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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A CIDADANIA, A LUCIDEZ DO VOTO E A LIDERANÇA TRANSFORMADORA

“O voto, arma do cidadão
        O dramaturgo alemão Bertolt Brecht, crítico mordaz da sociedade burguesa, dizia que “o pior analfabeto é o analfabeto político”. É aquela pessoa que, numa espécie de empáfia entre arrogante e burra, estufa o peito para dizer “detesto política”.
         Nas palavras do papa Francisco, são os “indiferentes orgulhosos”. Anulam a cédula eleitoral ou não votam. Não percebem que são eles que permitem, com seu afastamento, ou inconsciência, ou falta de cidadania e humanismo, a existência dos maus políticos, dos desonestos na vida pública, das mazelas dos governos e assim por diante.
         Insensíveis e omissos, esquecem-se de que a política é atividade que permite a construção da vida republicana e da democracia e que é pelo seu exercício que os cidadãos elegem e sustentam os governos. E mudam maus governos e maus políticos.
         Se a vida pública, em todo o mundo, em todos os tempos, tem desvios, com os corruptos e os incompetentes, exploradores dos mandatos populares, não quer dizer que simplesmente deva o cidadão, que vive em sociedade, negar inteiramente essa atividade, omitindo-se ou negando-se a participar, interagir, opinar, votar.
         Na verdade, abdica de sua condição de ser social, inserido num processo histórico, que indispensavelmente tem vida compartilhada com seus congêneres, vizinhos, colegas de trabalho e de vida, cidadãos de uma mesma comunidade, interdependentes de normas, leis, ações governamentais. Na verdade, o omisso é pior do que o crítico negativista. Este, pelo menos, tem opinião.
         Política, na sua melhor definição, é a busca de caminhos consensuais em prol do bem público. Busca meios para consumação dos interesses coletivos. Esse é conceito originário da velha e sábia Grécia, que surge no auge da civilização helênica e dos seus melhores pensadores. Nas a ideia de república. A pólis grega é a política e também a cidade. É o exercício interligado e essencial da cidadania, pela ação política. A não ser que a pessoa viva numa caverna e tenha vida ermitã, isolada e sozinha, não tem consistência lógica ou sentido renegar a política como atividade imanente à vida em sociedade.
         Evitar e condenar os maus políticos é parte do próprio exercício político tanto quanto é da essência dessa atividade o debate de ideias. Cabe ao cidadão consciente de seu papel, do seu tempo, da sua responsabilidade histórica, evitar os maus políticos, aqueles que traem a confiança popular, que submetem seus mandatos aos interesses próprios escusos e desviantes do verdadeiro sentido da representação popular.
         Os maus políticos se elegem e se perpetuam justamente em razão da omissão dos “analfabetos políticos”. O voto, que tem peso igual para ricos e pobres, doutores e iletrados, colhido por sufrágio universal, é a melhor arma para afastar os maus políticos. É a arma do cidadão. Precisa ser respeitado.”

(Mauro Werkema. Jornalista, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 8 de dezembro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 17).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de dezembro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Conservação ou saída?
        A falta de líderes com lucidez para ajudar na superação das muitas crises é um peso sobre os ombros de todos. Liderar, na contramão de mandos ou manipulações em prol de interesses próprios, partidários e mesquinhos, exige posturas cidadãs, altruísmo, generosidade e clareza sobre as direções a serem tomadas para promover o bem comum. A carência de líderes autênticos compromete instituições. Não são poucos os segmentos que simplesmente buscam explorar as riquezas e o potencial daquilo que pertence ao povo, sem oferecer a contrapartida necessária à coletividade. Anomalias antropológicas minam a cultura da solidariedade, impedem desdobramentos construtivos e inovadores em benefício de todos.
         O que mais se vê é o aumento de conluios e conivências, acordos em favor de interesses abrigados no território da mesquinhez e da indiferença em relação ao bem de todos. Vale analisar o conjunto de ações e os projetos existentes na sociedade brasileira, com atenção especial para a própria cidade, o bairro e a comunidade onde se vive. Constata-se, com frequência, certo marasmo, a inexistência de projetos arrojados com o propósito de atender às necessidades importantes do povo. É preciso conduzir a cultura para longe da nefasta mediocridade que impera. Hoje, quando alguém faz alarde a respeito de um feito ou de uma obra, desconfia-se de que é uma resposta atendida com décadas de atraso. Para que governantes, administradores e profissionais diversos não fiquem ancorados no estreitamento da mediocridade, é necessário inteligência assertiva e sensibilidade nascida da sabedoria.
         Muitos se contentam com um volume de afazeres e mesmo obras que são “o feijão com arroz” de cada dia. No entanto, o compromisso social de buscar a inovação e a inventividade, em benefício de todos, é um quadro de carência. A preocupação predominante relaciona-se à acumulação de bens, fortalecida pelo medo de não ter. Por isso não há coragem para investir. O receio de perder aprisiona líderes políticos, empresariais, culturais, religiosos na mediocridade do óbvio. Isso inviabiliza o crescimento e as respostas novas. Se esse aprisionamento é consequência da tensão econômica, política ou de outra ordem qualquer, muito mais se relaciona a uma terrível crise cultural.
         As correções precisam ser feitas na raiz. Não bastam transformações pontuais sem gerar nova mentalidade. As tragédias humanas e ambientais, as exigências e a rapidez de mudanças próprias deste terceiro milênio gritam por novas respostas. Oportuna é a interpelação que a Igreja Católica se faz quando se confronta com o binômio “conservação-saída”. Já em 2007, como expressão de inquietações nascidas nas décadas anteriores, o Documento de Aparecida, importante referência da Igreja Católica, destacou determinante exigência: é necessária uma ação missionária que vá além da mera conservação. Logo em seguida, o papa Francisco marca seu serviço com a convocação para que a Igreja esteja sempre “em saída”, indo ao encontro de todos, para ser capaz de traçar adequadamente os desafios das culturas urbanas.
         Assim, tornam-se ainda mais fundamentais a inventividade e a competente leitura dos sinais dos tempos. Essas capacidades são indispensáveis para planejar e conceber, nos dias atuais, experiências com força para regenerar a subjetividade. Constata-se a necessidade de uma verdadeira reformulação, a compreensão adequada e audaciosa de que é preciso trilhar rumos novos. Isso vale para a Igreja, para governos, para o empresariado, formadores de opinião, todos nos seus exercícios profissionais e na gestão de seus empreendimentos. A exigência é alcançar uma nova cultura, capaz de sensibilizar cada pessoa para reconhecer o próprio valor e se comprometer, de modo nobre, com a defesa do meio ambiente e de suas tradições. É preciso encontrar novas formas de intervenção que não sejam a exploração sem limites dos recursos da sociedade e do meio ambiente.
         Minas Gerais tem essências históricas, religiosas e culturais, tradições, experiências, personagens e natureza que merecem, mais do nunca, um mutirão capitaneado por todos os líderes, orientados por gestos de altruísmo. Essa união é necessária para que sejam possíveis apoios, ações, valorização e investimentos em projetos capazes de consolidar o estado mineiro no lugar que lhe é próprio no cenário nacional. Oportunidades para superar as muitas crises. Isso requer a coragem para viver a dinâmica da “saída”, superando a mera conservação. Eis o caminho para inovar e participar de grandes projetos.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em novembro a também estratosférica marca de 378,76% para um período de doze meses; e mais, ainda em novembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 10,48%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”