“Confiança
e realidade
A economia brasileira
entrou em recessão no segundo trimestre de 2014 e não saiu até agora. Se a
projeção para a variação do PIB do segundo trimestre estiver certa (-0,7%), a
queda desde o pico terá sido próxima a 8%. A taxa de desemprego subiu quatro pontos
percentuais no período. O clima, no entanto, está mudando. As sondagens com a
indústria e o consumidor começam a mostrar uma volta importante da confiança,
especialmente por conta de expectativas melhores no futuro. Os estoques na
economia vêm recuando e os custos de produção estão menos pressionados. A
perspectiva de uma política econômica mais estável e eficiente, que leve à
queda da inflação e das taxas de juros, reforça a percepção de melhora na
economia.
O
otimismo também contagiou o mercado financeiro. O Ibovespa subiu 30% este ano e
a taxa de câmbio se valorizou quase 20%. O CDS spread, uma medida de
risco-país, caiu pela metade, de 500 para menos de 300. É verdade que parte
desse movimento foi global, após a sinalização dos bancos centrais do G-7
(especialmente o Fed) de políticas monetárias ainda mais expansionistas. Mas os
ativos brasileiros apresentaram desempenho acima da média dos emergentes, por
conta dos fatores domésticos. As contas públicas seguem deficitárias e o grau
de alavancagem pública e privada ainda é elevado. Esta melhora da confiança e
do ambiente de mercado é fundamental para a retomada da atividade. A confiança
desperta o “espírito animal” dos agentes econômicos, que voltam a investir e
consumir, fazendo a roda da economia girar. No entanto, a confiança não
funciona como instrumento mágico, que, por si só, pode sustentar o crescimento.
E como
estão os fundamentos da economia brasileira? Em boa parte, de fato, melhores do
que no passado recente. A taxa de câmbio está mais próxima de seu equilíbrio, o
que permitiu o ajuste das contas externas. Os preços administrados se
realinharam, e, depois de um período de alta, a inflação começa a recuar. O
excesso de oferta gerado pela demanda artificialmente inflada vem sendo
corrigido, ainda que com o penoso custo de demissões e fechamento de plantas e
pontos comerciais. A política econômica parece mais coesa e mais alinhada com a
busca da eficiência. O fundamental ajuste das contas públicas, no entanto,
ainda está por vir. Não adianta uma nova equipe de bordo, motor mais potente,
ajustes na aerodinâmica se persiste o rombo no casco do navio. O
comprometimento da equipe econômica com o ajuste fiscal está claro, mas sabemos
que o processo é longo e difícil. O limite para o crescimento dos gastos é
importante, mas não basta. São necessárias medidas que tornem factível seu
cumprimento. A lista é longa, começando pela reforma da Previdência,
desvinculações, e passando por racionalização de gastos em diversas frentes. É
preciso também equacionar as finanças de estados e municípios e de algumas
empresas estatais.
Há
razões para o otimismo, mas é cedo para relaxar. As contas públicas seguem
deficitárias e o grau de alavancagem pública e privada ainda é elevado. É
fundamental que as reformas avancem para que a melhora da confiança se sustente
e efetivamente impulsione a economia.”.
(CAIO MEGALE.
Economista do Itaú Unibanco, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de agosto de 2016, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de ARISTIDES
JOSÉ VIEIRA CARVALHO, médico, mestre em medicina e especialista em clínica
médica e em medicina de família e comunidade, e que merece igualmente integral
transcrição:
“Espiritualidade
e saúde
Os avanços advindos das
observações e dos estudos realizados em várias partes do mundo têm demonstrado
que a visão fragmentada do ser humano já não se sustenta, e precisa ser
substituída por um olhar integral, que vê a pessoa como um todo. Isso tem a ver
com a dignidade do ser humano e, com certeza, com a sua saúde. E é aqui que
surge a necessidade de discutir sobre a importância da espiritualidade na saúde
das pessoas.
A
Organização Mundial da Saúde (OMS), atenta a esses avanços, introduziu em 1998,
em seu conceito de saúde, a dimensão espiritual. O conceito se ampliou e passou
a ser “um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, social e
espiritual, e não meramente a ausência de doença”. No ano de 2002, a OMS, ao
divulgar o conceito de cuidados paliativos, novamente destacou a preocupação
com a dimensão espiritual.
A
palavra espiritualidade, entretanto, ganhou vários conceitos. Não há um
consenso em relação a uma definição única. Muitos a confundem com religião ou
religiosidade, que não são sinônimas de espiritualidade, embora possam
alimentá-la e fortalece-la. A espiritualidade tem a ver com o “cultivo das
coisas do espírito”, com os valores que estão no íntimo, no “interior do
interior”, usando uma expressão do cantor mineiro Vander Lee, e que levam a
redescobrir e a dar sentido àquilo que acontece no cotidiano da vida. Trata-se
de um modo de ver e se posicionar diante das coisas, das pessoas, das questões
relacionadas à existência. Cada pessoa, mesmo que não tenha se dado conta, tem
a sua espiritualidade, que pode ser mais desenvolvida, mais madura, ou tímida e
escondida.
Lembro-
de que em conversa com uma senhora, durante a atividade profissional, percebi
quão interessantes e entusiasmadas eram as suas colocações, não obstante os
seus problemas de saúde. Perguntei-lhe qual era o segredo para manter o
entusiasmo e o bom astral. Ela me respondeu recitando, de forma firme e alegre,
um texto de dom Helder Câmara: “É graça divina começar bem. Graça maior
persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca”.
Escutei
aquela senhora me falar sobre a fazia se encontrar com o significado das
coisas, a lidar com as doenças e contratempos do cotidiano. Ao ouvi-la, pude
constatar o que afirmam alguns estudos e observações dos profissionais de
saúde: as pessoas que amam a vida e que, mesmo com os problemas do dia a dia,
enfrentam paciente e esperançosamente as dificuldades, apresentam respostas
melhores aos tratamentos e/ou conseguem lidar de forma mais tranquila com as
doenças e agravos à saúde. Essas pessoas que mantêm uma relação amorosa com a
existência e que se deixam conduzir por valores amadurecidos no coração, tais como
solidariedade, alteridade, paciência, cuidado, atenção, acolhimento e fé, entre
outros, são as que descobriram e desenvolveram a sua espiritualidade.
Influenciada
por diferentes motivações, o interesse pela espiritualidade cresce a cada dia.
Nas discussões e nas produções científicas o tema ganha espaço e mobiliza as
categorias profissionais. Entre os marcos históricos, podemos citar as
pesquisas realizadas na década de 1960 pelos epidemiologistas George Comstock e
Kay Partridge, da Universidade John Hopkins. Esses autores publicaram no Journal of Chronic Disease que as
pessoas que apresentavam uma alta frequência a serviços religiosos mostravam
taxas de mortalidade menores. A partir desse estudo, com recorte voltado para
as práticas religiosas e outras dimensões da espiritualidade, surgiram outras
pesquisas com enfoques e perspectivas diferentes, destacando a importância da
espiritualidade e seus impactos na saúde e na qualidade de vida das pessoas.
Não
obstante as concepções divergentes sobre espiritualidade, é importante dizer
que muitos estudos e artigos científicos têm destacado que as pessoas que têm
um olhar mais abrangente e profundo em relação à vida e que, por isso, buscam
um sentido e significado transcendente para o seu viver, tendem a lutar de
forma mais leve com os seus problemas de saúde.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em junho a ainda
estratosférica marca de 470,9% para um período de doze meses; e, em julho, o
IPCA acumulado nos doze meses chegou a 8,74% e a taxa de juros do cheque
especial registrou históricos
315,7%...); II – a corrupção, há
séculos, na mais perversa promiscuidade
– “dinheiro público versus
interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 1,044 trilhão), a exigir
alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
-
Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...
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