“É
preciso repensar a liderança
Visão estratégica, foco
no resultado e gestão de pessoas chegaram, desde 2009, ao topo das maiores
preocupações dos executivos brasileiros. É o que mostra pesquisa da
Keseberg&Partners envolvendo 6 mil deles e divulgada pela revista Exame. Todas elas demandam o
desenvolvimento dos gestores em dimensões além da puramente “técnica”,
gerencial ou conhecimento do próprio ambiente de negócios, sendo a dimensão
humana pré-requisito e amálgama para a ampliação cognitiva. O desenvolvimento
humano reflete-se diretamente na qualidade e no próprio modus operandi dessas três
grandes preocupações detectadas pela pesquisa.
A
ampliação da dimensão qualitativa do desenvolvimento humano de gestores aborda
aspectos diversos, tais como: autoconhecimento; comportamentos e peculiaridades
humanas; valores e princípios; motivação; comunicação interpessoal; feedback;
assertividade; ‘papéis ‘ vivenciados; criatividade e imaginação; apresentações
e comunicações em público; liderança; equipes e sua evolução; negociar e lidar
com conflitos; ética; postura diante de crises e pressões; além das relações
humanas e do desempenho nos ambientes organizacional e de negócios, como também
pessoal.
A
gestão de pessoas ou administrativo do fator humano nas organizações tem uma
história tão antiga quanto a própria história das civilizações. Logo que os
seres humanos realizaram seu instinto natural de socialização, formando
famílias, tribos, clãs e etnias, surgiram necessidades de disciplinar
comportamentos, normalizar interações e estabelecer valores culturais adequados
àqueles agrupamentos de pessoas. Neles, as pessoas desejam, fundamentalmente,
ter “uma vida boa para si e para os outros, em um ambiente de justiça para
todos”, como propunha Aristóteles. Nessa ótica, quanto mais abrangente for o conceito
de “outros” e a noção de “todos”, mais complexa e eticamente desenvolvida é
aquela organização social.
Historicamente,
organizações como as militares, religiosas e políticas se anteciparam na
formalização de seus processos e instrumentos de gestão do fator humano, tendo
em vista o exercício do poder ou a preservação de espaços de domínio. No plano
das organizações empresariais, o estudo sistemático da administração
organizacional e particularmente, do chamado Fator Humano é bastante recente.
Somente após a Revolução Industrial e o desenvolvimento da teoria científica da
administração (Fayol, Taylor, Ford) começaram a ser investigadas as possíveis
relações entre pessoas, produtividade e processos produtivos.
Na
medida em que essas organizações foram mudando suas estruturas formais,
adquirindo e utilizando novas tecnologias, oferecendo novos produtos e serviços
aos clientes e empenhando novos esforços adaptativos pela sobrevivência, o ser
humano envolvido passou por sucessivas reavaliações e redefinições. Já se
chamou empregado (que pode ser utilizado para realizar uma tarefa), funcionário
(que tem uma função assinalada) mão de obra (que tem uma mão para trabalhar),
recurso humano (que, se esgotar, pode ser substituído), servidor (que serve a
alguém ou alguma instituição), colaborador (que trabalha junto e alinhado com a
organização), parceiro (que está em pé de igualdade com a organização),
terceirizado (que trabalha para uma organização, mas é remunerado por outra),
cliente interno (que participa da cadeia de produção consciente de seus papéis
de receptor de insumos e “entregador” de produtos). O fator humano reúne tudo
que está presente nas pessoas e que tem importância para o desempenho das
organizações empresariais.
O
momento atual e tendências apontam para o desenvolvimento e integração de
capacidades variadas e tudo começa com a “excelência humana”, que permite a
integração e sinergia de pessoas, sonhos e coisas, independentemente do número
de colaboradores na empresa. O bom líder evita o paternalismo/assistencialismo,
buscando sempre formas que englobem adaptabilidade aos desafios que o mercado
impõe, assim como estímulo à criatividade e inovação; são formas estratégicas e
muito importantes quando se trata de empresas familiares ou de pequeno e médio
porte, onde a sucessão geralmente é familiar.
A
liderança é, em essência, a capacidade de tornar real o desenvolvimento e a
concretização do potencial humano nas dimensões necessárias ao negócio da
organização.”.
(EDMARSON
BACELAR MOTA. Professor de gestão de pessoas da Fundação Getúlio
Vargas/Faculdade IBS, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 6 de setembro de 2015, caderno ADMITE-SECLASSIFICADOS, coluna MERCADO DE TRABALHO, página 2).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 5
de setembro de 2015, caderno OPINIÃO, página
7, de autoria de LÚCIA MARIA ALMENDRA
CORREIA LIMA, mestre em ciências sociais, psicóloga e professora da
Faculdade Arnaldo, e que merece igualmente integral transcrição:
“Saúde
psíquica e trabalho
Há muitas décadas,
pesquisadores franceses, originalmente, tentam compreender com mais efetividade
a relação entre a saúde mental e trabalho. Abordar o tema não equivale a
desconsiderar a centralidade secular que a atividade do trabalho mantém, nem
descaracterizar a possibilidade de essa atividade vir a estar relacionada com a
construção de identidade das pessoas, com a realização e o prazer de
profissionais, em geral. No entanto, visto de uma outra perspectiva, em que a
forma como a organização do processo de trabalho se concretiza e as condições
diversas que emolduram esse processo se manifestam no dia a dia do trabalhador,
torna-se possível perceber e identificar como e o quanto o trabalho poderá vir
a ser, igualmente, fonte geradora de adoecimento e de desprazer para as
pessoas.
De um
lado, tem-se o indivíduo com sua singularidade, carregando diferente bagagem
biopsicossocial, que influenciará sobremaneira sua habilidade maior ou menor e
mais qualificada ou menos qualificada de relacionamento com o trabalho. De
outra parte, a organização e contexto mais amplo, macroambiental, onde ela se
insere. É evidente que, excetuando-se casos muito típicos ou extremos, não será
suficiente para o adoecimento psíquico na relação com seu trabalho que aquele
indivíduo carregue uma predisposição orgânica para isso, fazendo, da
organização do processo de trabalho, apenas o desencadeador da doença. Assim, cai-se
numa visão meramente organicista.
Fatores
psicossociais variados e geradores de estresse, o assédio moral contemporâneo
no ambiente de trabalho, a precarização das condições de trabalho, a inversão
da função psicológica do trabalho, não possibilitando ao homem mais
desenvolver-se do que adaptar-se, o esvaziamento da atividade laboral como
recurso de humanização do próprio homem-sujeito, a ausência de escutas no
trabalho, as condições efetivas e concretas de existência das pessoas que
trabalham, a atuação pouco efetiva ou acomodação das equipes multidisciplinares
de saúde ocupacional dentro e fora das organizações, entre outros, poderão
desfavorecer a saúde psíquica e levar ao adoecimento e sofrimento no trabalho.
Subjetividade
e realidade estão como que imbricadas, amalgamadas, são construídas num mesmo
processo, uma não existindo sem a dependência da outra. Portanto, muito há que
ser feito para assegurar saúde psíquica no trabalho, tanto pela procura
espontânea/desejada do indivíduo para seu autoconhecimento mais real e
consistente, via processo psicoterapêutico, quanto por melhor percepção e mais
ações favorecedoras da saúde psíquica no e pelo trabalho, por parte das
organizações e sua lideranças. O desajuste no trabalho não decorre apenas da
estrutura do indivíduo. O que o homem faz de sua vida e o que a vida faz dele
pesam para a saúde ou para o adoecimento quando esse homem se relaciona com sua
atividade laboral.
Até
Dejours, expoente nesse tema e que parece privilegiar a estrutura psíquica,
adverte, por exemplo: “A multiplicação atual de suicídios no trabalho não
resulta apenas de injustiças, da desgraça ou de assédios. Resulta
principalmente da experiência atroz do silêncio dos outros, do abandono pelos
outros, da recusa de testemunhar dos outros, da covardia dos outros. A
injustiça ou o assédio que, em outro momento, teriam sido uma experiência
penosa ou dolorosa podem, no contexto de hoje, degenerar brutalmente para uma
crise de identidade”. E, extrapolando, por mais contraditório que possa
parecer, a patologia é ainda a última expressão da vida concreta do indivíduo,
vamos dizer assim. Adoece-se para continuar vivo. A doença poderia ser
concebida, desse modo, como uma forma extrema e necessária de defesa para o
lidar-se com os conflitos e permanecer vivo.
Yves
Clot, outro expoente na França nessas questões, ao discorrer sobre o nosso
poder de agir, lembra o que Vigotsky afirmou: “A vida está, a cada momento,
plena de possibilidades não realizadas”. Assim, a saúde psíquica não é algo a
priori, mas sim uma conquista que compromete, com seriedade e preventivamente,
todas as partes da situação de trabalho. O poder de agir sobre si mesmo e sobre
o mundo, envolvendo os outros, é construído. E, quanto mais flexível se
apresentar ou for constituída a organização do processo de trabalho, maior será
o poder de agir das pessoas, ou seja, maior será a possibilidade de real
autonomia.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a
estratosférica marca de 395,3% ao ano... e mais, em julho, o IPCA acumulado nos
últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do
procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A
Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o
problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu
caráter transnacional; eis, portanto,
que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas
simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de
suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do
nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente
irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na
Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das
empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”