sexta-feira, 11 de abril de 2014

A CIDADANIA, A NECESSIDADE DE UMA PROPOSTA NACIONAL E OS TALENTOS DESPERDIÇADOS

“Falta uma clara proposta de país
        
         Em ano eleitoral, pipocam planos de governo por partidos ou coligações. Vários profissionais e políticos ligam as antenas e o conjunto de dados reunidos forma um projeto de futuro para os quatro anos adiante. Além do plano de governo, resta saber se os políticos estão sensibilizados para a necessidade de algo mais importante e perene: um plano de nação.
         Nos idos dos anos 1970, os Tigres Asiáticos – países pobres situados no Sudeste da Ásia – estabeleceram objetivos claros visando atingir prosperidade sustentável. Ao fixar alvos de futuro, a população firmou um pacto inabalável e independente de vertentes políticas. Nesse período, pobreza e falta de saneamento básico foram erradicados, elegeram-se o ensino e a meritocracia como prioridades; fez-se o exercício obsessivo da responsabilidade fiscal e construiu-se uma infra-estrutura impecável. O resultado do árduo sacrifício gerou orgulho em seus cidadãos e atraiu sólidos investimentos mundiais, criando um ciclo virtuoso. Não houve plano de governo. Houve plano de nação.
         A Europa do pós-guerra encontrava-se atrasada, em especial a Alemanha, coberta pela vergonha do genocídio e da destruição que seus filhos causaram. Dando por inaceitável a determinação de seu fracasso, os europeus levantaram-se e miraram no futuro, visando criar prosperidade e voltar a florescer. A despeito de divisões políticas, os europeus  conjugaram ambição a sacrifício. Da união de forças, décadas depois e com profundos ajustes institucionais, a miséria do pós-guerra ficou para trás.
         Os Estados Unidos vivenciaram várias crises humanitárias e econômicas. O New Deal permitiu que o povo se unisse e por meio de sacrifício coletivo construiu-se um país que é sinônimo de oportunidade, até para imigrantes, fundado em sentimentos de igualdade, prosperidade e oportunidade.
         A China é um exemplo a ser conhecido. Seu povo, ao cabo de 20 anos de árduo trabalho e organização, conquistou lugar de importância no mundo. A China é um país temido econômica e militarmente, sua população gera prosperidade e agora passa à desafiadora tarefa de redistribuição da riqueza acumulada.
         Ao exame de exemplos surgem algumas questões. O povo brasileiro sabe para onde vai? Quando candidatos falam de planos de governo, até que ponto reeditam ideias, tapam buracos? Há visionários propondo a mobilização de capacidades internas sob uma perspectiva de preparar-nos ao mundo de 20, 30 anos adiante?
         Ainda parece faltar uma clara proposta de país. O que podemos ou queremos ser? O Brasil, pela sua magnitude, tem o dever de liderar a região quando descobrir o que quer ser.
         O povo brasileiro aparenta ter atingido o ápice do estágio de egoísmo consumista e imediatista, jamais antes visto. O acesso ao crédito barato permitiu ascensão social e sensação de prosperidade, mas ela se comprova insustentável ao longo prazo. A desesperança ainda reina.
         Um país precisa de dirigentes que traduzam suas ações em propostas de nação, indo além do curto prazo e dos planos de mero governo. Não é porque o país encontra-se desestruturado e com demandas fundamentais não atendidas que não se estabelecerão objetivos de longo prazo e meios para atingi-los. Fazê-lo é a obrigação de todo patriota e um político deve colocar o cidadão acima de suas ambições pessoais.”
(DAN M. KRAFT. Advogado no Brasil e no Canadá, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 6 de abril de 2014, caderno MEGACLASSIFICADOSADMITE-SE, coluna MERCADO DE TRABALHO, página 2, de autoria de PAULETTE MELO, professora em cursos de MBA da FGV/IBS, e que merece igualmente integral transcrição:

“TALENTOS DESPERDIÇADOS
         
         Diversas pesquisas têm revelado uma escassez de profissionais talentosos em todo o mundo e em todos os setores. Um estudo sobre o tema, realizado pela Manpowergroup, exemplifica essa realidade ao constatar que o Brasil é o segundo colocado no ranking dos países que enfrentam maiores dificuldades para preencher as vagas no mercado de trabalho. Os especialistas sugerem que a solução está no aumento da oferta de trabalhadores qualificados. Contudo, há um fator que ainda não aparece nas pesquisas e tem um impacto direto na “produção de talentos”: muitos desses profissionais desaparecem por falta de incentivo dentro das próprias empresas.
         É muito comum os especialistas em recursos humanos e gestão de pessoas ouvirem relatos de gestores interessados em atrair e desenvolver os melhores talentos. As empresas até querem e conseguem atraí-los, haja vista a concorrência, por exemplo, para as posições de trainees em organizações de renome. Porém, o que tem ocorrido é que não há um interesse autêntico dos gestores pelos profissionais talentosos e também não existe uma estrutura preparada para desenvolvê-los nas organizações.
         O que se observa, na maioria esmagadora das vezes, é que esses profissionais notáveis se deparam com gerentes autoritários que os desmotivam no dia a dia, em vez de trabalhar o potencial deles. Os profissionais se sentem intimidados, ameaçados, e a consequência disso é que a proatividade e a motivação dão lugar à passividade. Os talentos aprendem com os gerentes a ficar na zona de conforto, o que é extremamente improdutivo.
         Durante os recrutamentos, os profissionais nos detalham seus sonhos de mudar o mundo, quando assumem o primeiro trabalho, sobre o desejo de oferecer às empresas o seu melhor. E tenho investido para que os talentos que contrato e entrego às empresas não se deixem vencer pela inércia e acomodação a que serão atraídos e que não se deixem conduzir pelo reducionismo e a mediocridade.
         O grande problema nesse modelo é que na Era do Talento nada se deprecia mais que o próprio talento. Os talentos que não são desenvolvidos estão fadados à extinção. Nunca os talentos foram tão desperdiçados como atualmente. A competitividade de um país nada mais é que o somatório da competitividade de sua organizações. Por isso precisamos criar uma geração de profissionais que não se sintam ameaçados pela genialidade dos outros, pois conhecem, reconhecem e trabalham a partir da própria genialidade, cuja complementaridade permitirá saltos exponenciais na performance individual e na produtividade nacional. No século 21, gerar valor econômico para a organização só se sustenta se e somente se gerar valor social aos indivíduos.
         Um gestor que mata os talentos de sua equipe aos poucos não pode ser considerado líder. Entretanto, é comum ver as chefias embotando a criatividade, mitigando a seiva da inovação e fragilizando as pessoas, aproveitando-se das riquezas delas pelo prazer de se sentirem superiores. Devemos reavaliar essa realidade e perceber que é necessário repensar o talento nas organizações. Não devemos prosseguir multiplicando a mesmice e a mediocridade. Por enquanto, o que oferecemos atualmente é um inexpressivo gerenciamento de talentos.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento – até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (haja vista o “desperdício de talentos...”);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$  trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, teconologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamentoestratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

Nenhum comentário: