“Um
atraso de 30 anos
Pesquisa sobre o ensino
médio divulgado na semana passada pelo Unicef não surpreende, mas reafirma a
necessidade de olhar de frente para chaga que se amplia ano após ano. Segundo o
órgão das Nações Unidas para a Cultura e Educação, mantidas as condições
atuais, serão necessárias três décadas para o Brasil universalizar a oferta de
educação de qualidade aos jovens.
Em 10
anos, entre 2004 e 2014, o percentual de moços entre 15 e 17 anos no nível
intermediário de ensino aumentou de 47,5% para 59,5%. Apesar do incremento,
nada menos de 1,7 milhão de brasileiros nessa faixa etária estão fora das salas
de aula. Não só. Quase um terço (31,1%) dos matriculados não cursa a série
adequada. São 2,6 milhões de pessoas.
Resultado:
só 48,7% dos estudantes concluem o ensino médio aos 19 anos. Os demais se
perdem no caminho. Alguns marcam passo no ensino fundamental. Outros frequentam
o médio em séries que deveriam ter ficado para trás. Ambos, vítimas da
reprovação, são candidatos a engrossar a fila da evasão escolar.
Não
faltam forças que funcionam como ímã do atraso. Paradoxalmente, a escola é uma
das mais poderosas. De um lado, veem-se instalações inadequadas, equipamentos
antigos, bibliotecas mortas, laboratórios inexistentes, material didático que
não responde às necessidades. De outro, currículo enciclopédico voltado à
memorização de conteúdos que ou envelhecem com rapidez ou se acessam sem
dificuldade na internet.
No
meio, professores sem preparo e sem motivação. Negligenciada há décadas, a
carreira do magistério deixou de recrutar talentos. A maior parte dos que optam
por cursos de pedagogia, letras, matemática, geografia, história não o faz por
vocação, mas por impossibilidade de entrar em outra faculdade. Assim, os
docentes, que poderiam suprir eventuais deficiências, são incapazes de fazê-lo.
A
tragédia do ensino médio não para aí. Causas externas se aliam às internas para
sedimentar o ambiente de hostilidade à aprendizagem. Uma delas: a violência,
que ameaça professores, alunos e funcionários administrativos. Outra: fatores
socioeconômicos, que interferem negativamente no processo educacional. É o caso
do trabalho e da gravidez precoces.
Trata-se
de situação dramática que compromete o presente e se agravará no futuro. Não há
país desenvolvido com educação subdesenvolvida. Sem medidas eficazes, que
passam necessariamente por criação de currículo contemporâneo e formação de
recursos humanos de ponta, o Brasil continuará a caminhada rumo ao
aprofundamento do atraso.”
(EDITORIAL do
jornal ESTADO DE MINAS, publicado na
edição de 17 de março de 2015, caderno OPINIÃO,
página 14).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
19 de março de 2015, mesmo caderno, página 7, de autoria de ROSA SIMÕES, Coordenadora do ensino
médio do Colégio ICJ, e que merece igualmente integral transcrição:
“Educar
para a água
Durante muito tempo
acreditou-se que a água era um recurso renovável. A crença errônea produziu um
comportamento inconsequente do brasileiro diante desse elemento, posicionamento
que apresentou um despreparo não só da população, mas dos órgãos competentes
pelo gerenciamento dos recursos hídricos, uma vez que não implementaram um
processo de reeducação da comunidade para lidar com a água, nem se planejaram
para uma ameaça já prevista há pelo menos duas décadas. O resultado desse
descaso está diariamente nos jornais, que são os baixios níveis dos reservatórios e a cada vez
mais iminente necessidade de racionamento de energia. Mas o que temos feito
para evitar essa situação?
Atualmente,
apesar do avanço tecnológico, gerentes e profissionais técnicos responsáveis
por importantes empresas gerenciadoras de recursos hídricos, como a Sabesp, em
São Paulo (maior cidade em população da América Latina), bem como a Copasa, em
Minas Gerais, rezam para que São Pedro resolva enviar chuvas torrenciais para
amenizar a defasagem dos leitos e suavizar a seca na qual se encontram
importantes rios e represas que alimentam hidrelétricas.
A
chuva será nossa salvação? Certamente, não. É, no mínimo, incoerente que
técnicos e cientistas apelem para o elemento sobrenatural e divino como solução
para uma catástrofe causa pelo próprio homem, por falta de planejamento e
educação.
A
solução está educação, principalmente, desde a base dos estudantes. Projetos
sobre a crise hídrica, disciplinas interligadas, ações de conscientização
escolar e comunitária, entre outros vários, pontos podem ser criados pelos
colégios para discussão e atividades em sala de aula.
É
interessante que os alunos busquem informações para debates e a organização de
grupos para diferentes trabalhos, como criar um fôlder com informação sobre as
principais formas de desperdício de água potável e como evita-las; cartilha
sobre como não desperdiçar água em casa, apresentando os conceitos de escassez,
racionamento, manancial e os principais sistemas de abastecimento da capital
mineira; elaboração de cartaz para campanha comunitária com alerta sobre como
evitar o desperdício na escola e em casa; e também vídeo publicitário de
campanha comunitária com dicas pedagógicas e persuasivas sobre como a
comunidade e os próprios estudantes poderão contribuir para evitar a escassez
dos recursos hídricos.
Temos que
despertar nos alunos a consciência sobre o fato de a comunidade exigir um planejamento
de longo prazo dos governantes e órgãos responsáveis para amenizar a escassez
de água potável, uma ameaça real. Eles precisam perceber as interferências
negativas e positivas que o homem pode fazer na natureza, a partir de sua
realidade social.
É
preciso entender que a qualidade de vida está ligada às condições de higiene e
saneamento básico, à qualidade do ar e do espaço. Adotar, por meio de atitudes
cotidianas, diversas medidas de valorização da água, a partir de uma postura
crítica. Precisamos conduzir os alunos a entenderem que o equilíbrio e o futuro
do planeta dependem de preservação da água e de seus ciclos.
É
fundamental as escolas perceberem que precisam trabalhar para a promoção de um
novo comportamento diante da possibilidade mundial de escassez dos recursos
hídricos em curto prazo. Vivemos, sim, mudanças climáticas que poderão servir
como um incentivo para a conscientização dos brasileiros e a inovação com
estratégias e projetos para incentivar o consumo consciente ou o não desperdício.
É
necessária a conscientização de todos. Vamos propor debates sobre o tema para
apresentação à comunidade. Precisamos refletir e problematizar a realidade
brasileira, considerando o conteúdo programático. Teremos que nos preparar para
enfrentarmos meses de escassez de água até a próxima temporada de chuvas, e
torcer para que o volume de água retorne ao nível considerado normal. Caso
contrário, continuaremos convivendo com o racionamento.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, vai ganhando novos contornos
que transcendem ao campo quantitativo, e que podem afetar até mesmo gerações
futuras...); III – o desperdício, em
todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis (haja vista as muitas faces mostrando a gravidade
da dupla crise de falta – de água e de energia elétrica...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de
exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social;
segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia
federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!