“Consciência
ético-política dos jovens
O
atual cenário político brasileiro, com tantos problemas de corrupção, abre
espaço para debates importantes. O que se pode fazer para educar as próximas
gerações de forma diferente para que elas não repitam os mesmos erros de hoje e
do passado? É possível transformar o país por meio de uma população
conscientemente ética? A educação, vista como um caminho para a construção de
um país melhor, na atual conjuntura, torna-se ainda mais indispensável no
sentido de internalizar valores sólidos de crianças que serão a transformação
necessária.
As
escolas, os professores e os pais têm um papel fundamental nesse processo de
educação e formação de princípios éticos. As crianças e adolescentes de hoje
são muito diferentes das gerações passadas, principalmente devido à grande
difusão de ferramentas e plataformas digitais. Antigamente, os professores e o
material didático eram as fontes de conhecimento e informação. Hoje, os mestres
são mais orientadores que guiam o conhecimento e a consciência social, pois a
informação está ao alcance de qualquer um que disponha de conexão de internet.
As
notícias divulgadas em diversas plataformas diferentes, como televisão, rádio,
jornais, revistas, portais e, até mesmo, nas redes sociais, chegam com muito
mais frequência e facilidade às crianças. Consequentemente, o despertar
político ocorre mais cedo. Nas minhas aulas, por exemplo, ocorrem muitos
debates espontâneos, partindo dos próprios alunos com suas dúvidas e vontade de
aprender mais sobre o que está acontecendo. Esse despertar tão precoce é muito
relevante, pois mostra que eles têm engajamento e querem, ativamente, fazer
parte desse momento.
Claro
que as escolas e educadores não são os únicos influenciadores na vida deles. As
famílias têm participação determinante na formação de valores e opinião. Muitos
dos meus alunos participaram de algumas manifestações junto com pais e irmãos
mais velhos. Eles escutam os parentes debatendo assuntos políticos e ficam
atentos, captam informações de fontes diversificadas, formando a própria
opinião e trazendo questões para a sala de aula também.
As
instituições de ensino participam do processo, não só com os professores, mas
com as normas. As crianças aprendem que existem regras para ser seguidas, caso
contrário pode haver punição. Absorvem a noção de que uma atitude fora das
normas tem consequências, sendo fundamental para o aprendizado e formação do
caráter.
Outro
fator importante é ter pessoas em quem se espelhar. Se os alunos não conseguem
encontrar alguém que possa servir-lhes de exemplo de cidadão ético e
consciente, acabam ficando um pouco perdidos. Então, a família e os professores
devem ser a fonte que precisam para se tornar adultos com princípios bem
estabelecidos. Assim, não correrão o risco de se corromper ao longo do caminho,
como tem acontecido com muitos políticos, empresários e até no mundo do
futebol, tão relevante para muitos dos alunos.
Despertar
a consciência ético-política nos jovens não é apenas uma demanda social, mas
uma demanda dos próprios adolescentes, que querem uma bagagem intelectual e
moral para formarem opinião de maneira autônoma, participar ativamente da vida
social e política do país e deixar de apenas consumir informação.”
(WALISSON
ANTUNES. Professor de história do Colégio ICJ, em artigo publicado no
jornal ESTADO DE MINAS, edição de 8
de julho de 2015, caderno OPINIÃO, página
7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
24 de julho de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo
Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:
“Cidades
em discussão
O papa Francisco,
preocupado com os aspectos humanísticos e espirituais que norteiam os processos
de urbanização, se reuniu com os prefeitos das grandes metrópoles do mundo para
um momento de diálogo e reflexão. Um encontro de partilha para sublinhar o alto
grau de responsabilidade quando se pensa cada cidade, a definição de
prioridades, os graves prejuízos em razão da corrupção, do excesso de burocracia
e, acima de tudo, do tratamento dedicado aos mais pobres e sofredores.
Os
especialistas em urbanismo e urbanizações revelam complexidades, urgências e
apontam saídas. Desafiam os gestores e governantes a apresentar respostas
efetivas ante a série de graves problemas que comprometem a cultura e
desrespeitam a dignidade da pessoa humana, o que inclui a lamentável
indiferença em relação aos que estão sem terra, sem casa, sem saúde e educação.
É oportuno focalizar a abordagem do papa Francisco, na carta encíclica Louvado Sejas – sobre o cuidado da casa
comum, quando trata da crise do antropocentrismo moderno e suas consequências.
Trata-se de significativa contribuição, que vai além das dimensões técnicas.
O
antropocentrismo moderno colocou a razão técnica acima da realidade.
Condicionou o ser humano a considerar a natureza apenas como espaço e matéria.
Isso o leva a tratá-la sem medir o que pode suceder como consequência. Clara
perda do sentido humanístico e espiritual no tratamento adequado do meio ambiente,
que é dom da criação para o bem de todos. Esse descompasso explica o quadro
abominável de devastação ambiental, com exploração ilimitada, que ameaça a
própria dignidade da pessoa humana. Uma dignidade desrespeitada por posturas
tolerantes com o desperdício, encurralada pela mesquinhez da ganância,
desconsiderada pela indiferença, que preside o coração de quem perdeu a
sensibilidade, particularmente diante da miséria e da exclusão.
Esse
quadro se agrava com a ineficiência de governantes que não conseguem levar
adiante, com a qualidade e a velocidade requeridas, os processos de atendimento
das necessidades da população. Também são expressão desse quadro desalentador
os desencontros de atitudes, falas e escolhas de prioridades, de líderes que
ocupam lugares importantes nos contextos político, religioso, educacional e
cultural. O desafio primeiro para tornar as cidades verdadeiramente
sustentáveis – não apenas embelezadas, mas justas com os cidadãos,
especialmente com os mais pobres – começa com a indispensável consciência que o
ser humano deve ter sobre si e sobre o lugar onde vive.
Há um
adequado entendimento sobre o sentido de humanidade e de presença no planeta. A
consequência é terrível no tratamento da realidade, precipitando-a num
verdadeiro caos. Torna-se indispensável, ao lado da técnica e das análises
pertinentes, uma espiritualidade que possibilite alcançar profunda compreensão
sobre o ser humano e o meio ambiente. O papa Francisco adverte que nos tempos
modernos verificou-se notável excesso de perspectivas antropocêntricas. Com
isso, enfraqueceram-se o sentido e o respeito do que está no âmbito do bem
comum, e a importância dos laços sociais. É preciso superar essa perda, pois as
cidades sustentáveis incluem o compromisso com um desenvolvimento humano e
social mais fecundo e saudável. Isso significa repensar a relação do ser humano
com o mundo para qualificar, por lições preciosas, os vínculos entre as
pessoas, configurando uma cidadania capaz de encontrar respostas para graves
problemas, como a violência, a exclusão e os esquemas destrutivos da corrupção.
Os
governantes e os cidadãos estão convocados a buscar políticas que podem dar um
rosto novo e sustentável a cada cidade, promover mudanças no contexto local,
sem perder de vista o global. Cada pessoa deve se dedicar às muitas situações
que demandam respostas para se alcançar o bem comum – não simplesmente o
atendimento de interesses ideológicos e políticos, com privilégios de alguns em
detrimento, especialmente, dos fracos e dos pobres. O papa Francisco formula um
interessante princípio, que pode trazer a possibilidade de um passo novo na
superação de marasmos e de gargalos que fazem das cidades um verdadeiro caos.
O
Santo Padre diz que a estrutura política e institucional não existe apenas para
evitar malversações, mas para incentivar as boas práticas, estimular a
criatividade que busca novos caminhos, facilitar as iniciativas pessoais e
coletivas. O segredo é contar com líderes que contribuam na condução desses
processos e que promovam a ampla participação, ajudando a construir os cenários
próprios de cidades sustentáveis. Percebe-se que há um longo caminho a
percorrer. É preciso mudar a cultura e as mentalidades. Um processo que exige
reflexões e a contribuição de todos sobre o lugar onde se vive.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do IBGE, a inflação de
junho medida pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – e acumulada nos
últimos doze meses atingiu 8,89%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do
procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A
Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o
problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu
caráter transnacional; eis, portanto,
que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas
simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno,
propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso
patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente
irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na
Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das
empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c) a
dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para
2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$
868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br);
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os
projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização,
da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!...