“Diversificar
o conhecimento
O sistema educacional
formal é estruturado por áreas que fixam um certo território de cada saber. Mas
as cercas não funcionam para o conhecimento. Assim, a interdisciplinaridade, o
intercâmbio, as formações multidisciplinares eclodiram formalmente, na segunda
metade do século 20, como um refresco, oxigênio para todos os territórios
clássicos do conhecimento. A medicina aprendendo com a religião, a sociologia com
a biologia, a administração com a ciência política, a economia com a psicologia
– para citar relações bilaterais de contribuições imediatas da troca de
conhecimento. Hoje, é possível encontrarmos economistas com especialização em
gestão de pessoas, médicos especializados em gestão de negócios, engenheiros
especializados em marketing, entre tantos exemplos. Poderia passar páginas
relatando o fruto dessa “pulada de cerca do conhecimento” e o quanto a
sociedade se beneficia dela.
Mas a
sociedade do saber, fomentada nos primórdios pela Paideia grega (educação
integral), às vezes se esquece do quanto a comunhão dos saberes potencializa a
inovação e a oxigenação das ciências diversas. Assim, a sociedade rotulada e
cristalizada em jargões e preconceitos de áreas não refresca em nada as
posturas demandadas na atualidade. Ser administrador, economista, advogado,
historiador, psicólogo confere credenciais importantes para o jogo de mercado.
O advogado que se interessa e estuda também marcenaria e decoração potencializa
as competências de reconhecer detalhes, harmonia, ajustes finos, entre várias
outras. Ou no administrador que ama e estuda música se reconhecem se reconhecem
as competências da afinação, da ordem e orquestração dos elementos de um
conjunto executando uma melodia. Ou qualquer profissional que carregue consigo
o valor das vivências da infância, das horas a fio escutando estórias e
história de seus avós. Do livro que o amigo indicou, dos filmes assistidos, das
conversas e dilemas dos amigos, enfim, de tudo que você, como um radar, se
interessou em captar e transformar em conhecimento. E isto não se classifica ou
territorializa em diplomas formais, mas incrementa e amplifica o alcance de sua
ação na vida. Os diplomas são credenciais importantes. Conquiste-os, pois ali
os saberes estão organizados para pavimentar a estrada. Mas compreenda que tudo
na vida requer educação contínua, e isto clama visitas constantes a outros
territórios para assim construir, personalissimamente, profissionais
diferenciados e com competências amplificadas por suas buscas
desterritorializadas pelo saber. Este é o profissional desejado pelo mercado:
aquele que tem sabor no saber e garimpa, sem preconceitos, da música à mecânica
de aviões, saberes que lhe conferirão a ampliação de seu portfólio de reflexão
e atitudes, que certamente contribuirão para ser melhores administradores,
médicos, advogados, engenheiros, ou o que você desejar ser, desde que se
prepare para isto.
O voo
pelo conhecimento permite riqueza na diversidade, isso favorece o foco na ação,
e para multiplicar as maneiras de ver o mesmo. Aprenda a aprender! E tenha
sabor no saber. Reconheça a delícia de ser um arquiteto especializado em gestão
ou um estatístico especializado em artes plásticas. Reconheça o poder de experimentar
os múltiplos olhares que lhe aprimorarão. Autorize-se a aprender. A vida e o
mercado necessitam e agradecem sua disposição em desenvolver essa
competência.”.
(ÉRIKA
NAHASS. Professora de gestão de pessoas da FGV/Faculdade IBS, em artigo
publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição
de 9 de agosto de 2015, caderno OPINIÃO,
página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
21 de janeiro de 2008, mesmo caderno e página, de autoria de JOSÉ RENATO DE CASTRO CÉSAR, administrador
rural, mestre em turismo, integrante do Instituto Histórico e Geográfico de
Minas Gerais, e que merece igualmente integral transcrição:
“Desenvolvimento
endógeno
O desenvolvimento
endógeno (DE) exige ações sociais na economia de uma região, do seio da
comunidade para fora. Busca gerar crescimento econômico e melhoria nas
condições internas de um território. O DE deve envolver as lideranças locais e
regionais, sem a imposição de programas oriundos do poder central dos
governantes. A endogenia do desenvolvimento sustentável baseia-se na gestão das
estruturas da filosofia social, no sentido saint-simoniano, ou seja, pressupõe
concepção de conceitos e princípios políticos, econômicos e administrativos,
sendo, portanto, de caráter psicossociológico, requerendo metodologias
apropriadas para correta instalação de uma Agenda 21 local.
Vale
lembrar que a Agenda 21 foi um dos principais resultados da conferência Eco-92,
no Rio de Janeiro, em 1992. É um documento que estabeleceu a importância de
cada país se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela
qual governos, empresas, organizações não-governamentais e todos os setores da
sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas
sócio-ambientais. Cada país desenvolve a sua Agenda 21, um poderoso instrumento
de reconversão da sociedade industrial rumo a um novo paradigma, que exige a
reinterpretação do conceito de progresso, contemplando maior harmonia e
equilíbrio holístico entre o todo e as partes, promovendo a qualidade, não
apenas a quantidade do crescimento. Em se tratando de Brasil, é imperioso
resgatar as técnicas e as tarefas indígenas sob todos esses aspectos.
Vários
intelectuais de renome já aventaram questões referentes à importância do
desenvolvimento endógeno. Os prefeitos e os políticos necessitam destes
conhecimentos para assumirem a responsabilidade diante da aplicação dos
recursos que a sociedade nacional gera em cada localidade. Afinal, o
desenvolvimento e o crescimento econômico só podem ser realizados por
intermédio das pessoas. É por meio da nação, e por ela, que existe o trabalho,
a saúde, a educação, produção, comércio, a vida econômica e a história de um
povo. É pelo homem que a natureza respira e que as coisas criadas e não criadas
têm sua razão de ser e existir. É pelo homem que o envolvimento social realiza
o crescimento econômico. Entretanto, palavras e idéias, nas mãos de certos
artistas e políticos são facilmente lançadas. Assim, processos como Agenda 21,
que poderiam resolver, definitivamente, as graves questões locais, tornam-se
instrumentos de disputa de poder e fazem fracassar a política.
Os
índices econômicos regionais brasileiros não são satisfatórios, tampouco
equânimes, porque não se aplicam as técnicas da Agenda 21 e do marketing urbano
às municipalidades, nem se preconizam a transparência e a honestidade nas
administrações públicas. É fundamental o comprometimento dos residentes, em
torno de ações que auxiliem a sociedade a evoluir num eixo de soberania,
fiscalizando as decisões dos gestores públicos. As maneiras com que os
políticos “sabem utilizar” e “fazem funcionar” os mecanismos econômicos,
utilizando os recursos locais e regionais determinam o desenvolvimento. Porém,
é bom lembrar que é o projeto implícito de um lugar que comanda as ações
públicas municipais, estaduais e federais. É do problema histórico e geográfico
intrínseco local que deve partir a decisão quanto ao desenvolvimento.
Sob
este aspecto, as técnicas da Agenda 21 melhoram as interações intermunicipais
microrregionais e a comunicação entre firmas, criando redes produtivas de
serviços. O êxodo rural, o elitismo do lazer e do turismo e a agropecuária
burra – desprovida de planejamento regional, programação territorial e de
planos de sustentabilidade para as propriedades – são problemas que exigem a
gestão conjunta das comunidades empenhadas em proteger as microbacias. É
preciso evitar as competições burras entre propriedades e proprietários. A
co-operação e o cooperativismo devem dar um passo em prol das redes
informatizadas inteligentes e inclusivas, com projetos selecionados pelos
residentes, para que a nação dê sustentabilidade a uma logística inteligente
que inclua os mais pobres, por meio de compromissos políticos sérios.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em junho a marca de 372,0% ao ano... e mais, em
julho, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo
Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos
os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune
à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais.
De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e
do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de
burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br) (e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
O BRASIL
TEM JEITO!