segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A CIDADANIA, A FORÇA DAS ELEIÇÕES E O SIGNIFICADO DA VITÓRIA DE DILMA ROUSSEFF PARA OS POBRES (3/21)

(Novembro = mês 3; faltam 21 meses para a Olimpíada de 2016)

“O que extrapola a própria importância as eleições
        Foi Aristóteles que definiu o homem como um animal político. E o que é a política? É a convivência com os diferentes para se alcançar o bem comum. Assim dito, tudo parece fácil.
         Mas a política é, dentro dela, a democracia, que visa respeitar as liberdades individuais, constituem um processo, ou seja, algo que se desdobra no tempo, podendo atingir suas finalidades mais rápida ou mais lentamente, dependendo do nível de consciência dos participantes.
         Para que uma nação exista e sobreviva, a política é essencial porque é a liga que amalgama homens, mulheres, pretos, pardos e brancos, ricos e pobres, no seu afã de alcançar níveis de vida cada vez mais dignos, por meio do acesso igualitário aos bens essenciais à vida. Essas definições já mostram as dificuldades intrínsecas à prática da política no Brasil, país-continente, com imensas diferenças e disparidades de origens e de condições sociais, econômicas, étnicas, geopolíticas, enfim, um grande quebra-cabeça, que é também sua riqueza e fonte de suas dificuldades.
         Vivenciamos tudo isso nas últimas eleições gerais para escolha do presidente da República, dos governadores dos Estados e dos senadores, dentro de um arcabouço legal ainda cheio de imperfeições, preterições, discriminações. Acrescente-se a isso um complicador que a modernidade comunicacional nos trouxe, qual seja, a possibilidade da interferência das mídias na manipulação da opinião pública, e o fato novo constituído pelos marqueteiros que moldam os perfis dos candidatos ao sabor das conveniências de momento.
         Permeando tudo, temos a influência do poder econômico dos grupos de interesse de variados matizes, que interferem explícita ou implicitamente, ou mesmo sub-repticiamente, na lisura das escolhas dos candidatos que disputam os variados cargos políticos.
         É um processo imperfeito, mas essencial para que a democracia sobreviva e se aperfeiçoe ao longo dos anos, fazendo o treinamento das gerações que se sucedem, no sentido de evitar retrocessos institucionais.
         Inevitavelmente, há frustrações para os vencidos e alegrias para os vencedores, mas o importante é que os dois grupos se transformem durante os anos dos mandatos e de governança da nação, respectivamente, em cumpridores e fiscalizadores das promessas e dos programas de campanha.
         O exercício da cidadania em uma república não tem cartel. Não é feito só para uso nas eleições. Mais se assemelha a um recipiente em constante fervura, sob o calor dos debates nas várias câmaras que nos representam e nos movimentos sociais, hoje turbinados pelas redes cibernéticas e pelas demonstrações de rua, indispensáveis quando se trata de impulsionar mudanças e reformas no status quo. Este, no caso brasileiro, de incipiente democracia, tem que vencer enormes resistências dos grupos que ainda se aproveitam de privilégios de todo tipo para travar o acesso igualitário à cidadania da maioria do povo. Há, pois, muito trabalho pela frente, e este extrapola a própria importância das eleições.”

(Haroldo Vinagre Brasil, engenheiro e professor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 30 de outubro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 19).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 31 de outubro de 2014, mesmo caderno, página 20, de autoria de LEONARDO BOFF, filósofo e teólogo, e que merece igualmente integral transcrição:

“A vitória de Dilma Rousseff e o que ela representa para os pobres
        Nessas eleições presidenciais, os brasileiros se confrontaram com uma cena bíblica: tinham que escolher entre dois caminhos.
         Criaram-se todas as condições para uma tempestade perfeita, com distorções e difamações, difundidas na grande imprensa e nas redes sociais. Face a essas adversidades, a presidente Dilma Rousseff, por ter passado pelas torturas nos porões dos órgãos de repressão da ditadura militar, fortaleceu sua identidade, cresceu em determinação e acumulou energias para enfrentar qualquer embate. Mostrou-se como é: uma corajosa e valente. Ela transmite confiança, virtude fundamental para um político. Isso gera no eleitor ou eleitora a sensação de “sentir firmeza”.
         Sua vitória se deve em grande parte à militância que saiu às ruas e organizou manifestações. O povo mostrou que amadureceu na sua consciência política e soube escolher o caminho que lhe parecia mais acertado, votando em Dilma.
O eleitor já conhecia os dois caminhos. Um, ensaiado por oito anos, mas transferiu a maior parte dos benefícios aos já contemplados, à custa do arrocho salarial, do desemprego e da pobreza das grandes maiorias. Fazia políticas ricas para os ricos e pobres para os pobres. O Brasil fez-se  um sócio menor e subalterno ao grande projeto global. Esse não era o projeto de um país soberano.
         O povo percorreu também o outro caminho,  o do acerto e da felicidade possível. Nesse, ele teve centralidade. Um de seus filhos, Lula, conseguiu, com políticas públicas voltados aos humilhados e ofendidos, que uma Argentina inteira fosse incluída na sociedade moderna. Dilma Rousseff levou avante, aprofundou e expandiu essas políticas.
         A questão de fundo de nosso país está sendo equacionada: garantir a todos, mas principalmente aos pobres, o acesso aos  bens da vida, superar a espantosa desigualdade e criar, mediante a educação, oportunidades aos pequenos para que possam crescer, se desenvolver e se humanizar como cidadãos ativos.
         Esse projeto despertou o senso de soberania do Brasil, projetou-o no cenário mundial com uma posição independente, cobrando uma nova ordem mundial, na qual a humanidade se descobrisse como humanidade.
         O desafio para a presidente Dilma não é só consolidar o que já deu certo e corrigir defeitos, mas inaugurar um novo ciclo de exercício do poder que signifique um salto de qualidade em todas as esferas da vida social. Pouco se conseguirá se não houver uma reforma política que elimine de vez as bases da corrupção e que permita um avanço da democracia representativa, com a incorporação da democracia participativa. É urgente uma reforma tributária para que haja mais equidade e ajude a suplantar a abissal desigualdade social. Dilma, nos debates, apresentou um leque significativo de transformações a que se propôs. Pela seriedade e sentido de eficácia que sempre mostrou, podemos confiar que acontecerão.
         Há questões que mal foram acenadas nos debates: a importância da reforma agrária moderna que fixa o camponês no campo com todas as vantagens que a ciência propicia. Importa ainda demarcar e homologar as terras indígenas, muitas ameaçadas pelo avanço do agronegócio.
         Por  último, e talvez o maior dos desafios, vem o campo da ecologia. Severas ameaças pairam sobre o futuro da vida e de nossa civilização. O Brasil, por sua riqueza ecológica, é fundamental para o equilíbrio do planeta crucificado. Um novo governo Dilma não poderá obviar a essa questão que é de vida ou morte para a nossa espécie.
         Que o espírito de sabedoria e de cuidado oriente as decisões difíceis que a presidente Dilma Rousseff deverá tomar.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, sociais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação –  universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; b) a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades , também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 20140, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O BRASIL TEM JEITO!...


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