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sexta-feira, 24 de junho de 2016

A CIDADANIA, A FORÇA DO MICROCRÉDITO NA ECONOMIA SOLIDÁRIA E A LUZ DA ÉTICA

“Microcrédito e combate à pobreza
        Há aproximadamente 30 anos, foi criado em Bangladesh um novo modelo de concessão de crédito a pessoas extremamente pobres, em especial mulheres oriundas da área rural. Esse crédito tinha como objetivo despertar nessas pessoas o espírito empreendedor, fazendo com que elas vislumbrassem um futuro mais promissor. Para explicar a sistemática em poucas palavras, formavam-se grupos de pessoas que se reuniam semanalmente e se avalizavam mutuamente – aval solidário. Cada empreendedor era acompanhado de perto pelo agente de crédito comunitário que, além de dar orientações sempre que necessário, incentivava-os a pouparem. O resultado não poderia ser melhor: o microcrédito conseguiu efetivamente tocar a autoestima dessas pessoas. De pronto, a experiência foi considerada como uma bem sucedida ferramenta de combate à pobreza e se espalhou rapidamente pelos quatro cantos do mundo.
         De lá para cá, muitas organizações não-governamentais – ONGs foram fundadas em todo o mundo exclusivamente para seguirem os mesmos passos do Grameen Bank, e organismos multilaterais formaram setores especializados no tema. O microcrédito atraiu igualmente a atenção de diversos economistas e pesquisadores de áreas afins, contribuindo para o setor, com geração de estudos e desenvolvimento de ferramentas que contribuem para a melhoria da prática.
         Com tal gama de atributos, o setor público também foi facilmente seduzido pelo microcrédito. É aí que mora o perigo. Salvo exceções, um bom número de governos criou programas de inclusão financeira com apelo populista, e até mesmo eleitoreiro, de forma, digamos, amadora, desprezando os princípios básicos da metodologia de microcrédito que asseguram impactos positivos. E mais: assim como muitas ONGs, anunciam que os créditos são designados “aos mais pobres dos pobres”, afirmativa bastante suspeita. Normalmente, os verdadeiros resultados e a real efetividade desses programas são obscuros, mesmo que insistam em divulgar as maravilhas de suas ações.
         Certa vez, o doutor em economia bengalês Muhammad Yunus, mentor então do célebre modelo descrito acima e ganhador do prêmio Nobel da Paz, em 2006, alertou-nos: “Isto não é caridade. Isto é negócio social com objetivo social, o qual ajuda pessoas a saírem da pobreza”. Pronto. Em poucas palavras ele disse tudo: devemos associar competência e profissionalismo com a busca por resultados financeiros, mas, sobretudo, sociais.
         Podemos citar o exemplo do grupo mexicano Compartamos. Nascido como uma associação sem fins lucrativos em 1990, transformou-se em uma instituição financeira em 2006 e, em 2007 realizou sua IPO (Initial Public Offering), pondo suas ações na Bolsa de Valores do México. Em março deste ano contavam com quase 2,9 milhões de clientes ativos e um índice de inadimplência de 3,78%. Oferece crédito, poupança, plano de seguro e educação financeira até mesmo para quem está iniciando o primeiro negócio ou para quem não possui um garantidor. Frequentemente elogiado, mas também alvo de muitas críticas, o fato é que o Compartamos é prova concreta de que o negócio social é factível.
         Há outros bons exemplos bem sucedidos de empresas sociais que derrubam o mito de que trabalhar por uma causa social e de forma solidária exige sempre a renúncia de lucro e de que alta produtividade é coisa apenas para as empresas puramente capitalistas. A economia solidária é, portanto, algo absolutamente real e contemporâneo.”.

(DAISY D’AQUINO FILOCRE. Especialista em microfinanças, mestre em estudos em desenvolvimento pelo Graduate Institute of International and Development Studies IHEID (Suíça) e membro da Plataforma Europeia de Microfinanças, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 15 de junho de 2016, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo e caderno, embora impossibilitado de mencionar data e página, em razão do recorte efetuado à época, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente transcrição:

Ética e cidadania        
          A condição cidadã é um direito inalienável de cada homem e de cada mulher. Sua justificativa se enraíza na dignidade sacrossanta de cada pessoa, independentemente da raça, da língua e de qualquer outro fator. Este princípio garante e clama pelo direito de usufruto de todos os bens da criação igualmente para todos, e a vivência de uma condição resguardada por direitos e deveres constitutivos desta mesma cidadania.
         Curioso é percorrer as ruas das cidades e verificar a infra-estrutura comprometida de tantos lugares; prestar atenção no modo de se estabelecer o relacionamento interpessoal e surpreender-se com a violência e com um venenoso indiferentismo tomando conta dos corações; ou ainda avaliar o grau de normalidade do status socioeconômico de cidadãos e cidadãs para o nascimento da convicção de que o funcionamento moderno de mercados, com as conquistas tecnológicas, não tem dado conta de operar grandes e significativas mudanças para que cada um viva a real condição de sua dignidade. Decepcionante é porque a localização da grande maioria da população está abaixo da linha aceitável da pobreza. Em si, uma condição assim, tudo tem para ser para todos, os que têm sentido autêntico de cidadania, uma razão para vergonha e indignação. Não foi à toa que São Vicente de Paulo, séculos atrás, memória celebrada na festa de 27 deste mês, mestre que infundiu na alma francesa do seu tempo o mais acurado sentido do social, comenta do justo sentimento do coração humano ao contemplar semelhante situação: vergonha. O apóstolo da caridade dizia, pois, que “se deveria ter vergonha de si mesmo quando se encontrasse com um pobre, em condição não dignas da dignidade própria de sua condição humana”, referindo-se àqueles que vivem e carregam o peso da exclusão e da marginalidade. Concluía, para completar o seu raciocínio, sublinhando que se estes estão nesta condição é porque a cidadania não era dignamente  vivida pelos atores daquela sociedade. Este parecer tem força de atualidade e de interpelação.
         Ainda que se contatem os progressos, conquistas e mudanças, esta situação revela a condição falimentar do tecido social atual. Na verdade, o falimento não é uma questão apenas de números, mas de valores. O comprometimento é ético. A gravidade é incalculável. Perder valores é perder o sentido. Perder o sentido é enquadrar-se num funcionamento de total anomia, cujo resultado é a incapacidade de um ordenamento justo, trazendo as terríveis consequências da perversidade e da falta de limites, que apadrinha todo tipo de violência, e desrespeito. Este processo se desenvolve até chegar ao ponto de barbáries. Estas não podem chegar a ser contadas só pela quantidade das vítimas. Na verdade, qualquer número é sempre um número grande por conta da importância de cada pessoa. Salta, então, aos olhos, como carimbo da incompetência humanística do momento atual, quando a barbaridade da morte de moradores de rua vai maculando com selo de atrocidade o rosto de uma sociedade que tem tudo para se pretender como justa, fraterna e solidária. No entanto, fica mais estampada a exigência de um caminho diferente, urgentemente encetado.
         Sendo verdade que o comprometimento é de caráter ético, também é verdade que a ética faz renascer, até mesmo das cinzas, a pessoa na sua dignidade com a alimentação da sua condição de possibilidade de diálogos, intercâmbios e edificações da vida. A cidadania não se conta, nem se garante por conta da simples legalidade de contextos ou pelo enquadramento normativo que as sociedades necessitam como condição de possibilidade de debelar seu ímpeto tirânico e sua força controladora. O suporte que dá consistência à cidadania é a ética, na sua força de exercício permanente de valores, os que estão para além da condição individual e podem domar qualquer tirania de desejo. Aqui se debate a sociedade atual, agonizante que está em tantos setores determinantes da vida. Cresce a acentuação da brecha existente entre a cidadania, exercida como fidelidade ética, e a vergonhosa manipulação.
         Não se está, contudo, no fim do túnel. Existem saídas redentoras apontadas pela ética, com a retomada dos valores e posturas honestas, transparentes e comprometidas. Reacende a esperança a possibilidade desta retomada nos corações de boa vontade e no esforço disciplinar que a todos deve envolver. Nestes dias, sinal forte e convincente é o acontecimento do festival que envolve um binômio, em si mesmo, divergente, “lixo e cidadania”, com a participação de moradores de rua e catadores de papel, na luta pela conquista da cidadania e mostrando que a força criativa dos valores, presidindo relações e prioridades, de governos, de organizações, de igrejas e de indivíduos, pode dar àqueles que estão colocados à margem o lugar cidadão, direito de todos.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em abril a ainda estratosférica marca de 435,6% para um período de doze meses; e, em maio, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 9,32%, e a taxa de juros do cheque especial em históricos 308,7%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        

         

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DOS JOGOS DE EMPRESAS E OS DESAFIOS DA ACOLHIDA AOS MORADORES DE RUA

“Jogos de empresas para motivar alunos
        Os jogos de empresas, uma atividade secular, têm sido explorados como uma nova alternativa de ensino nas escolas, não apenas como um modismo, mas uma tendência que se expande exatamente por motivar o exercício da tomada de decisão em ambientes complexos e de alta competitividade. Os jogos de empresas proporcionam ao aluno, em cenários que retratam a realidade das empresas, o exercício de papéis similares aos ali existentes, privilegiando o aprender fazendo em um ambiente simulado.
         Acompanhando essa tendência, vários pesquisadores e associações internacionais ligadas ao tema têm discutido a eficácia da utilização desses instrumentos como alternativa de ensino, e os resultados têm demonstrado elevada aceitação, tanto para alunos, quanto professores. Há desafios, sim, principalmente aqueles ligados à motivação dos alunos que, apesar dos jogos simularem uma situação real, nada se compara à emoção e angústia associadas às consequências positivas ou negativas que, no ambiente real, são decorrentes de decisões, via de regra, ancoradas em expectativas futuras.
         Os jogos de empresas, evidentemente, são baseadas em modelos de situações reais e, em razão disso, simplificam a realidade, recortando-a de acordo com as percepções e fins desejados, o que não impede que possam oferecer vivência, apreciação, experimento e reflexão quanto a uma situação real. De alguma forma, o uso de jogos de empresas incorpora à metodologia de ensino uma série de vantagens, tais como: aprendizagem participativa, maior significado pessoal, desenvolvimento de habilidades gerenciais, além de permitir observar atitudes empreendedoras em coordenadores, professores e alunos.
         Em termos de habilidades, a mais significativa é o desenvolvimento de uma postura gerencial integrada, tão necessária no processo de tomada de decisão. Há de se considerar, também, a importância da abordagem sistêmica, importante na gestão empresarial. Outro aspecto relevante refere-se ao tempo e espaço reservados às experiências. Ainda com esses atributos reduzidos, é possível analisar as possíveis consequências de decisões agora tomadas, em termos de resultados e impactos no todo e até em partes da organização. Pode-se praticar aqui, o que já defendia Paulo Freire: “A educação verdadeira é a problematizadora, isto é, aquela que busca o desenvolvimento da capacidade de crítica e de reflexão”.
Há, no entanto, deficiências e limitações, principalmente aquelas relacionadas à motivação e às expectativas dos alunos. Devido à impossibilidade de se inserir a emoção e o risco iminente, alguns alunos consideram essa prática ainda irrelevante. Alerta-se, portanto, para a importância da atuação do professor como mediador da atividade que, por sua natureza dinâmica, necessita de intervenção ocasional com novas ações que possam reavivar a motivação dos alunos. Conclui-se, portanto, que o professor acaba por exercer a função de coordenador da simulação e, por essa razão, deve manter uma postura de facilitador do processo, de forma que os objetivos previamente estabelecidos pelas equipes, sejam continuamente revistos e analisados, de forma racional, até que, possivelmente, sejam atingidos.
Conclui-se, portanto, dentro da linha andragógica onde se encaixam os jogos de empresas como instrumento de aprendizagem, citando aqui um pensamento do filósofo Confúcio, que reforça o objetivo central desse instrumento, que, apesar de secular, tem sido uma inovação na arte de ensinar: “Ouço e esqueço; vejo e recordo; faço e compreendo”.”.

(ANDRÉ LUIZ PIRES DE MIRANDA. Professor da Universidade Fumec, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 16 de agosto de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 11 de setembro de 2015, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Da rua ao acolhimento
        O Santuário Nossa Senhora da Piedade recebeu uma visita especial nesta semana preparatória para a festa da padroeira de Minas Gerais, celebrada no segundo domingo de setembro, dia 13. Muitos que vivem na rua acolheram o convite e, acompanhados pela Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, peregrinaram ao Santuário. A expressão de um dos peregrinos, ao dizer que por si só        seria impossível chegar ao alto daquela montanha, toca o conjunto dos desafios da vida de todos os enfraquecidos e vítimas da exclusão social.
         São muitas as causas da situação excludente que marca a realidade dessas pessoas – que são cidadãs. Cada um tem sua história, mas no coração de todos há um sonho: a conquista de uma vida minimamente digna, a começar pela superação dos sofrimentos que são consequência da discriminação. A peregrinação desses excluídos da sociedade coloca em evidência a necessidade de posturas mais comprometidas, a exigência da participação de todos os cidadãos, para transformar essa realidade. Comprometimentos que possam estar além de políticas públicas compensatórias e pouco emancipatórias. Iniciativas que, lamentavelmente, surgem mais como argumento eleitoreiro, ou justificativa de opção partidária, ajudando a compor cenários de uma sociedade que não sabe cuidar de seus pobres.
         Os moradores de rua, consideradas as suas condições, são a comprovação de que a alegria falsamente vivida em outros setores da sociedade está ruindo. E, no “salve-se-quem-puder”, acredita-se que o amparo e o bem-estar possam ser alcançados a partir da idolatria ao dinheiro. Porém, como bem sublinha o papa Francisco, na base da crise econômica, está uma séria crise antropológica, a desconsideração da primazia do ser humano. A situação dos moradores de rua, entre tantas outras, é o retrato do desrespeito a essa primazia. Trata-se de fruto da tirania do lucro, lógica que conduz o cidadão à insensatez de, desenfreadamente, procurar ganhar e ajuntar mais, riscando de sua agenda o compromisso da partilha. Trilha-se caminho na contramão da solidariedade, que é remédio para corrigir os descompassos nos funcionamentos da sociedade.
         No centro da situação vergonhosa de exclusão social, torna-se oportuno lembrar o que disse São Vicente de Paulo. Cada pessoa deveria sentir vergonha de si ao encontrar um pobre e miserável. Assim, todos se empenhariam mais no apoio a projetos sociais, trabalhariam para mudanças mais rápidas nos cenários de exclusão que exigem atitudes efetivas de instâncias governamentais, instituições religiosas, academias e das famílias que estão na outra ponta, distantes dos pobres, no esbanjamento. O papa Francisco, com gestos concretos, diante do tratamento inadequado recebido pelos migrantes no contexto europeu, pede a atitude cidadã de se estender a própria mão. Apresentar ofertas que efetivamente produzam diferenças nesses quadros que compõem a crise humanitária, mais grave do que a econômica.
         A peregrinação dos moradores de rua ao Santuário Nossa Senhora da Piedade e a acolhida a eles oferecida constituem profética e interpelativa cena, formada pela magnífica arquitetura divina e a presença dos esquecidos, os mais pobres. Um cenário que mostra a urgência de se promover a inclusão, com inventividade e coragem. Pode-se começar, justamente, pela escuta dos corações de quem é excluído. Eles guardam sabedorias que, retomadas e assimiladas, podem apontar o caminho de saída dessa grave crise humanitária e antropológica.
         Oportuno é deixar-se envolver pela presença abandonada dos moradores de rua. Convidá-los para estarem nas salas das escolas e universidades, dos escritórios, nas cortes, nas igrejas, nas mesas das famílias e nos recintos de festa. Assim, se investe na criação de uma nova sensibilidade que fortalecerá a cultura humanística. Chovia e fazia frio no dia da peregrinação dos moradores de rua ao santuário da Padroeira de Minas Gerais. Um disse que não se importava, pois ali era o céu. O céu pelo acolhimento dado, por ter experimentado o gosto gostoso de saber-se igual e digno na casa da Mãe da Piedade, a casa de clemência. A sociedade precisa viver um novo tempo: de acolher, ouvir, partilhar, renunciar e oferecer, a partir de gestos corajosos e proféticos, simples, singulares ou sistêmicos. É hora de clemências!”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de 395,3% ao ano... e mais, em julho, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,56%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”