segunda-feira, 20 de julho de 2015

A CIDADANIA, A FORÇA DA BIODIVERSIDADE E A ECOLOGIA HUMANA E ESPIRITUAL

“O que o Brasil ganha com o 

Marco Legal da Biodiversidade
        
         No dia 20 de maio, foi sancionado o novo Marco Legal da Biodiversidade, lei que entrará em vigor em novembro (180 dias após a publicação no “Diário Oficial da União” e que tem o objetivo de regulamentar o acesso ao patrimônio genético e seu conhecimento tradicional associado no Brasil.
         De forma geral, podemos avaliar a iniciativa como uma conquista dos brasileiros, pois, muito mais que definir regras mais claras em relação ao uso das nossas riquezas naturais, ela pretende promover a repartição das riquezas entre os povos, permitindo modelos de negócios cada vez mais justos e transparentes.
         Trata-se de uma iniciativa que substituirá a Medida Provisória 2.186, de 2001. Entre suas principais propostas está desburocratizar e tornar mais fácil e efetivo o processo de repartição dos benefícios. Esse, inclusive, é um dos pontos que merecem destaque, pois a proposta é que deixe de ser subjetiva para ser objetiva, para que a repartição de benefícios seja justa e equitativa.
         Agora, quando uma empresa cria um produto a partir do nosso patrimônio genético, ela deve pagar 1% da sua receita líquida a um fundo nacional. Ou seja, o que era repartido apenas com o dono da terra passa a ser um patrimônio da população.
         Vale destacar também que a lei cria um incentivo à repartição de benefícios não monetária que será de 0,75% da repartição monetária. É uma forma de incentivar os projetos que atuem diretamente sobre a conservação e o uso sustentável do nosso patrimônio genético.
         Trata-se de um ponto que merece nossa atenção, pois, com a entrada de recursos financeiros, estimulamos toda a cadeia produtiva. O país cria riquezas, as empresas investem em inovação, a academia pesquisa nossa biodiversidade, e as comunidades são contempladas por todas essas atividades. O momento é de trabalho em conjunto por uma regulamentação que contemple esses múltiplos interesses, em prol de condições melhores e mais justas dentro de um sistema único de negócios, seguindo regras e padrões elevados.
         Quando falamos no Marco Legal da Biodiversidade, devemos considerá-lo também um estímulo à valorização do conceito das florestas em pé. Isso porque, ao usarmos de maneira sustentável os recursos naturais, ampliamos patrimônio genético e estimulamos as buscas por novos ativos para as indústrias farmacêuticas, cosméticas, alimentícias, químicas, agrícolas, entre outras.
         Para o Brasil, a aprovação dessa lei tem relação direta com o Protocolo de Nagoya, o acordo que define regras para o acesso a recursos genéticos e formas de repartição de benefícios no mundo, pois abre caminho para que o país ratifique o documento.
         Hoje, 54 países já assinaram o acordo, e isso significa que o acesso à biodiversidade entre essas nações será mais controlado e rigoroso. E, por sermos o país mais rico em variedade de espécies do mundo, a partir do momento que adotamos uma regulamentação melhor, retomamos a responsabilidade de liderar esse tema, como foi feito em Nagoya na assinatura desse protocolo.
         Isso tudo porque o mundo anseia pela vegetalização, e quem pensar em sintetizar estará seguindo pelo caminho oposto. Nos próximos anos, será muito mais fácil se adequar às novas normas do que pensar em soluções artificiais ou em usar uma biodiversidade exótica. Investir nos recursos naturais é uma tendência global, e isso dificilmente será interrompido. Todos os países estão criando regras, e o Brasil está acompanhando esse movimento evolutivo.”

(THIAGO TERADA. Gerente de responsabilidade social corporativa, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 4 de julho de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de julho de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“O evangelho da criação
        Certamente, muitos podem perguntar sobre as razões que levaram o papa Francisco a escrever a carta encíclica Louvado sejas – sobre o cuidado da casa comum. Essa interrogação parece ser desdobramento da surpresa de ver um líder espiritual refletir sobre uma temática que desafia cientistas e leva governantes mundiais a equívocos, por não cumprirem os acordos firmados, tão necessários para a preservação do planeta. Questiona-se também sobre o que a fé traz de iluminação no tratamento dos enormes desafios contemporâneos relacionados ao meio ambiente. Bastaria considerar a situação abominável e vergonhosa dos “descartados da sociedade”, como sublinha o papa Francisco, desrespeitados em sua dignidade humana e privados do contato com a natureza, para compreender que a defesa d o meio ambiente é compromisso cristão.
         De fato, a vivência da fé é desafiada quando se constata a deterioração da ecologia, fruto da lastimável degradação humana e social. Em jogo está a dignidade de toda pessoa, que é dom sagrado. A fé cristã considera cada ser humano como morada de Deus. O desrespeito à dignidade, em ações que promovem a miséria, a exclusão e todo tipo de injustiça, é, portanto, injustificável ato de profanação.
         Há um complexo horizonte de descompassos – que abrange a violência, a dependência química, a exploração lucrativa e perversa – ferindo a dignidade humana. Gradativamente, “a casa comum” torna-se um caos, por condutas irracionais e mesquinhas. Para recuperar os vínculos de integração e de comunhão, é preciso a indispensável luminosidade da razão. Fundamental, também, é buscar uma luz maior da fé, capaz de reorientar condutas e procedimentos, tornando-os marcados por tudo o que é próprio do amor. Por isso mesmo, o papa Francisco fala do evangelho da criação, cujo sustento e vivência se firmam nas razões e nas convicções da fé.
         O Santo Padre é muito realista e direto quando comenta sobre aqueles que, no campo político e intelectual, decididamente, rejeitam a ideia de que existe um criador ou a consideram irrelevante. A consequência é o fechamento de portas para contribuições muito importantes, em diversos campos, como os da ética e da espiritualidade. As religiões podem oferecer ajuda indispensável, indicando caminhos para sair das crises, inclusive a ambiental.
         Basta analisar a complexidade da crise ecológica hoje enfrentada para reconhecer que apenas um tipo de consideração ou de contribuição não será suficiente para se encontrarem soluções e transformar, com urgência, a realidade. É preciso recorrer às riquezas culturais, à arte e à poesia, bem como à vida interior e à espiritualidade. Não é de se duvidar que a incompetência governamental e de segmentos da sociedade na efetivação de compromissos para a preservação do planeta deve-se à falta desses horizontes poéticos, artísticos e espirituais. Quando a vida interior não é bem cultivada, prejudica o exercício autêntico e qualificado da cidadania. Isso vale para todos – de governantes a religiosos, de autoridades e construtores da sociedade pluralista a pessoas mais simples.
         É preciso acolher as diferentes luzes que podem indicar no fim do túnel a aberta de nova etapa para a humanidade, especialmente no que se refere ao modo de viver na “casa comum”. Indispensável é a luz da fé em diálogo com o pensamento filosófico, que produz força de sustento no processo de cultivar a paz, a justiça e a prática efetiva da solidariedade. Nesse sentido, a fé cristã tem contribuições muito significativas e indispensáveis para promover o cuidado com a natureza. A fé desperta a consciência de cada pessoa a respeito do seu próprio lugar no conjunto da criação, a partir da obediência amorosa ao seu Criador. A força da fé, indubitavelmente, alcança mais resultados no escondido das sombras, formadas pela ambição sem limites e por descasos humanitários tão frequentes. Todos estão convocados ao conhecimento das convicções fundamentais da fé cristã para qualificar o exercício da cidadania com tudo o que é único, próprio e indispensável do evangelho da criação.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do IBGE, a inflação de junho medida pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – e acumulada nos últimos doze meses atingiu 8,89%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...”;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e segundo o estudo “Transporte e Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho, divulgado pela Confederação Nacional do Transporte, se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria uma economia anual de R$ 3,8 bilhões...);

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!