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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, OS DESAFIOS DA SAÚDE INFANTIL E A URGÊNCIA DE MAIS IDIOMAS

“Pela saúde de nossas crianças
        O Tribunal de Contas da União (TCU) pediu acesso, mês passado, ao resultado de centenas de fiscalizações realizadas pelos conselhos regionais de medicina (CRMs) ao longo de 2015. Em meio ao calhamaço de informações para subsidiar os auditores, um ponto se destaca: o descaso para com a infraestrutura da rede pública de atenção primária.
         É justamente nas 41 mil unidades básicas de saúde (UBSs) espalhadas pelo país que os pacientes deveriam ter acesso às ações de promoção da saúde, de prevenção de doenças e de cuidados. Uma rede que, idealmente, deveria apresentar índice de mais de 80% de resolubilidade.
          Plenamente eficientes, ajudariam a reduzir a incidência de doenças e a controlar os problemas crônicos, com menos sequelas e mortes, esvaziando hospitais e, o que mais gostam de ouvir os gestores, diminuindo custos.
         Contudo, os dados mostram uma rede à margem de suas possibilidades. A falta de instalações adequadas, de equipamentos e insumos não permite que cumpram suas missões. É o abandono da população, justamente quando se encontra mais frágil.
         Das e266 UBSs vistoriadas pelos conselhos de medicina, em 2015, 739 (58%) apresentavam mais de 30 itens em desconformidade com o estabelecido pelas normas legais em vigor. Sob a responsabilidade dos atuais gestores, deixaram de cumprir exigências criadas pelo próprio Ministério da Saúde, entre outros órgãos, com o objetivo de proporcionar ao médico e ao paciente um ambiente adequado para o trabalho dos profissionais e o atendimento das comunidades.
         O descaso transparece em contextos incompatíveis com a dignidade humana e a responsabilidade técnica. Em 41% das unidades não havia um negatoscópio (aparelho para avaliar uma radiografia). A falta de estetoscópio foi registrada em 23% das fiscalizações e a do esfignomanômetro (usado para medir a pressão), em 20%.
         A falta de instalações mínimas em locais onde a limpeza é fundamental também foi percebida. Em 3% das UBSs visitadas não havia sanitários para os funcionários; em 8% faltavam pias ou lavabos; a falta de sabonete líquido foi percebida em 16%, e de papel-toalha em 18%.
         A pediatria é uma das especialidades que mais sofrem com esta situação que beira o surreal. No Brasil, há 35 mil especialistas na área. Pouco mais de 70% deles atuam na rede pública, principalmente nesta rede que, como provam os conselhos de medicina, carece de quase tudo. Mesmo assim, num contexto completamente adverso, eles têm se desdobrado para oferecer às crianças e adolescentes o mínimo do que precisam.
         Eles cuidam da saúde de 50 milhões de brasileiros, com idades de até 18 anos, que dependem exclusivamente do SUS para ter acesso a consultas médicas, exames, internações e cirurgias. No entanto, no cenário atual, profissionais e pacientes enfrentam situações-limite que causam desespero nas famílias e impõem dilemas éticos aos médicos, cerceados por fatores que fogem ao seu controle.
         Em nome da saúde e do bem-estar dos jovens brasileiros, esta realidade deve ser transformada com urgência por meio de uma gestão competente. Neste contexto, a assistência pediátrica de qualidade tem que ser vista como prioridade, pois se ocupa fundamentalmente daqueles que, mais que todos, precisam de um governo que compreenda seu papel e entenda que o povo exige respeito à sua cidadania.”

(LUCIANA RODRIGUES SILVA, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e SIDNEI FERREIRA, diretor do Conselho Federal de Medicina (CFM), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 5 de agosto de 2016, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 28 de novembro de 2016, mesmo caderno e página, de autoria de MARCELO BARROS, diretor de educação do CNA e diretor e conselheiro vitalício do BRAZ-TESOL, e que merece igualmente integral transcrição:

“Brasil bilíngue: o sonho distante
        The book is on the table. O cliché nunca fez tanto sentido para ilustrar a relação do brasileiro com o inglês. Literalmente, o livro está sobre a mesa, pois aprender o idioma nunca foi tão “fácil” quanto agora. Seja por meio dos cursos presenciais com preços mais acessíveis, ou mesmo das tecnologias de ensino a distância que facilitam a prática, a grande questão é que jamais houve tantas possibilidades diferentes para aqueles que querem conquistar a fluência na segunda língua. Dito isso, a pergunta que fica é: por que, mesmo assim, a imensa maioria dos brasileiros não fala inglês?
         Já é sabido que dominar o inglês aumenta, significativamente, as chances de um salário maior, como apontou uma recente pesquisa conduzida pela Catho. Segundo o estudo, um profissional em nível de coordenação, por exemplo, pode ganhar em média 61% a mais do que aquele que não fala o idioma. Isso sem falar nos benefícios econômicos que o país pode ter, alavancando o turismo e a internacionalização dos negócios. Mesmo assim, levantamentos ainda mostram que apenas 3% da população brasileira pode ser considerada fluente no inglês, um número extremamente baixo, principalmente quando comparado ao de outros países latino-americanos próximos, como o Chile e a Argentina.
         A empresa de educação internacional Education First (EF) divulga, anualmente, um ranking que avalia o nível de proficiência em inglês em diferentes países, no mundo inteiro. No levantamento de 2015, o Brasil ocupava a 41ª colocação em 70 países. Na mesma lista, países como Argentina, República Dominicana, Peru, Chile, Equador e México estão à frente. E os motivos para essa defasagem, a meu ver, são sobretudo culturais.
         Um importante ponto que precisa ser desmistificado para aumentar a relevância do inglês é o argumento de que, antes de nos preocuparmos em ensinar um segundo idioma, precisamos concentrar nossos esforços na língua materna do brasileiro. Na verdade, é inegável que o aprendizado da língua portuguesa é fundamental e ainda há muito trabalho a ser feito nesse sentido. Mas, ao contrário do que muitos pensam, o ensino dos dois idiomas não é excludente entre si, muito pelo contrário. Pesquisas de linguística e neurociência já comprovaram que quanto mais idiomas uma pessoa domina, maior a facilidade para aprender os demais. Isso se dá, principalmente, pela possibilidade de estabelecerem relações entre o que já foi aprendido e o novo conhecimento.
         Outro ponto polêmico que precisa ser debatido é o papel de recursos como músicas, filmes e séries na aprendizagem do idioma. Na verdade, assim como uma criança não aprende todos os aspectos do português apenas ouvindo os seus pais conversando, o aprendizado do inglês também não ocorre apenas pelo acompanhamento dos diálogos na TV ou pela tradução de letras de músicas. É verdade que a prática é muito válida como reforço da aprendizagem, porém, é fundamental que haja esforço e sistematização para a compreensão conjunta das quatro habilidades básicas da língua: o speaking (fala), o listening (compreensão auditiva), o reading (leitura) e o writing (escrita), respeitando, inclusive, as regras gramaticais e discursivas que coordenam sua composição. Em muitos casos, a comunicação dos “autodidatas” pode até ocorrer, mas geralmente dentro de um quadro limitado – quando a pessoa pode entender e falar, mas pode não escrever ou ler corretamente, por exemplo. A proficiência, nesses casos, fica bastante comprometida.
         Por fim, é fato que inúmeros outros obstáculos também precisam ser superados para que o brasileiro comece a priorizar e a estudar o inglês como se deve. Até mesmo o acesso a ferramentas de educação que ofereçam oportunidades reais para a prática do idioma ainda é escasso, o que pode aumentar o desinteresse ou prejudicar o aprendizado da língua.
         Felizmente, a tecnologia, em suas várias formas, vem ajudando os educadores e aprendizes a superarem essa barreira e já vemos soluções ótimas para estimular a compreensão e a conversação. Em geral, a mensagem mais clara que fica é que precisamos promover logo uma verdadeira mudança no pensamento e na forma como as pessoas encaram o tema, pois só assim colocaremos em curso a mudança que fará do Brasil um país verdadeiramente fluente em inglês. The book is on the table, e precisamos que ele seja lido.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em outubro a ainda estratosférica marca de 475,8% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial  registrou históricos 328,9%; e também no mesmo período, o IPCA acumulado  chegou a 7,87%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        
 
 

          
   
          


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, A FORÇA DO AMOR E DA FÉ NA ESPIRITUALIDADE E O IMPERATIVO DA LÍNGUA ESTRANGEIRA

“A presença do amor e da fé nas 
etapas do caminho ascensional
         Em determinado ponto na escalada de ascensão espiritual, muito embora o ser saiba que já neutralizou em si o que o impedia ou o paralisava no caminho, contudo sabe que muito ainda lhe falta. Seu caminhar é seguro, mas seu coração não é totalmente maduro, pois as estruturas que construiu em si, para resistir aos ataques e assédios vindos do exterior ou de seu próprio ser, tornaram-se fortaleza que deve ser derrubada, para que a Energia Divina possa penetrar.
         Esse é o momento no caminho em que o ser não mais contará consigo mesmo para os assuntos da alma e do espírito, porque sua mente e suas emoções estarão a ponto de falir. Então, sua vida espiritual e cósmica poderão ingressar e permear o indivíduo.
         Ora, se é algo tão maravilhoso e divino, por que a resistência a essa transformação? O que ocorre aqui é que sua prova está baseada na Fé, e enquanto ela não for comprovada na entrega de tudo, a transformação espiritual não poderá ocorrer. Nesse ponto do caminho a entrega já faz parte de sua vida, mas ela ainda não é total nem suficiente para que esse ingresso da energia cósmica, com toda a potência requerida, faça com que o ser seja transfigurado interiormente.
         Quando já existe a “consciência da prova” e o ser inicia sua entrega maior, sustentado apenas pela Fé, encontrará a “noite escura” da alma e do espírito. Ou seja, já entregou o que possuía e não poderá tomar de volta para si, mas ainda não recebeu a Energia Divina que o libertará, pois as estruturas mentais e emocionais ainda não terminaram de desabar.
         Tudo torna-se escuro e parecido com as trevas, pois a Luz oculta-se para que a prova seja verdadeira e o ser, apesar da solidão, do vazio e dos insistentes ataques das forças inimigas, possa confirmar a Luz, seu amor a Deus. Pois é fácil amar a Luz estando nela e afirmar o divino em dias de entusiasmo. Mas afirmar a vitória de Deus quando ainda não se pode senti-Lo é só para os que possuem verdadeira Fé.
         Desde o despertar da busca espiritual o ser vem sendo preparado para viver essa “noite”, que o deixará despido diante das estrelas ocultas, para que mostre ao Universo de que matéria é feita sua intenção e o que verdadeiramente motiva sua aspiração. Para ver o brilho das estrelas, o indivíduo terá que viver com valentia e humildade, renovado pela própria Fé.
         Com o coração amadurecido pelo Amor e pela Fé e preenchido pela lembrança de sua Essência Divina, o indivíduo receberá grande impulso do cosmos e não se permitirá sair da meta, mesmo ainda imperfeito. Trata-se, portanto, de um ser confiável perante Deus, um companheiro nos campos de batalha.
         Para o indivíduo que já amadureceu em sua escalada ascensional, lembrar que a Fé não é medida pelo que se crê, mas pelo que pode estar oculto além das crenças e que ainda é desconhecido. Por outro lado, a traição surge quando a criatura considera-se maior que o Criador; render-se diante da Criação liberta muitas almas do jugo da traição.
         Ao absorver os impulsos divinos, a expansão produzida moverá o interior do ser para que se adapte à nova vibração. Neste momento não se deve tentar compreender ou sentir. É mais sábio esquecer-se de si e fundir-se no Todo, para que as transformações sejam efetuadas em paz.”.

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 16 de outubro de 2016, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de outubro de 2016, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de MARCELO BARROS, professor, diretor e conselheiro da Braz-TESOL, maior associação de professores de inglês, e que merece igualmente integral transcrição:

“Brasil bilíngue: sonho distante
        The book is on the table. O chichê nunca fez tanto sentido para ilustrar a relação do brasileiro com o inglês. Literalmente, o livro está sobre a mesa, pois aprender o idioma nunca foi tão fácil quanto agora. Seja por meio dos cursos presenciais com preços mais acessíveis, seja pelas tecnologias de ensino a distância que facilitam a prática. A grande questão é que jamais houve tantas possibilidades diferentes para aqueles que querem conquistar a fluência na segunda língua. Dito isso, a pergunta que fica é: por que mesmo assim a imensa maioria dos brasileiros ainda não fala inglês?
         Já é sabido que dominar o idioma aumenta significativamente as chances de obter salário maior, como apontou recente pesquisa conduzida pelo grupo Catho. Segundo o estudo, um profissional em nível de coordenação, por exemplo, pode ganhar, em média, 61% mais do que aquele que não fala inglês. Isso, sem falar nos benefícios econômicos que o país com um todo pode ter, alavancando o turismo e a internacionalização dos negócios. Ainda assim, levantamentos ainda mostram que apenas 3% da população brasileira pode ser considerada fluente em inglês, número extremamente baixo, principalmente quando comparado ao de outros países latino-americanos, como o Chile e a Argentina.
         A empresa de educação internacional Education First (EF) divulga anualmente um ranking que avalia o nível de proficiência em inglês de diferentes países. No levantamento de 2015, o Brasil ocupava a 41ª colocação entre 70 nações. Na mesma lista, Argentina, República Dominicana, Peru, Chile, Equador e México estavam à frente. E os motivos para essa defasagem, a meu ver, são sobretudo culturais.
         Um importante ponto que precisa ser desmistificado para aumentar a relevância do inglês é o argumento de que, antes de nos preocuparmos em ensinar um segundo idioma, precisamos concentrar nossos esforços na língua materna do brasileiro. Na verdade, é inegável que o aprendizado da Língua Portuguesa é fundamental e ainda há muito trabalho a ser feito nesse sentido. Mas, diferentemente do que muitos pensam, os ensinos dos dois idiomas não são excludentes entre si, muito pelo contrário. Pesquisas de linguística e neurociência já comprovaram que, quanto mais idiomas uma pessoa domina, maior a facilidade para aprender os demais. Isso se dá, principalmente, pela possibilidade de estabelecer reações entre o que já foi aprendido e o novo conhecimento.
         Outro ponto polêmico que precisa ser debatido é o papel de recursos como músicas, filmes e séries na aprendizagem do idioma. Na verdade, assim como uma criança não aprende todos os aspectos do português apenas ouvindo seus pais conversando, o aprendizado do inglês também não ocorre apenas por meio do acompanhamentos dos diálogos na TV ou pela tradução de letras de músicas. É verdade que a prática é muito válida como reforço da aprendizagem. Porém, é fundamental que haja esforço e sistematização para a compreensão conjunta das quatro habilidades básicas da língua: o speaking (fala), o listening (compreensão auditiva), o reading (leitura) e o writing (escrita), respeitando, inclusive, as regras gramaticais e discursivas que coordenam sua composição.
         Em muitos casos, a comunicação dos “autodidatas” pode até ocorrer, mas geralmente dentro e um quadro limitado – quando a pessoa pode entender e falar, mas pode não escrever ou ler corretamente, por exemplo. A proficiência, nesses casos, fica bastante comprometida. Por fim, é fato que inúmeros outros obstáculos também precisam ser superados para que o brasileiro comece a priorizar e a estudar o inglês como se deve. Até mesmo o acesso a ferramentas de educação que ofereçam oportunidades reais para a prática do idioma é escasso, o que pode aumentar o desinteresse ou prejudicar o aprendizado da língua.
         A tecnologia em suas várias formas felizmente vem ajudando os educadores e aprendizes a superar essas barreiras e já vemos soluções ótimas para estimular a compreensão e a conversação. Em geral, a mensagem mais clara que fica é de que precisamos promover logo uma verdadeira mudança no pensamento e na forma como as pessoas encaram o tema, pois só assim colocaremos em curso a mudança que fará do Brasil um país verdadeiramente fluente em inglês. The book is on the table, e precisamos que ele seja lido.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a ainda estratosférica marca de 475,20% para um período de doze meses; e em setembro, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 8,48% e a taxa de juros do cheque especial  registrou ainda em agosto históricos 321,08%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

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- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        


        
        


sexta-feira, 10 de maio de 2013

A CIDADANIA, A NEUROCIÊNCIA, A EDUCAÇÃO E A VIAGEM DE AMOR AO BRASIL


“Neurociência e educação

A metodologia utilizada pelos sistemas convencionais de ensino tem sido focada apenas no ato de enviar a mensagem aos aprendizes, e não como fazer isso. A mensagem, dentro do processo de aprendizagem, deve ser vista como pacotes cognitivos, ou seja, cada pessoa tem uma maneira exclusiva de aprender. Essa formação envolve preferências sensoriais que, ao serem identificadas pelo professor, podem se tornar uma das mais avançadas metodologias de ensino. Ela tem sido grande aliada nessa transmissão de conhecimento. A neurociência é o estudo do sistema nervoso (SN), bem como seu desenvolvimento, funcionamento, estrutura e sua relação com o comportamento humano. O cérebro apenas com dados elementares para a sobrevivência é como um computador ao sair da fábrica, somente com as conexões básicas. Os demais “programas” será adicionados por meio da interação do indivíduo com o ambiente. Esse processo é crucial na fase do desenvolvimento, que se inicia no pré-natal e vai até os seis anos de idade. Contudo, esse desenvolvimento é constante, reduzindo apenas a velocidade e a amplitude. O que define o cérebro de um indivíduo são suas experiências de vida.
         Quanto mais rica a mente for, mais funcional será o cérebro. Exposições a estímulos criam possibilidades de conexão neurológica refletindo nos comportamentos e nas habilidades do indivíduo, incluindo seu equilíbrio emocional. O cérebro consome aproximadamente 25% da energia de um indivíduo e é autorregulável. Entre manter a atenção numa sala de aula e economizar energia para outras funções biológicas, ele escolherá a segunda opção. Outra característica cerebral é eliminar estímulos repetitivos, portanto, professores com vozes constantes e aulas com o mesmo formato e sistema tendem a ser “eliminados”. Essa reação não acontece pela vontade dos alunos, mas sim por mecanismo de defesa do cérebro pelo processo de habituação. Os sentidos de uma turma de 20 ou mais alunos podem ser estimulados de formas diferentes para contemplar todos os tipos de aprendizado. Cada sentido envia mensagens  (pacotes cognitivos) para áreas especializadas do cérebro e gera um impacto significativo na formação das memórias. Algumas ações no processo de educação podem ser motivadoras para facilitar a aprendizagem. Uma quebra de estado com pausas de um a três minutos a cada 50 minutos de aula para realização de outra atividade, como alongamentos, dança e brincadeiras, recarrega a energia corporal e predispõe o cérebro ao estado de aprendizagem.
Outro aspecto importante no ato de  enviar informações é a linguagem utilizada pelo professor. Palavras abstratas não produzem experiências internas e dificultam o aprendizado. Usar o corpo, os gestos, a voz e dispor de suportes didáticos como jogos, vídeos, ilustrações e outras práticas amplifica a capacidade de aproveitamento da proposta de ensino. A neurociência ressalta que se forem consideradas todas essas características no processo de ensino será viável incrementar e reforçar o aprendizado. A atualização do processo deve ser considerada pelos educadores, deixando de lado somente a preocupação em repassar determinados conteúdos. É preciso ter consciência de que ao mudar a maneira de aplicar o ensino, de modo que todos os sentidos sejam estimulados e respeitando o processo de aprendizado de cada aluno, será possível potencializar o aprendizado coletivo.”
(AGUILAR PINHEIRO. Neurocientista e coach do Instituto Brasileiro de Gestão Avançada (IBGA), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 8 de maio de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de O amor fecunda o universo – Ecologia e espiritualidade (Agir), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Navegar é preciso
        
        Fiz uma viagem literária pelo Rio Negro na primeira semana de maio. Uma centena de pessoas lotou o navio Iberostar para conversar sobre literatura com os escritores Affonso Romano de Sant’Anna, Marina Colassanti, CadãoVolpato (que fez ali o lançamento de seu primeiro romance, Pessoas que passam pelos sonhos, editado pela Cosac Naify), Xico Sá e eu. A atriz Clarice Niskier nos apresentou uma leitura dramática de sua próxima peça, A lista, monólogo de autoria da canadense Jenniffer Tremblay. A banda Projeto Coisa Fina animou nossas noites e nos ofereceu um verdadeiro concerto em homenagem ao músico pernambucano Moacir Santos (l926-2006), radicado nos EUA, e cujo repertório influenciou compositores como Tom Jobim.
         Em suas duas primeiras edições, o projeto Navegar É Preciso, promovido pela Livraria da Vila, de São Paulo, levou ao Rio Negro os escritores José Eduardo Agualusa, Laurentino Gomes, Ignácio de Loyola Brandão, Cristovão Tezza, Mary Del Priore, Ilan Brenmam, Walter Hugo Mãe e Milton Bonder. Navegamos quase 200 quilômetros. Nosso ponto de retorno foi Novo Airão, município ribeirinho de 6 mil habitantes. A cidade de Velho Airão, invadida por formigas, sucumbiu à voraz agressão desses insetos. Nossa embarcação, de 95 camarotes distribuídos em quatro andares, deslizava pelo rio de águas escuras, ácidas, desprovidas de mosquitos. A decomposição dos vegetais no leito rico em magnésio, potássio e ferro impede que as larvas se proliferem. Nesta época do ano o rio sobe de oito a 10 metros (no ano passado, excepcionalmente chegou a 17 metros), ampliando os igarapés e inundando a mata de igapós.
         Em geral, os igapós são fechados no alto pela copa das árvores, deixando a impressão de claustros aquáticos. Em suas águas se abriga o poraquê, também chamado de enguia-elétrica, que emite descarga de eletricidade de 300 a 1.500 volts, dependendo do tamanho. Com esse recurso, ele derruba os frutos das árvores que tremulam sob o efeito do choque, garantindo-lhe alimentação. No interior dos igapós é costume se deparar com a majestosa macucu-do-rio-negro, imponente árvore que se sobressai por seu tronco plissado. Índios e ribeirinhos apreciam a carapanaúba, árvore cuja casca, rica em quinino, tem propriedades cicatrizantes e da qual se faz o chá que reduz os efeitos da malária e da febre amarela. Provamos a seiva branca, leitosa, da sorva, que serve de matéria-prima ao cicletes e, na falta de leite materno, é utilizada para alimentar o bebê. Já o cipó da piranheira aplaca, na falta de cigarros, o vício dos ribeirinhos. O curare, abundante na região, é um poderoso anestésico, utilizado também pelos índios, em suas zarabatanas, para imobilizar caças e facilitar a captura. Já a matamatá é uma árvore cuja fibra resistente se usa no artesanato local e para amarrar caibros de casas.
         Os passeios de barcas nos permitiram atracar nas margens do Rio Negro, caminhar pelas trilhas da floresta e conhecer a tapiba, árvore que, após leve tapa em seu tronco, solta milhares de microscópicas formigas que, esmagadas na pele, imprimem um odor que serve de repelente para que índios e caboclos se projetam de insetos e peçonhas. No leito do rio apreciamos o espetáculo dos botos-vermelhos, quase sempre em duplas, arqueando sobre as águas. São eles os principais predadores das piranhas, frequentes na região. Um boto chega a consumir por dia de 10 a 15 quilos desses peixinhos de dentes afiadíssimos e apetite de vampiro. Do navio desfrutamos cenários esplendorosos, como o nascer e o pôr do sol na Floresta Amazônica e, próximo a Manaus, o encontro das águas, quando os rios Negro e Solimões mesclam aos poucos seus leitos negro e barrento e se juntam para formar o Amazonas.
         Mais do que literatura, a viagem nos propiciou um contato direto com a mais importante floresta tropical do mundo, que comporta 12% da água potável do planeta e abriga uma biodiversidade de três mil espécies vegetais e animais por quilômetro quadrado. Ao som da música da banda Coisa Fina, enquanto bebíamos sucos de cupuaçu, açaí e graviola, à espera de refeições fartas em tucunaré e pirarucu, comentamos como seria importante descolonizar a cabeça dos brasileiros de classes média e rica. Em vez de levar filhos e netos à Disneylândia, incutindo-lhes o consumismo, melhor e mais sábio seria levá-los à Floresta Amazônica, ao Pantanal Mato-Grossense, à Chapada dos Veadeiros, de modo a educá-los no senso de preservação ambiental, respeito aos povos indígenas e ribeirinhos e amor ao Brasil.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental –, independentemente do mês de seu nascimento, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, irremediavelmente irreparáveis;
    
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal fosso das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A CIDADANIA, O MODELO PADRÃO DO UNIVERSO E OS INSUSTENTÁVEIS AGROTÓXICOS


“Falta explicar 95% do universo

À frente das equipes de pesquisadores do LHC, o maior acelerador de partículas do mundo, a física italiana Fabiola Gianotti liderou a mais cara experiência da história da ciência. Durou quatro anos, custou 10 bilhões de dólares e culminou com a detecção, no ano passado, de uma tênue partícula subatômica prevista pela teoria, mas que nunca antes dera sinais de sua existência real. Fabiola e sua equipe encontraram provas inequívocas dessa partícula, a única das peças do quebra-cabeça de 61 elementos que baseiam as teorias fundamentais da física que faltava ser observada em laboratório. Sem essa descoberta fundamental, todo o edifício teórico que explica a natureza mais íntima do universo ruiria, jogando no lixo um século de penosas conquistas. Esse tijolo cósmico tão essencial é um bóson de Higgs, batizado assim em homenagem ao físico teórico que previu sua existência. Na entrevista que concedeu a VEJA em seu escritório na Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern), sede do LHC, na fronteira da Suíça com a França, Fabiola, de 51 anos, desde já candidatíssima ao Nobel, diz que tudo o que o foi descoberto elucida 5% da composição do universo e que novas investidas teóricas e práticas serão necessárias para responder à mais simples e incômoda das perguntas: afinal, por que o universo existe?

A partícula exótica no LHC no ano passado foi anunciada com “um” bóson de Higgs, mas talvez não “o” bóson de Higgs. Por que razão o artigo indefinido foi tão enfatizado? Mudo tudo para a história da ciência e para o modo como entendemos as regras da natureza. Se for “o” Higgs, garantimos que o elemento que descobrimos é exatamente o que era previsto nas teorias da física. Esse bóson, que em suma criou o campo que dá massa a tudo o que existe, era a peça que faltava para explicar o que conhecemos como Modelo Padrão, a representação teórica mas bem-acabada para as complexas interações de energia e matéria que deram origem ao universo. Mas, se for “um” bóson de Higgs, é sinal de que a partícula encontrada terá um impacto ainda mais revolucionário. O Modelo Padrão é consistente e há décadas tem guiado a produção científica. Sua comprovação prática seria um feito extraordinário, mesmo que ele explique apenas 5% do cosmo, a parte composta pela matéria que conseguimos detectar por ter se organizado na forma de estrelas, planetas e seres vivos na Terra. Mas restam outros 95%, feitos principalmente de matéria e energia escuras, sobre os quais pouco sabemos. Hoje, existe o consenso de que essa porção escura do universo esconde a explicação final sobre as leis fundamentais da natureza. Sua existência depende de partículas ainda mais exóticas do que o Higgs.

Que teoria ampara essa constatação? Uma das melhores explicações para a existência desses 95% é uma teoria incrivelmente bem-acabada, a supersimetria. Ela propõe que para cada partícula ordinária que se conhece do universo há uma réplica, quase idêntica. A supersimetria trabalha com a hipótese da existência de uma partícula, o neutralino, que pode explicar a criação de toda a matéria escura. Pela supersimetria, haveria não um, mas cinco tipos de bóson de Higgs. Se a partícula que achamos for mesmo um desses cinco, seremos impulsionados rumo à investigação de uma realidade muito mais ampla.

Que novas perguntas terão de ser feitas para entendermos a matéria escura e as partículas supersimétricas? O desafio é amplificar nossa visão sobre as regras escolhidas pela natureza para criar a realidade. É o que fazemos no LHC. Nosso trabalho foi interrompido para uma reforma que durará dois anos e vai melhorar ainda mais os quatro detectores gigantes de partículas que administramos. O resultado dessa obra é que dobraremos a energia que conseguimos  produzir nas colisões de partículas que fazemos nos núcleos do experimento. Também dobraremos o número e a frequência dessas colisões. Isso permitirá encontrar elementos ainda mais exóticos que o Higgs. São justamente essas as partículas elementares responsáveis pela existência da matéria visível e da matéria e energia invisíveis. Elas tiveram um papel nos instantes iniciais do Big Bang, a súbita explosão que deu origem ao nosso universo. Tenho convicção de que essas partículas misteriosas vão ser encontradas por nós, e isso pode explicar os buracos negros, a formação de planetas, a aceleração da taxa de expansão do universo e outros grandes mistérios. Indo além, são essas partículas que nos permitirão não apenas fazer as perguntas certas, mas dar as respostas às indagações mais fundamentais da aventura intelectual humana. Elas são a chave para respondermos finalmente como surgiu o universo e, seu corolário, de onde viemos.

Por ter liderado equipes que somaram mais de 3 000 físicos e engenheiros empenhados na descoberta do Higgs, dá-se como certo que a senhora vai ganhar o Prêmio Nobel de Física. Analisando friamente, isso é inevitável, não? Sinto-me honrada por ter me tornado a face desta que é uma das descobertas mais importantes dos últimos 100 anos. Mas acho errado que uma só pessoa, ou duas, ou três levem o Nobel por isso. Não acharia certo que o prêmio viesse apenas para a minha mão. Se o comitê do Nobel achar apropriado consagrar nossa pesquisa, peço publicamente que os agraciados sejam os times de milhares de cientistas que formularam a teoria, como Peter Higgs, e que a testaram na prática, como as equipes que guiei. O prêmio deveria ir para o Cern e para a comunidade em torno dele. Para isso ocorrer, teriam de ser mudadas as atuais regras do Nobel. Mas está na hora das transformações. Hoje, as experiências científicas mais relevantes não são feitas apenas por um ou por alguns indivíduos. Os responsáveis são grupos imensos de intelectuais ultraqualificados, cada um com uma função específica e vital na condução do experimento. Muitos atuaram remotamente, via internet, de diversas partes do mundo. A maneira de fazer ciência mudou muito, e a organização do Nobel deveria refletir sobre isso.

Alinhar 3 000 mentes brilhantes em torno de uma meta única é, em si, um feito inédito, não? Foi um prazer enorme e nos enriqueceu como seres humanos. Mas, mais do que isso, a união de um grupo de milhares de pessoas de 38 países, com cultura, religião e vida completamente diversas, tem tido um impacto tremendo na sociedade. Nesse time estão representantes de povos cujos governos usualmente não se dão bem. Estudantes palestinos e israelenses organizaram juntos uma festa simbólica dentro do Cern para demonstrar o espírito de cooperação universal. O que temos provado é que podemos nos juntar quando existe um objetivo civilizatório comum em benefício de toda a humanidade.

Por que são necessárias tantas pessoas, de tantas nacionalidades, em um experimento como o LHC? O LHC é o maior laboratório já construído. Desenvolvemos instrumentos de dezenas de metros de altura, soterrados em cavernas de 100 metros de profundidade. Construímos o que consideramos ser o maior microscópio já feito. Esse equipamento todo foi fabricado para observar relações subatômicas impossíveis de ser vistas de qualquer outra maneira. Só que, para atingirmos tal nível de avanço científico e tecnológico, precisamos de muito dinheiro e de muitas mentes. Só conseguimos isso captando capital financeiro e humano pelo mundo. Reunimos o melhor do melhor de cada nação.

O Cern nasceu como uma organização européia, mas hoje tem o apoio de países como Estados Unidos, China e o Brasil. O que mudou? Nos anos 50, quando o Cern foi criado, o nacionalismo imperava. Estávamos em plena Guerra Fria e na era pós-II Guerra Mundial e entendíamos que nossas pesquisas deveriam ser feitas apenas por europeus. Assim como os russos faziam as deles e os americanos tinham as próprias ambições. Agora, o mundo se tornou globalizado pela primeira vez na história. Não faz mais sentido concentrar conhecimento, e por isso abrimos nossas portas. Há, inclusive, negociações prolongadas para que o Brasil se torne membro mais efetivo. Todos têm benefícios incríveis com isso. A Europa ganha mão de obra e apoio tecnológico. As nações que aderem à nossa empreitada qualificam profissionais e têm acesso às tecnologias que criamos. Em uma consequência ampla, fortificamos laços diplomáticos.

Como essas revoluções científicas em curso afetam o cotidiano das pessoas? Há três aspectos a ser considerados. A descoberta do Higgs já transformou nossa vida de diversas maneiras. Não falo de cientistas, mas de qualquer um no mundo. O Higgs é resultado de mais de 25 anos de pesquisas que exigiram o desenvolvimento de instrumentos de altíssima tecnologia. Essa soluções tecnológicas, que à primeira vista não pareciam úteis, transformaram nosso modo de vida. O exemplo mais famoso que temos é a internet. O protocolo “www”, que ancora qualquer site da web, surgiu em 1989 da mente de Tim Berners-Lee, um dos cientistas do Cern. Inicialmente, a internet era apenas uma maneira de nós, cientistas, nos comunicarmos e transmitirmos dados entre computadores. Passadas duas décadas, o “www” mudou a maneira como nos expressamos, trabalhamos, estudamos. Em resumo, a maneira como vivemos.

Que outros efeitos positivos a senhora pode apontar? São inúmeros. A tecnologia que criamos revolucionou a indústria de energia, a de novos materiais supercondutores que transmitem eletricidade com eficiência ímpar, a da computação e a indústria médica. Há 30 000 aceleradores de partículas no mundo com tecnologia desenvolvida por nossos físicos e engenheiros, e 17 000 desses equipamentos são usados para aplicações médicas. Eles estão na base das técnicas mais eficientes para diagnóstico e tratamento de quase todos os tipos de câncer.

Nem sempre as pessoas conseguem relacionar os resultados práticos com as pesquisas básicas. É assim mesmo? As pesquisas de fundamentos científicos são o combustível que acelera o progresso da humanidade. Quando uma das várias perguntas que fazemos na ciência é respondida, tudo muda para a civilização. O Higgs foi revelado no dia 4 de julho de 2012. Isso não quer dizer que no dia 5 a revolução a que deu início foi sentida por cada pessoa. É algo que demora décadas, mas que, quando compreendemos o que ocorreu, entendemos quanto foi fundamental para nós. A melhor maneira de entender esse pilar da humanidade é olhar para o passado. Quando o físico inglês Joseph John Thomson descobriu a existência de elétrons, partículas fundamentais para explicar os átomos, ao observá-los em laboratório, em 1897, nada mudou em seu mundo, em sua cidade ou em seu bairro no dia seguinte ao achado. Ele não tinha ideia de que isso seria depois a base para gerar energia pelo mundo, para a existência de televisores, para toda a maneira como vivemos. Em dez, vinte ou cinquenta anos, cientistas farão um raciocínio parecido tendo começo o bóson de Higgs e como ele nos transformou. Por fim, a terceira forma como as descobertas mudam nossa vida exige uma abordagem filosófica. Conhecer e compreender as regras da natureza é dever e direito do homem como ser pensante. O cérebro nos mostra instintiva e racionalmente que queremos mais conhecimento. Nesse enfoque, a ciência vira irmã da arte. Para financiar artistas, vamos pensar sobre qual é a finalidade prática de pinturas e músicas? De forma alguma. Apoiamos a arte e a ciência por serem as expressões máximas do ser humano.

A senhora foi eleita pela revista americana Time uma das pessoas mais importantes do mundo e tem recebido milhares de e-mails de jovens que pedem orientação sobre como se tornar cientistas. Sobre tempo para responder a todos? Respondo a todos os e-mails. Sei como é vital para um jovem com vocação científica ter uma referência, uma personalidade que lhe sirva de exemplo. Quando era jovem, eu me encantava com a vida e a carreira de gênios como Albert Einstein. Isso me motivou a seguir em frente. Fico honrada ao ver que muitos estudantes que entram em contato comigo têm nos físicos do Cern uma inspiração para seguir nessa aventura de desvendar a realidade, que nos ajuda a evoluir como seres humanos.”
(FABIOLA GIANOTTI, que é física, em entrevista a FILIPE VILICIC, de Genebra, e publicada na revista VEJA, edição 2316 – ano 46 – nº 15, de 10 de abril de 2013, páginas 17 a 21).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de abril de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de O amor fecunda o universo – ecologia e espiritualidade (Agir), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Insustentáveis agrotóxicos

O Brasil é o campeão do mundo no uso de agrotóxicos no cultivo de alimentos. Cerca de 20% dos pesticidas  fabricados no mundo são despejados em nosso país. Um bilhão de litros ao ano: 5,2 litros por brasileiro! Ao recorde quantitativo soma-se o drama de autorizarmos o uso das substâncias mais perigosas, já proibidas na maior parte do mundo por causarem danos sociais, econômicos e ambientais.
Pesquisas científicas comprovam os impactos dessas substâncias na vida de trabalhadores rurais, consumidores e demais seres vivos, revelando como desencadeiam doenças como câncer, disfunções neurológicas e má-formação fetal, entre outras. Aumenta a incidência de câncer em crianças. Segundo a oncologista Sílvia Brandalise, diretora do Centro Infantil Boldrini, em Campinhas (SP), os pesticidas alteram o DNA e levam à carcinogênese.
O poder das transnacionais que produzem agrotóxicos (uma dúzia delas controla 90% do que é ofertado no mundo) permite que o setor garanta a autorização desses produtos danosos nos países menos desenvolvidos, mesmo já tendo sido proibidos em seus países de origem. As pesquisas  para a emissão de autorização analisam somente os efeitos de cada pesticida isoladamente. Não há estudos que verifiquem a combinação desses venenos, que se misturam no ambiente e em nossos organismos ao longo dos anos
É insustentável a afirmação de que a produção de alimentos, baseada no uso de agrotóxicos, é mais barata. Ao contrário, os custos sociais e ambientais são incalculáveis. Somente em tratamento de saúde há estimativas de que para cada real gasto com a aquisição de pesticidas, o poder público desembolsa R$ 1,28 para os cuidados médicos necessários. Essa conta todos nós pagamos sem perceber.
O modelo monocultor, baseado em grandes propriedades e utilização de agroquímicos, não resolveu e nem irá resolver a questão da fome mundial (872 milhões de subnutridos, segundo a FAO). Esse sistema se perpetua com a expansão das fronteiras de cultivo, já que ignora a importância da biodiversidade para o equilíbrio do solo e do clima, fazendo com que as áreas utilizadas se degradem ao longo do tempo. Ele cresce enquanto há novas áreas a serem incorporadas, aumentando a destruição ambiental e o êxodo rural.
Em um planeta finito, assolado por desequilíbrios crescentes, a terra fértil e saudável é cada vez mais preciosa para garantir a sobrevivência dos bilhões de seres humanos. Infelizmente não há meio-termo nesse setor. É impossível garantir a qualidade, a segurança e o volume da produção de alimentos dentro desse modelo degradante. Não há como incentivar o uso correto de pesticidas. Isso não é viável em um país tropical, como o Brasil, em que o calor faz roupas e equipamentos de segurança, necessários para as aplicações, virarem uma tortura para os trabalhadores.
Há que buscar  solução na transição agroecológica, ou seja, na gradua e crescente mudança do sistema atual para um modelo baseado no cultivo orgânico, mantendo o equilíbrio do solo e a biodiversidade, e redistribuindo a terra em propriedades menores. Isso facilita a rotatividade e o consórcio de culturas, o combate natural às pragas e o resgate das relações entre os seres humanos e a natureza, valorizando o clima e as espécies locais.
Existem muitas experiências bem-sucedidas em nosso país e em todo o mundo que comprovam a viabilidade desse novo modelo. Até em assentamentos da reforma agrária há exemplos de como promover a qualidade de vida, a justiça social e o desenvolvimento sustentável.
Para fomentar esse debate e exigir medidas concretas por parte do poder público foi criada, em abril de 2011, a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida. Dela participam cerca de 50 organizações, como a Via Campesina, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e a Federação dos Trabalhadores do Ramo Químico da CUT no Estado de São Paulo (Fetquim). A campanha visa a conquista da verdadeira soberania alimentar, para que o Brasil deixe de ser um mero exportador de commodities (com geração de grandes lucros para uma minoria, e imensos danos à população) para se tornar um território em que a produção de alimentos se faça com dignidade social e de forma saudável.
A outra opção é seguir nos iludindo com os falsos custos dos alimentos, envenenando nossa terra, reduzindo a biodiversidade, promovendo a concentração de renda, a socialização dos prejuízos e a criação de hospitais especializados no tratamento de câncer, como ocorre em Unaí (MG), onde se multiplicam os casos dessa gravíssima doença, devido ao cultivo tóxico de feijão.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a confiança em nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais, nos afastando num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada Mundial da Juventude em julho; a Copa do Mundo de 2014; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias,  da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...    iggHiggs