“O
voto, arma do cidadão
O dramaturgo alemão
Bertolt Brecht, crítico mordaz da sociedade burguesa, dizia que “o pior
analfabeto é o analfabeto político”. É aquela pessoa que, numa espécie de empáfia
entre arrogante e burra, estufa o peito para dizer “detesto política”.
Nas
palavras do papa Francisco, são os “indiferentes orgulhosos”. Anulam a cédula
eleitoral ou não votam. Não percebem que são eles que permitem, com seu
afastamento, ou inconsciência, ou falta de cidadania e humanismo, a existência
dos maus políticos, dos desonestos na vida pública, das mazelas dos governos e
assim por diante.
Insensíveis
e omissos, esquecem-se de que a política é atividade que permite a construção
da vida republicana e da democracia e que é pelo seu exercício que os cidadãos
elegem e sustentam os governos. E mudam maus governos e maus políticos.
Se a
vida pública, em todo o mundo, em todos os tempos, tem desvios, com os
corruptos e os incompetentes, exploradores dos mandatos populares, não quer
dizer que simplesmente deva o cidadão, que vive em sociedade, negar
inteiramente essa atividade, omitindo-se ou negando-se a participar, interagir,
opinar, votar.
Na
verdade, abdica de sua condição de ser social, inserido num processo histórico,
que indispensavelmente tem vida compartilhada com seus congêneres, vizinhos,
colegas de trabalho e de vida, cidadãos de uma mesma comunidade,
interdependentes de normas, leis, ações governamentais. Na verdade, o omisso é
pior do que o crítico negativista. Este, pelo menos, tem opinião.
Política,
na sua melhor definição, é a busca de caminhos consensuais em prol do bem
público. Busca meios para consumação dos interesses coletivos. Esse é conceito
originário da velha e sábia Grécia, que surge no auge da civilização helênica e
dos seus melhores pensadores. Nas a ideia de república. A pólis grega é a
política e também a cidade. É o exercício interligado e essencial da cidadania,
pela ação política. A não ser que a pessoa viva numa caverna e tenha vida
ermitã, isolada e sozinha, não tem consistência lógica ou sentido renegar a
política como atividade imanente à vida em sociedade.
Evitar
e condenar os maus políticos é parte do próprio exercício político tanto quanto
é da essência dessa atividade o debate de ideias. Cabe ao cidadão consciente de
seu papel, do seu tempo, da sua responsabilidade histórica, evitar os maus
políticos, aqueles que traem a confiança popular, que submetem seus mandatos
aos interesses próprios escusos e desviantes do verdadeiro sentido da
representação popular.
Os
maus políticos se elegem e se perpetuam justamente em razão da omissão dos
“analfabetos políticos”. O voto, que tem peso igual para ricos e pobres,
doutores e iletrados, colhido por sufrágio universal, é a melhor arma para
afastar os maus políticos. É a arma do cidadão. Precisa ser respeitado.”
(Mauro Werkema.
Jornalista, em artigo publicado no jornal O
TEMPO Belo Horizonte, edição de 8 de dezembro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 17).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de
dezembro de 2015, caderno OPINIÃO, página
7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Conservação
ou saída?
A falta de líderes com
lucidez para ajudar na superação das muitas crises é um peso sobre os ombros de
todos. Liderar, na contramão de mandos ou manipulações em prol de interesses
próprios, partidários e mesquinhos, exige posturas cidadãs, altruísmo,
generosidade e clareza sobre as direções a serem tomadas para promover o bem
comum. A carência de líderes autênticos compromete instituições. Não são poucos
os segmentos que simplesmente buscam explorar as riquezas e o potencial daquilo
que pertence ao povo, sem oferecer a contrapartida necessária à coletividade.
Anomalias antropológicas minam a cultura da solidariedade, impedem desdobramentos
construtivos e inovadores em benefício de todos.
O que
mais se vê é o aumento de conluios e conivências, acordos em favor de
interesses abrigados no território da mesquinhez e da indiferença em relação ao
bem de todos. Vale analisar o conjunto de ações e os projetos existentes na
sociedade brasileira, com atenção especial para a própria cidade, o bairro e a
comunidade onde se vive. Constata-se, com frequência, certo marasmo, a
inexistência de projetos arrojados com o propósito de atender às necessidades
importantes do povo. É preciso conduzir a cultura para longe da nefasta
mediocridade que impera. Hoje, quando alguém faz alarde a respeito de um feito
ou de uma obra, desconfia-se de que é uma resposta atendida com décadas de
atraso. Para que governantes, administradores e profissionais diversos não
fiquem ancorados no estreitamento da mediocridade, é necessário inteligência
assertiva e sensibilidade nascida da sabedoria.
Muitos
se contentam com um volume de afazeres e mesmo obras que são “o feijão com arroz”
de cada dia. No entanto, o compromisso social de buscar a inovação e a
inventividade, em benefício de todos, é um quadro de carência. A preocupação
predominante relaciona-se à acumulação de bens, fortalecida pelo medo de não
ter. Por isso não há coragem para investir. O receio de perder aprisiona
líderes políticos, empresariais, culturais, religiosos na mediocridade do
óbvio. Isso inviabiliza o crescimento e as respostas novas. Se esse
aprisionamento é consequência da tensão econômica, política ou de outra ordem
qualquer, muito mais se relaciona a uma terrível crise cultural.
As
correções precisam ser feitas na raiz. Não bastam transformações pontuais sem
gerar nova mentalidade. As tragédias humanas e ambientais, as exigências e a
rapidez de mudanças próprias deste terceiro milênio gritam por novas respostas.
Oportuna é a interpelação que a Igreja Católica se faz quando se confronta com
o binômio “conservação-saída”. Já em 2007, como expressão de inquietações
nascidas nas décadas anteriores, o Documento de Aparecida, importante
referência da Igreja Católica, destacou determinante exigência: é necessária
uma ação missionária que vá além da mera conservação. Logo em seguida, o papa
Francisco marca seu serviço com a convocação para que a Igreja esteja sempre
“em saída”, indo ao encontro de todos, para ser capaz de traçar adequadamente
os desafios das culturas urbanas.
Assim,
tornam-se ainda mais fundamentais a inventividade e a competente leitura dos
sinais dos tempos. Essas capacidades são indispensáveis para planejar e
conceber, nos dias atuais, experiências com força para regenerar a
subjetividade. Constata-se a necessidade de uma verdadeira reformulação, a
compreensão adequada e audaciosa de que é preciso trilhar rumos novos. Isso
vale para a Igreja, para governos, para o empresariado, formadores de opinião,
todos nos seus exercícios profissionais e na gestão de seus empreendimentos. A
exigência é alcançar uma nova cultura, capaz de sensibilizar cada pessoa para
reconhecer o próprio valor e se comprometer, de modo nobre, com a defesa do
meio ambiente e de suas tradições. É preciso encontrar novas formas de
intervenção que não sejam a exploração sem limites dos recursos da sociedade e
do meio ambiente.
Minas
Gerais tem essências históricas, religiosas e culturais, tradições,
experiências, personagens e natureza que merecem, mais do nunca, um mutirão
capitaneado por todos os líderes, orientados por gestos de altruísmo. Essa
união é necessária para que sejam possíveis apoios, ações, valorização e
investimentos em projetos capazes de consolidar o estado mineiro no lugar que
lhe é próprio no cenário nacional. Oportunidades para superar as muitas crises.
Isso requer a coragem para viver a dinâmica da “saída”, superando a mera
conservação. Eis o caminho para inovar e participar de grandes projetos.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em novembro a também estratosférica marca
de 378,76% para um período de doze meses; e mais, ainda em novembro, o IPCA
acumulado nos últimos doze meses chegou a 10,48%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a
dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para
2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(ao menos com esta rubrica, previsão de R$
868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário