(Novembro
= mês 3; faltam 21 meses para a Olimpíada de 2016)
“O
que extrapola a própria importância as eleições
Foi Aristóteles que
definiu o homem como um animal político. E o que é a política? É a convivência
com os diferentes para se alcançar o bem comum. Assim dito, tudo parece fácil.
Mas a
política é, dentro dela, a democracia, que visa respeitar as liberdades
individuais, constituem um processo, ou seja, algo que se desdobra no tempo,
podendo atingir suas finalidades mais rápida ou mais lentamente, dependendo do
nível de consciência dos participantes.
Para
que uma nação exista e sobreviva, a política é essencial porque é a liga que
amalgama homens, mulheres, pretos, pardos e brancos, ricos e pobres, no seu afã
de alcançar níveis de vida cada vez mais dignos, por meio do acesso igualitário
aos bens essenciais à vida. Essas definições já mostram as dificuldades
intrínsecas à prática da política no Brasil, país-continente, com imensas
diferenças e disparidades de origens e de condições sociais, econômicas,
étnicas, geopolíticas, enfim, um grande quebra-cabeça, que é também sua riqueza
e fonte de suas dificuldades.
Vivenciamos
tudo isso nas últimas eleições gerais para escolha do presidente da República,
dos governadores dos Estados e dos senadores, dentro de um arcabouço legal
ainda cheio de imperfeições, preterições, discriminações. Acrescente-se a isso
um complicador que a modernidade comunicacional nos trouxe, qual seja, a
possibilidade da interferência das mídias na manipulação da opinião pública, e
o fato novo constituído pelos marqueteiros que moldam os perfis dos candidatos
ao sabor das conveniências de momento.
Permeando
tudo, temos a influência do poder econômico dos grupos de interesse de variados
matizes, que interferem explícita ou implicitamente, ou mesmo sub-repticiamente,
na lisura das escolhas dos candidatos que disputam os variados cargos
políticos.
É um
processo imperfeito, mas essencial para que a democracia sobreviva e se
aperfeiçoe ao longo dos anos, fazendo o treinamento das gerações que se
sucedem, no sentido de evitar retrocessos institucionais.
Inevitavelmente,
há frustrações para os vencidos e alegrias para os vencedores, mas o importante
é que os dois grupos se transformem durante os anos dos mandatos e de
governança da nação, respectivamente, em cumpridores e fiscalizadores das
promessas e dos programas de campanha.
O
exercício da cidadania em uma república não tem cartel. Não é feito só para uso
nas eleições. Mais se assemelha a um recipiente em constante fervura, sob o
calor dos debates nas várias câmaras que nos representam e nos movimentos
sociais, hoje turbinados pelas redes cibernéticas e pelas demonstrações de rua,
indispensáveis quando se trata de impulsionar mudanças e reformas no status
quo. Este, no caso brasileiro, de incipiente democracia, tem que vencer enormes
resistências dos grupos que ainda se aproveitam de privilégios de todo tipo
para travar o acesso igualitário à cidadania da maioria do povo. Há, pois,
muito trabalho pela frente, e este extrapola a própria importância das
eleições.”
(Haroldo
Vinagre Brasil, engenheiro e professor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 30 de
outubro de 2014, caderno O.PINIÃO, página
19).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
31 de outubro de 2014, mesmo caderno, página 20, de autoria de LEONARDO BOFF, filósofo e teólogo, e
que merece igualmente integral transcrição:
“A
vitória de Dilma Rousseff e o que ela representa para os pobres
Nessas eleições
presidenciais, os brasileiros se confrontaram com uma cena bíblica: tinham que
escolher entre dois caminhos.
Criaram-se
todas as condições para uma tempestade perfeita, com distorções e difamações,
difundidas na grande imprensa e nas redes sociais. Face a essas adversidades, a
presidente Dilma Rousseff, por ter passado pelas torturas nos porões dos órgãos
de repressão da ditadura militar, fortaleceu sua identidade, cresceu em
determinação e acumulou energias para enfrentar qualquer embate. Mostrou-se
como é: uma corajosa e valente. Ela transmite confiança, virtude fundamental
para um político. Isso gera no eleitor ou eleitora a sensação de “sentir
firmeza”.
Sua
vitória se deve em grande parte à militância que saiu às ruas e organizou
manifestações. O povo mostrou que amadureceu na sua consciência política e
soube escolher o caminho que lhe parecia mais acertado, votando em Dilma.
O eleitor já conhecia
os dois caminhos. Um, ensaiado por oito anos, mas transferiu a maior parte dos
benefícios aos já contemplados, à custa do arrocho salarial, do desemprego e da
pobreza das grandes maiorias. Fazia políticas ricas para os ricos e pobres para
os pobres. O Brasil fez-se um sócio
menor e subalterno ao grande projeto global. Esse não era o projeto de um país
soberano.
O povo
percorreu também o outro caminho, o do
acerto e da felicidade possível. Nesse, ele teve centralidade. Um de seus
filhos, Lula, conseguiu, com políticas públicas voltados aos humilhados e
ofendidos, que uma Argentina inteira fosse incluída na sociedade moderna. Dilma
Rousseff levou avante, aprofundou e expandiu essas políticas.
A
questão de fundo de nosso país está sendo equacionada: garantir a todos, mas
principalmente aos pobres, o acesso aos
bens da vida, superar a espantosa desigualdade e criar, mediante a
educação, oportunidades aos pequenos para que possam crescer, se desenvolver e
se humanizar como cidadãos ativos.
Esse
projeto despertou o senso de soberania do Brasil, projetou-o no cenário mundial
com uma posição independente, cobrando uma nova ordem mundial, na qual a
humanidade se descobrisse como humanidade.
O
desafio para a presidente Dilma não é só consolidar o que já deu certo e
corrigir defeitos, mas inaugurar um novo ciclo de exercício do poder que
signifique um salto de qualidade em todas as esferas da vida social. Pouco se
conseguirá se não houver uma reforma política que elimine de vez as bases da
corrupção e que permita um avanço da democracia representativa, com a
incorporação da democracia participativa. É urgente uma reforma tributária para
que haja mais equidade e ajude a suplantar a abissal desigualdade social.
Dilma, nos debates, apresentou um leque significativo de transformações a que
se propôs. Pela seriedade e sentido de eficácia que sempre mostrou, podemos
confiar que acontecerão.
Há
questões que mal foram acenadas nos debates: a importância da reforma agrária
moderna que fixa o camponês no campo com todas as vantagens que a ciência
propicia. Importa ainda demarcar e homologar as terras indígenas, muitas
ameaçadas pelo avanço do agronegócio.
Por último, e talvez o maior dos desafios, vem o
campo da ecologia. Severas ameaças pairam sobre o futuro da vida e de nossa
civilização. O Brasil, por sua riqueza ecológica, é fundamental para o
equilíbrio do planeta crucificado. Um novo governo Dilma não poderá obviar a
essa questão que é de vida ou morte para a nossa espécie.
Que o
espírito de sabedoria e de cuidado oriente as decisões difíceis que a
presidente Dilma Rousseff deverá tomar.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, sociais, econômicas, financeiras e
ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das
potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade,
em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da
modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; b) a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades , também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 20140, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir uma imediata,
abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se
absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema
financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança
alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal;
defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e
inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento
– estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos,
gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande
cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades
e potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os brasileiros.
Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e
que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos
do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da
internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o
nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!...