“Recado
de um jovem
O painel dos leitores
do jornal O Popular, prestigioso
diário de Goiânia, publicou uma carta que merece ser compartilhada. O autor,
Fernando Rocha Lima Nogueira, é um adolescente de 16 anos. O texto, leve e
solto, pautou este artigo.
“Tentei
contar o número de mensagens que troquei hoje pelo Whatsapp, desisti, pois se
tornou uma tarefa impossível. Confesso que não sei ficar em o meu telefone
celular, com um carregador sempre por perto, me sinto pronto para me comunicar
com o mundo, inclusive com os meus pais. Dentro de minha própria casa não tenho
constrangimento em usar da tecnologia para dizer que já estou indo almoçar, ou
para outro fim qualquer. Não me sinto mal por isso. Na escola, tenho como
referência meus amigos, que não fazem nada muito diferente do que eu faço.
Somos fruto de uma geração que cresceu maravilhada com os canais infantis de TV
a cabo, game boy, PSP e wi-fi. Não aprendemos nada sozinhos. Na edição de
segunda-feira 28/10/2013, João Lemes reflete sobre a comunicação dentro de
casa. Acredito que não há caminho de volta, a comunicação virtual é uma
realidade, mas nada, nenhuma rede social até hoje substituiu um carinho de mãe,
ou boas risadas em volta da mesa de almoço, ou aquelas graças que só têm graça
ao vivo e em cores”.
Fernando
deu um recado muito legal. A comunicação virtual é um fato irreversível. Mas o
que dá sentido à vida não está nas plataformas digitais. Está na alegria, na
graça, no carinho da família. Nada, nada mesmo, supera a força, o ímã, a magia
do ambiente familiar.
A
demanda doméstica, tão bem flagrada na carta do jovem goiano, não é novidade
para quem mantém contato permanente com o universo estudantil. A juventude real
está identificando valores como respeito; fidelidade, família, ética. Há uma
busca de âncoras morais e de normalidade afetiva.
A
família, não obstante sua crise evidente, é uma forte aspiração dos jovens. Ao
contrário do que se pensa em certos ambientes politicamente corretos, os
adolescentes atribuem importância decisiva ao ambiente familiar. Mesmo os
jovens que convivem com a violência doméstica consideram importante a base
familiar. A relação no lar é fundamental, ainda que haja conflito. Parece
paradoxal, mas é assim. Eles acham melhor ter uma família danificada do que não
ter ninguém. Em casa deixaram de rotular os pais de caretas para buscarem neles
a figura do companheiro. Os jovens, em numerosas pesquisas, apontam a família
tradicional como a instituição de maior ascendência em suas decisões.
Alguns,
no entanto, defendem um modelo de família que não bate com esse anseio dos
jovens. Respeito a divergência e convivo com o contraditório. Sem problema. Mas
não duvido que é na família, na família tradicional, mais do que em qualquer
outro quadro de convivência, o lugar onde podem ser cultivados os valores, as
virtudes e as competências que constituem o melhor fundamento da educação para
a cidadania. E os jovens sabem disso.
No
campo da afetividade, antes marcado pelo relacionamento descartável e pela
falta de vínculos, vai-se impondo a cultura da fidelidade. O tema da
sexualidade, puritanamente evitado pela geração que se formou na caricata moral
dos tabus e das proibições, acabou explodindo, sem limites, na síndrome do
relacionamento promíscuo e transitório. Agora, o rio está voltando ao seu
leito. O frequente uso de alianças a mão direita, manifestação visível de
compromisso afetivo, revela algo mais profundo. Os jovens estão apostando em
relações duradouras.
Assiste-se,
na universidade e no ambiente de trabalho, ao ocaso das ideologias e ao
surgimento de um forte profissionalismo. Ao contrário das utopias do passado,
os jovens acreditam na excelência e no mérito como forma de se fazer a
verdadeira revolução. Defendem o pluralismo e o debate das ideias. O pensamento
divergente é saudável. As pessoas querem um discurso diverso, não um local onde
se pregue apenas um corrente de pensamento.
O
mundo está mudando. Quem não perceber, na mídia e fora dela, essa virada
comportamental perderá conexão com um importante segmento do mercado de consumo
editorial.”
(CARLOS
ALBERTO DI FRANCO. Diretor do Departamento de Comunicação do Instituto de
Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela Universidade de Navarra
(Espanha), em artigo publicao no jornal ESTADO
DE MINAS, edição de 9 de dezembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 7
de dezembro de 2013, caderno PENSAR, página
principal, de autoria de JOÃO PAULO, que
é editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:
“A
espada e A PAZ
Jesus não é um só. Há o
Jesus de Nazaré, homem pobre, trabalhador braçal, com todas as marcas de seu
tempo, identificado com correntes contestadoras do domínio romano na Palestina:
um ser político, de tendências revolucionárias, defensor da fé judaica. E há
também Jesus, o Cristo, que depois de sua morte foi chamado de o “filho de
Deus”, que está na base de uma nova religiosidade e fundou uma linhagem
espiritual. Um Jesus da espada; um
Jesus da paz.
Passados
mais de 2 mil anos, o primeiro Jesus, um entre muitos messias que lutaram
contra Roma e morreram na cruz, se tornou apenas uma sombra, o grande mestre do
cristianismo, que tem sua obra descolada das origens políticas para dar relevo
à mensagem de natureza religiosa e universal. O Jesus histórico é
principalmente um judeu, com as paixões e contradições de seu tempo. O Cristo
que emerge dos evangelhos é um mestre espiritual pacífico, que foi afastado de
seu nacionalismo judaico para ser identificado com questões que os romanos
podiam aceitar sem temor de vingança pelo massacre de Jerusalém.
Um
Jesus da política e um Jesus da fé.
Essa é
a tese central do livro Zelota – A vida e
a época de Jesus de Nazaré, de Reza Aslan, livro que vem causando polêmica.
A explicação do desconforto e reação iracunda de alguns leitores é, mais uma
vez, política: Reza Aslan é iraniano e muçulmano. Depois de bate-bocas em
programas de televisão nos Estados Unidos e rejeição por parte de críticos
católicos, o autor se viu em meio a situações de preconceito que envolvem os
temas ligados à sua origem e fé. Pareceu, a seus críticos, que Reza Aslan
escreveu seu livro para atacar o cristianismo e enxergar nele uma matriz
revolucionária que mistura política e religião, o que seria característica de
sua interpretação da história. Afinal, com alguma honestidade, os muçulmanos
sabem que história e religião não se separam.
Mas
reza, que foi cristão na juventude e mora em Nova York, é um especialista em
história das religiões, formado em Harvard e autor de obras importantes sobre o
tema. Seu livro não é um ataque a Jesus, muito menos sofre de excesso de
interpretação baseado em poucos fatos. Ao contrário, trata-se de um livro de
história, erudito e extremamente legível, sustentado por ampla bibliografia.
Cada capítulo ganha, ao final do trabalho, um verdadeiro ensaio bibliográfico
atualizado, que sustenta as afirmações e interpretações do autor.
A
busca da pluralidade de fontes se justifica. Sabemos muito pouco sobre o Jesus
histórico a partir de depoimentos de seus contemporâneos. Os primeiros
testemunhos escritos sobre Jesus de Nazaré vêm das epístolas de Paulo, escritas
pelos menos 20 anos depois da morte de Jesus. Em seguida, vêm os evangelhos,
que, com exceção de Lucas, nem seque foram escritos pela pessoa que os nomeia
(um caso típico de obras pseudoepigráficas, comuns no mundo antigo) e datam de
décadas depois da morte de Jesus. Em outras palavras, os evangelhos não foram
escritos por testemunhas oculares das palavras e ações de seu personagem
central: são obras de uma comunidade de fé. Não são fato, são reconstruções
teológicas. Ou seja, eles nos dizem sobre Jesus, o Cristo, mas nada esclarecem
sobre Jesus, o homem.
Reza
Aslan mostra como foram escritos os evangelhos canônicos (Marcos, Mateus, Lucas
e João), expõe suas contradições, esclarece sobre as fontes (entre elas o Q),
além de revelar a origem de uma verdadeira biblioteca de escritores não
canônicos, sobretudo a partir do século 2, que apresentam novas perspectivas
sobre a vida de Jesus de Nazaré. Mas é ao agregar outras fontes – sobre a
história de Jerusalém, a religião judaica e o Império Romano – que o autor dá a
dimensão de seu projeto. O que seu livro revela é uma história dos primeiros
séculos, tendo Jesus como foco. De certa forma, pode-se ler Zelota como uma biografia política de
Jesus e seu tempo. Mais ainda: uma investigação sobre os motivos que levaram
com que o Jesus histórico fosse substituído pelo Cristo.
QUARTA
FILOSOFIA O título do livro já dá uma pista. Zelota vem de
zelo, uma inspiração para movimentos típicos dos judeus contrários ao domínio
romano na região. Espécie de quarta filosofia – ao lado dos filisteus, saduceus
e essênios –, os zelotas compunham um partido que tina um compromisso
inabalável com a libertação de Israel do jugo romano e com a afirmação do Deus
único dos judeus. Zelo: era isso que reivindicavam para si, um cumprimento
rigoroso da Torá e a recusa a servir
a qualquer outro mestre. Ser zeloso era, desta forma, seguir as pegadas dos
heróis do passado.
No
entanto, o que era heroísmo para os judeus era crime para os romanos. O autor
vai mostrar como se dava essa difícil convivência, com o domínio político na
mão de Roma e o comando religioso a cargo do sacerdote do templo. A descrição
do Templo de Jerusalém é impressionante, com sua movimentação humana,
superstições, jogos de poder, fé e até centro de negócios, como um verdadeiro
banco a fazer circular o dinheiro de várias regiões. O templo era ainda espaço
de negociação entre o ocupante e povo subjugado, preso ainda aos pesados
impostos devidos a Roma.
Eram
comuns os profetas que se insurgiam contra esta ordem. Considerados messias (a
categoria abrangia centenas de pessoas dispostas a anunciar o fim do domínio
romano e conclamar à revolta), esses homens eram heróis para seu povo, mas
bandidos para Roma. Eram geralmente presos, torturados e mortos de forma
violenta, decapitados ou crucificados. Jesus foi um desses messias. Como
explica Aslan, a placa da cruz de Jesus, com os dizeres “Rei dos judeus”, não era um sarcasmo, mas uma
sinalização do crime pelo qual estava sendo crucificado. O crime de Jesus foi
buscar o poder político. Possivelmente, o mesmo do “bom” e do “mau” ladrão
mortos a seu lado. Ladrão talvez seja uma tradução para a palavra grega lestai, que significa bandido, a mesma
designação dada ao insurrecto Jesus.
Zelota é rico em informações. O autor
leva para o contexto original situações que hoje fazem parte de uma rica
mitologia, como a profissão de Jesus, suas origens familiares, o local de seu
nascimento, os milagres, a relação com João Batista, o poder de Herodes, o
nascimento virginal, a escolha dos apóstolos, as discípulas, o debate de Jesus
com os rabinos, a expulsão dos comerciantes do templo etc. Algumas palavras
atribuídas a Jesus, como as proferidas acerca do poder de César (“a César o que
é César, a Deus o que é de Deus”) ganham novo significado: deixam de ser um
reconhecimento da separação entre matéria e espírito para se afirmar como
cobrança da devolução da terra ocupada aos judeus, seus legítimos donos por
determinação de Deus a seus filhos diletos. O que soava como universal era na
realidade uma defesa particular da herança de um povo em sua aliança com o
criador.
Por
que o Jesus que nos legou a tradição surge separado de seu povo e de suas
reivindicações políticas, tão claras quando se examina a história separada das
envoltórias da fé? Para Reza Aslan, depois de combater por décadas as
insurreições, o governo central de Roma envia tropas que dizimam o templo e
escravizam o povo, massacrando tudo que encontraram pelo caminho. Uma devastação
completa, que destrói Jerusalém e expulsa seu povo da terra de seus
antepassados. A partir do ano 70 d.C., exilados da terra prometida por seu
Deus, os judeus passam a viver como párias e entre pagãos do Império Romano.
Uma
operação levada adiante pelos rabinos, a partir do século 2, vai criar um
divórcio entre o judaísmo nacionalista messiânico (que levou à destruição de
Jerusalém) e a fé judaica, que se volta para dentro, na tradição do judaísmo
rabínico. O livro substitui o templo. Outro movimento vai atingir os cristãos,
que para também se separar da identificação revolucionária de sua origem, e com
o objetivo de afastar a violência do poder romano, passam a transformar Jesus
de um judeu revolucionário em um líder espiritual pacífico. O que era de
interesse político e terreno passa a ser a causa espiritual e salvação para uma
outra vida. Algumas décadas depois da morte de Jesus, os seguidores não judeus
de Cristo eram muito mais numerosos que os seguidores judeus. Em um século, a
ligação entre judaísmo e cristianismo desapareceu.
Zelota busca a recuperação do Jesus
histórico. Para isso, com as armas da pesquisa e da interpretação, questiona
superstições, limpa floreios literários, faz a genealogia de textos e dá a real
dimensão ao que é fato histórico e o que é teologia e mito. Pode parecer uma
empresa questionável, já que o Jesus da fé venceu e se tornou hoje a realidade
para centenas de milhões de pessoas. Mas a história não precisa de outra
justificativa que não a busca da verdade.
Jesus
foi um líder revolucionário – talvez o maior de todos os tempos – e um líder
espiritual, ao mesmo tempo. Os dois universos não se separavam. Que o Jesus
histórico, judeu, zelota e revolucionário, em sua luta permanente contra as
injustiças, surja rico de significação humana é um alento a mais para quem tem
fé em Jesus, o Cristo. E um exemplo a ser seguido pelos que não creem, mas
querem um mundo melhor ainda nesta vida.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social;segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo;comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada,
livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar
suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no
horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como
a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do
pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da
internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...