“Existe
um trabalho de cura planetária
Há algum tempo, estava
passando uns dias em uma grande cidade, onde o rumor de fundo é constante e as
pessoas andam pelas ruas preocupadas. A certa altura comecei a sentir algo
estranho, como se houvesse um peso sobre mim, provocando certa pressão.
A
princípio não entendi a origem nem o significado daquilo. Essa sensação durou
alguns dias até que, em certo momento, procurei interiorizar-me. A pressão
aumentava, entretanto prossegui na concentração até sentir meu centro interno –
que não é um lugar, mas um “ponto” na consciência, onde se fica quieto, em
silêncio. Ali permaneci. Por fim, comecei a ter clareza sobre o que estava
acontecendo. Vi que a pressão vinha de fora, não era provocada por coisas
minhas. Decorre do estado psíquico coletivo, de uma condição geral, era algo
que “estava no ar”.
“Fazer
o que, diante disso?”, perguntei-me. O que estava a me pressionar era a
situação planetária – a situação dos povos e nações, algo que não dizia
respeito a um lugar específico, mas ao planeta todo.
No
quarto em que me encontrava entravam os tons do crepúsculo, enquanto a cidade,
longe de se acalmar, emitia rumores ainda mais fortes. De repente, percebi que
havia uma forma de ser útil nessa situação. Vi que o amor pelos que me cercavam
naquela cidade, pelos que ali se locomoviam em inúmeras direções, a ligação com
a essência eterna presente em todos, trazia-me nova força e clareza.
Ali,
em serena quietude, tive a impressão de que não era por vias materiais que os
problemas do mundo seriam transformados. Dos níveis concretos, a solução não
viria, porque nesses níveis e suas construções mentais, emocionais e físicas
estão aí para serem transformados por energias provindas do Alto, que têm
função saneadora.
Conhecia
pessoas que não conseguiram sair de estados de angústia enquanto insistiram em
resolvê-los concentrando-se apenas nos níveis materiais da existência. Voltados
para o mundo denso, não podiam afastar-se da situação caótica em que o planeta
se encontra; porém, tão logo começaram a coligar-se com fatos sutis e amplos,
foram entrando em harmonia.
Desde
o princípio da Terra houve seres humanos conscientes desses níveis superiores;
seres dedicados ao trabalho de colocar a mente, o coração e o próprio modo de
viver em sintonia com realidades maiores.
Uma
comunidade espiritual que ainda sobrevive no Monte Athos, na Grécia, na época
do seu apogeu tinha aproximadamente 2.000 membros. Então, esse grupo equilibrava
o planeta inteiro com sua contemplação profunda. A inconsciência daqueles
tempos era transformada pela concentração desses monges na vida além da
matéria, na vida Maior, espiritual.
O que
me estava sendo sugerido na experiência daquela tarde era colocar em prática
esse trabalho de cura planetária. Na realidade, hoje são necessárias muitas
hostes angélicas e milhares de homens para construir canais em proporção e com
força suficiente para reduzir as graves adversidades mundiais.
Quem
se dispuser a servir o planeta, sobretudo nos planos internos, saberá o que
fazer. A forma de servir revela-se com simplicidade e, quando percebemos, já
estamos dentro dela. Seja realizada de maneira solitária, seja em conjunto com
outros, a sintonia com níveis de existência espiritual superiores tem enorme
força de transformação.”
(TRIGUEIRINHO.
Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 11 de maio de 2014, caderno O.PINIÃO, página 22).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso
trabalho de Mobilização para a Cidadania
e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de maio de 2014, caderno PENSAR, coluna OLHAR, página 2, de
autoria de JOÃO PAULO, editor de
Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:
“Democracia
de espectadores
O pensador
norte-americano Noam Chomsky alcança o mérito incomum de ser respeitado pela
esquerda e pela direita, falando mal dos dois lados. Ele não tem compromisso
com a ideologia, mas com a razão. Maior crítico da política externa
norte-americana desde a época do Vietnã, foi o mais corajoso opositor de Bush
em sua “guerra ao terror”. Costuma dizer que os liberais e os comunistas se
igualam. Há uma aristocracia da direita e um centralismo da esquerda que
desprezam o povo. “Eles” sabem o que é bom para todos.
Além
de pensador político, Chomsky é considerado o maior linguista de nosso tempo,
tendo criado a gramática gerativa, a mais ambiciosa teoria sobre a aquisição e
funcionamento da linguagem. O filósofo e ativista político é professor no
Massachussetts Institute of Tecnology (MIT) e autor de mais de 30 livros nas
áreas de filosofia da linguagem, lingüística, ciência política, comunicação e
relações internacionais. Intelectual público, quando ele resolve falar, é bom
ficar atento.
É o
caso do livrinho Mídia – Propaganda
política e manipulação, que está sendo lançado no Brasil pela Editora
Martins Fontes. Chega num momento simbólico: ano de eleições, crise nos meios
de comunicação (que tem feito o mercado se movimentar em busca de nova inserção
econômica e política), expectativa de mobilização social contra a Copa do Mundo
e falta de serviços de qualidade. Escrito para a realidade americana, o livro é
uma contribuição para nosso momento histórico.
A
reflexão de Chomsky se arma sobre uma antigo problema: qual o papel da média
numa democracia? A resposta automática é que, garantida a liberdade de
informação, a comunicação é um insumo indispensável para que as pessoas levem
vidas autônomas, tomando decisões a partir de fatos. No entanto, é preciso
voltar um degrau: afinal, de que democracia estamos falando? Chomsky descreve
então, com singeleza, nosso cenário democrático como um regime em que poucos
mandam em muitos. Os poucos se julgam melhores e acreditam que sabem o que é
melhor para o povo.
Para o
pensador, o que se estabeleceu nas chamadas democracias liberais foi um arranjo
de classe, uma democracia de espectadores. O povo, na verdade, nada mais é que
um “rebanho desorientado” (a expressão é de Walter Lippmann), carente da
palavra ordenadora dos bons. O povo não existe para agir, mas para seguir
ordens. E é aí, na garantia da obediência à palavra de poucos (sempre
interessados em manter o poder), que a mídia faz seu trabalho antidemocrático.
Para
Chomsky, a “classe especializada” – que Marilena Chauí chamaria de detentores
do discurso competente – emite um imperativo moral: a população é simplesmente
estúpida e precisa ser guiada. A propaganda (e em parte o jornalismo), é
garantidora da moral de rebanho. Para isso, além de princípios gerais, mandam
sinais que confundem e distraem. Um exemplo próximo são as manifestações de
rua. Todos defendem uma democracia via e vibrante, mas desde que não atrapalhe
o trânsito na hora do rush. Como afirma Chomsky, “certifiquem-se que
permaneçam, quando muito, espectadores da ação, dando de vez em quando seu aval
a um ou outro dos verdadeiros líderes entre os quais podem escolher”.
Essa
democracia de procedimentos formais, da qual a eleição é um fiador mais teatral
que verdadeiro – não se fala em distribuir poder ao povo, mas de mudar quem
exerce o poder em seu nome –, se encontra em plena vigência em nosso momento
eleitoral. Nada mais próximo à lógica da propaganda que buscar bandeiras
universais, como combate à corrupção, à incompetência e à falta de
produtividade. No entanto, os projetos em jogo não se resumem aos nomes que
estão na ponta do processo. Debater política não é escolher pessoas para mandar
nas outras. Vem daí, por exemplo, o vício de fazer da vida privada um assunto
público em época de campanhas.
O que
está em jogo são projetos de sociedade. Quem reclama das garantias trabalhistas
ou dos reajustes do salário mínimo acima da inflação não está defendendo a
racionalidade econômica, mas a exploração do trabalho. É preciso que isso fique
cada vez mais claro. A mídia, se quiser recuperar seu papel na democracia, tem
que fazer esse debate fluir, e não ficar a reboque dos jogos de interesse.
Chomsky
manda dois alertas, ambos incisivos: o primeiro é que o povo não quer mais ser
rebanho. Quem pensa em construir consensos a partir daí vai se dar mal.Pode
ficar com a pior das consequências para a indústria da informação: a
irrelevância. O segundo aviso afeta a própria concepção de democracia que nos
envolve. Ninguém está disposto a abrir mão do poder para o outro. A democracia
direta, participativa ou que nome se queira dar, é o horizonte de sobrevivência
da política. Isso aponta para a mudança de gestão e para novos modelos de
ingerência nos rumos da sociedade. O pau vai quebrar. É o melhor que temos para
hoje.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais,
de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis (a propósito, nada menos do que 1,3 bilhão de
toneladas de alimentos são perdidos ou desperdiçados por ano no mundo, segundo
a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), que
recomenda cinco dicas: poupar, reutilizar, reciclar, classificar e
preservar...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir uma imediata,
abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência,
eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016;
as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...