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segunda-feira, 22 de julho de 2013

A CIDADANIA, OS ENSAIOS DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E O FOCO NA EDUCAÇÃO

“Os recentes ensaios de democracia participativa
        
         O discurso já vem de longe. A democracia representativa, que vive na maioria dos países ditos democráticos, depois que o poder econômico se tornou avassalador e globalizado, tem mostrado sinais de enorme decadência.
         O dinheiro entra, pelo menos três vezes, de modo decisivo, na escolha e atuação dos representantes do “povo”. Para eleger-se, necessita-se de muito dinheiro que pessoalmente só o têm aqueles que pertencem à elite. Outros necessitam de financiadores, que se transformam em “benfeitores” à espera da “gratidão” dos políticos. Já aí a representatividade sofre detrimento. Uns se fazem representar mais que os outros. E os detentores do capital gozam de vantagens incomparáveis.
         No trabalho parlamentar, os políticos frequentemente  isolam-se das aspirações e dos problemas populares. Lá funcionam os poderosos lobbies. E quem os financia? De novo, o capital consegue privilégios únicos ao controlar os projetos, forçar as votações daqueles que os favorecem.
         O político sabe que no período de mandato se extingue em quatro ou oito anos. E depois?  A reeleição entra, logo no início, com perspectiva de futuro. De novo, interfere o capital, que acompanha o político todo o tempo para testar-lhe a confiança e, assim, ajudá-lo no próximo processo eleitoral.
         A liberdade do político restringe-se enormemente em face dos interesses dominantes. No discurso, mostra-se popular, na prática, submete-se ao império do sistema presente, quase sem saída.
         A alternativa fácil e tentadora, sobretudo em momentos de convulsão social, soa como golpe, como já a conhecemos em 1964. O provérbio popular lembra-nos que “a emenda ficou pior que o soneto”. As soluções rápidas de processos que carecem de tempo terminam ainda mais desastrosas.
         Aos poucos, a cultura atual está a descobrir novas formas de ação política que não passam pela mera representatividade partidária. Assistimos, nas últimas semanas, a ensaios de tal experiência. Algumas conquistas se fizeram por força da pressão popular. No entanto, um país não vive de mobilizações de massa em grande escala. Cumpre encaminhar dois processos simultâneos: diminuir  o custo econômico dos parlamentares, reduzindo drasticamente o número e controlando os numerosos adendos de privilégios e assessores. Já não cumprem bem a finalidade para a qual se elegeram. E o dinheiro público teria, então, chance de criar alternativas: mobilizar outras maneiras de ouvir a população, como sindicatos, movimentos sociais, grupos de base, orçamento participativo, organização de bairro, notáveis da República etc. E crescem em importância as redes sociais. Como inseri-las eficientemente na sondagem de opinião permanece tarefa fundamental para a democracia futura. Nada se faz sem riscos. E só experiências, inicialmente tópicas e bem-sucedidas, permitem legislação nova, flexível e colada à realidade das grandes maiorias.
         A lentidão do aspecto jurídico parlamentar emperra mudanças  rápidas do país. A consulta direta ao povo, via plebiscito ou outras formas a serem criadas, permite transformações aderentes à vida do povo com maior presteza. Estamos em tempo de pensar o futuro, para que tanta vitalidade, expressa nas mobilizações populares, não termine no silêncio acomodado.”

(J. B. Libânio. Teólogo, escritor e professor; padre jesuíta, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 14 de julho de 2013, caderno O.PINIÃO, página 21).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2329 – ano 46 – nº 28, de 10 de julho de 2013, páginas 100 e 101, de autoria de GUSTAVO IOSCHPE, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“DADOS NOVOS,

PROBLEMA

ANTIGO
        
          Na terça-feira 25 de junho, foram divulgados os dados do Education at a Glance 2013, o maior observatório de estatísticas educacionais do mundo, atualizado anualmente pela OCDE. O levantamento traz informações dos 34 países-membros da OCDE (os do chamado Primeiro Mundo, mais Chile, México, Turquia e países da Europa Oriental) e oito países do G20, incluindo o Brasil. O EAG reúne dados sobre diversos aspectos da educação – financiamento, estrutura de gastos, escolaridade da população, carga horária dos sistemas educacionais e retornos à educação, entre outros. Os dados são novos, mas, no que tange ao Brasil, infelizmente o retrato é antigo. Apesar de termos aumentado significativamente os insumos educacionais na última década – especialmente o volume de investimento –, nosso sistema educacional continua gerando poucos formados. Só 12% da nossa população adulta tem ensino superior, taxa que é quase um terço da existente nos países da OCDE (31%). Por causa da escassez de gente qualificada no país, os diplomados continuam ganhando excepcionalmente bem no mercado de trabalho (aqui, o bacharel ganha 2,5 vezes mais que alguém com apenas o ensino secundário, contra 1,5 vez na OCDE). Assim, a educação nacional, longe de ser uma ferramenta de alteração do status quo, torna-se a grande perpetuadora de nossas desigualdades de renda.
         Esses dados deveriam ser lidos com muita atenção por governantes e pelos manifestantes que foram às ruas clamando por uma educação melhor, sob pena de insistirmos na tecla errada: aumentar o volume de gastos no setor não deve trazer a qualidade educacional de que precisamos. Como mostra o EAG, em 2000 o Brasil gastava 2,4% do seu PIB com educação básica, contra 3,6% da média dos países da OCDE. Proporcionalmente, portanto, esses países gastavam 50% mais do que o Brasil. Em 2010, porém, a situação se invertera e o país já gastava 4,3% do seu PIB na área, contra 3,9% nos países da OCDE. Gastamos, portanto, 10% mais do que eles, em termos de nossas riquezas nacionais. Ainda gastamos menos no ensino superior (universitário): 0,9% do PIB, contra 1,6% do PIB.
         Mas, antes que se dê atenção aos que usarão esse dado como prova do “sucateamento” da universidade brasileira, é preciso prestar atenção aos detalhes e notar que ele compara coisas e realidades diferentes. O dado brasileiro diz respeito apenas a instituições públicas, enquanto na maioria dos países da OCDE os dados fornecidos são de instituições públicas e privadas. Essa é uma enorme diferença, porque no Brasil o setor privado responde por quase três quartos da matrícula universitária, enquanto nos países da OCDE, pelo contrário, 71% da matrícula está nas universidades públicas. Além disso, nesses países a taxa de matrícula no ensino superior costuma ficar entre 50% e 80%, enquanto no Brasil mal passa de 20%. Ou seja, gastamos um pouco menos no ensino superior, mas para um número várias ordens de grandeza menor de alunos. A diferença fica visível quando se olha para o custo por aluno. Se na educação básica o Brasil tem gastos semelhantes aos dos países desenvolvidos, no ensino superior nosso gasto por aluno, relativo ao nível médio de renda médio do país, é bem diferente: enquanto o universitário brasileiro custa 105% da renda de um brasileiro médio, nos países desenvolvidos essa relação é de apenas 41%.
         A educação brasileira também consome uma fatia maior do orçamento público do que aquela dos países da OCDE: 18,1% aqui, contra 13% lá. A destinação dos gastos é parecida: quase três quartos da verba vai para bancar o salário dos professores e funcionários. Os dados também trazem pouco alento àqueles que acreditam ser indispensável ter ensino de tempo integral em todo o sistema educacional para que seja possível oferecer um ensino de qualidade: a jornada média, no ensino fundamental, é de 863 nos países da OCDE contra as 800 previstas em lei no Brasil. Também fica difícil atribuir nosso insucesso à “superlotação” das nossas salas, já que aqui, novamente, as diferenças são pequenas: no Brasil há 27,5 alunos por classe no ensino fundamental, contra 22,3 na OCDE. O outro insumo medido pela OCDE que poderia lançar muita luz sobre o nosso debate educacional – o salário dos professores – está misteriosamente indisponível para o Brasil. Os dados brasileiros são enviados à OCDE pelo Inep, órgão do Ministério da Educação. Até o EAG de 2005, esses dados constavam dos relatórios. No EAG daquele ano – que trazia informações referentes a 2003, o primeiro ano do governo Lula –, os dados mostravam que o professor brasileiro tinha salário mais alto que o de países da OCDE, quando comparado à renda médias dos respectivos países (um professor brasileiro ganhava 2,3 vezes a renda média nacional, enquanto seu confrade da OCDE, com a mesma jornada e a mesma experiência na profissão, recebia 1,4 vez). Consultado sobre o porquê da omissão no relatório desse ano, o Inep/MEC não se pronunciou até o fechamento desta edição. Será porque esses dados ajudariam a reforçar que o professor brasileiro ganha o que seria de esperar, algo que desagrada aos sindicatos de professores e funcionários da educação, apoiadores históricos do PT? Fica a dúvida.
         Em entrevista a VEJA, Andreas Schleicher, diretor da OCDE, comenta as diferenças de resultados educacionais entre o Brasil e outros países em desenvolvimento que ostentam melhores indicadores no setor, como a China e o Chile. “Os países que tiveram melhorias significativas elevaram seus padrões de exigência e conseguiram tornar a docência uma profissão, em vez de ver o professor como um mero entregador de conteúdos. O Brasil poderia aprender com os chineses como eles fizeram para que os melhores professores e diretores se encaminhem para as escolas com maiores dificuldades – o oposto do que acontece no Brasil, onde os melhores professores escolhem as áreas mais fáceis. Os países de sucesso não são os que gastam mais, mas aqueles que aplicam seus recursos de forma que eles possam realmente fazer a diferença para quem mais importa, que são os alunos de família de baixa renda. Os alunos de classe média e alta vão bem em todos os lugares do mundo. O buraco entre o Brasil e outros países se dá pelo que é feito com os alunos pobres. Tanto o Brasil quanto a China acreditam que é importante dar uma educação de qualidade para todos os alunos, mas a diferença é que no Brasil a mediocridade é tolerada, é aceitável você ter um aprendizado mais ou menos. Na China as ambições são mais elevadas. Acho que o Brasil teria um desempenho muito melhor nos testes internacionais de educação se tivesse expectativas mais altas, especialmente para crianças mais pobres.”
         Está aí um pacto pela educação que nossas lideranças (e manifestantes) poderiam implementar: que todos os professores, funcionários, diretores de escola e secretários municipais e estaduais de educação se comprometessem a dar um ensino de qualidade mesmo aos alunos mais pobres, sem aceitar para eles nada menos do que desejam para os próprios filhos.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado,doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias,  portos, aeroportos); a educação; a saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação); sistema financeiro nacional; comunicações; esporte, cultura e lazer; turismo; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...