas de subjetivação, distantes da razão cínica de sempre levar vantagem, forem contempladas. A retórica da ética e do bem comum é frágil e insuficiente diante do imperativo de gozo, quando o sujeito não quer perder nada, mudar nada, restringir nada! A forma como ele vai responder às demandas de racionalizar água dependerá de como foi inserido na ordem simbólica que prega ética no uso da coisa pública. Como mudar uma cultura, gestar outra concepção de mundo e intervir em práticas que envolvem narcisismo, desejo e pulsões? Nunca é tarde para reiniciar posturas decentes e cobrar responsabilidade dos envolvidos na questão.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito subiu 1,7 ponto percentual em abril e atingiu 347,5%  ano ano...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a simples divulgação do balanço auditado da Petrobras, que, em síntese, apresenta no exercício de 2014 perdas pela corrupção de R$ 6,2 bilhões e prejuízos de R$ 21,6 bilhões, não pode de forma alguma significar página virada – eis que são valores simbólicos –, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e segundo o estudo “Transporte e Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho, divulgado pela Confederação Nacional do Transporte, se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria uma economia anual de R$ 3,8 bilhões...);

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir IMEDIATA, abrangente, qualificada e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br).

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!...