“Faltam educacionistas
O Brasil tem alguns dos
mais renomados educadores do mundo e um dos sistemas educacionais de pior
qualidade. A explicação é que não temos educacionistas. Educadores definem
métodos, educacionistas determinam metas, estratégias, políticas. O educador é
como o cientista que descobre a vacina, o educacionista é o sanitarista que
desenha a logística para a distribuição da vacina.
Para o
educacionista, a educação é o vetor do progresso. Ele acredita que o Brasil
precisa escolher uma estratégia para atingir excelência educacional e assegurar
que, desde a primeira infância, todo brasileiro tenha acesso à educação com a
máxima qualidade. A estratégia educacionista passa pelo envolvimento do governo
federal na educação de base. Toda criança deve ser primeiro brasileira, não
municipal.
Para
alguns educacionistas, o caminho seria o governo federal transferir a cada
família o mesmo valor necessário para que ela busque a escola de seus filhos.
Para outros, essa solução não traria igualdade. Por isso, há quem proponha
aumentar o valor do Fundeb por criança, deixando cada prefeito administrar as escolas
de seu município. E há os que acreditam que esse caminho não quebre a
desigualdade entre cidades, porque a educação exige professores bem-formados e
capacidade gerencial que não estão disponíveis na cidade.
Um
terceiro grupo de educacionistas defende a substituição paulatina dos frágeis
sistemas municipais por um robusto sistema nacional único: uma carreira federal
de professores com requisito mínimo de formação, dedicação, avaliação e plano
de remuneração, padrões nacionais para a qualidade de edificações e
equipamentos.
Para
obter excelência, o custo de cada aluno deve ser de cerca de R$ 15 mil por ano,
que permite pagar um salário de R$ 15 mil por mês ao professor, em salas com 30
alunos, e financiar todos os demais gastos da escola. Se a implantação desse
sistema ocorresse ao ritmo de 200 novas cidades por ano, o sistema nacional se
completaria em 25 a 30 anos. Supondo que se mantenha o número de 50 milhões de
alunos, e assumindo um crescimento econômico de 2% ao ano, com a manutenção da
atual carga fiscal, o custo total, ao final dos 25 anos, não passaria de 6,6%
do PIB. Essa alternativa é necessária e possível.
Quatro
fatores dificultam que o Brasil aceite o educacionismo. Nossos líderes não veem
educação como vetor do progresso; a mentalidade nacional não tem o sentimento
de que o Brasil é vocacionado para a produção intelectual com padrões de
qualidade internacional; nossa consciência sofre resquícios da escravidão e
aceita a ideia de que a escola não deve ter a mesma qualidade para todos; e o
imediatismo brasileiro não quer esperar os resultados de uma estratégia que
demora décadas para chegar a todo o país.
Por
isso, é mais fácil ter bons educadores do que educacionistas de sucesso.”.
(Cristovam
Buarque. Professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), em artigo
publicado no jornal O TEMPO Belo
Horizonte, edição de 9 de outubro de 2020, caderno OPINIÃO, página 25).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no jornal FOLHA DE S.PAULO, edição de 8 de
outubro de 2020, caderno opinião,
coluna TENDÊNCIAS / DEBATES, página A3,
de autoria de Julio Vasconcellos,
economista, é sócio do fundo de venture capital Atlântico; foi fundador do
Peixe Urbano e do Canary e primeiro representante do Facebook no Brasil, e que
merece igualmente integral transcrição:
“O
tsunami da transformação digital
Em ‘O Sol Também se
Levanta’, de Ernest Hemingway, um empresário explica como faliu: “Gradualmente
e, então, de repente”. São recorrentes as histórias de respeitados negócios que
têm sido derrubados pela onda da transformação digital. A velocidade da
transformação já estava acelerando, mas, com a pandemia, a onda virou um “tech
tsunami”.
Todos
os anos fazemos um estudo extenso de centenas de indicadores para entender o
estado atual da transformação digital. Em 1º de outubro último, pela primeira
vez decidimos abrir os resultados ao público na conferência anual da empresa de
educação executiva StartSe e mostrar como o avanço da tecnologia ocorre de
forma exponencial. Aqui compartilhamos alguns dos aprendizados mais marcantes.
Para
não atribuir total evolução ao coronavírus, é importante lembrar que o Brasil
já está nessa jornada há mais de uma década. Avaliamos que o valor das empresas
de tecnologia como percentual do PIB triplicou na última década. Mesmo assim,
estamos longe de um teto. Enquanto o Brasil está com 3% de penetração de
tecnologia, os Estados Unidos chegam a 39%, e a Índia, emergente como nós, bate
os 13%.
Percebemos
a transformação digital no varejo há tempos. Quando cruzamos dados da
Euromonitor com a MCC-ENET, que levanta indicadores do mercado online
brasileiro, vimos a participação do e-commerce no varejo aumentar 5% na última
década, chegando a 7% no início da pandemia, em março. Em seguida, avançamos em
dez semanas os mesmo 5% que havíamos percorrido em dez anos. Em maio, estávamos
em 12,6%, antes de o comércio reabrir e voltarmos a números ainda bem acima da
tendência histórica.
No
sistema financeiro, o Nubank, líder dos bancos digitais, também caminha a
passos largos. Demorou dois anos para chegar ao seu primeiro milhão de clientes
e hoje, já com 25 milhões, adiciona 1 milhão de clientes a cada mês.
Após a
pandemia, estima-se que 20 milhões de brasileiros tenham se “bancarizado” por
conta da ajuda emergencial distribuída, em grande parte, por meio de canais
digitais (o aplicativo Caixa Tem foi baixado 30 milhões de vezes, de acordo com
nossa análise de dados do Appfigures).
Para
prever o curso da digitalização, vale olhar para onde o capital financeiro e
humano estão fluindo. No caso do primeiro, a tendência é clara: investimentos
em venture capital no Brasil superaram US$ 2 bilhões, depois de quase dobrarem
anualmente por três anos seguidos. Fontes de capital mais conservador também
apontam uma forte migração. Em entrevistas, 30 das famílias mais ricas do país
nos afirmaram a intenção de dobrar a alocação de investimento de venture
capital, nos próximos cinco anos, para participarem da imensa criação de valor
que traz a digitalização.
Quanto
ao capital humano, em pesquisa com cerca de 2.000 alunos das faculdades mais
seletivas, ouvimos de 26% deles a vontade de trabalhar em empresas de
tecnologia. Não só isso: 36% declararam sua intenção de empreender. Os
incumbentes que se segurem.
A
digitalização tem facilitado o acesso, tanto físico quanto financeiro, à
educação. A Faculdade Descomplica oferece cursos de graduação e pós-graduação a
distância por um preço 70% abaixo do de faculdades tradicionais – um valor
viável para uma faculdade que nasce 100% digital. O número de alunos no ensino
a distância foi multiplicado por dez vezes na última década, e agora, com a
crise sanitária, esse crescimento acelerou.
É fácil
ficar perdido em dados e esquecer que por trás de cada número existe uma
história. Em junho, Dona Lúcia se matriculou no curso de pedagogia do
Descomplica. Dona Lúcia, que só terminou o ensino médio depois dos 40 anos,
agora quer atuar como professora na mesma escola pública em que trabalha como
faxineira há mais de 25 anos.
A
transformação digital é o grande equalizador: Vai além do glamour dos
unicórnios e do aplicativo da vez. Histórias como a de Dona Lúcia são retratos
de uma maioria num país onde 25% da população vive na pobreza, mais que metade
dos adultos não terminam o ensino médio e 14 milhões estão desempregados.
Quando
paramos de buscar figuras mitológicas, e começamos a enxergar o contexto maior,
a promessa da digitalização fica mais evidente: um futuro melhor, mais igual e
acessível a todos.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno desenvolvimento
da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 130 anos
depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de
uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças
vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da
ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação,
da solidariedade, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de
310,20% nos últimos doze meses, e a taxa
de juros do cheque especial chegou ainda em históricos 112,59%; e já o IPCA, em
setembro, também no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 3,14%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 518
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de
R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma
lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$
100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor
privado, à falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia,
ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2020, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos
Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,651 trilhão (44,79%), a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,004 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega,
do direito e da justiça:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de
infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à
luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização
das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
58 anos
de testemunho de um servidor público (1961 – 2019)
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...
- Por
uma Nova Política Brasileira ...
- Pela
excelência na Gestão Pública ...
- Pelo
fortalecimento da cultura da sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares
do desenvolvimento integral: econômico; social, com promoção humana, e,
ambiental, com proteção e preservação dos nossos recursos naturais ...
- A
alegria da vocação ...
Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou
asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...
E
P Í L O G O
CLAMOR
E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador, Legislador e Libertador, fonte de
infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra sobre
pedra
Dos impérios edificados com os ganhos espúrios,
ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da
dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim! Eternamente!”.
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