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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A CIDADANIA, A LEITURA E O APRENDIZADO

“Como pode a escola contribuir para a formação de atitudes democráticas?

1944

A escola pública, em alguns lugares a única escola para o ciclo primário, é certamente o meio eficiente de aproximação entre futuros cidadãos da mesma geração. Dos contatos da infância, cada um retira o conhecimento intuitivo, diariamente experimentado, do valor de cada um dos companheiros; e estes, pertencentes a meios diferentes, refletem, no espírito de cada qual, atitudes e modos de agir de seus respectivos meios.

Mas a democracia requer mais que oportunidades e contatos fortuitos entre meios sociais. Ela exige treino organizado para formar no homem adulto sua segunda natureza, tecida de atitudes e de hábitos de agir democraticamente, de acordo com um ideal democrático.

Muitos são os critérios do ideal e da ação democrática. Entre eles destacamos dois que, já na Escola Primária, podem ser revisados sob a forma de virtude a praticar, e de regime de trabalho a realizar.
O nome do primeiro é lealdade; o segundo chama-se cooperação. Todo regime, onde ambas vigoram, se democratiza e se apura no sentido democrático. Ao contrário, com o desprezo de uma ou de outra, ele degenera em regime de autoritarismo e de exploração social.

No interessante parágrafo dedicado à lealdade, Wells e Huxley ressaltam o valor dessa virtude e seu papel no progresso moral de nossos dias. Admiram que ficasse omitida nas tábuas dos dez mandamentos ainda esta lei: : “Não oculteis nada. Dizei a verdade”.

O século XIX, com seu movimento de ciência experimental, abriu caminho para o conhecimento real do mundo. Freud, em nosso século, com a sua psicanálise, inicia os homens no hábito de serem leais consigo mesmos.

É preciso que se dê mais um passo para que o homem pratique essa lealdade em relação aos outros homens. Notam os autores que esse aspecto, apenas iniciado, está se avolumando dia a dia, à medida que a ciência nos vem trazendo benefícios, e à proporção que as duras experiências da vida política internacional (onde, diria Claparède, “a probidade acha-se freqüentemente em férias”) trazem à humanidade incrível soma de sofrimentos e de desilusões.

Esse movimento em prol da lealdade, fruto de uma confiança maior na realidade, merece por parte dos educadores treino não menos sistemático do que o exigido pelo vigor dos músculos nos estádios de atletismo.

Que faz a escola para insuflar na criança o respeito à lealdade? De que processos pedagógicos lança mão para incutir no seu espírito o amor à verdade, o interesse pelo real? Como ajuda à criança a distinguir o falso do errado, e a discriminar o imaginário do real? ... Não sei se haverá nas escolas esta preocupação de aproximar a criança diretamente dos fatos para acostumar seus sentidos, suas mãos, sua inteligência a refletir com fidelidade a natureza, tal como ela é, nas suas aparências palpáveis; de formar-lhe hábitos de ver com seus próprios olhos e verificar os conhecimentos com o manejo, cada vez mais ativo, das coisas e os fenômenos. Haverá no ensino das ciências naturais, por exemplo, esta intenção de pôr a criança em contato com os fatos, como Jesus Cristo o fez quando convidou o apóstolo Tomé a resolver, com as próprias mãos, as dúvidas que o assaltavam?[...]”

(HELENA ANTIPOFF, em artigo publicado originalmente na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, 1944, páginas 26-45, e incluído em HELENA ANTIPOFF – Textos Escolhidos, de Regina Helena de Freitas Campos (Organizadora). – São Paulo: Casa do Psicólogo; Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2002. – (Coleção clássicos da psicologia brasileira).

Mais uma IMPORTANTE e também OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 19 de agosto de 2010, Caderno CULTURA, página 10, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de Maricota e o mundo das letras (Mercuryo Jovem), entre outros livros para crianças e jovens. www.freibetto.org – twiter:@freibetto, que merece INTEGRAL transcrição:

“Leitura e aprendizado

No Brasil se lê, em média, 1,3 livro por ano. Nos EUA, 11;na França, 7; e na Argentina, 3,2. E há em nosso país 2.980 livrarias, uma para cada 64 mil habitantes. A Unesco considera razoável uma livraria para cada 10 mil habitantes.

O Ministério da Cultura garante que o fim do governo Lula serão inauguradas bibliotecas públicas em 2 mil municípios. Tenho minhas dúvidas. O prazo para captar recursos do governo federal destinados à revitalização de bibliotecas públicas se encerrou em meados de julho. Apenas 300 dividirão os R$ 30,6 milhões liberados.

O que significa que cada município, com apenas R$ 102 mil, deverá modernizar instalações, atualizar o acervo, melhorar o acesso de leitores portadores de deficiências e ainda criar bibliotecas ramais (em distritos, bairros da periferia e na zona rural). Também duvido, a menos que as prefeituras descubram como multiplicar dinheiro e capacitação de pessoal.

Há, em todo o país, 4.763 bibliotecas. Uma para cada 33 mil habitantes. Na Argentina há uma para cada 17 mil. Em 420 cidades brasileiras não existem bibliotecas ou se encontram fechadas. As nossas emprestam, em média, apenas 296 livros por dia, o que é muito pouco. E só 29% delas têm acesso à internet.

Os dados são do Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais, realizado pela Fundação Getulio Vargas a pedido do Ministério da Cultura.

Pesquisa do Observatório do Livro revela que o alto preço é, para 67% dos leitores, a principal razão de se recorrer à cópia Xerox de um exemplar, embora isso seja proibido por lei. Outros 20% justificam a ilegalidade por não encontrar o título nas livrarias. E 13% alegam que, na faculdades, é mais fácil xerocar do que procurar o livro a ser emprestado ou comprado.

Segundo a Unesco, o Brasil tem 13,8 milhões de analfabetos. Sem contar os analfabetos funcionais, um universo que engloba 54% da população entre 15 e 64 anos que cursar até a 4ª série e, no entanto, não são capazes de compreender textos longos e muito menos redigir uma carta sem graves erros de concordância e sintaxe.

Nos EUA, pesquisa das universidades de Nevada e da Califórnia constatou que quanto mais livros há numa casa, mais anos de escolaridade atingirão as crianças que a habitam. O nível cultural e de escolaridade dos pais também influencia, porém menos que a disponibilidade de livros no lar. Além de ser úteis no aprendizado escolar, ampliam o vocabulário e a imaginação, o conhecimento de história e geografia e a capacidade de refletir e argumentar.

Hoje, se recomenda a leitura de histórias infantis desde a primeira semana de vida do bebê. Ainda que se tenha a impressão de total desinteresse da parte dele, na verdade isso o ajuda a aprimorar as sinapses cerebrais, ou seja, a conexão entre os 100 bilhões de neurônios do cérebro. O que é meio caminho andado para que, na idade da razão, ela seja mais capaz de construir sínteses cognitivas, sabendo relacionar as parte com o todo e fragmentar o todo em suas partes constituintes.

Não basta apenas ler a história. É preciso interagir com a criança: mostrar figuras, fazer perguntas, reproduzir sons sugeridos, imitar personagens etc.

Vale recordar que assimilamos 90% de tudo que é importante aprender para fazer de cada um de nós um ser humano até os 6 anos: comer, andar, falar, distinguir pessoas e relações de parentesco, discernir ocasiões de perigo ou risco, aprimorar o instinto de sobrevivência etc.

Crianças que escutam histórias desde cedo enriquecem seu vocabulário e desenvolvem a capacidade de compreensão e aprendizado. Pesquisas comprovam que o hábito da leitura em casa possibilita melhor aproveitamento escolar.

O grande perigo, hoje, é ver crianças e adolescentes “sequestrados” intelectualmente pela hipnose televisiva de baixa qualidade ou navegando à deriva na internet. No caso da TV, o risco de abdicarem da própria imaginação em prol das fantasias projetadas no monitor. Na adolescência, poderão buscar suprir a carência nas drogas.

O risco do uso abusivo da internet, sobretudo quando se navega sem direção, é ser bombardeado por um fluxo de estímulos e informações sem estrutura cognitiva e moral para selecioná-los ou discerni-los. E é bom lembrar que ver o que aparece na TV e na tela do computador não equivale a ler e, muito menos, a escrever.

Bem cantavam os versos de Castro Alves, no século 19: “Oh! Bendito o que semeia/ Livros... livros à mão cheia/ E manda o povo pensar!/ O livro caindo n’alma/ É germe – que faz a palma/ É chuva que faz o mar.””

São, pois, páginas que apontam, com absoluta CLAREZA e PROPRIEDADE, para a imperiosa NECESSIDADE e URGÊNCIA de POLÍTICAS PÚBLICAS para EDUCAÇÃO/CULTURA e que nos MOTIVAM e nos FORTALECEM nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que permita a PARTILHA de suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para eventos como a COPA DO MUNDO de 2014, a OLIMPÍADA de 2016 e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências da MODERNIDADE, da ERA da GLOBALIZAÇÃO, do CONHECIMENTO, da INFORMAÇÃO, das NOVAS TECNOLOGIAS e da SUSTENTABILIDADE e de um mundo da PAZ e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...