sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A CIDADANIA, A MÃE-TERRA E O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

“Avizinha-se o dia do juízo final sobre a nossa cultura na Terra

O fim do ano oferece a ocasião para um balanço sobre a nossa situação neste planeta. O que podemos esperar e que rumo tomará a história? São perguntas preocupantes, pois os cenários globais são sombrios. Há uma crise estrutural no sistema econômico-social dominante (Europa e Estados Unidos), com reflexos sobre o resto do mundo. A Bíblia tem uma categoria recorrente na tradição profética: o dia do juízo final se avizinha. É o dia da revelação: a verdade vem à tona e nossos erros e pecados são denunciados. Estimo que, de fato, estamos face a um juízo global sobre a nossa forma de viver na Terra e sobre o tipo de relação com ela.

Considerando a situação num nível mais profundo e que vai além das análises econômicas que predominam nos governos, nas empresas, nos foros mundiais e nos meios de comunicação, notamos a contradição existente entre a lógica da cultura moderna, com sua economia política, seu individualismo e consumismo, e a lógica dos processos naturais de nosso planeta, a Terra. Elas são incompatíveis. A primeira é competitiva, a segunda, cooperativa. A primeira é excludente, a segunda, includente. A primeira coloca o valor principal no indivíduo, a segunda, no bem de todos. A primeira dá centralidade à mercadoria, a segunda, à vida em todas as suas formas. Essa incompatibilidade pode nos levar a um gravíssimo impasse.

O que agrava essa incompatibilidade são as premissas subjacentes ao processo social: que podemos crescer ilimitadamente, que os recursos são inesgotáveis e que a prosperidade material e individual traz a felicidade. Tais premissas são ilusórias: os recursos são limitados e uma Terra finita não aguenta um projeto infinito. A prosperidade e o individualismo não estão trazendo felicidade, mas altos níveis de solidão, depressão, violência e suicídio.

Há dois problemas que se entrelaçam e que podem turvar nosso futuro: o aquecimento global e a superpopulação humana. O aquecimento global engloba os impactos que nossa civilização produz na natureza, ameaçando a sustentabilidade da vida e da Terra. Há a emissão de bilhões de toneladas/ano de dióxido de carbono e de metano. À medida que se acelera o degelo do solo, há o risco, nos próximos decênios, de um aquecimento abrupto de 45 graus Celsius, devastando grande parte da vida sobre a Terra. O crescimento da população faz com que se explorem mais bens e serviços naturais, se gaste mais energia e se lancem na atmosfera mais gases produtores do aquecimento global.

As estratégias para controlar essa situação ameaçadora praticamente são ignoradas pelos governos e tomadores de decisões. Nosso individualismo tem impedido, nos encontros da ONU, algum consenso. Cada país vê apenas seu interesse e é cego ao interesse coletivo e do planeta. E assim vamos nos acercando de um abismo.

A mãe de todas as distorções é nosso antropocentrismo, a convicção de que nós, seres humanos, somos o centro de tudo e que as coisas foram feitas só para nós, esquecidos de nossa completa dependência do que está à nossa volta. Aqui radica nossa destrutividade.

Faz-se urgente um pouco de humildade e vermo-nos em perspectiva. O universo possui 13,7 bilhões de anos; a Terra, 4,45 bilhões; a vida, 3,8 bilhões; a vida humana, 5 a 7 milhões; e o Homo sapiens cerca de 130 a 140 mil anos. Portanto, existimos há pouco tempo. E de sapiens estamos nos tornando demens, ameaçadores de nossos companheiros na comunidade de vida. Chegamos ao ápice da evolução não para destruir, mas para guardar e cuidar desse legado sagrado.”
(LEONARDO BOFF, Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 30 de dezembro de 2011, Caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma IMPORTANTE e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 11 de janeiro de 2012, Caderno OPINIÃO, página 11, de autoria de FREI BETTO, Escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de O Amor fecunda o universo – Ecologia e espiritualidade (Agir), entre outros livros, e que merece igualmente INTEGRAL transcrição:

“Fórum Social Mundial

Porto Alegre, de 24 a 29 deste mês, o Fórum Social Mundial (FSM), centrado no tema ‘Crise capitalista – Justiça social e ambiental’. O evento é uma das atividades preparatórias da Cúpula dos Povos da Rio + 20, que se reunirá na Cidade Maravilhosa entre 20 e 21 de junho. O FSM se realiza no momento em que vários povos se movimentam por liberdade e democracia, como ocorre no mundo árabe. No ocidente, a crise do capitalismo suscita o movimento Ocupe Wall Street. As duas manifestações têm em comum clareza quanto ao que não se quer, sem, no entanto, apresentar propostas alternativas viáveis. No último 15 de outubro, houve mobilização em quase 1 mil cidades de 82 países. No mundo andino, povos indígenas questionam o modelo capitalista de desenvolvimento e resgatam os valores do bem-viver – sumak kawsay.

Como resultado da incompetência de um sistema que prioriza a acumulação privada da riqueza em detrimento dos direitos humanos, sociais e ambientais, o capitalismo conhece, agora, nova crise. Diante dela, a reação dos donos do poder é samba de uma nota só: austeridade, cortes, aumento de impostos e desemprego, flexibilização das leis trabalhistas, congelamento de salários. Salvam-se os bancos e dane-se a população. Mais miséria à vista; jovens sem perspectiva de futuro, condenados à droga e ao crime; fluxos migratórios desordenados.

Do lado da esperança, e depois de três décadas de globocolonização neoliberal, as manifestações sinalizam valores positivos, como a empatia pelo sofrimento alheio, a solidariedade, a defesa da igualdade, a busca de justiça, o reconhecimento da diversidade e a preservação ambiental. Sem esse universo ético não há esperança de construir um outro mundo possível.

É preciso reinventar a convivência humana. E, da parte dos donos do poder, não há nenhuma proposta fora da preocupação de não refrear a roleta do cassino global. A crise ambiental é ignorada pela ONU, pelos governos dos EUA e da União Europeia, e nada garante que a Rio + 20 conseguirá reunir, como na Eco 92, chefes de Estado dos países do G-8.

Mercantiliza-se a vida, destroem-se os ecossistemas, reduz-se rapidamente a biodiversidade. Em todo o planeta, acentuam-se os empreendimentos extrativistas, sem nenhuma preocupação com seus impactos sociais e ambientais. Áreas fundiárias são descaradamente transnacionalizadas em países do Terceiro Mundo.

Em Belém 2009 e Dakar 2011, o FSM deu passos significativos na busca de alternativas ao desenvolvimento e ao consumismo, tendo em vista a preservação ambiental. Agora, a luta social é oxigenada pela busca de democracia e soberania nos países árabes, e as amplas manifestações, na Europa e nos EUA, contra a lógica necrófila do neoliberalismo. Se outro mundo é possível, isso se dará a partir da convergência de todas essas mobilizações, da sincronia entre todos que lutam pela preservação ambiental, do diálogo entre as forças sociais e políticas convencidas de que dentro do capitalismo não há salvação para o futuro da humanidade.

O FSM de Porto Alegre 2012 deverá ser o ponto de encontro de sujeitos políticos capazes de apontar uma saída para a crise e as bases de construção de um novo modelo civilizatório, no qual predomine a globalização da solidariedade. E dele poderá brotar propostas temáticas para abastecer aqueles que, em junho, se encontrarão na Cúpula dos Povos (Rio + 20). A dinâmica do FSM 2012 será à base de grupos temáticos, de modo a acolher experiências e contribuições dos participantes em torno de quatro eixos transversais: 1. Fundamentos éticos e filosóficos: subjetividade, dominação e emancipação; 2. Direitos humanos, povos, territórios e defesa da mãe-Terra; 3. Produção, distribuição e consumo: acesso à riqueza, bens comuns e economia de transição; 4. Sujeitos políticos, arquitetura de poder e democracia.”

Eis, portanto, mais páginas contendo RICAS, ORIENTADORAS e OPORTUNAS abordagens e REFLEXÕES que acenam para a IMPERIOSA e URGENTE necessidade de PROFUNDAS MUDANÇAS em nosso PENSAR, GERIR e AGIR, de modo a promovermos a inserção SOBERANA e HARMÔNICA do PAÍS no concerto das POTÊNCIAS mundiais LIVRES, DEMOCRÁTICAS e SUSTENTAVELMENTE DESENVOLVIDAS, com prevalência dos DIREITOS HUMANOS e da NÃO-INTERVENÇÃO, sob a égide da COOPERAÇÃO entre os POVOS...

Assim, URGE a efetiva PROBLEMATIZAÇÃO de questões CRUCIAIS como:

a) a EDUCAÇÃO – UNIVERSAL e de QUALIDADE, desde a EDUCAÇÃO INFANTIL até a PÓS-GRADUAÇÃO, como PRIORIDADE ABSOLUTA de nossas POLÍTICAS PÚBLICAS;]
b) o COMBATE, vigoroso e sem TRÉGUA, de três dos nossos MAIORES e mais DEVASTADORES inimigos: I – a INFLAÇÃO, a exigir PERMANENTE e DIUTURNA vigilância, de forma a se manter em patamares CIVILIZADOS; II – a CORRUPÇÃO, câncer que se espalha por TODAS as esferas da vida NACIONAL, causando INCALCULÁVEIS perdas e comprometimentos de variada ordem; III – o DESPERDICIO, em TODAS as suas MODALIDADES, gerando também prejuízos INESTIMÁVEIS;
c) a DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, com projeção para 2012, segundo o ORÇAMENTO GERAL DA UNIÃO, de desembolsos MONSTRUOSOS a beirar a casa de R$ 1 TRILHÃO, a exigir também uma IMEDIATA, ABRANGENTE , QUALIFICADA e eficaz AUDITORIA...

Destarte, é absolutamente INÚTIL lamentarmos a FALTA DE RECURSOS diante de tanta SANGRIA, que MINA nossa ECONOMIA, nossa capacidade de INVESTIMENTO e de POUPANÇA e, mais grave ainda, afeta a CONFIANÇA em nossas INSTITUIÇÕES, tudo isso ao lado de extremas NECESSIDADES, CARÊNCIAS e DEFICIÊNCIAS...

São, e sabemos bem, GIGANTESCOS DESAFIOS mas que, de forma alguma, ABATEM o nosso ÂNIMO nem ARREFECEM nosso ENTUSIASMO e OTIMISMO nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, LIVRE, SOBERANA, DEMOCRÁTICA, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para EVENTOS como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (RIO + 20) em JUNHO deste ano; a 27ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE no RIO DE JANEIRO em 2013; a COPA DAS CONFEDERAÇÕES em 2013; a COPA DO MUNDO de 2014; a OLIMPÍADA de 2016; as OBRAS do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INTERNACIONALIZAÇÃO das EMPRESAS, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um NOVO mundo, da PAZ, da IGUALDADE – e com EQUIDADE –, e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...