(Julho
= mês 11; faltam 13 meses para a Olimpíada 2016)
“Aprender
a empreender
Complexidade,
instabilidade, mudança: essas três palavras podem muito bem descrever o
ambiente no qual nos encontramos na atualidade. Viver tem se transformado numa
aventura na qual somos cada vez mais exigidos a dar o nosso melhor, a fazer a
diferença, a agregar valor.
Nesse
contexto, quando é o tempo adequado para se começar a capacitação de uma
pessoa? Onde é o local adequado e quem serão os elementos de transformação que
levarão essa tarefa a efeito? Na minha experiência de 13 anos em lidar com
jovens, tenho observado o crescimento da angústia que se expressa na urgência em
definir entre os múltiplos caminhos para a construção de uma carreira. A
carreira é posta diante dos jovens cada vez mais precocemente, exigindo que
façam suas escolhas. Essa decisão, que se transforma no ponto de partida para
toda uma vida, deve ser tomada aos 15, 16, no máximo, aos 17 anos!
Recordo
bem que, há cinco anos, na reta final para a escolha de que curso seguir, mais
uma vez me deparei com a situação padrão: quase metade dos alunos ainda não
sabia que curso escolher. Alguns, estimulados pela família, tendiam a certos
cursos, outros, na falta de clareza, apoiavam-se nas escolhas dos melhores
amigos. Outros ainda, perdidos em meio a tantas opções, vagavam em meio a um
estado de total angústia. De repente, aparece aquela que parecia ser uma
tendência inexorável: em cinco anos, faltariam ao país cerca de 200 mil
engenheiros, necessários para tocar obras, gerir projetos e construir um país
promissor. O que se viu foi uma debandada generalizada de alunos em direção aos
diversos cursos de engenharia. Notei que, mesmo entre aqueles que já haviam se
decidido, subitamente, mudaram seus rumos.
Decisão
frágil, baseada no externo, conduziu vasta parcela de alunos para um 2015 no
qual uma grave crise paralisa obras e projetos e desemprega engenheiros,
jogando na absoluta surpresa aqueles que já se imaginavam garantidos numa
carreira de sucesso.
Esse
pequeno exemplo é adequado para esclarecer a importância em se preparar os
jovens para realizarem suas escolhas profissionais em bases mais sólidas: não o
externo, mas sim na sua dimensão interna, onde estão seus talentos, suas
preferências e, exatamente por isso, suas maiores possibilidades de sucesso.
O
ensino do empreendedorismo, já no ensino médio, se propõe a preencher essa
lacuna ao apoiar o aluno a assumir o protagonismo de sua própria história. A
apresentação e a prática de comportamentos tais como a iniciativa e a
proatividade, o comprometimento para com seus valores e ideais, a exigência de
realizar com excelência tudo aquilo a que se propuser são exemplos pertinentes
do que pode o ensino do empreendedorismo realizar na vida de um jovem capaz e
interessado. Uma vez enraizados, esses comportamentos serão úteis para toda a
vida, possibilitando a construção de uma carreira valorosa e útil, para si
mesmo e para a sociedade que o cerca.”
(Carlos
Ronan de A Braga. Professor, em artigo publicado no jornal
O TEMPO Belo Horizonte, edição de 28
de junho de 2015, caderno O.PINIÃO, página
21).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 27 de junho
de 2015, caderno PENSAR, página 2,
de autoria de INEZ LEMOS, psicanalista,
e que merece igualmente integral transcrição:
“Crise
hídrica e
NARCISISMO
A lógica em que o uso
da água foi inserida em nossa cultura é a lógica da mercantilização, do consumo
exacerbado e do lucro. Há tempos a água deixou de ser recurso natural, um bem
coletivo, para se transformar em mercadoria a ser vendida. No imaginário
empresarial, é um produto a ser negociado como um objeto de consumo qualquer. O
sucesso do capitalismo depende do quanto de fetiche e de ilusão consegue-se
criar em torno de uma mercadoria. É quando a água abandona o valor de uso e
incorpora o valor de troca. Ela circula na perspectiva da acumulação, o mundo
dos negócios a utiliza para alavancar investimentos. É peça-chave nas empresas,
dela dependem o capital, os meios de produção.
A
crise hídrica nos impõe um paradoxo: como conciliar conceitos e práticas
sociais petrificados no discurso da rentabilidade e da ostentação, em que
competição, cliente preferencial e patrimônio confrontam com o discurso da
ética e da necessidade de economizar água? De repente, inicia-se o processo de
deslocamento de posição: a água não deve mais ser vista como mercadoria
rentável, seu uso deve ser racionado. O discurso agora é o da consciência
social e da cidadania, pois se trata de um bem natural, de uso coletivo. Se
educarmos as crianças no excesso e na lógica do desperdício, como enfrentar tal
desafio? Na TV, logo depois de anúncios de sapatos e cosméticos, temos os
órgãos responsáveis pela captação e distribuição da água solicitando que a
população economize, poupe, não desperdice tão precioso recurso natural.
Quando
convocamos a população prestar atenção em seus hábitos, a investigar se eles
estão adequados ao conceito de cidadania e ética, supomos que ela esteja sensibilizada
para a questão. Mas isso não ocorre, pois não educamos as crianças em valores
envolvendo significantes que instituem a prática de poupar, implicar, cuidar,
prevenir, respeitar. Cuidar da água é prevenir, contraponto ao descaso com a
natureza, rios, mananciais e florestas. Muitos nascem e crescem entre asfalto,
condomínios e jardins artificiais, convivem com o arremedo da natureza e não
percebem o quanto estão distantes da origem das coisas. Alienados do processo
de produção das mercadorias, julgam normal usar e abusar.
Para
que possamos aderir ao apelo de usar água de forma racional, deveríamos ser
sensibilizados para tal, pois racionar implica sacrifício, mudança de hábitos,
abandonar o conforto e abraçar uma causa desconfortável, que pode gerar
mal-estar. A subjetividade contemporânea não prevê felicidade na lógica da
economia. O brasileira cresceu na cultura do desperdício, poupar não está em
nossa agenda. Gostamos do excesso – e racionalizar água implica banhos rápidos,
além de outras práticas que garantem menor consumo. Para tanto, é necessária a
intervenção no corpo desejante, pois ações governamentais não podem ficar à
mercê da boa vontade da população.
Em Considerações atuais sobre a guerra e sobre
a morte, Freud desconstrói a ideia de progresso e registra a descrença no
ser humano em questões coletivas, questões que envolvem o bem social. Nesse
momento, a esperança iluminista se desfaz: igualdade, liberdade e fraternidade.
Diante da devastação provocada pela guerra e da banalização da morte,
evidenciou-se o fracasso da razão universal, constatando-se que o exercício do
mal estaria no centro da razão civilizada. Ao deparar com a presença da morte e
do mal na orientação psíquica, Freud perde a ilusão que sustentava a dimensão
simbólica da vida social. Ao constatar que a política não consegue dar conta
das diferentes subjetividades, cunha a expressão “narcisismo das pequenas
diferenças”. Ou seja: pouco se pode esperar de cada um quando se trata do
bem-comum.
Para
que o cidadão assuma as campanhas de economia de água, ele deve ser mobilizado
em novas posturas, aderir a restrições e limites sem sofrer. Poucos governos
trabalham com prevenção e sensibilização, inserindo desde cedo o cidadão no
princípio educativo. Quando a criança é educada convivendo com a frustração,
quando os pais a deixam na falta, não tentam supri-la em tudo, ela aceita
melhor as interdições e renuncia às pulsões de forma mais tranquila. Educar
para a cidadania exige coragem dos pais em coibir excessos e caprichos dos filhos,
conduzindo a criança a aceitar as restrições necessárias. Geralmente, nada se
consegue quando a interdição ocorre sem que ela, desde pequena, tenha sido
inserida na lei. É de pequeno que o corpo pulsional é contaminado pelas
exigências do projeto civilizatório.
Mal-estar,
frustração e irritação são efeitos da renúncia pulsional. Há mal-estar quando
temos que restringir demandas e caprichos. Quanto mais se educa o filho no
excesso, permitindo e, muitas vezes, incentivando apelos descabidos,
contribui-se para que o sofrimento se instale. O mal-estar contemporâneo é
gestado no excesso de permissividade. A ausência de interdição explica a
dificuldade dos pais em impor leis e limites. A sociedade de consumo explora a
ausência da metáfora paterna. Permitir vende mais do que reprimir, o que ajuda
a explicar a crise de autoridade, a crise na função paterna e materna.
Quando
o espaço privado entra em crise, o público também sofre as consequências. O
declínio do poder paterno provoca o declínio do poder público. Quanto maior a
ausência de intervenção pulsional, menor a chance de o cidadão aderir às
campanhas de regulamentação e socialização do uso da água ou de outros recursos
naturais. O pacto selado entre as famílias é o que garante o pacto na
sociedade.
Toda vez
que surgem propostas que rompem com o imaginário social petrificado no
individualismo consumista, exigindo ética no uso do espaço público, há
desconforto e perda de gozo. Tudo o que fere a fantasia fálica de privilegiado
e poderoso, significantes sustentados na ilusão de completude, provoca uma
contratransferência, pois o indivíduo estabelece uma relação fálica (de poder)
com o objeto – no caso, com a água. Gastar água ao bel-prazer é operar no gozo
– quando o sujeito não quer saber, tampouco se implicar.
A
questão passa, então, pela necessidade de ativar no cidadão a consciência em
relação ao uso racional da água. Como encetá-lo em práticas educativas adversas
ao mundo da ostentação e acumulação patrimonialista? Educar na ética exige que
a criança seja inserida na ordem simbólica que sustenta o enunciado. O discurso
que predomina na sociedade de mercado não articula significantes que sustentam
a lógica do bem comum, exigindo parcimônia nos hábitos. Educamos para o lucro,
opulência e fartura. É quando a criança cresce vendo os adultos usando a água
sem restrições: escovando os dentes com a torneira aberta, tomando banhos
prolongados ou exigindo da faxineira lavar as calçadas.
Toda
mudança requer sacrifício, adesão a novos paradigmas. Como migrar da lógica da
competição para a lógica da colaboração? Tornam-se necessárias rupturas
internas, abandonar montagens perversas que debocham da metáfora paterna.
Montagens cristalizadas em atos pouco transparentes e que não se ajustam às
escolhas fundadas nos princípios de cidadania. Cultuar privilégios não é
reivindicar ética, lisura no uso da coisa pública. Ao regular o uso da água,
devemos dialogar com as subjetividades – operar com o simbólico desconstruindo
a lógica objetiva, racional. Deslocar-nos da esfera do cliente para a esfera do
cidadão: desviar o uso da água da lógica do mercado, em que o cliente bom é o
que mais consome.
Um
novo cidadão há de surgir na defesa das causas públicas quando novas formas de
subjetivação, distantes da razão cínica de sempre levar vantagem, forem
contempladas. A retórica da ética e do bem comum é frágil e insuficiente diante
do imperativo de gozo, quando o sujeito não quer perder nada, mudar nada,
restringir nada! A forma como ele vai responder às demandas de racionalizar
água dependerá de como foi inserido na ordem simbólica que prega ética no uso
da coisa pública. Como mudar uma cultura, gestar outra concepção de mundo e
intervir em práticas que envolvem narcisismo, desejo e pulsões? Nunca é tarde
para reiniciar posturas decentes e cobrar responsabilidade dos envolvidos na
questão.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito subiu 1,7 ponto percentual em abril e atingiu
347,5% ano ano...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
simples divulgação do balanço auditado da Petrobras, que, em síntese, apresenta
no exercício de 2014 perdas pela corrupção de R$ 6,2 bilhões e prejuízos de R$
21,6 bilhões, não pode de forma alguma significar página virada – eis que são valores simbólicos –, pois em nossos
515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes,
desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então,
a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e
segundo o estudo “Transporte e Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao
Escoamento de Soja e Milho, divulgado pela Confederação Nacional do Transporte,
se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria uma
economia anual de R$ 3,8 bilhões...);
c) a
dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para
2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$
868 bilhões), a exigir IMEDIATA,
abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br).
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os
projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização,
da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!...
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