segunda-feira, 12 de maio de 2014

A CIDADANIA, A CURA PLANETÁRIA E A DEMOCRACIA DE ESPECTADORES

“Existe um trabalho de cura planetária
        
          Há algum tempo, estava passando uns dias em uma grande cidade, onde o rumor de fundo é constante e as pessoas andam pelas ruas preocupadas. A certa altura comecei a sentir algo estranho, como se houvesse um peso sobre mim, provocando certa pressão.
         A princípio não entendi a origem nem o significado daquilo. Essa sensação durou alguns dias até que, em certo momento, procurei interiorizar-me. A pressão aumentava, entretanto prossegui na concentração até sentir meu centro interno – que não é um lugar, mas um “ponto” na consciência, onde se fica quieto, em silêncio. Ali permaneci. Por fim, comecei a ter clareza sobre o que estava acontecendo. Vi que a pressão vinha de fora, não era provocada por coisas minhas. Decorre do estado psíquico coletivo, de uma condição geral, era algo que “estava no ar”.
         “Fazer o que, diante disso?”, perguntei-me. O que estava a me pressionar era a situação planetária – a situação dos povos e nações, algo que não dizia respeito a um lugar específico, mas ao planeta todo.
         No quarto em que me encontrava entravam os tons do crepúsculo, enquanto a cidade, longe de se acalmar, emitia rumores ainda mais fortes. De repente, percebi que havia uma forma de ser útil nessa situação. Vi que o amor pelos que me cercavam naquela cidade, pelos que ali se locomoviam em inúmeras direções, a ligação com a essência eterna presente em todos, trazia-me nova força e clareza.
         Ali, em serena quietude, tive a impressão de que não era por vias materiais que os problemas do mundo seriam transformados. Dos níveis concretos, a solução não viria, porque nesses níveis e suas construções mentais, emocionais e físicas estão aí para serem transformados por energias provindas do Alto, que têm função saneadora.
         Conhecia pessoas que não conseguiram sair de estados de angústia enquanto insistiram em resolvê-los concentrando-se apenas nos níveis materiais da existência. Voltados para o mundo denso, não podiam afastar-se da situação caótica em que o planeta se encontra; porém, tão logo começaram a coligar-se com fatos sutis e amplos, foram entrando em harmonia.
         Desde o princípio da Terra houve seres humanos conscientes desses níveis superiores; seres dedicados ao trabalho de colocar a mente, o coração e o próprio modo de viver em sintonia com realidades maiores.
         Uma comunidade espiritual que ainda sobrevive no Monte Athos, na Grécia, na época do seu apogeu tinha aproximadamente 2.000 membros. Então, esse grupo equilibrava o planeta inteiro com sua contemplação profunda. A inconsciência daqueles tempos era transformada pela concentração desses monges na vida além da matéria, na vida Maior, espiritual.
         O que me estava sendo sugerido na experiência daquela tarde era colocar em prática esse trabalho de cura planetária. Na realidade, hoje são necessárias muitas hostes angélicas e milhares de homens para construir canais em proporção e com força suficiente para reduzir as graves adversidades mundiais.
         Quem se dispuser a servir o planeta, sobretudo nos planos internos, saberá o que fazer. A forma de servir revela-se com simplicidade e, quando percebemos, já estamos dentro dela. Seja realizada de maneira solitária, seja em conjunto com outros, a sintonia com níveis de existência espiritual superiores tem enorme força de transformação.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 11 de maio de 2014, caderno O.PINIÃO, página 22).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de maio de 2014, caderno PENSAR, coluna OLHAR, página 2, de autoria de JOÃO PAULO, editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“Democracia de espectadores
        
          O pensador norte-americano Noam Chomsky alcança o mérito incomum de ser respeitado pela esquerda e pela direita, falando mal dos dois lados. Ele não tem compromisso com a ideologia, mas com a razão. Maior crítico da política externa norte-americana desde a época do Vietnã, foi o mais corajoso opositor de Bush em sua “guerra ao terror”. Costuma dizer que os liberais e os comunistas se igualam. Há uma aristocracia da direita e um centralismo da esquerda que desprezam o povo. “Eles” sabem o que é bom para todos.
         Além de pensador político, Chomsky é considerado o maior linguista de nosso tempo, tendo criado a gramática gerativa, a mais ambiciosa teoria sobre a aquisição e funcionamento da linguagem. O filósofo e ativista político é professor no Massachussetts Institute of Tecnology (MIT) e autor de mais de 30 livros nas áreas de filosofia da linguagem, lingüística, ciência política, comunicação e relações internacionais. Intelectual público, quando ele resolve falar, é bom ficar atento.
         É o caso do livrinho Mídia – Propaganda política e manipulação, que está sendo lançado no Brasil pela Editora Martins Fontes. Chega num momento simbólico: ano de eleições, crise nos meios de comunicação (que tem feito o mercado se movimentar em busca de nova inserção econômica e política), expectativa de mobilização social contra a Copa do Mundo e falta de serviços de qualidade. Escrito para a realidade americana, o livro é uma contribuição para nosso momento histórico.
         A reflexão de Chomsky se arma sobre uma antigo problema: qual o papel da média numa democracia? A resposta automática é que, garantida a liberdade de informação, a comunicação é um insumo indispensável para que as pessoas levem vidas autônomas, tomando decisões a partir de fatos. No entanto, é preciso voltar um degrau: afinal, de que democracia estamos falando? Chomsky descreve então, com singeleza, nosso cenário democrático como um regime em que poucos mandam em muitos. Os poucos se julgam melhores e acreditam que sabem o que é melhor para o povo.
         Para o pensador, o que se estabeleceu nas chamadas democracias liberais foi um arranjo de classe, uma democracia de espectadores. O povo, na verdade, nada mais é que um “rebanho desorientado” (a expressão é de Walter Lippmann), carente da palavra ordenadora dos bons. O povo não existe para agir, mas para seguir ordens. E é aí, na garantia da obediência à palavra de poucos (sempre interessados em manter o poder), que a mídia faz seu trabalho antidemocrático.
         Para Chomsky, a “classe especializada” – que Marilena Chauí chamaria de detentores do discurso competente – emite um imperativo moral: a população é simplesmente estúpida e precisa ser guiada. A propaganda (e em parte o jornalismo), é garantidora da moral de rebanho. Para isso, além de princípios gerais, mandam sinais que confundem e distraem. Um exemplo próximo são as manifestações de rua. Todos defendem uma democracia via e vibrante, mas desde que não atrapalhe o trânsito na hora do rush. Como afirma Chomsky, “certifiquem-se que permaneçam, quando muito, espectadores da ação, dando de vez em quando seu aval a um ou outro dos verdadeiros líderes entre os quais podem escolher”.
         Essa democracia de procedimentos formais, da qual a eleição é um fiador mais teatral que verdadeiro – não se fala em distribuir poder ao povo, mas de mudar quem exerce o poder em seu nome –, se encontra em plena vigência em nosso momento eleitoral. Nada mais próximo à lógica da propaganda que buscar bandeiras universais, como combate à corrupção, à incompetência e à falta de produtividade. No entanto, os projetos em jogo não se resumem aos nomes que estão na ponta do processo. Debater política não é escolher pessoas para mandar nas outras. Vem daí, por exemplo, o vício de fazer da vida privada um assunto público em época de campanhas.
         O que está em jogo são projetos de sociedade. Quem reclama das garantias trabalhistas ou dos reajustes do salário mínimo acima da inflação não está defendendo a racionalidade econômica, mas a exploração do trabalho. É preciso que isso fique cada vez mais claro. A mídia, se quiser recuperar seu papel na democracia, tem que fazer esse debate fluir, e não ficar a reboque dos jogos de interesse.
         Chomsky manda dois alertas, ambos incisivos: o primeiro é que o povo não quer mais ser rebanho. Quem pensa em construir consensos a partir daí vai se dar mal.Pode ficar com a pior das consequências para a indústria da informação: a irrelevância. O segundo aviso afeta a própria concepção de democracia que nos envolve. Ninguém está disposto a abrir mão do poder para o outro. A democracia direta, participativa ou que nome se queira dar, é o horizonte de sobrevivência da política. Isso aponta para a mudança de gestão e para novos modelos de ingerência nos rumos da sociedade. O pau vai quebrar. É o melhor que temos para hoje.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (a propósito, nada menos do que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são perdidos ou desperdiçados por ano no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), que recomenda cinco dicas: poupar, reutilizar, reciclar, classificar e preservar...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

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