“Persuasão
Com
tantas notícias falsas circulando atualmente, reina uma sensação de que as referências
fundamentadas na ciência e nos métodos estão desaparecidas. Isso não é verdade!
Elas continuam aí esperando os que corajosamente construirão argumentos claros
e fundamentados. Uma competência de performance pode ajudá-lo, caro leitor, a
fazer uma interpretação melhorada do que pode estar por trás dessas falsas
ideias.
A
persuasão, como toda competência, busca suas bases na história antiga. Desde a
Grécia, século V, essa capacidade de elevar a linguagem, escrita ou falada a um
nível tão eficaz que conseguiria agradar, comover e persuadir o interlocutor, é
aplicada e estudada. Entretanto, três conceitos são muito importantes para sua
compreensão: a retórica (do latim “rhetorica” ou do grego “rhêtorikê” está
ligada ao convencimento e à persuasão.
De forma
objetiva, é a arte de se expressar e prender a atenção. Nas suas origens, nos
remete aos ensinamentos do filósofo Aristóteles e sempre foi apresentada ao
lado da lógica. Naquela época, os chamados “sofistas” utilizavam-se das
estratégias da fala e da argumentação para conduzir o povo e convencer os
juízes.
A
retórica elabora os argumentos fortes, a oratória constrói uma forma agradável,
ritmada e eficaz de transmitir o discurso, e a dialética promove o confronto e
o debate das ideias pelo diálogo. Toda a ciência grega foi utilizada para
estruturar e fortalecer os argumentos, fossem eles religiosos ou
político-sociais. A evolução político-social foi aprimorando as formas de
inter-relação, e a ciência da argumentação ganhou novas roupagens. Na linguística,
nomes fortes como Ferdinand de Saussure ou Hans-Georg Gadamer modernizaram os
conceitos, e estes ganharam espaço em outras ciências, como nas teorias de
Jacques Lacan, na psicologia e na psicanálise.
Acredito
que essa competência, por ora, pode ajudar você em dois pontos. Primeiro:
estabeleça, escolha e estruture o texto, o contexto, o pretexto e o intertexto
quando for se expressar. Uma pessoa que usa o mesmo texto o tempo todo cansa as
relações. Uso aqui um texto fundamentado e estruturado porque escrevo um
artigo; se o contexto fosse outro, outro texto, outra maneira de me expressar
seria usada. Esclareça o pretexto, ou seja, o objetivo-chave que quer quando se
comunicar. O intertexto é a necessária percepção de tudo o que envolve o
processo de persuasão e que não fica evidente.
Segundo
ponto: falar de persuasão é pensar em caminhos de negociação efetiva. Um método
fundamentado é amplamente apresentado pelo professor William Ury, em um dos
TEDs mais visualizados: “O caminho do não ao sim”. Em suas obras “Chegando ao
Sim com Você Mesmo” e “Negocie para Vencer”, o professor fala de alguns passos
para quebrar as objeções e transformar seu processo de comunicação em uma
conquista emocional. Em momentos de negociação, saiba: a) vá para o camarote, aprenda
a distanciar-se do fato, em alguns casos saia de cena mesmo; b) reformule. Pode
parecer simples, mas aprenda a adequar seu discurso. Reformular pode ajudar
muito, primeiramente a você; c) passe para o lado do outro. Dizem que essa ação
no fundo é impossível, mas o movimento de compreensão da “pele na qual o outro
habita” facilita a persuasão. Compreender o outro no cenário desafiador dele
nos humaniza; d) construa pontos douradas. Significa fortalecer pontos de
ganhos mútuos. Pontes douradas significam o mais importante caminho construído
nas duas direções dos que negociam; e) por último, faça o outro cair em si, não
de joelhos.
Quando
buscamos os caminhos da persuasão, precisamos ajustar nossas intenções
fundantes. A vida não é um jogo de cabo de guerra, em que se busca
freneticamente ter razão. Que nosso discurso seja tão bem elaborado que fique
claro por si mesmo. Não é uma busca louca por convencer o outro, mas é,
sobretudo, um caminho de elaboração de ideias claras. Mesmo obtendo-se isso,
ainda deve sobrar espaço para o que o outro consegue ou permite perceber da
vida, de si mesmo, dos outros e do mundo. Persuasão não é ditadura da palavra.
Persuasão é celebração de bons argumentos democraticamente apresentados! Boas
escolhas!”.
(Otávio Grossi. otaviogrossi@saudeintegral.com.br,
em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 9 de
março de 2021, caderno INTERESSA, página 31).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso
trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo
publicado no jornal FOLHA DE S.PAULO, edição de 28 de março de 2021,
caderno opinião, coluna TENDÊNCIAS / DEBATES, página A3, de
autoria de Luiz Carlos Bresser Pereira, professor emérito da Fundação
Getúlio Vargas, ex-ministro da Fazenda (1987, governo Sarney), da Administração
e da Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia (1995-1998 e 1999, governo
FHC), e que merece igualmente integral transcrição:
“Democracia liberal ou
democracia republicana?
Fernando
Schüler é um brilhante intelectual liberal. Recentemente escreveu um belo
artigo nesta Folha (“Rawls em tempo de barricadas”; 10.fev.21) em
homenagem a John Rawls – o grande filósofo político liberal progressista que renovou
a filosofia política ao publicar nos Estados Unidos, em 1971, “Uma Teoria da
Justiça”. Rawls não foi um neoliberal: não defendeu nem o liberalismo econômico
radical nem um individualismo exacerbado, que definem o neoliberalismo.
Em
meados do século 19, os liberais se tornaram conservadores e, desde o início do
século 20, defensores da democracia – à qual antes de opunham. Mas de uma
democracia adjetivada, que chamam “democracia liberal”. Expressam assim seu
conservadorismo panglossiano, sua crença de que os países ricos vivem no melhor
dos mundos possíveis.
Eu
respeito o liberalismo político porque foi no seu quadro que, no século 18,
foram definidos e começaram a ser garantidos os direitos civis, mas sei o mal
que seu vezo individualista causou à democracia americana. Por isso prefiro
chamar as melhores democracias hoje existentes no mundo, como a dinamarquesa ou
a suíça, de “democracias republicanas”, que rejeitam o individualismo
exacerbado e defendem a prioridade do interesse público sobre os interesses
individuais.
Schüler
lembra que Rawls definiu dois princípios de justiça. O primeiro, o da igualdade
de oportunidades; o segundo, o “princípio da diferença” – poderíamos admitir a
desigualdade desde que suas causas beneficiassem a todos, não existindo
alternativas que beneficiassem mais ou menos favorecidos.
Os dois
princípios foram apresentados por Rawls como o resultado kantiano do uso da
razão moral, mas eu não posso deixar de ver neles seu condicionamento histórico
– o fato de seu livro ter sido escrito nos Estados Unidos no pós-guerra.
A
igualdade de oportunidades é “o sonho americano” que nunca efetivou. É um
princípio meritocrático, que é preciso avaliar criticamente.
O
princípio da diferença reflete o sucesso do capitalismo americano naquela
época, quando a produtividade não parava de aumentar. A desigualdade era
enorme, mas os impostos eram progressivos e todos experimentavam melhoria do
seu padrão de vida. Embora Rawls não diga isso, a premissa de sua teoria era a
de que os Estados Unidos do seu tempo não estavam longe do ideal de justiça. Eu
conheci aquele capitalismo, porque estudei ali 18 meses entre 1960 e 1961. Era
impressionante a coesão da sociedade americana daquela época, que transparecia
nas pessoas e sua convicção de que a democracia americana era o modelo para o
resto do mundo.
Sessenta
anos depois, o quando é diferente. Os impostos se tornaram regressivos, a
desigualdade aumentou, a taxa de crescimento diminuiu, o padrão de vida de
metade da população americana estagnou, a coesão social desapareceu. E hoje a
democracia americana se aproxima de uma plutocracia.
Os fatos
históricos novos que explicam essa decadência foram a virada neoliberal de 1980
e o abandono do republicanismo. Foi o mergulho da sociedade americana no liberalismo
econômico e em um liberalismo político radicalmente individualista. Virada de
um país que fora sempre desenvolvimentista (manteve elevadas suas tarifas sobre
a importação de bens manufaturados até 1939) e começara a se tornar social com
Franklin Delano Roosevelt e o “New Deal”.
A virada
neoliberal levou o capitalismo rico a abandonar os princípios
social-democráticos, e, no caso dos Estados Unidos, os princípios republicanos
que foram influentes desde a Revolução Americana.
Hoje, a
democracia liberal é o regime político de sociedades polarizadas nas quais os
adversários políticos são transformados em inimigos. É a democracia de “um
mundo em barricadas”, como assinala Schüler.
Barricadas
que não precisariam existir se a democracia fosse uma democracia republicana;
se não estivesse baseada no individualismo, mas no civismo; se não falasse
apenas em direitos, mas também das obrigações que cada cidadão tem para sua
nação.
Schüler
diz que vivemos em sociedades abertas, não em comunidades. De fato, pensar que
sociedades de massa possam ser comunidades é utópico. Mas podemos caminhar
nessa direção se deixarmos de reforçar o individualismo liberal e definirmos
como valor maior o republicanismo e tivermos como objetivo uma democracia
republicana.”.
Eis,
portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e
reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história –
que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
b) o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são:
II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 520
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...);
c) a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2021, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 2,236 trilhões (53,83%), a título de juros, encargos, amortização e financiamentos (ao menos com esta última rubrica, previsão de R$ 1,603 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e
eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz:
“... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos,
mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite
da dívida pública...”).
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
59
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2020)
- Estamos nos descobrindo através da Excelência
Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando
nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira ...
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da
sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral:
econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e
preservação dos nossos recursos naturais ...
- A alegria da vocação ...
Afinal, o Brasil é uma
águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão
olímpica e de coragem! ...
E P Í L O G O
CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador,
Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e
não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados
com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do
saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse
construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e
dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim!
Eternamente!”.
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