segunda-feira, 30 de maio de 2016

A CIDADANIA, A FORÇA DA AUTOGESTÃO DAS CRISES E A RIQUEZA DO TECIDO CULTURAL

“Hora de olhar para a crise dentro de nós
        Não precisa de habilidades mediúnicas, tampouco superpoderes, para adivinhar qual é a palavra de ordem nos tempos modernos, no Brasil e em muitas outras partes do mundo. Aqui, em terras tupiniquins, ela está presente nas manchetes dos jornais, nas conversas de corredor, nas discussões em mesas de bar e, sobretudo, na fila do supermercado. Sim, é a dita-cuja que tem tirado o sono de muita gente. Inclusive, eu.
         Nesta fase, em que as madrugadas têm me feito companhia, acabei refletindo horas a fio; e entendi que tudo que materializamos fora acaba sendo criado e potencializado dentro de nós. Cresce do mesmo modo quando adicionamos fermento à massa de pão, por exemplo. Ele se mistura quimicamente com a farinha e, em questão de minutos, multiplica-se cinco, 10 vezes em relação ao tamanho original.
         Isso é tão sério e real que acabamos por nos sentir pressionados, alimentando uma neurose coletiva, cristalizada pelo pensamento em massa. Acredite: quanto mais as pessoas – um amigo, colega de trabalho, irmão, tia, desconhecido ou você próprio – falam de crise, mais o campo energético dela se fortalece, tornando-se quase indestrutível, aos nossos olhos.
         As consequências? Nunca se usou tantos ansiolíticos e antidepressivos como nos dias atuais, no Brasil. Os consultórios psiquiátricos e psicológicos, por sua vez, estão com fila de espera por atendimento.
         A crise, de fato, está aí e não pode ser ignorada. Mas o meu convite é para aproveitarmos a oportunidade (sim, a crise pode ser uma oportunidade) e sermos capazes de olhar para a crise que habita dentro de nós, ponde em xeque as nossas crenças, verdades e, inclusive, a nossa forma de encarar o mundo à nossa volta.
         Há muitos autores, coaches e consultores propagando a ideia de que crise são, na verdade, oportunidades de crescimento e aprendizado. Realmente, se tivermos sabedoria, poderemos passar por esta e tantas outras que poderão vir, aprendendo muito mais do que julgávamos ser possível, sem estarmos presos nela, fazendo as nossas reformas mais íntimas.
         É como se estivéssemos sendo estimulados a deixar de investir energia com a crise lá fora para nos concentrarmos e despendermos atenção com a crise interna do ser humano. Em tese, supõe-se que, se cada um resolver a sua, o tal campo energético perde forças e voltamos a nos reempoderar. Faz sentido? Para mim, tem feito.
         Esta pode ser uma maneira de olhar capaz de curar-nos de nossas mazelas, autossabotagens e procrastinações, contribuindo, de quebra, para o inconsciente coletivo – o supracitado campo energético – com muito otimismo, boas energias e transformações.
         Outro dia, li que a crise realmente não existe. Que ela é inventada por um grupo de pessoas.  Um sai dizendo, que aumenta para o outro, que por sua vez segura o dinheiro. E assim, em doses homeopáticas, ela vai se consolidando e tomando cada vez mais corpo.
         Por fim, talvez uma possibilidade seja não entrarmos na sintonia da crise lá fora e cada um mergulhar na sua própria crise. A ideia é abrir a possibilidade de identificar, dentro de nós, onde residem os nossos bloqueios, para desfazê-los de vez, e podermos seguir as nossas vidas como tem que ser: felizes, abertos e rodeados de muito amor.”.

(FLÁVIO RESENDE. Jornalista, coach ontológico e palestrante motivacional, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 27 de maio de 2016, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Sequelas na cultura
        A decisão de unir educação e cultura em âmbito ministerial provocou reações diversas. Esse contexto é oportunidade para uma ampla reflexão a respeito da importância do adequado tratamento da cultura, o que ultrapassa operações de crédito advindas de leis de incentivo, o suporte que se oferece para a realização de eventos, shows e projetos que contribuem para a promoção das diferentes artes. Demanda-se uma compreensão de cultura abrangente, que permita reconhecer o seu alcance no conjunto da vida de um povo. É da cultura quem nasce uma postura cidadã adequada, substrato de uma política que é praticada a partir dos parâmetros de estadistas, com a nobreza da solidariedade, permitindo superar o “loteamento” do poder, os favorecimentos que ameaçam o bem comum.
         A cultura hospeda uma essencialidade que exige a atenção de todos, pois ela contempla o que o homem faz nas muitas dinâmicas da vida, criando valores com força de impulsionar na direção das inovações, inventividade e competência. Eis o enorme desafio, que é incomparável com o labor de produzir um evento, um show, um projeto, independentemente de sua complexidade.
         A cultura revela e determina a maneira particular como vive um povo, o modo como as pessoas se relacionam com Deus, com a natureza e com os outros, tecendo um estilo de vida comum. Portanto, a cultura abrange valores que animam e fortalecem – e contra valores que desfiguram e ameaçam. Define os costumes e a convivência social, o modo de ver o mundo que influencia determinantemente os discernimentos, escolhas e juízos a respeito da realidade, dos procedimentos e dos processos em curso. As dinâmicas que dão forma à cultura constituem processo vital e permanente. Provocam transformações e cristalizações que podem impedir avanços ou garantir entendimentos lúcidos, com influências determinantes na realidade histórica e social. Investir nesses processos é, principalmente, responsabilidade de dirigentes e líderes. Constitui tarefa que ultrapassa as fronteiras do tratamento formal e conceitual do âmbito da educação, pois, entre outros aspectos, deve contemplar, por exemplo, o funcionamento das instituições, promovendo ajustes que possibilitem projetos exitosos e conquistas.
         A constituição da realidade cultural necessária para gerar respostas novas diante das necessidades do mundo contemporâneo exige lucidez e corajoso empenho de todos. Na direção oposta a esse caminho, a sociedade continuará a conviver com vícios, desvirtuamentos e estreitezas que aprisionam a cultura nos parâmetros da mediocridade. E todos continuarão a pagar um preço alto em razão dos atrasos, do comodismo e de uma compreensão com horizonte limitado, que inviabiliza o crescimento e o desenvolvimento integral. Sem a adequada reconfiguração da cultura, o povo continuará a sofrer com os descalabros institucionais, com o inadequado tratamento do é que de domínio público.
         O investimento necessário no tecido cultural supõe lucidez, ousadia e, particularmente, a coragem de atuar para além de comodidades individuais e partidárias. Certamente, qualquer instituição que sofre com atrasos, descompassos e, consequentemente, oferece à sociedade uma contribuição que está aquém de suas possibilidades encontra-se nessa situação porque é regida por um tecido cultural que assenta seus integrantes na mediocridade, na incompetência de juízos, na falta de criatividade e de inventividade. E líderes autoritários, incompetentes para o diálogo e que estão propensos à barganha são os grandes responsáveis por esse déficit. Eles geram dependências e dívidas impagáveis, imobilizam pessoas que caem na armadilha de ficar “devendo favor”. Esses líderes e esses funcionamentos medíocres estão aprisionados nos “favores” concedidos.
         Tarefa exigente, que por vezes requer corrigir décadas de atrasos sem desconsiderar os desafios próprios do atual momento, é preciso investir no tecido cultural. Assim será possível tratar as paralisadoras sequelas na cultura, estabelecendo novas dinâmicas capazes de conduzir a sociedade rumo a novos tempos, de mais justiça, solidariedade e paz.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em abril a ainda estratosférica marca de 435,6% para um período de doze meses; e mais ainda em abril, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 9,28%, e a taxa de juros do cheque especial em históricos 308,7%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  






    

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