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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A CIDADANIA, A MELHORIA DO AMBIENTE DE NEGÓCIOS E A SONEGAÇÃO GLOBAL

“O caminho certo: resposta está na melhoria do ambiente de negócios
        
         O dinamismo de uma sociedade está em sua capacidade de gerar emprego e renda. O Brasil de hoje conseguiu gerar emprego e renda a partir de uma gestão inteligente da inflação, dos fundamentos fiscais, dos programas sociais e da maior oferta de crédito. A desigualdade caiu, assim como a taxa de desemprego.
         Porém, a essa altura do campeonato, o modelo brasileiro começa a demonstrar exaustão. Não que tenhamos de trocar o modelo de consumo por outro.
         O Brasil tem um problema grande de oferta. Nosso consumo aumentou; a oferta, não. O deslocamento entre a oferta e o consumo nos leva a importar o que poderíamos fazer aqui.
         Assim, temos um situação paradoxal. O mercado quer consumir e pode consumir. Entretanto, o empresário que pode ofertar não quer investir. Prefere importar ou não oferecer. Ou, ainda, investir apenas onde tem certeza de obter elevados retornos ou onde conheça  muito bem.
         Aparentemente, o atual governo insiste em tratar a questão pelo lado público, sempre com um viés intervencionista. Não à toa demorou a adaptar as regras das concessões de rodovias, portos e aeroportos.
         Insiste em manter uma carga tributária alta e nada faz para que o ambiente de negócios no país seja o melhor possível. Não mantém um diálogo regular com os empresários, nem procura saber o que eles pensam sobre como podemos crescer mais e melhor.
         A oposição, por seu lado, pouco trata da questão. Prefere esperar os erros do governo a criar um discurso inteligente. Ter mais empresas dando emprego e renda é do que precisamos.
         Para mim, não importa quem assuma a missão: a resposta para os desafios do Brasil hoje está na melhoria do ambiente de negócios. Melhorando o ambiente para investir, teremos condição de manter a atual situação de pleno emprego e geraremos crescimento, renda e arrecadação. Nossa economia crescerá a níveis mais próximos dos demais países dos Brics. A pobreza e a desigualdade continuarão a cair.
         Apontar os defeitos do atual modelo brasileiro é fácil. Porém, também não é difícil dar respostas. E, para mim, elas são claras. Temos um roteiro pronto que indica o caminho certo: fazer com que o Brasil ganhe  posições no ranking Doing Business do Banco Mundial.
         No atual relatório do Doing Business, o Brasil amarga uma colocação pífia: 116º lugar. Evidentemente, não se pode considerar que o relatório é absolutamente preciso. No entanto, ele revela percepções sérias sobre temas relevantes, como obtenção de alvarás de construção, propriedade industrial e patentes, sistema tributário, proteção a contratos, entre outros itens.
         Ao governo, bastaria olhar o relatório com atenção e traçar uma meta para, em alguns anos, ganharmos muitas posições no ranking do Banco Mundial. Bastaria ter vontade política e um mínimo de competência. Devemos urgentemente simplificar nosso sistema tributário. O governo federal deve agir unilateralmente e deixar os governos estaduais agirem.
         Devemos reativar o programa nacional de desburocratização e impor prazos e penas para as respostas da administração pública. Alvarás não podem demorar tanto para sair, como acontece hoje em Brasília. O sistema de patentes deve ser robustecido. Os programas de inovação, pesquisa e desenvolvimento devem ser vitalizados.
         Ao melhorar o clima para investimentos privados no país, teremos nosso desenvolvimento baseado no consumo, nos investimentos em infraestrutura e na ampliação dos negócios privados. Não dependeremos apenas do governo para crescer.”

(MURILLO DE ARAGÃO. Sociólogo e cientista político, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 29 de janeiro de 2014, caderno OPINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de Calendário do poder (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Sonegação global
        
         A presidente Dilma participou pela primeira vez, na terceira semana de janeiro, do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Assim como existe retiro espiritual, o evento sediado na Suíça equivale a um retiro pecuniário. Ali se reúnem os donos do mundo. Entre os quais 85 pessoas que, juntas, acumulam uma fortuna de US$ 1,7 trilhão – o mesmo valor que possuem 3,5 bilhões de pessoas, a metade da população do planeta.
         Este dado acima foi divulgado, em janeiro, pela organização britânica Oxfam. Ela alerta ainda que, em 2013, o número global de desempregados atingiu a cifra de 202 milhões. Em decorrência da acumulação privada da riqueza, as bases da democracia estão sendo minadas.
         O fim da Guerra Fria atenuou a tensão entre o Leste e o Oeste do mundo. No entanto, a desigualdade social crescente agrava a disparidade entre o Norte e o Sul. Segundo Joseph Stiglitz, Prêmio Novel de Economia, o PIB dos países ricos está encolhendo. O da Grécia sofreu uma redução de 25% desde 2008. O do Brasil ficou em torno de 2% em 2013.
         Nos EUA, segundo Stiglitz, 95% dos ganhos na economia se concentram em mãos de 1% da população, os que ocupam o topo da pirâmide social. Ele conclui: “Mesmo antes da recessão, o capitalismo ao estilo americano não estava funcionando para uma grande parte da população”. A renda média do cidadão estadunidense é, hoje, inferior à renda média de 40 anos atrás.
         Ao contrário do esperado, nos últimos anos as políticas impostas pelos donos do poder só agravaram a desigualdade social, devido a fatores como desregulamentação financeira; ampliação dos paraísos fiscais e do sigilo bancário (o narcotráfico agradece); práticas comerciais anticoncorrenciais; impostos menores para os rendimentos mais elevados; e redução de investimentos em serviços públicos. Desde o início da década de 1980, dos 30 países pesquisados pela Oxfam, em 29 os ricos pagam cada vez menos impostos.
         E o governo do PT, quando fará a reforma tributária tão alardeada em seus documentos e discursos originários?
         Estima-se que os paraísos fiscais guardem, livres dos olhos e da boca do Leão, US$ 21 trilhões! Na Índia, como no Brasil, o número de bilionários aumentou 10 vezes na última década, graças a uma estrutura tributária fortemente regressiva. Na Europa, a crise financeira impôs austeridade às classes média e pobre, enquanto os governos socorrem com recursos públicos empresas e instituições em dificuldades. (No Brasil, a galinha dos ovos de ouro se chama BNDES.).
         A miséria e a pobreza que afetam 4 bilhões de seres humanos – para os quais o capitalismo fracassou – advêm de várias causas, entre as quais se destacam a imunidade e a impunidade do crime de sonegação fiscal. A riqueza financeira líquida global (exceto imóveis) é calculada em US$ 94,7 trilhões (dado de 2012). Dos quais US$ 18,5 trilhões se encontram estocados em paraísos fiscais. Se essa fortuna avarenta pagasse impostos, os cofres públicos recolheriam US$ 156 bilhões, o suficiente para erradicar duas vezes a pobreza extrema no mundo.
         O documento The price of offshore revisited, de James Henry, ex-economista-chefe da consultoria McKinsey, revela que os bilionários  brasileiros acumulavam em paraísos fiscais, até 2010, US$ 520 bilhões (cerca de US$ 1,3 trilhão).
         A Oxfam propôs em Davos algumas medidas: 1) Tributação progessiva. Quem ganha mais para mais impostos. 2) Fim do financiamento de campanhas eleitorais por pessoas jurídicas (tomara que o STF ouça o apelo!). 3) Transparência de todos os investimentos públicos em empresas e fundos de pensão. 4) Priorizar os recursos públicos para saúde, educação e seguridade social. 5) Salários compatíveis com as necessidades vitais dos trabalhadores. 6) Acabar com a pobreza extrema no mundo até 2030 (sobrevivem na pobreza extrema todos os que possuem uma renda diária inferior a US$ 1,25 (= R$ 2,95).
         Prevê-se que em 2030 estarão na pobreza extrema 342 milhões de pessoas. Hoje, são pouco mais de 1 bilhão. A redução se explica pelo aumento de recursos dos governos em políticas sociais. No entanto, não se mexe uma vírgula na estrutura capitalista que produz pobreza extrema e agrava a desigualdade social.
         Duvido que os donos do mundo reunidos em Davos darão ouvidos a apelos como o da Oxfam. Walt Disney, catequista do capitalismo, retratou bem na figura do Tio Patinhas a idolatria da fortuna. Ela inebria e escraviza seus devotos. O fetiche do dinheiro cega quem o possui, embora haja exceções.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir uma permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, a amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública;a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...