“Jogos
de empresas para motivar alunos
Os jogos de empresas,
uma atividade secular, têm sido explorados como uma nova alternativa de ensino
nas escolas, não apenas como um modismo, mas uma tendência que se expande
exatamente por motivar o exercício da tomada de decisão em ambientes complexos
e de alta competitividade. Os jogos de empresas proporcionam ao aluno, em
cenários que retratam a realidade das empresas, o exercício de papéis similares
aos ali existentes, privilegiando o aprender fazendo em um ambiente simulado.
Acompanhando
essa tendência, vários pesquisadores e associações internacionais ligadas ao
tema têm discutido a eficácia da utilização desses instrumentos como
alternativa de ensino, e os resultados têm demonstrado elevada aceitação, tanto
para alunos, quanto professores. Há desafios, sim, principalmente aqueles
ligados à motivação dos alunos que, apesar dos jogos simularem uma situação
real, nada se compara à emoção e angústia associadas às consequências positivas
ou negativas que, no ambiente real, são decorrentes de decisões, via de regra,
ancoradas em expectativas futuras.
Os
jogos de empresas, evidentemente, são baseadas em modelos de situações reais e,
em razão disso, simplificam a realidade, recortando-a de acordo com as
percepções e fins desejados, o que não impede que possam oferecer vivência,
apreciação, experimento e reflexão quanto a uma situação real. De alguma forma,
o uso de jogos de empresas incorpora à metodologia de ensino uma série de
vantagens, tais como: aprendizagem participativa, maior significado pessoal,
desenvolvimento de habilidades gerenciais, além de permitir observar atitudes
empreendedoras em coordenadores, professores e alunos.
Em
termos de habilidades, a mais significativa é o desenvolvimento de uma postura
gerencial integrada, tão necessária no processo de tomada de decisão. Há de se
considerar, também, a importância da abordagem sistêmica, importante na gestão empresarial.
Outro aspecto relevante refere-se ao tempo e espaço reservados às experiências.
Ainda com esses atributos reduzidos, é possível analisar as possíveis
consequências de decisões agora tomadas, em termos de resultados e impactos no
todo e até em partes da organização. Pode-se praticar aqui, o que já defendia
Paulo Freire: “A educação verdadeira é a problematizadora, isto é, aquela que
busca o desenvolvimento da capacidade de crítica e de reflexão”.
Há, no entanto,
deficiências e limitações, principalmente aquelas relacionadas à motivação e às
expectativas dos alunos. Devido à impossibilidade de se inserir a emoção e o
risco iminente, alguns alunos consideram essa prática ainda irrelevante.
Alerta-se, portanto, para a importância da atuação do professor como mediador
da atividade que, por sua natureza dinâmica, necessita de intervenção ocasional
com novas ações que possam reavivar a motivação dos alunos. Conclui-se,
portanto, que o professor acaba por exercer a função de coordenador da
simulação e, por essa razão, deve manter uma postura de facilitador do
processo, de forma que os objetivos previamente estabelecidos pelas equipes,
sejam continuamente revistos e analisados, de forma racional, até que,
possivelmente, sejam atingidos.
Conclui-se, portanto,
dentro da linha andragógica onde se encaixam os jogos de empresas como
instrumento de aprendizagem, citando aqui um pensamento do filósofo Confúcio,
que reforça o objetivo central desse instrumento, que, apesar de secular, tem
sido uma inovação na arte de ensinar: “Ouço e esqueço; vejo e recordo; faço e
compreendo”.”.
(ANDRÉ LUIZ
PIRES DE MIRANDA. Professor da Universidade Fumec, em artigo publicado no
jornal ESTADO DE MINAS, edição de 16
de agosto de 2015, caderno OPINIÃO, página
7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
11 de setembro de 2015, de autoria de DOM
WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e
que merece igualmente integral transcrição:
“Da
rua ao acolhimento
O Santuário Nossa
Senhora da Piedade recebeu uma visita especial nesta semana preparatória para a
festa da padroeira de Minas Gerais, celebrada no segundo domingo de setembro,
dia 13. Muitos que vivem na rua acolheram o convite e, acompanhados pela
Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, peregrinaram ao Santuário. A
expressão de um dos peregrinos, ao dizer que por si só seria impossível chegar ao alto daquela montanha, toca o
conjunto dos desafios da vida de todos os enfraquecidos e vítimas da exclusão
social.
São
muitas as causas da situação excludente que marca a realidade dessas pessoas –
que são cidadãs. Cada um tem sua história, mas no coração de todos há um sonho:
a conquista de uma vida minimamente digna, a começar pela superação dos
sofrimentos que são consequência da discriminação. A peregrinação desses
excluídos da sociedade coloca em evidência a necessidade de posturas mais
comprometidas, a exigência da participação de todos os cidadãos, para
transformar essa realidade. Comprometimentos que possam estar além de políticas
públicas compensatórias e pouco emancipatórias. Iniciativas que,
lamentavelmente, surgem mais como argumento eleitoreiro, ou justificativa de
opção partidária, ajudando a compor cenários de uma sociedade que não sabe
cuidar de seus pobres.
Os
moradores de rua, consideradas as suas condições, são a comprovação de que a
alegria falsamente vivida em outros setores da sociedade está ruindo. E, no
“salve-se-quem-puder”, acredita-se que o amparo e o bem-estar possam ser
alcançados a partir da idolatria ao dinheiro. Porém, como bem sublinha o papa
Francisco, na base da crise econômica, está uma séria crise antropológica, a
desconsideração da primazia do ser humano. A situação dos moradores de rua,
entre tantas outras, é o retrato do desrespeito a essa primazia. Trata-se de
fruto da tirania do lucro, lógica que conduz o cidadão à insensatez de,
desenfreadamente, procurar ganhar e ajuntar mais, riscando de sua agenda o
compromisso da partilha. Trilha-se caminho na contramão da solidariedade, que é
remédio para corrigir os descompassos nos funcionamentos da sociedade.
No
centro da situação vergonhosa de exclusão social, torna-se oportuno lembrar o
que disse São Vicente de Paulo. Cada pessoa deveria sentir vergonha de si ao
encontrar um pobre e miserável. Assim, todos se empenhariam mais no apoio a
projetos sociais, trabalhariam para mudanças mais rápidas nos cenários de
exclusão que exigem atitudes efetivas de instâncias governamentais,
instituições religiosas, academias e das famílias que estão na outra ponta,
distantes dos pobres, no esbanjamento. O papa Francisco, com gestos concretos,
diante do tratamento inadequado recebido pelos migrantes no contexto europeu,
pede a atitude cidadã de se estender a própria mão. Apresentar ofertas que
efetivamente produzam diferenças nesses quadros que compõem a crise
humanitária, mais grave do que a econômica.
A
peregrinação dos moradores de rua ao Santuário Nossa Senhora da Piedade e a
acolhida a eles oferecida constituem profética e interpelativa cena, formada
pela magnífica arquitetura divina e a presença dos esquecidos, os mais pobres.
Um cenário que mostra a urgência de se promover a inclusão, com inventividade e
coragem. Pode-se começar, justamente, pela escuta dos corações de quem é
excluído. Eles guardam sabedorias que, retomadas e assimiladas, podem apontar o
caminho de saída dessa grave crise humanitária e antropológica.
Oportuno
é deixar-se envolver pela presença abandonada dos moradores de rua. Convidá-los
para estarem nas salas das escolas e universidades, dos escritórios, nas
cortes, nas igrejas, nas mesas das famílias e nos recintos de festa. Assim, se
investe na criação de uma nova sensibilidade que fortalecerá a cultura
humanística. Chovia e fazia frio no dia da peregrinação dos moradores de rua ao
santuário da Padroeira de Minas Gerais. Um disse que não se importava, pois ali
era o céu. O céu pelo acolhimento dado, por ter experimentado o gosto gostoso
de saber-se igual e digno na casa da Mãe da Piedade, a casa de clemência. A
sociedade precisa viver um novo tempo: de acolher, ouvir, partilhar, renunciar
e oferecer, a partir de gestos corajosos e proféticos, simples, singulares ou
sistêmicos. É hora de clemências!”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a
estratosférica marca de 395,3% ao ano... e mais, em julho, o IPCA acumulado nos
últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do
procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A
Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o
problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu
caráter transnacional; eis, portanto,
que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas
simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de
suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do
nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente
irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na
Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das
empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”