quinta-feira, 12 de março de 2015

A CIDADANIA, A FORÇA DA FRATERNIDADE E A LIBERDADE DE ESCOLHA

“Vós sois todos irmãos
        A história da humanidade neste terceiro milênio anseia por grandes revoluções e já há indicativos apontando as mulheres e os jovens como os protagonistas dessas grandes transformações. Há, no entanto, um modo singular que pode fazer de todos e de cada um protagonista, segundo sua possibilidade e a partir de sua condição e circunstância. Isso porque a força motriz das grandes transformações vem da vivência da fraternidade. O princípio fundamental da fraternidade universal é a convivência é a consciência e a consideração efetiva de cada pessoa como irmão e irmã. Não se imagina mais que a construção da sociedade aconteça ou possa depender simplesmente de articulações político-partidárias, de logísticas ou simplesmente de investimentos.
         A gravidade da situação mundial, passando pelos conflitos de vizinhança aos que ocorrem no ambiente familiar, incluindo outros cenários preocupantes, comprova que o grande e prioritário investimento deve ser feito na questão da fraternidade. O ponto de partida simples, exercício diário, é aquele que demove corações e sentimentos da comum e absurda consideração do outro como concorrente ou inimigo, comprometendo e impedindo o que há de mais natural na condição humana, a fraternidade.
         A humanização das dinâmicas da sociedade para superar seus descompassos frenéticos configurados em violências, corrupção, pretensão de dominação, começa pelo sentimento mais ansiado e guardado como selo indelével no coração de cada pessoa. É o anseio de fraternidade a ser cultivado, aprendido, exercitado. Sem a inserção permanente nesse processo, que envolve também a correção dos sentimentos que nos distanciam da verdadeira condição humana, de fato, cada um se torna lobo e inimigo do outro. Na interação com o outro, há de prevalecer o respeito ao bem comum e do compromisso, particularmente, com os inocentes, pobres e sofredores. A fraternidade é uma espiritualidade vivida em dinâmicas e práticas. Uma espiritualidade que convence não haver outro caminho mais eficaz quando se pensa a busca, a conquista e o cultivo da paz que faz valer a pena viver. Dá sentido e dignidade ao dom da vida.
         Sem o sentimento fraterno, a cidadania perde a força profética para reinventar as relações sociais e iluminar os horizontes políticos, tornando-se mero cumprimento rígido de prescrições. A fraternidade é, pois, um exercício cotidiano como resposta a uma pergunta fundamental, até incômoda, talvez por questionar e confrontar status variados, mas determinante na aprendizagem das dinâmicas que nos fazem irmãos e irmãs uns dos outros, onde está teu irmão? Essa pergunta é central no diálogo de Deus com o outro que é cada um, base de toda autêntica vivência da fé. Uma leitura antropológica que revela a um povo que seu futuro e anseios de transformação não surgirão sem a força singular da fraternidade.
         Onde está teu irmão é a interrogação que Deus, na narração das origens, faz a Caim, responsável pelo sangue de Abel. As diferenças se tornam riquezas unicamente pela força da fraternidade. A perda do sentido desse valor leva Caim ao absurdo inaceitável, por inveja e concorrência, da eliminação do seu irmão na ilusão de assim abrir os caminhos. Uma ilusão que preside todo tipo de atentado contra a fraternidade, a partir da perda desse sentido inscrito na capacidade que cada um deve ter de responder a respeito do outro, especialmente quando é o pobre. O grande propósito essencial e determinante é dar oportunidade a cada pessoa de avançar na superação da indiferença, do ódio, do egoísmo. Sem esse investimento diário e permanente, as riquezas nunca serão suficientes e se tornarão sempre pretexto para brigas e desentendimentos, em cenários que, de um lado, mostram os que esbanjam e vivem na opulência e, de outro, os que passam fome e morrem na miséria – nunca conseguem usufruir do quinhão que lhes é de direito, por força da sua dignidade humana.
         A espiritualidade que nasce da fraternidade não pode prescindir, lembra-nos o papa Francisco em mensagem para o Dia Mundial da Paz, não se alcança senão quando se compreende e se vivencia o mais profundo sentido da paternidade de Deus. A fraternidade não é uma simples questão de lógica. É uma espiritualidade cuja raiz tem seu nascedouro na compreensão e vivência da paternidade de Deus. O progresso na compreensão e vivência dessa espiritualidade são dons que se recebe na experiência do seguimento de Jesus Cristo. O conhecimento e amorosa obediência a Ele impulsionam na direção consequente do mais autêntico e eficaz sentido de fraternidade, com lições e exercícios que convencem e se originam sempre da verdade fundamental do coração do Salvador da humanidade: “E vós sois todos irmãos!”.”

(DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO. Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de janeiro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 11 de março de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de LINDOLFO PAOLIELLO, jornalista, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas), e que merece igualmente integral transcrição:

“Liberdade de escolher
        Nossa gestão na Associação Comercial e Empresarial de Minas se fará lastreada em ideias, construídas enquanto metas, cabendo-nos articular para realizá-las, No entanto, metas são criadas com base em oportunidades e consciência dos riscos. Para irmos à frente, navegar é preciso. O ponto de partida é a dúvida. Navegar no cenário que nos é dado é preciso? A questão, senhores, é objeto de precioso alerta partido de Friedrich Von Hayek, Prêmio Nobel de Economia. A questão está em que, enquanto a história em que, enquanto a história se desenrola, ainda não é história. Os acontecimentos contemporâneos diferem dos históricos porque desconhecemos os resultados que irão produzir. Tudo seria bem diverso se nos fosse dado reviver os mesmos fatos com o pleno conhecimento do que tivéssemos visto antes. Olhando para trás, podemos acompanhar a significação dos fatos passados e acompanhar as consequências que tiveram. Enfim, a quase tragicidade da percepção de que, enquanto a história se desenrola, ainda não é história encontra uma luz na advertência de que podemos de certo modo aprender do passado e evitar a repetição de um mesmo processo.
         Pareço enigmático? Fiquem atentos, não sou eu que digo, quem lhes fala é um mestre que tem orientado acadêmicos. ‘Afigura-se ver, agora, da maior importância uma compreensão plena do processo mediante o qual certas medidas podem destruir as bases de uma economia de mercado, e asfixiar gradualmente o poder criador de uma civilização livre: só compreendendo por que – e como – certo tipo de controle econômico tende a paralisar as forças propulsoras de uma sociedade livre e que espécie de medidas são em particular perigosa nesse campo, só assim poderemos esperar que as experiências sociais não nos conduzam a situações que ninguém entre nós deseja’.
         De imediato, ocorre a advertência lúcida da filósofa da gestão Sônia Diegues: “A empresa precisa conhecer o contexto para escrever seu próprio texto”. Aplica-se ao sistema empresarial; estende-se à sociedade. Convém estar consciente de que a conexão entre liberdade política e liberdade econômica é insofismável. A restrição e destruição desta última levam, necessariamente, à destruição da outra. Nascida da livre e espontânea vontade do empreendedor, caracterizada pela competição sadia e pautada pela produção em massa de bens de consumo, pela oferta de trabalho e consequente aumento - sustentável – do poder aquisitivo, a economia de mercado resiste às intempéries, mostrando-se capaz de assegurar ambientes e nações de bem-estar e qualidade de vida. Ressalte-se: de uma vida digna, porque resultante do trabalho de cada um, e não de benesses assistencialistas que humilham aqueles que têm a capacidade mínima para refletir a respeito.
         A experiência de anos recentes – e pensem bem que aqui se fala do Brasil, mas de experiências vividas por nações diversas – provoca dúvida sobre se a engenhosidade da livre iniciativa pode continuar superando os efeitos debilitadores do controle pelo governo, se a ele continuarmos a conceder ainda mais poder. Mais cedo ou mais tarde – e sempre mais cedo do que se espera –, governos centralizadores têm destruído a prosperidade advinda da liberdade humana e do mercado livre.
         Uma dessas aventuras surpreendentes proporcionadas pela leitura permite que eu conclua com o encontro, só possível nas páginas de um livro, entre pensadores de duas épocas. Encerro esta saudação e conclamação para um novo tempo com esta menção às ideias de Friedrich Hayek, escrita por outro Prêmio Nobel de Economia. Em seu livro Liberdade de escolher, Milton Friedman legou-nos a recomendação com a qual faço breve apresentação de nosso ideário econômico: ‘Não chegamos ainda a um beco sem saída. Somos livres, como povo, para escolher se continuaremos a percorrer em alta velocidade a estrada para a servidão’, como Friedrich Hayek intitulou seu profundo e influente livro, ou se estabeleceremos limites mais rigorosos ao governo e confiaremos mais na cooperação voluntária entre indivíduos livres para atingir seus objetivos, por mais numerosos que sejam’.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, vai ganhando contornos, pois que transcendem ao campo quantitativo, e que podem afetar até mesmo gerações futuras...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (haja vista as muitas faces mostrando a gravidade da dupla crise de falta – de água e de energia elétrica...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!