“A
geração MI e o progresso da ciência
Nesta segunda década do
século 21, o ambiente do trabalho, em todos os ramos de atividade, vive uma
situação privilegiada: a convivência de profissionais de todas as gerações
responsáveis pelas maiores transformações da tecnologia, processos e avanços culturais
e sociológicos, desde os baby boomers, filhos da Segunda Guerra Mundial, até os
millennials (1991), que começam a ingressar no mercado, passando pelos X
(1964/1977) e Y (1990).
Mais
do que rotular cada uma dessas faixas etárias, como se costuma corriqueira e
didaticamente proceder, é importante observar e tirar proveito de tudo o que a
sua interação no cotidiano das empresas, universidades e organizações de toda
ordem pode produzir de útil para cada país e a civilização global. Vivemos, na
verdade, o tempo do que poderíamos chamar de Geração MI (multi-Idade), cuja
miscigenação intelectual tem sido extremamente fértil em ideias, novas
tecnologias, gestão inovadora, capacidade de pesquisa e compliance.
As
organizações contemporâneas somam em suas estruturas de recursos humanos a
experiência e o espírito desbravador dos baby boomers, o caráter mais
tolerante, humanitário e político da geração X, a cultura da internet, o ímpeto
tecnológico, objetividade e imediatismo da Y, e a ansiedade construtiva dos millennials.
Quando mais esses elementos foram sinérgicos e houver o compartilhamento de
conhecimentos e informações, mais eficaz será o resultado de cada célula de
trabalho e das organizações como um todo.
Assim
também é na ciência e na academia. Esta área tão decisiva para o
desenvolvimento humano é um exemplo de como as heranças de cada geração vão se
agregando aos novos elementos, mesclando-se e contribuindo para os avanços.
Ainda na era dos baby boomers, as pesquisas eram integralmente feitas por um
único cientista ou grupo de determinada universidade. Hoje, no embalo da
geração Y, mais focada em especializações, cada inovação, tecnologia e trabalho
em distintas áreas resulta de uma diversidade de estudos, pesquisadores e
instituições.
O novo
modelo, contudo, não foi instantâneo. Moldou-se paulatinamente, à medida que se
mesclaram culturas das sucessivas gerações. Tempos exemplos muito elucidativos
desse processo de transição no Prêmio Péter Murányi, que reconhece trabalhos
acadêmicos capazes de transformar a vida de comunidades nos países em
desenvolvimento.
Na
edição de 2002, o vencedor foi um estudo desenvolvido na Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, realizado pelo professor e
doutor Sérgio Henrique Ferreira. Ao identificar, no veneno da serpente
jararaca, agentes capazes de potencializar o efeito da bradicinina, substância
vital no controle da pressão arterial, ele possibilitou que cientistas dos Estados Unidos dessem
andamento à sua pesquisa e criassem o captopril, medicamento para o tratamento
da hipertensão. No prêmio de 2012, o vencedor foi trabalho da doutora Teresa
Losada Valle, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), sobre o melhoramento
das variedades de mandioca. O estudo é uma sequência de pesquisas do IAC,
iniciadas em 1935, sobre tubérculos e raízes mais resistentes a pragas e
doenças. Nos dois casos, observa-se o viés da diversidade de fontes, tão
presente hoje no chamado universo dos Y.
Ao
sugerir a ideia da geração MI, que reflete melhor a realidade da estrutura do
trabalho, na qual se mesclam profissionais de distintas idades, busco alertar
para a importância, em especial no caso de P&D, de se somarem todas as
competências, conhecimentos e experiências, para se eliminar equívocos e se
agregar novas práticas. A ciência só tem a ganhar com essa sinergia, em
especial se, no embalo dos jovens pesquisadores, empresários e executivos, a
produção acadêmica brasileira passar a ter aplicação prática mais ampla nos
setores produtivos, registro de patentes e ganhos de competitividade. Nesse
processo, a sociedade será a grande vencedora!”.
(PÉTER
MURÁNYI, formado em engenharia pela Faap, é vice-presidente da Fundação
Péter Murányi, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 13 de janeiro de 2017, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de DOM
WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e
que merece igualmente integral transcrição:
“Frear
as banalizações
A progressiva
banalização do mal revela uma exigência: o confronto dos processos que
deterioram o núcleo humanístico essencial de cada pessoa, recôndito sacrossanto
da consciência que conduz atitudes e escolhas nos trilhos do bem e da justiça.
Sem a superação do sentimento de que o mal é algo natural, não se conquistará a
paz. Essas banalizações são uma sucursal do inferno, aprisionando a humanidade.
Gradativamente, perde-se a sensibilidade fundamental que capacita, motiva e
impulsiona o coração para o perdão e a reconciliação. Consequentemente,
prevalece a incapacidade para a convivência fraterna e pacífica. Multiplicam-se
os cenários aterrorizantes dos atentados, das chacinas e de outras diversas
violências que, além dos prejuízos nefastos e das perdas irreversíveis, vão
adoecendo consciências, deturpando entendimentos e formatando – com vícios – as
escolhas. Ficam comprometidas as condutas, pois é banido o sentido que se
conquista na experiência convincente de que é bom ser bom.
A
reação contrária às banalizações do mal deve nascer de uma articulada e
contemporânea retomada do compromisso de se investir na formação moral.
Obviamente, isso não pode ser um posicionamento
reacionário marcado por rigidez e intolerâncias. Em vez disso, é um
enfrentamento dos descompassos que inviabilizam a convivência solidária,
aumentam a indiferença, levando-a um patamar que produz brutalidades,
estampadas em chacinas como as ocorridas em presídios, nos homicídios
registrados nas cidades, atentados contra a vida em muitos outros lugares.
Esses crimes ocorrem de modo fragmentado, disperso, mas, se somados, evidenciam
números de uma sociedade em guerra.
A
moralidade tem força pra frear as banalizações agravadas ainda mais pela
influência das tecnologias sobre o comportamento humano. De um lado, são
verificados avanços fantásticos no universo tecnológico, mas, por outro, surgem
verdadeiras “armas de destruição”, quando as relações presenciais são
substituídas por “contatos virtuais”. Um contexto preocupante em que, muitas
vezes, as interações renunciam ao mais elementar sentido de respeito pelo outro
e pelas singularidades. Eis um dos nascedouros da banalização do mal que,
nessas situações, se revela na ausência do sentido de igualdade, do apreço pelo
outro. As consequências são a perversão do deboche e da manipulação das pessoas,
desconsiderando a sacralidade de todos. Trata-se o outro como descartável,
compreendendo-o como simples instrumento para se alcançarem certos objetivos
pessoais. Por isso, não há alianças e vínculos duradouros, necessários
alicerces para uma vida qualificada e verdadeiramente humana.
Os
instrumentos na ordem moral devem incidir na esfera individual, com o
balizamento do núcleo familiar, célula da sociedade, e com o empenho das mais
diferentes instituições e segmentos, todos comprometidos com um funcionamento
eticamente exemplar. Há um terrível dilaceramento do tecido moral que precisa
ser recuperado. Isso só é possível a partir da redescoberta dos valores que
promovem o altruísmo. Assim, as escolhas não serão somente orientadas pelos
critérios do lucro, das vantagens e das comodidades, mas regidas pelo
compromisso de se fazer o bem.
Essa
reação exige que todos reconheçam um preocupante fenômeno, consequência da
banalização do mal: a perda do sentido da gratidão e da competência para a
generosidade. As portas, assim, escancaram-se, cada vez mais, para todo tipo de
violência. Nada tem sentido de sagrado, tudo é vulnerável e descartável. O ser
humano passa a se habituar a tudo que deveria ser condenado. Banalizam-se as
chamadas “pequenas mentiras”, os enganos que sordidamente são produzidos para
manipular pessoas e esconder esquemas de corrupção.
Importante
é reconhecer que as violências alimentam essas situações, que, por sua vez,
fomentam as violências. Para superar essa perversa dinâmica, é preciso acolher
a orientação de Jesus, que também viveu tempos de violência. O Mestre ensinou
que o verdadeiro campo de batalha, onde se defrontam a violência e a paz, é o
coração humano. Nesse sentido, o papa Francisco pede a cada pessoa, em sua
mensagem para o Dia Mundial da Paz: comprometamo-nos, por meio da oração e da
ação, a nos tornar pessoas que baniram dos seus corações palavras e gestos a
violência, e a construir comunidades não violentas, que cuidem da “casa comum”.
O estilo adotado de se viver pautado pela não violência depende de que cada
pessoa seja um “coração da paz”. Nobre e pertinente, interpelante e indicativa
é também a palavra do papa emérito Bento XVI, ao dizer que a não violência para
os cristãos não é mero comportamento tático mas um modo de ser da pessoa, uma
atitude de quem está tão convicto do amor de Deus e de seu poder que não tem
medo de enfrentar o mal com as armas do amor e da verdade. Assumir esse modo de
ser: aí está o caminho único para a moralização capaz de frear as banalizações
do mal que deterioram a humanidade.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em novembro a ainda estratosférica marca
de 482,05% nos últimos doze meses, e a
taxa de juros do cheque especial registrou históricos 330,65%; e já em dezembro
o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 6,29%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico
de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem
mostrando também o seu caráter transnacional;
eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos
borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um
verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque,
rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim,
é crime...); III – o desperdício, em
todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O
Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança
das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável
desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão,
a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com
esta rubrica, previsão de R$ 946,4
bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
- rigorosamente,
não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte,
torna-se absolutamente inútil lamentarmos
a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além
de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do
século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da
informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da
sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da
paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55 anos
de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...