quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, O RECADO DE UM JOVEM, A ESPADA E A PAZ

“Recado de um jovem
        
         O painel dos leitores do jornal O Popular, prestigioso diário de Goiânia, publicou uma carta que merece ser compartilhada. O autor, Fernando Rocha Lima Nogueira, é um adolescente de 16 anos. O texto, leve e solto, pautou este artigo.
         “Tentei contar o número de mensagens que troquei hoje pelo Whatsapp, desisti, pois se tornou uma tarefa impossível. Confesso que não sei ficar em o meu telefone celular, com um carregador sempre por perto, me sinto pronto para me comunicar com o mundo, inclusive com os meus pais. Dentro de minha própria casa não tenho constrangimento em usar da tecnologia para dizer que já estou indo almoçar, ou para outro fim qualquer. Não me sinto mal por isso. Na escola, tenho como referência meus amigos, que não fazem nada muito diferente do que eu faço. Somos fruto de uma geração que cresceu maravilhada com os canais infantis de TV a cabo, game boy, PSP e wi-fi. Não aprendemos nada sozinhos. Na edição de segunda-feira 28/10/2013, João Lemes reflete sobre a comunicação dentro de casa. Acredito que não há caminho de volta, a comunicação virtual é uma realidade, mas nada, nenhuma rede social até hoje substituiu um carinho de mãe, ou boas risadas em volta da mesa de almoço, ou aquelas graças que só têm graça ao vivo e em cores”.
         Fernando deu um recado muito legal. A comunicação virtual é um fato irreversível. Mas o que dá sentido à vida não está nas plataformas digitais. Está na alegria, na graça, no carinho da família. Nada, nada mesmo, supera a força, o ímã, a magia do ambiente familiar.
         A demanda doméstica, tão bem flagrada na carta do jovem goiano, não é novidade para quem mantém contato permanente com o universo estudantil. A juventude real está identificando valores como respeito; fidelidade, família, ética. Há uma busca de âncoras morais e de normalidade afetiva.
         A família, não obstante sua crise evidente, é uma forte aspiração dos jovens. Ao contrário do que se pensa em certos ambientes politicamente corretos, os adolescentes atribuem importância decisiva ao ambiente familiar. Mesmo os jovens que convivem com a violência doméstica consideram importante a base familiar. A relação no lar é fundamental, ainda que haja conflito. Parece paradoxal, mas é assim. Eles acham melhor ter uma família danificada do que não ter ninguém. Em casa deixaram de rotular os pais de caretas para buscarem neles a figura do companheiro. Os jovens, em numerosas pesquisas, apontam a família tradicional como a instituição de maior ascendência em suas decisões.
         Alguns, no entanto, defendem um modelo de família que não bate com esse anseio dos jovens. Respeito a divergência e convivo com o contraditório. Sem problema. Mas não duvido que é na família, na família tradicional, mais do que em qualquer outro quadro de convivência, o lugar onde podem ser cultivados os valores, as virtudes e as competências que constituem o melhor fundamento da educação para a cidadania. E os jovens sabem disso.
         No campo da afetividade, antes marcado pelo relacionamento descartável e pela falta de vínculos, vai-se impondo a cultura da fidelidade. O tema da sexualidade, puritanamente evitado pela geração que se formou na caricata moral dos tabus e das proibições, acabou explodindo, sem limites, na síndrome do relacionamento promíscuo e transitório. Agora, o rio está voltando ao seu leito. O frequente uso de alianças a mão direita, manifestação visível de compromisso afetivo, revela algo mais profundo. Os jovens estão apostando em relações duradouras.
         Assiste-se, na universidade e no ambiente de trabalho, ao ocaso das ideologias e ao surgimento de um forte profissionalismo. Ao contrário das utopias do passado, os jovens acreditam na excelência e no mérito como forma de se fazer a verdadeira revolução. Defendem o pluralismo e o debate das ideias. O pensamento divergente é saudável. As pessoas querem um discurso diverso, não um local onde se pregue apenas um corrente de pensamento.
         O mundo está mudando. Quem não perceber, na mídia e fora dela, essa virada comportamental perderá conexão com um importante segmento do mercado de consumo editorial.”

(CARLOS ALBERTO DI FRANCO. Diretor do Departamento de Comunicação do Instituto de Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), em artigo publicao no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de dezembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 7 de dezembro de 2013, caderno PENSAR, página principal, de autoria de JOÃO PAULO, que é editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“A espada e A PAZ
        
         Jesus não é um só. Há o Jesus de Nazaré, homem pobre, trabalhador braçal, com todas as marcas de seu tempo, identificado com correntes contestadoras do domínio romano na Palestina: um ser político, de tendências revolucionárias, defensor da fé judaica. E há também Jesus, o Cristo, que depois de sua morte foi chamado de o “filho de Deus”, que está na base de uma nova religiosidade e fundou uma linhagem espiritual. Um Jesus da espada; um Jesus da paz.
         Passados mais de 2 mil anos, o primeiro Jesus, um entre muitos messias que lutaram contra Roma e morreram na cruz, se tornou apenas uma sombra, o grande mestre do cristianismo, que tem sua obra descolada das origens políticas para dar relevo à mensagem de natureza religiosa e universal. O Jesus histórico é principalmente um judeu, com as paixões e contradições de seu tempo. O Cristo que emerge dos evangelhos é um mestre espiritual pacífico, que foi afastado de seu nacionalismo judaico para ser identificado com questões que os romanos podiam aceitar sem temor de vingança pelo massacre de Jerusalém.
         Um Jesus da política e um Jesus da fé.
         Essa é a tese central do livro Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré, de Reza Aslan, livro que vem causando polêmica. A explicação do desconforto e reação iracunda de alguns leitores é, mais uma vez, política: Reza Aslan é iraniano e muçulmano. Depois de bate-bocas em programas de televisão nos Estados Unidos e rejeição por parte de críticos católicos, o autor se viu em meio a situações de preconceito que envolvem os temas ligados à sua origem e fé. Pareceu, a seus críticos, que Reza Aslan escreveu seu livro para atacar o cristianismo e enxergar nele uma matriz revolucionária que mistura política e religião, o que seria característica de sua interpretação da história. Afinal, com alguma honestidade, os muçulmanos sabem que história e religião não se separam.
         Mas reza, que foi cristão na juventude e mora em Nova York, é um especialista em história das religiões, formado em Harvard e autor de obras importantes sobre o tema. Seu livro não é um ataque a Jesus, muito menos sofre de excesso de interpretação baseado em poucos fatos. Ao contrário, trata-se de um livro de história, erudito e extremamente legível, sustentado por ampla bibliografia. Cada capítulo ganha, ao final do trabalho, um verdadeiro ensaio bibliográfico atualizado, que sustenta as afirmações e interpretações do autor.
         A busca da pluralidade de fontes se justifica. Sabemos muito pouco sobre o Jesus histórico a partir de depoimentos de seus contemporâneos. Os primeiros testemunhos escritos sobre Jesus de Nazaré vêm das epístolas de Paulo, escritas pelos menos 20 anos depois da morte de Jesus. Em seguida, vêm os evangelhos, que, com exceção de Lucas, nem seque foram escritos pela pessoa que os nomeia (um caso típico de obras pseudoepigráficas, comuns no mundo antigo) e datam de décadas depois da morte de Jesus. Em outras palavras, os evangelhos não foram escritos por testemunhas oculares das palavras e ações de seu personagem central: são obras de uma comunidade de fé. Não são fato, são reconstruções teológicas. Ou seja, eles nos dizem sobre Jesus, o Cristo, mas nada esclarecem sobre Jesus, o homem.
         Reza Aslan mostra como foram escritos os evangelhos canônicos (Marcos, Mateus, Lucas e João), expõe suas contradições, esclarece sobre as fontes (entre elas o Q), além de revelar a origem de uma verdadeira biblioteca de escritores não canônicos, sobretudo a partir do século 2, que apresentam novas perspectivas sobre a vida de Jesus de Nazaré. Mas é ao agregar outras fontes – sobre a história de Jerusalém, a religião judaica e o Império Romano – que o autor dá a dimensão de seu projeto. O que seu livro revela é uma história dos primeiros séculos, tendo Jesus como foco. De certa forma, pode-se ler Zelota como uma biografia política de Jesus e seu tempo. Mais ainda: uma investigação sobre os motivos que levaram com que o Jesus histórico fosse substituído pelo Cristo.

QUARTA FILOSOFIA O título do livro já dá uma pista. Zelota vem de zelo, uma inspiração para movimentos típicos dos judeus contrários ao domínio romano na região. Espécie de quarta filosofia – ao lado dos filisteus, saduceus e essênios –, os zelotas compunham um partido que tina um compromisso inabalável com a libertação de Israel do jugo romano e com a afirmação do Deus único dos judeus. Zelo: era isso que reivindicavam para si, um cumprimento rigoroso da Torá e a recusa a servir a qualquer outro mestre. Ser zeloso era, desta forma, seguir as pegadas dos heróis do passado.
         No entanto, o que era heroísmo para os judeus era crime para os romanos. O autor vai mostrar como se dava essa difícil convivência, com o domínio político na mão de Roma e o comando religioso a cargo do sacerdote do templo. A descrição do Templo de Jerusalém é impressionante, com sua movimentação humana, superstições, jogos de poder, fé e até centro de negócios, como um verdadeiro banco a fazer circular o dinheiro de várias regiões. O templo era ainda espaço de negociação entre o ocupante e povo subjugado, preso ainda aos pesados impostos devidos a Roma.
         Eram comuns os profetas que se insurgiam contra esta ordem. Considerados messias (a categoria abrangia centenas de pessoas dispostas a anunciar o fim do domínio romano e conclamar à revolta), esses homens eram heróis para seu povo, mas bandidos para Roma. Eram geralmente presos, torturados e mortos de forma violenta, decapitados ou crucificados. Jesus foi um desses messias. Como explica Aslan, a placa da cruz de Jesus, com os dizeres “Rei dos judeus”, não era um sarcasmo, mas uma sinalização do crime pelo qual estava sendo crucificado. O crime de Jesus foi buscar o poder político. Possivelmente, o mesmo do “bom” e do “mau” ladrão mortos a seu lado. Ladrão talvez seja uma tradução para a palavra grega lestai, que significa bandido, a mesma designação dada ao insurrecto Jesus.
         Zelota é rico em informações. O autor leva para o contexto original situações que hoje fazem parte de uma rica mitologia, como a profissão de Jesus, suas origens familiares, o local de seu nascimento, os milagres, a relação com João Batista, o poder de Herodes, o nascimento virginal, a escolha dos apóstolos, as discípulas, o debate de Jesus com os rabinos, a expulsão dos comerciantes do templo etc. Algumas palavras atribuídas a Jesus, como as proferidas acerca do poder de César (“a César o que é César, a Deus o que é de Deus”) ganham novo significado: deixam de ser um reconhecimento da separação entre matéria e espírito para se afirmar como cobrança da devolução da terra ocupada aos judeus, seus legítimos donos por determinação de Deus a seus filhos diletos. O que soava como universal era na realidade uma defesa particular da herança de um povo em sua aliança com o criador.
         Por que o Jesus que nos legou a tradição surge separado de seu povo e de suas reivindicações políticas, tão claras quando se examina a história separada das envoltórias da fé? Para Reza Aslan, depois de combater por décadas as insurreições, o governo central de Roma envia tropas que dizimam o templo e escravizam o povo, massacrando tudo que encontraram pelo caminho. Uma devastação completa, que destrói Jerusalém e expulsa seu povo da terra de seus antepassados. A partir do ano 70 d.C., exilados da terra prometida por seu Deus, os judeus passam a viver como párias e entre pagãos do Império Romano.
         Uma operação levada adiante pelos rabinos, a partir do século 2, vai criar um divórcio entre o judaísmo nacionalista messiânico (que levou à destruição de Jerusalém) e a fé judaica, que se volta para dentro, na tradição do judaísmo rabínico. O livro substitui o templo. Outro movimento vai atingir os cristãos, que para também se separar da identificação revolucionária de sua origem, e com o objetivo de afastar a violência do poder romano, passam a transformar Jesus de um judeu revolucionário em um líder espiritual pacífico. O que era de interesse político e terreno passa a ser a causa espiritual e salvação para uma outra vida. Algumas décadas depois da morte de Jesus, os seguidores não judeus de Cristo eram muito mais numerosos que os seguidores judeus. Em um século, a ligação entre judaísmo e cristianismo desapareceu.
         Zelota busca a recuperação do Jesus histórico. Para isso, com as armas da pesquisa e da interpretação, questiona superstições, limpa floreios literários, faz a genealogia de textos e dá a real dimensão ao que é fato histórico e o que é teologia e mito. Pode parecer uma empresa questionável, já que o Jesus da fé venceu e se tornou hoje a realidade para centenas de milhões de pessoas. Mas a história não precisa de outra justificativa que não a busca da verdade.
         Jesus foi um líder revolucionário – talvez o maior de todos os tempos – e um líder espiritual, ao mesmo tempo. Os dois universos não se separavam. Que o Jesus histórico, judeu, zelota e revolucionário, em sua luta permanente contra as injustiças, surja rico de significação humana é um alento a mais para quem tem fé em Jesus, o Cristo. E um exemplo a ser seguido pelos que não creem, mas querem um mundo melhor ainda nesta vida.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social;segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo;comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

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