sexta-feira, 7 de maio de 2010

A CIDADANIA, A ORAÇÃO E A POLÍTICA

“DA PROBREZA AO PODER
[...] O desenvolvimento diz respeito à transformação da vida e das expectativas dos habitantes de uma nação, uma ambição que vai muito além de simplesmente aumentar a renda monetária. Embora significativos avanços tenham sido observados nos últimos 60 anos, ainda há enormes e urgentes desafios a serem superados para se eliminar a injustiça, a desigualdade e sofrimentos desnecessários. O ponto de partida para esse esforço deve ser a garantia de que todas as pessoas possam exercer seus direitos básicos e tenham a habilidade necessária para exercê-los (capacidades). Pessoas afetadas pela pobreza devem tomar o criar poder para conduzir suas vidas e destinos. Para se desenvolverem, os países precisam de cidadãos escolarizados, informados e saudáveis e de um Estado que esteja disposto a prestar os serviços essenciais dos quais seu bem-estar depende e que seja capaz de fazê-lo. O Estado deve também tomar as medidas necessárias para garantir que a qualidade e a quantidade do crescimento econômico satisfaçam necessidades de desenvolvimento. [...]”
(DUNCAN GREEN, in DA POBREZA AO PODER – Como cidadãos ativos e estados efetivos podem mudar o mundo; tradução de Luiz Vasconcelos. – São Paulo: Cortez; Oxford: Oxfam International, 2009, página 111).

Mais uma contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 20 de abril de 1994, Caderno OPINIÃO, página 6, de autoria de DOM MOREIRA NEVES, que é cardeal-arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, que merece INTEGRAL transcrição:

“Oração e política

ROMA, 19 de abril – O jovem padre dominicano, que era este colunista no início dos anos 60, deixou-se seduzir pelo pequeno volume publicado por Jean Daniélou, fértil autor de obras prestigiosas. O fascínio estava no título, instigante e provocatório: “Oração; problema político”.Ainda mais fascinante era o tema: com indiscutível ciência teológica e experiência pastoral amadurecida no ambiente de professores e estudantes universitários, o conhecido jesuíta francês demonstrava, da primeira à última página, que a oração não é possível numa cidade e sociedade na qual faltem condições indispensáveis. Essa tese se apóia em Santo Tomás de Aquino, para o qual é impossível a contemplação do espírito se o corpo está debilitado pela inanição.

Para bem compreender o breve ensaio de Daniélou, é necessário tomar a palavra oração no sentido mais largo. Oração aqui não é só prece, meditação e contemplação. Nem só a simples vida de oração. É a oração na vida. É, portanto, a espiritualidade em toda a sua complexidade. É a vida cristã, segundo o Evangelho. É a vivência quotidianItálicoa das virtudes, das bem-aventuranças, dos conselhos evangélicos. É a existência orientada por critérios cristãos, plasmada por valores humanos e cristãos.

O que Jean Daniélou quis afirmar é que só uma Polis organizada em coerência com esses valores permite aos cidadãos uma vida cristã. Em sentido contrário, uma cidade – sociedade humana, quadros e instituições – desprovida daqueles valores torna difícil, senão impossível, a vida cristã do cidadão. É certo que a oração – a vida cristã e a espiritualidade – é o que há de mais íntimo no homem. Os “príncipes deste mundo”, mesmo os mais poderosos, inclusive os tiranos, nada podem contra a comunhão íntima e pessoal de cada homem e mulher com o Absoluto de Deus. Têm, porém, o tremendo poder de impedir ou ao menos de dificultar a oração familiar, social e comunitária dos cidadãos. Neste sentido, a oração e, em sentido muito forte, um problema político.

Neste ponto da nossa reflexão, porém, confesso uma reação interior sentida desde a primeira leitura do livro de Daniélou. “Se tanto me ajudasse engenho e arte” (... e tempo), eu gostaria de desenvolver o tema em sentido contrário. “Política, problema de oração”. Sob esse título em trataria de mostrar que sem oração – sempre entendida no sentido mais largo de vida cristã, espiritualidade,existência pessoal, familiar e social, impregnada de grandes valores morais e espirituais, sobretudo cristãos – é difícil, senão mesmo impossível, edificar uma Polis de dimensão e consistência verdadeiramente humanas. Viver a oração ou a vida segundo o espírito revela-se, pois, uma incontornável exigência para quem quer fazer política seja como homens públicos e responsáveis do bem-comum, seja como povo livre e responsável.

A este propósito, evoco um episódio que ouvi de um íntimo amigo e confidente de Jean Daniélou. Contou-lhe o padre, depois cardeal, que tendo dedicado uma volume ao General Charles de Gaulle, em um momento particularmente incandescente do seu governo, este lhe respondeu agradecendo a homenagem, elogiando o conteúdo, sublinhando a utilidade da leitura e acrescentando: “Um povo sem oração é um povo ingovernável” – e quem, mais do que ele, entendia de governabilidade?

É lícito, porém, voltar à questão olhando do lado dos governantes e constatando que quanto mais forem homens de oração – no sentido largo acima explicado e independentemente da fé ou das crenças que praticarem – tanto mais garantirão a governabilidade do seu povo. Falar disso é trazer espontaneamente ao espírito a pessoa do Rei Salomão e sua oração no momento em que assume a árdua tarefa de líder e pastor do seu povo, pedindo não poder, glória ou riquezas, mas sabedoria: “Concede ao ter servo um coração dócil que saiba fazer justiça ao teu povo e discernir entre o bem e o mal, pois quem poderia governar este teu povo tão numeroso?” (1 Reis 3, 9ss).

Não creio que seja descabido focalizar, a propósito de líderes do seu país e até de todo um Continente, algumas páginas de história recente. Meus anos de jovem estudante de teologia, na França, no imediato após-guerra, permitiram-me assistir a um generoso e inteligente esforço, não só para reconstrução dos vários países desmantelados pelos horrores do conflito mundial, mas para a construção da unidade da Europa. Pois bem, a melhor garantia do bom sucesso de tal esforço foi a presença e a ação de homens competentes e de profunda fé cristã. Nada foi tão impressionante, naqueles anos decisivos, do que ver empenhados num esforço ciclópico, capaz de desencorajar os mais valentes, homens de fé e entusiasmo como o próprio Charles de Gaulle, Robert Schumann e Edmond Michelet (ambos com suas causas de beatificação em encaminhadas), Alcide de Gasperi, Konrad Adenauer. Em postos de grande influência encontraram-se também Giorgio La Pira, o prefeito de Florença, que tive a alegria e o privilégio de encontrar algumas vezes e que está também a caminho da beatificação; Dag Hammarskjold, secretário-geral da ONU, de forte espiritualidade.

O tema desta crônica, de certo modo, alarga e aprofunda o da precedente. Com “A grande Oração pelo Brasil” eu fazia a proposta de implorarmos todos, governantes e governados, do Deus da História, Deus das Nações, a força espiritual necessária quando a força natural não basta. Propús, concretamente, uma campanha de oração. Na crônica de hoje atrevo-me a propor que governantes e governados pautemos a vida segundo um paradigma moral cristão, como base para edificarmos um País mais justo e fraterno, mais solidário e pacífico.

Aos que me tacharem de ingênuo, respondo que é bem mais ingênuo esperar que o País dos nossos sonhos nasça da derrocada moral que aí está. Aos que me considerarem abstrato, respondo que nada é mais concreto do que um alto ideal quando inspira o agir quotidiano de milhares – “milhões” – de pessoas.”

São reflexões com essas que nos MOTIVAM e nos FORTALECEM nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando a construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA que possa PARTILHAR suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, segundo as exigências da MODERNIDADE e de um mundo da PAZ e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, a nossa LUTA, o nosso AMOR, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...

Um comentário:

Anônimo disse...

"Atrevo-me a propor que governantes e governados pautemos a vida segundo um paradigma moral cristão, como base para edificarmos um País mais justo e fraterno". partindo daqui creio que teríamos um país realmente melhor, se nossos políticos com base em paradigma moral cristão se voltasse a um governo realmente preocupado com o povo e não com os próprios bolsos. Não creio que ´pode se dizer e ser cristão, aquele que lesa seu país, aceita subornos, é corrupto e faz da máquina pública uma extensão de sua conta bancária e de seu dominio e patrimônio pessoal. Há partidos que até se dizem cristãos, mas se deixam ser usados por grupos políticos que trazem consigo a dúvida da legitimidade das ações de seus correlegionários.