segunda-feira, 3 de junho de 2013

A CIDADANIA, A PRODUÇÃO CIENTÍFICA, A FACE EUCARÍSTICA E O AMOR

(Junho = mês 48; Faltam 12 meses para a Copa do Mundo)

“Gargalos da produção científica
        
          O número de mestres e de doutores aumentou consideravelmente no Brasil nos últimos 10 anos. De acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em 2001 eram 26 mil pesquisadores e, em 2010, chegamos a 53 mil. Esse incremento se deve, em grande parte, ao crescimento da oferta de cursos por instituições de ensino particulares. Entretanto, o número de vagas disponíveis para essas pós-graduações ainda é tímido; para pós-doutorado pode ser ainda mais difícil.
         Mestres, doutores e pós-doutores são extremamente importantes para o progresso de uma nação por que ampliam a capacidade de contribuir para a prosperidade nacional e internacional em diversos segmentos, à medida que geram mais inovações e produções científicas e que garantem o aumento  da base tecnológica do país e a competitividade internacional da pesquisa. Apesar do aumento do índice de profissionais com esses títulos no Brasil, a quantidade ainda é considerada baixa se comparada à China, aos Estados Unidos, ao Japão e à União Europeia. Segundo relatório da Unesco sobre ciência, enquanto o Brasil tinha mais de 500 pesquisadores por milhão de habitantes em 2007, a média mundial era de 1.000.
         Quem descobre a pesquisa como vocação e decide se dedicar a tantos anos de estudo enfrenta muitos desafios, entre eles a falta de vagas em universidades brasileiras. A situação do pós-doutor ainda é desconhecida para a maioria da população. Não temos poucos “pós-doc” por falta de interesse, mas por falta de oportunidade. Algumas instituições abrem apenas cinco vagas de doutorado por ano, que é um pré-requisito para o pós-doutorado. Diversos profissionais passam anos aguardando uma vaga. Fica difícil persistir tanto, por isso alguns para por aí. Mesmo com ações de incentivo como o Programa Nacional de Pós-Doutorado, as oportunidades ainda são escassas.
         O pós-doutorado tem objetivo de aprimorar o nível de excelência na área escolhida. Com duração média de três anos, o pesquisador pode, em alguns casos, receber uma bolsa mensal de R$ 4,1 mil, segundo o último reajuste da Capes. Durante esse período, o profissional desenvolverá artigos e outras publicações, participará de conferências e terá contato com outros pesquisadores que podem enriquecer a formação e o desenvolvimento do trabalho.
         A falta de opções nas instituições brasileiras de ensino tem levado brasileiros a procurar oportunidades de realização desse projeto de vida no exterior. Países como a Argentina são bons anfitriões, fazem um investimento profundo em educação e têm universidades renomadas que abrem processo seletivo para um número maior de vagas para mestrados, doutorados e pós-doutorados. Algumas instituições de ensino oferecem, inclusive, uma formato exclusivo para brasileiros que não podem se afastar de suas atividades no Brasil por um período prolongado. O pós-doutorado é realizado intensivamente em uma semana. Após esse módulo acadêmico, o pesquisador participa de seminários e de conferências, que são atividades mais flexíveis e agendadas, e pode desenvolver seu artigo científico no Brasil com o apoio dos docentes argentinos a distância, sempre que necessário.
         O título de pós-doutor agrega para o currículo e também para o salário. Mas esse investimento em pesquisa é muito mais do que um número atrativo no contracheque. Os benefícios não alcançam apenas os profissionais que buscam o aprofundamento técnico, mas toda uma nação, que ganha em inovação e em pesquisa. Os nossos guerreiros do universo acadêmico conhecem a realidade brasileira e podem pesquisar, analisar e propor soluções para as nossas necessidades, além de contribuir para o progresso do país.”
(JASUBE GOUVEA. Diretor do Instituto de Educação Superior Latino-Americano (Iesla), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 31 de maio de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Eucaristia e caridade
        
         A Igreja Católica, em todo o mundo, celebrou a solenidade  de Corpus Christi ontem. Nesse dia, a eucaristia, centro e ápice da fé cristã, é testemunhada publicamente, com procissões pelas ruas, programações especiais nas paróquias e nos bairros. A celebração de Corpus Christi é a oportunidade para que todos os fiéis fortaleçam a compreensão deste sacramento como experiência e compromisso social. Assim, não se trata simplesmente de um culto. A celebração eucarística é a vivência do mistério pascal, a origem da Igreja.
         A Igreja nasce e vive da eucaristia. Nela, a escuta da palavra de Deus é essencial, abrindo mentes e corações para a vivência do memorial do sacrifício de Jesus Cristo, que se oferece na cruz, morre e ressuscita, para a salvação da humanidade. Ao celebrar a eucaristia, os olhos da alma se fixam no Tríduo Pascal, ápice da vivência da semana santa, a partir de tudo que se realizou na quinta-feira santa e nas horas sucessivas. Quando Jesus institui a eucaristia, na Ceia Pascal derradeira, antecipa sacramentalmente os acontecimentos vividos logo em seguida, a começar pela agonia de nosso Salvador do Getsêmani. Jesus sai do Cenáculo, vai o Horto das Oliveiras, vive a sua agonia em oração e começa a entrega a Deus seu Pai, sofrendo a dolorosa paixão. Crucificado, morto e sepultado, ressuscita no terceiro dia. É a vitória definitiva da vida sobre a morte.
         A celebração de Corpus Christi é, pois, a Igreja – o povo de Deus – publicamente aclamando e dizendo “anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”. Com essas palavras, nossa Igreja testemunha e sublinha o traço marcante de sua identidade: ser uma Igreja eucarística. E cada cristão católico é convocado permanentemente, pela eucaristia, como compromisso de fé, a assumir prioritariamente a prática da caridade. Algo além de um gesto pontual qualquer, ou rápida ação de misericórdia. Ao testemunhar publicamente sua fé eucarística, a Igreja se compromete a praticar uma caridade com força de transformação e com incidência profética sobre a vida da sociedade.
         Isso significa que a eucaristia celebrada e professada exige um empenho em prol da justiça. Em questão se coloca a justa ordem da sociedade e do Estado. Desse modo, o culto eucarístico, sua celebração e adoração, se desdobra em compromisso social cidadão, iluminado pela fé. Ao celebrar o Corpus Christi no interior das igrejas e, especialmente, nas praças e ruas onde está o povo, assume-se também o compromisso de acompanhar o Estado para que ele se conduza segundo a justiça. Ignorar seus funcionamentos ou não interferir pela força da cidadania, permitindo que ele se torne lugar da corrupção ou da indiferença para com os mais pobres, é conivência. Aborrece Deus, que se oferece pelo bem da humanidade. Segue-se na contramão da vida plena para todos.
         A Igreja é lugar para a expressão social da fé cristã, na sua dinâmica comunitária, com força de diálogo e de recíproca relação com as instâncias da sociedade civil. Os cristãos devem contribuir para que se alcance sempre a justiça, medida intrínseca da política, que não pode ser entendida como mera questão técnica nos ordenamentos públicos. A justiça é um compromisso de natureza ética na vivência da fé e da cidadania. A razão trata propriamente da questão da justiça. A fé tem, nesse âmbito, uma determinante contribuição. Ela purifica a razão, que não raramente se resume em poder, dominação e desvios na contramão de uma almejada sociedade justa e solidária. Política e fé, nesse âmbito, devem se tocar. A celebração de CorpusChristi é importante oportunidade para cada cristão assumir com vigor o compromisso no seguimento da palavra de Deus e para a Igreja renovar o sem empenho na promoção da justiça, abrindo mentes e vontades às exigências do bem.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente no mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, isto é, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos);  a educação; a saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; comunicações; esporte, cultura e lazer; turismo; sistema financeiro nacional; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa das Confederações neste mês; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

         

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