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sexta-feira, 24 de maio de 2013

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO E O DESEJO DE PARTIDOS RENOVADOS E DEMOCRÁTICOS


“A educação na OCDE
         
         O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), exame da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançado em 1997, avalia estudantes de 15 anos ao redor do mundo a cada três anos. Em seu último relatório, agora de 2013, é notável ver alunos  de classes desfavorecidas de Xangai e Hong Kong saírem, comparativamente, melhor do que jovens de países ricos. Ambas as cidades estão, solidamente, no topo geral das avaliações do Pisa: Xangai, com seus 23 milhões de habitantes, é a primeira do ranking internacional em todas as três áreas do conhecimento testadas. A China ainda não permite que resultados mais gerais sobre o país sejam divulgados (o que não quer dizer que eles não façam constantes e minuciosos exames e estejam sempre atentos aos resultados publicados pelos outros países). De qualquer forma, o fato é que, segundo pesquisadores do OCDE com acesso aos exames, os resultados do resto do país, ainda que discrepantes dos observados em Xangai e Hong Kong, também surpreendem positivamente. Dos países da OCDE, os vizinhos Japão e Coreia do Sul, além de Finlândia e Canadá, são o destaque do que é praticar justiça educacional com seus jovens.
         Às vezes, basta ser intuitivo para saber porque a desigualdade social caminha junta com desigualdade educacional. Países ricos se mantém na ponto através de gerações pela qualidade de sua educação; de igual maneira, a transição para se tornar um país de ponta é realizada por aqueles que apostam na educação de uma maneira radical. Com em toda corrida, quem parte um pouco de trás tem sempre que correr um pouco mais.
         O custo alto e a desejável celeridade do processo demandam, aliás, o acompanhamento constante dos objetivos checados por avaliações montadas para tal fim. Sobre esse assunto, o mais recente estudo da OCDE sobre programas e ferramentas de avaliação do desempenho de estudantes, professores e líderes escolares, escolas e sistemas educacionais em 28 de seus 34 países membros oferece um sumário de boas práticas. Sobretudo, mostra como o processo de decisão das políticas públicas caminha, cada vez mais, para maior uso de evidências práticas de sucesso, focadas em detalhes logísticos e conceituais da ação mais do que em discussões sobre seu mérito.
         Esse estudo, que foi coordenado pelo português Paulo Santiago, aponta, por exemplo, para o fato de que as “séries de reformas na educação são desencadeadas em países da OCDE pelos resultados dos alunos em avaliações internacionais”. Países como o México começaram a definir metas de resultados para alunos no Pisa futuro, forçando a política educacional a se preocupar com o desempenho da escola. Avaliações internas são mais eficazes se usadas para direcionar melhores influenciadas pela comparação internacional.
         Mas não adianta apenas medir o desempenho dos alunos, é fundamental ajudar os professores a melhorarem, pois “são os professores o fator mais importante dentro da escola para os resultados do aluno”. Na maioria dos países, a avaliação tem efeito sobre promoções e a velocidade de progressão na carreira e também sobre remunerações, direta ou indiretamente. Na Austrália, por exemplo, professores se submetem à avaliação voluntariamente caso queiram ter acesso a posições com reconhecimento à qualidade do ensino, as quais conferem pagamento adicional. Também na Austrália, a avaliação das escolas do país é divulgada em um website do governo (www.myschool.edu.au), onde é fácil comparar os recursos, as características e os desempenhos das escolas espalhadas pelo país. O site provê ainda uma boa introdução explicativa sobre cada escola.
         Aprofundar, valorizar e melhor trabalhar os diversos processos de avaliação é a tônica nos países que sabem que a educação é que define a real riqueza do país. Países atentos uns às experiências e desempenhos dos outros enfrentam melhor o atraso de suas sociedades. Não é para menos que na semana passada em Washington a instituição mais próxima da administração Obama dedicada a pensar boa parte das políticas que depois ganharão os corredores da Casa Branca e do Capitólio  um think tank chamado Centro para o Progresso Americano (CAP, na sigla em inglês) – promoveu justamente um seminário intitulado “O que as escolas dos EUA podem aprender de outros países?”. Um dos três trabalhados apresentados foi justamente sobre Xangai. Os americanos estão intrigados com o fato de a megalópole chinesa conseguir não apenas apresentar os melhores desempenhos educacionais do planeta entre jovens de 15 anos, mas, também, que esse desempenho conte com maior uniformidade entre classes sociais e escolas do que ocorre nos EUA.”
(PAULO DELGADO. Sociólogo, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 19 de maio de 2013, caderno INTERNACIONAL, página 19).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 22 de maio de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de A mosca azul – reflexão sobre o poder (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Partido e democracia interna
        
         “Quem diz organização, diz tendência para a oligarquia. Em cada organização, quer se trate de um partido, de uma união de ofícios etc., a tendência aristocrática manifesta-se de forma bastante pronunciada. O mecanismo da organização, ao mesmo tempo que dá a essa uma estrutura sólida, provoca graves modificações na base organizada. Inverte completamente as respectivas posições dos chefes e das bases. A organização tem como efeito dividir todo partido ou sindicato numa minoria dirigente e numa maioria dirigida.”
         “Quanto mais o aparelho de uma organização se complica, isto é, quanto mas vê aumentar o número de seus filiados, seus recursos crescerem e sua imprensa desenvolver-se, mais terreno perde o poder diretamente exercido pela base, suplantado pelo crescente poder das comissões.”
         “Teoricamente o chefe  não é mais do que um empregado, submisso às instruções que recebe da base. Sua função consiste em receber e executar ordens desta última, do qual ele é apenas um órgão executivo.” “Mas, na realidade, à medida que a organização se desenvolve, o direito de controle reconhecido às bases torna-se cada vez mais ilusório. Os filiados têm de renunciar à pretensão de dirigir ou mesmo supervisionar todos os assuntos administrativos.”
         “É assim que a esfera do controle democrático se retrai progressivamente, para, afinal, ficar reduzida a um mínimo insignificante. Em todos os partidos socialistas, o número de funções retiradas das assembleias eleitorais e transferidas para os conselhos de direção aumenta sem cessar. Ergue-se dessa forma um enorme edifício de complicada estrutura. O princípio da divisão de trabalho impondo-se cada vez mais, as jurisdições se dividem e subdividem. Forma-se uma burocracia rigorosamente delimitada e hierarquizada.”
         “À medida que o partido moderno evolui para uma forma de organização mais sólida, vemos acentuar-se a tendência de substituir os chefes ocasionais pelos chefes profissionais. Toda organização de um partido, mesmo sendo pouco complexa, exige certo número de pessoas que se consagrem inteiramente.”
         “Pode-se completar essa crítica do sistema representativo com a seguinte observação de Proudhon: os representantes do povo, dizia ele, mal alcançam o poder, já se põem a consolidar e a reforçar sua força. Incessantemente envolvem suas posições com novas trincheiras defensivas, até conseguirem libertar-se completamente do controle popular. É um ciclo natural percorrido por todo o poder: emanado do povo, acaba por se colocar acima do povo.”
         Todos os textos acima não são de minha autoria. Foram escritos em 1911 pelo sociólogo alemão Robert Michels (1876-1936), de convicções socialistas, que deu aulas em universidades da Alemanha, França e Itália. Esses textos foram publicados no livro Sociologia dos partidos (Editora Universidade de Brasília, 1982). A última cátedra de Robert Michels foi na Universidade de Turim, onde ensinou economia, ciências políticas e sociologia. Decepcionado com a falta de democracia nos partidos progressistas, faleceu acusado de conivência com o fascismo.
         O que Michels denunciou há 102 anos infelizmente é praxe ainda hoje. A direção do partido é progressivamente ocupada por um seleto grupo profissionalizado que, a cada eleição, distribui entre si as diferentes funções. Os caciques são sempre os mesmos, sem que as bases tenham condições de influir e renovar os quadros de direção. À medida que o partido ganha espaço de poder, menos se interessa em promover o trabalho de base. A mobilização é trocada pela profissionalização  (incluídos aqueles que ocupam cargos eletivos), a democracia cede lugar à autocracia, a ampliação e preservação dos espaços de poder tornam-se mais importantes que os princípios programáticos e ideológicos.
         A Igreja Católica, por exemplo, é uma típica instituição que absorveu a estrutura imperial e vertical do Império Romano e ainda hoje dela não se livrou. E tenta justificá-la sob o pretexto de que essa estrutura decorre da vontade divina. Enquanto tateamos em busca da democracia real, na qual a vontade do povo significa mais do que uma retórica demagógica, temos o consolo de uma invencível aliada dos que criticam a perpetuação de políticos no poder: a morte. Ela, sim, faz a fila andar, promove a dança das cadeiras, abre espaço aos novos talentos.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, isto é, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimentos e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; comunicações; sistema financeiro nacional; esporte, cultura e lazer;turismo; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...