“Falta
uma clara proposta de país
Em ano eleitoral,
pipocam planos de governo por partidos ou coligações. Vários profissionais e
políticos ligam as antenas e o conjunto de dados reunidos forma um projeto de
futuro para os quatro anos adiante. Além do plano de governo, resta saber se os
políticos estão sensibilizados para a necessidade de algo mais importante e
perene: um plano de nação.
Nos
idos dos anos 1970, os Tigres Asiáticos – países pobres situados no Sudeste da
Ásia – estabeleceram objetivos claros visando atingir prosperidade sustentável.
Ao fixar alvos de futuro, a população firmou um pacto inabalável e independente
de vertentes políticas. Nesse período, pobreza e falta de saneamento básico
foram erradicados, elegeram-se o ensino e a meritocracia como prioridades;
fez-se o exercício obsessivo da responsabilidade fiscal e construiu-se uma
infra-estrutura impecável. O resultado do árduo sacrifício gerou orgulho em
seus cidadãos e atraiu sólidos investimentos mundiais, criando um ciclo
virtuoso. Não houve plano de governo. Houve plano de nação.
A
Europa do pós-guerra encontrava-se atrasada, em especial a Alemanha, coberta
pela vergonha do genocídio e da destruição que seus filhos causaram. Dando por
inaceitável a determinação de seu fracasso, os europeus levantaram-se e miraram
no futuro, visando criar prosperidade e voltar a florescer. A despeito de
divisões políticas, os europeus conjugaram ambição a sacrifício. Da união de
forças, décadas depois e com profundos ajustes institucionais, a miséria do
pós-guerra ficou para trás.
Os
Estados Unidos vivenciaram várias crises humanitárias e econômicas. O New Deal
permitiu que o povo se unisse e por meio de sacrifício coletivo construiu-se um
país que é sinônimo de oportunidade, até para imigrantes, fundado em
sentimentos de igualdade, prosperidade e oportunidade.
A
China é um exemplo a ser conhecido. Seu povo, ao cabo de 20 anos de árduo
trabalho e organização, conquistou lugar de importância no mundo. A China é um
país temido econômica e militarmente, sua população gera prosperidade e agora
passa à desafiadora tarefa de redistribuição da riqueza acumulada.
Ao
exame de exemplos surgem algumas questões. O povo brasileiro sabe para onde
vai? Quando candidatos falam de planos de governo, até que ponto reeditam
ideias, tapam buracos? Há visionários propondo a mobilização de capacidades
internas sob uma perspectiva de preparar-nos ao mundo de 20, 30 anos adiante?
Ainda
parece faltar uma clara proposta de país. O que podemos ou queremos ser? O
Brasil, pela sua magnitude, tem o dever de liderar a região quando descobrir o
que quer ser.
O povo
brasileiro aparenta ter atingido o ápice do estágio de egoísmo consumista e
imediatista, jamais antes visto. O acesso ao crédito barato permitiu ascensão
social e sensação de prosperidade, mas ela se comprova insustentável ao longo
prazo. A desesperança ainda reina.
Um
país precisa de dirigentes que traduzam suas ações em propostas de nação, indo
além do curto prazo e dos planos de mero governo. Não é porque o país
encontra-se desestruturado e com demandas fundamentais não atendidas que não se
estabelecerão objetivos de longo prazo e meios para atingi-los. Fazê-lo é a
obrigação de todo patriota e um político deve colocar o cidadão acima de suas
ambições pessoais.”
(DAN M.
KRAFT. Advogado no Brasil e no Canadá, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de abril
de 2014, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 6
de abril de 2014, caderno MEGACLASSIFICADOSADMITE-SE, coluna MERCADO DE
TRABALHO, página 2, de autoria de PAULETTE
MELO, professora em cursos de MBA da FGV/IBS, e que merece igualmente
integral transcrição:
“TALENTOS DESPERDIÇADOS
Diversas
pesquisas têm revelado uma escassez de profissionais talentosos em todo o mundo
e em todos os setores. Um estudo sobre o tema, realizado pela Manpowergroup,
exemplifica essa realidade ao constatar que o Brasil é o segundo colocado no
ranking dos países que enfrentam maiores dificuldades para preencher as vagas
no mercado de trabalho. Os especialistas sugerem que a solução está no aumento
da oferta de trabalhadores qualificados. Contudo, há um fator que ainda não
aparece nas pesquisas e tem um impacto direto na “produção de talentos”: muitos
desses profissionais desaparecem por falta de incentivo dentro das próprias
empresas.
É
muito comum os especialistas em recursos humanos e gestão de pessoas ouvirem
relatos de gestores interessados em atrair e desenvolver os melhores talentos.
As empresas até querem e conseguem atraí-los, haja vista a concorrência, por
exemplo, para as posições de trainees em organizações de renome. Porém, o que
tem ocorrido é que não há um interesse autêntico dos gestores pelos
profissionais talentosos e também não existe uma estrutura preparada para
desenvolvê-los nas organizações.
O que
se observa, na maioria esmagadora das vezes, é que esses profissionais notáveis
se deparam com gerentes autoritários que os desmotivam no dia a dia, em vez de
trabalhar o potencial deles. Os profissionais se sentem intimidados, ameaçados,
e a consequência disso é que a proatividade e a motivação dão lugar à
passividade. Os talentos aprendem com os gerentes a ficar na zona de conforto,
o que é extremamente improdutivo.
Durante
os recrutamentos, os profissionais nos detalham seus sonhos de mudar o mundo,
quando assumem o primeiro trabalho, sobre o desejo de oferecer às empresas o
seu melhor. E tenho investido para que os talentos que contrato e entrego às
empresas não se deixem vencer pela inércia e acomodação a que serão atraídos e
que não se deixem conduzir pelo reducionismo e a mediocridade.
O
grande problema nesse modelo é que na Era do Talento nada se deprecia mais que
o próprio talento. Os talentos que não são desenvolvidos estão fadados à
extinção. Nunca os talentos foram tão desperdiçados como atualmente. A
competitividade de um país nada mais é que o somatório da competitividade de
sua organizações. Por isso precisamos criar uma geração de profissionais que
não se sintam ameaçados pela genialidade dos outros, pois conhecem, reconhecem
e trabalham a partir da própria genialidade, cuja complementaridade permitirá
saltos exponenciais na performance individual e na produtividade nacional. No
século 21, gerar valor econômico para a organização só se sustenta se e somente
se gerar valor social aos indivíduos.
Um
gestor que mata os talentos de sua equipe aos poucos não pode ser considerado
líder. Entretanto, é comum ver as chefias embotando a criatividade, mitigando a
seiva da inovação e fragilizando as pessoas, aproveitando-se das riquezas delas
pelo prazer de se sentirem superiores. Devemos reavaliar essa realidade e
perceber que é necessário repensar o talento nas organizações. Não devemos
prosseguir multiplicando a mesmice e a mediocridade. Por enquanto, o que
oferecemos atualmente é um inexpressivo gerenciamento de talentos.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento – até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis (haja vista o “desperdício de talentos...”);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ trilhão, a título de juros, encargos,
amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654
bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
teconologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico,
tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade,
economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades
e potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016;
as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...