“Desafios para 2021
Em
2020, o futuro resolveu nos pregar uma peça e fazer uma visita inesperada e
perturbadora, revelando sua face distópica e arbitrária, mas também destacando
uma série de virtudes que serão indispensáveis para sobreviver em um mundo cada
vez mais instável, inseguro e complexo.
Quem
imaginaria, às vésperas das festas de final de ano de 2019, que mais de 1,6
milhão de pessoas perderiam a vida e as rotinas de todos os demais seriam
profundamente afetadas pela pandemia. A angústia do isolamento, para os que
tiveram recursos e perseverança para se protegerem, e o medo e a contaminação,
para aqueles que foram obrigados a permanecer nas trincheiras, foram
incorporados à vida de cada um. Exceto, é claro, para aqueles que vivem em
delirante negação, ou que veem a pandemia como uma oportunidade para perseguir
objetivos inomináveis.
O
encontro da pandemia com a onda de populismo não poderia ter sido mais trágico.
Como era de se esperar, onde prevaleceu a polarização, o obscurantismo e a
desconfiança, como no Brasil, México, Estados Unidos ou na Índia o vírus se
propagou de forma mais ampla e matou mais pessoas. Dada a natureza amoral e
oportunista do vírus, o impacto da pandemia sobre a população tem sido uma
consequência, sobretudo, da capacidade e dos esforços coletivos para a
prevenção e o tratamento da doença.
Ao
minimizar os riscos da pandemia, conspirar contra as medidas preventivas de
afastamento social, promover aglomerações, desarticular políticas de saúde e se
contrapor, de múltiplas formas, à vacinação, governantes populistas atraíram
para si a responsabilidade política e jurídica por milhares de mortes que
poderiam ter sido evitadas, como alertou José Carlos Dias, ex-ministro da
Justiça e presidente da Comissão Arns de Direitos Humanos, em recente
entrevista à esta Folha.
Em
sentido oposto, este estranho ano também colocou em evidência uma série de
virtudes que se demonstraram indispensáveis no enfrentamento da atual crise e
que certamente serão essenciais para lidar com as crises climáticas, sanitárias
ou mesmo sociais que se armam no horizonte.
Produzir
e levar a ciência à sério, não se deixando embalar pela ideologia ou
resignação, tem sido uma virtude essencial na luta contra a pandemia. A
produção, em tempo recorde, da vacina, deixa claro que sem a ciência não há
como retomarmos a normalidade. Sem os meios digitais e o emprego sistêmico de
tecnologias de comunicação, ficaríamos paralisados. Sem logística, morreríamos
na praia.
A
virtude do bom governo, pautado em critérios racionais, ético e democráticos,
capaz de promover a coordenação, inclusive internacional, em favor do bem
comum, também tem se demonstrado essencial. Basta olhar para Nova Zelândia,
Canadá ou Alemanha.
Por fim,
sem a virtude da solidariedade, exercitada em sua dimensão humana sobretudo por
profissionais de saúde, ou coletivamente pelos sistemas de proteção social e de
bem-estar, a catástrofe seria ainda maior. Muitos outros segmentos também
envidaram esforços para acolher os mais vulneráveis e manter a própria economia
em funcionamento, mitigando os efeitos nefastos de atitudes irresponsáveis,
políticas e individuais, que atentam contra a vida.
O grande
desafio de 2021 é colocar limites à vaga populista, abrindo espaço para que a
ciência, o bom governo e a solidariedade social nos retirem dessa enrascada e
nos fortaleçam para enfrentar as novas borrascas que certamente teremos pela
frente.
Às
generosas leitoras e leitores, desejo um bom ano.”.
(Oscar Vilhena Vieira. Professor da FGV Direito
SP, mestre em direito pela Universidade de Columbia (EUA) e doutor em ciência
política pela USP; autor de “A Batalha dos Poderes”, em artigo publicado no
jornal FOLHA DE S.PAULO, edição de 19 de dezembro de 2020, caderno saúde,
página B3).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de
artigo publicado no site www.domtotal.com,
edição de 11 de fevereiro de 2022, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e que merece igualmente
integral transcrição:
“Poesia do viver
Jesus,
no ápice das suas orientações aos seus discípulos e às multidões, faz uma
evocação que indica a importância da poesia do viver. Ensinamentos denso,
reunidos no Sermão da Montanha, Evangelho de Mateus, uma Carta Magna. Os
ensinamentos contêm metas existenciais audaciosas e exigentes, como amar os
inimigos e perseguidores. Vivências que requerem uma resiliência humana e
espiritual a ser alcançada por meio de investimentos: exercícios cujo ponto de
partida muito ultrapassa a lógica da simples, e indispensável, racionalidade. O
Mestre delineia um percurso discipular que inclui a ternura advinda da poesia
do viver. Eis o enorme desafio: não pensar que a valorização da vida significa
a defesa cega de certas situações, a partir de medos que levem a atitudes mesquinhas.
O egoísmo enjaula corações na disputa fratricida e na insana busca pelo
acúmulo, no anseio de ajuntar tudo para si, perpetuando cenários de
desigualdades, de manipulações, para se obter fácil enriquecimento. Com essas
dinâmicas, agigantam-se as indiferenças, mesmo diante das multidões passando
fome no mundo todo.
Jesus
conhece o tamanho do desafio existencial de seus discípulos na obediência das
suas lições. Não basta a importante disciplina na obediência às leis ou normas,
ancoradas na fidelidade moral, para que seja reconhecida a dignidade maior do
ser humano. Jesus convida, então, aqueles que lhe seguem a buscar a poesia do
viver. Assim, podem se capacitar, no dia a dia, para se tornarem instrumento a
serviço da construção e promoção da vida plena, em todas as suas etapas. Veja o
simbolismo poético da contemplação proposta, quando o Mestre convida: “Olhai os
pássaros do céu, não semeiam, não colhem, nem guardam em celeiros... olhai como
crescem os lírios do campo. Não trabalham, nem fiam. No entanto, nem Salomão,
em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só dentre eles”.
O
conhecedor mais credenciado do coração humano, Jesus Mestre, ensina: a
sabedoria própria da poesia do viver nasce de uma contemplação que antecede
números, manuseio de instrumentos ou dados. Essa contemplação unge mentes e
corações com lições e sensibilidades essenciais a cada pessoa. A poesia do
viver não é uma simples brisa para amenizar a dureza destes tempos. É uma fonte
de sabedoria que pode alavancar percepções qualificadas, corrigir lógicas
distorcidas, apontar o rumo para que sejam encontradas soluções urgentes,
respeitando a vida humana na sua dignidade. Eis, assim, o desafio: recuperar a
poesia do viver, para se dar conta de caminhar sem perder a direção, neste tempo
em que a humanidade vive o processo de grandes transformações culturais, com
incidências sociopolíticas, econômicas, educacionais e religiosas.
Uma
grande movimentação antropológica-cultural está em curso, como placas
tectônicas que se deslocam provocando instabilidades, reconfigurando
territórios. Diante dos processos de transformação que incidem na civilização
contemporânea, não podem ser perdidos valores e princípios essenciais. Vive-se
a dinâmica de êxodo, mas migração da humanidade não pode representar o abandono
de certos tesouros, sob pena de o ser humano chegar mais empobrecido no tempo
novo em construção. E não basta salvar a própria “bagagem” durante a travessia.
A prioridade é o bem comum e todos estão convocados a contribuir com a sua edificação.
Nessa perspectiva, a poesia do viver pode garantir percepções que curam
destemperos e desequilíbrios – ameaças que levam a fracassos humanitários e
ecológicos, mas que, cada vez mais, lamentavelmente, contaminam muitos
processos da vida em sociedade. A viragem em curso, para fazer jus às
conquistas científicas e tecnológicas, patrimônios da inteligência humana, não
pode balizar a sociedade contemporânea em estreitamentos que comprometam o dom
da vida e a beleza do viver.
A
urgência de se enfrentar lógicas perversas, na política e na economia, na
cultura e até mesmo na religião, pede o indispensável resgate da poesia do
viver. Sem a poesia do viver crescerá, cada vez mais assustadoramente, o número
daqueles que desistem da própria vida, de segmentos que buscam apenas a própria
proteção sem se dedicar ao bem comum, de atitudes frias que segregam os pobres.
Crescerá a tendência de se perseguir vitórias a qualquer preço, inclusive com
artimanhas e operações perversas, de se buscar o próprio bem pela via da
manipulação, sem sensibilidade humanística. Nesse cenário obscuro, o coração
humano, mesmo diante de eventuais bens acumulados, lugares conquistados,
títulos obtidos, será incapaz de exercer adequadamente a regência da própria
vida.
É hora
de investir e exercitar-se na poesia do viver para fazer brotar uma sabedoria
espiritual que permita reconhecer o sentido da vida, conduzindo o ser humano ao
cultivo da fraternidade. Assim, pode-se recuperar o genuíno sentido de pátria –
lugar de todos, os irmãos e irmãs, iguais nas diferenças. Com a poesia do
viver, consegue-se reconhecer que a vida é vivida melhor quando há
simplicidade, e que se ganha muito com a generosidade solidária. Ajuda a
cultivar a poesia do viver a indicação da escritora Cora Coralina: “Não te
deixes destruir... ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria
tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e
na memória de gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os
sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que
têm sede.” Que a vida se ancore na poesia do viver.”.
Eis,
portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e
reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história –
que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 132 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da
democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade... e da
fraternidade universal);
b) o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são:
c) a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2022, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 2,468 trilhões (52,18%), a título de juros, encargos, amortização e financiamentos (ao menos com esta última rubrica, previsão de R$ 1,884 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e
eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br).
E, ainda, a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz:
“... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo
do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da
dívida pública...”.
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
60
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2021)
- Estamos nos descobrindo através da Excelência
Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando
nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira ...
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da
sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral:
econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e
preservação dos nossos recursos naturais ...
- A alegria da vocação: juntando diamantes...
porque os diamantes são eternos!
Afinal, o Brasil é uma
águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão
olímpica e de coragem!
E P Í L O G O
CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador,
Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e
não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados
com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do
saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse
construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e
dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim!
Eternamente!”.
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