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quarta-feira, 19 de abril de 2017

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, A URGÊNCIA DE CIDADES CRIATIVAS E A EXIGÊNCIA DE NOVAS DEMOCRACIAS NA SUSTENTABILIDADE

“Cidades criativas
        No próximo mês, a Associação Mineira dos Municípios (AMM) realizará o 34º Congresso Mineiro de Municípios. A questão central do evento esbarrou na temática a ser desenvolvida e promovida a tantos interessados na causa municipalista. Após várias discussões, prevaleceu o consenso de que chegou a hora de focarmos em soluções. E a largada para o alcance desse objetivo repousa na criatividade, elemento fundamental para que os municípios possam superar esse momento tão grave de crise. Cidades criativas e soluções, portanto, foi aquilo que encontramos para sintetizar um desejo nacional de superação dos nossos equívocos, especialmente na lida cotidiana na administração pública, ao mesmo tempo em que significa uma abertura incondicional à criatividade. Superar, portanto, é a palavra de ordem e, para isso, temos que inovar, elaborar novas práticas, vencer a burocracia e partir em direção a uma gestão pública por vir...
         Ressalta-se que a experiência humana é vivenciada na cidade. No espaço urbano reúne-se a ambivalência dos encontros e despedidas, do som e do silêncio, do caminhar sozinho e da manifestação das multidões, do trabalho e do lazer. Enquanto ela dorme, muitos estão acordados. Quando ela acorda, muitos estão dormindo. Assim, o espaço urbano que constitui um genuíno espaço de compartilhamento de experiências, locus privilegiado da criatividade que surge da convivência inesperada com o outro. A cidade é o espaço mais fluído e democrático do existencial humano, mas qual a democracia gostaríamos de vivenciar? Por que ela se encontra tão diferida e longe do nosso alcance?
         Não será o sentido dessa democracia um sentido para além do que estamos acostumados e que se designa “democracia por vir” (termo criado pelo filósofo franco-argelino Jacques Derrida). Consiste ela, portanto, em um lugar ainda discreto e quase secreto que se baseia na afinidade, na esperança, na fraternidade e na hospitalidade incondicional entre os homens. Na realidade, constitui-se na antítese à violência, à desigualdade, à exclusão, à fome e tantas outras atrocidades cometidas em nome dos direitos do homem e do progresso humano. Suas bases se estruturam na consensualidade, na participação cidadã, na transparência e zelo com os recursos públicos e, por conseguinte, na boa prestação de serviços.
         Neste sentido, a esta referência – democracia por vir – seu eixo está no “restar” por vir. Ela é aquilo que pode, indefinidamente, ser aperfeiçoada, e, nesse sentido, carrega uma insuficiência por ser apenas uma promessa futura e nunca o presente, mas pertencente ao instante da possibilidade, mas que transporta a chance e o por vir de uma democracia que está sempre ameaçada por esse algo melhor que supomos possa se transformar.
         É a coexistência entre o ideal e o real. Ela também vai muito além da nossa realidade (na medida em que vários são privados da cidadania e de várias maneiras), pois se acredita no poder levar a cidadania do município ao mundo – sem limites – e sem privações. Aqui repousa, também, a criatividade e soluções que nos convidam a repensar a cidade, o estado, o país e o mundo em que vivemos. Aqui repousa uma nova concepção da cidadania, que seja inicialmente elaborada e dissociada para muito além do velho conceito de cidade.”.

(GUSTAVO NASSIF. Advogado, doutor em direito público, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 14 de abril de 2017, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 15 de abril de 2017, mesmo caderno e página, de autoria de SEBASTIÃO VENTURA PEREIRA DA PAIXÃO JR., advogado, e que merece igualmente integral transcrição:

“Uma cleptocracia decadente
        O poder é uma forma de dominar muitos, governar em favor de poucos e fazer da política um baile de máscaras para a distração popular. Enquanto o povo assiste ao espetáculo alegremente, a paz reina na República. O problema surge quando as pessoas cansam de ser insistentemente enganadas. Sim, a paciência é grande, mas um dia acaba. Aí, surgem as crises fiscais e seu conhecido enredo, os discursos inflamados, as promessas de austeridade, os milagrosos planos econômicos e as ocas reformas legislativas. Quantas vezes já vimos esse filme?
         Pois é e, mesmo assim, os fatos se repetem. Aliás, há exatos 150 anos, a inteligência superior de Eça de Queiroz deu traços de verdade à mentira da política lá estabelecida, vindo a afirmar com as ácidas letras de sua pena invulgar: “As nossas finanças estão perdidas, a nossa instrução esquecida, o nosso Exército desorganizado, o nosso funcionalismo corrupto, as nossas leis dispersas, o nosso comércio enfraquecido, a nossa autoridade moral perdida. De quem é culpa? Não é destes nem daqueles, é da fatalidade das decadências “.
         O tempo passou e aquilo – que já decadente estava – decaiu ainda mais. Olhamos para a política atual e temos a firme convicção de que elegemos incompetentes, corruptos e inaptos à vida pública digna e responsável. A situação faz a ironia rir da aparente lógica da vida. Afinal, durante anos, lutamos para ter o direito de voto e, quando obtido, não temos mais candidatos decentes, preparados e capazes de honrar os altos deveres da representação popular. Falando nisso, haverá democracia autêntica quando o voto apenas elege ladrões, bandidos e canalhas?
         Ora, claro que não.
         Sem cortinas, o que estamos vendo no Brasil é uma cleptocracia fantasiada de democracia. Sim, o ideal democrático foi falsificado em nosso país; nosso sistema eleitoral é uma farsa; não temos partidos verdadeiros e nos faltam políticos modelares. Temos, portanto, uma classe política abertamente antidemocrática que usurpa à soberania popular para chegar ao poder e, ato contínuo, fatiar o governo entre peças de uma robusta engrenagem delitiva, fazendo da corrupção a corrente sanguínea de um sistema feito para saquear as riquezas de nosso país.
         Com o desenvolvimento assistemático dos mercados, o macrocapitalismo globalizado acabou por penetrar nas estruturas internas do poder e, mediante negócios espúrios, veio a comprometer a necessária paridade de armas, lisura e a livre concorrência entre os agentes econômicos. A aliança defectiva entre a política e o alto capital criou aquilo que o pensamento crítico de Sheldon Wolin chamou de inverted totalitarism – um sistema político-econômico intrinsecamente corrupto, feito para beneficiar os inquilinos do poder e seus influentes amigos de ocasião. Consequentemente, acabamos sem uma democracia autêntica em um capitalismo despido de preceitos éticos.
         Em um campo aberto sem fronteiras morais firmes e determinadas, a subterrânea institucionalização de um mecanismo ilícito de propinas e subornos acaba por tornar democracia representativa uma grande mentira venal. Objetivamente, com congressistas consorciados a corruptores, o exercício da representação popular perde a necessária imparcialidade, independência e impessoalidade que fundam o espírito republicano superior. Os parlamentos, então, viram um bordel político, regados por dinheiro sujo em favor de prazeres inconfessáveis.
         No cair das máscaras, os parlamentares corruptos não são políticos, mas meros jagunços do poder econômico hegemônico; por sua vez, os empresários corruptos, ao invés de capitalistas liberais, não passam de agiotas da ilicitude desbragada. Sim, enquanto as aparências enganam, a roleta do poder diverte muita gente. Todavia, quando as cortinas, o sol começa a nascer quadrado para alguns tidos e havidos por intocáveis. E isso é uma mudança substantiva em nosso país.
         Por tudo, os impressionantes fatos desnudados pela Operação Lava-Jato estão disponíveis aos olhos de todos; só não vê quem não quer ou quem tem algum interesse a justificar uma cegueira bandida. Felizmente, contra uma política decadente, surge uma promissora, mas ainda tímida cidadania ascendente. Aqui, reside a nossa esperança. Enquanto houver a bravura de cidadãos de bem, a democracia seguirá sendo uma possibilidade pulsante. E o pulso há de ser nosso, pois eles apenas querem corromper o Brasil.
         A democracia autêntica faz do cidadão um sujeito, e não um objeto da política. E só é um sujeito de verdade quem assume as intransferíveis responsabilidades de sua vida. A independência democrática, antes de um direito, é um sentimento vivo que não sabe calar para as injustiças e para os abusos de uma cleptocracia indecente. Essa luta não é, nunca foi e jamais será fácil. Mas é o triunfo sobre os incontornáveis enfrentamentos da vida que nos torna livres daquilo que nos oprime. Ou será recompensador viver como um subserviente fantoche do poder?”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em fevereiro/2017 a ainda estratosférica marca de 481,46% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 326,96%; e já o IPCA em março, no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 4,57%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 946,4 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        
 

           
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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A CIDADANIA, A ÉTICA DO SUCESSO E A FORÇA DA CONVERSA

“A ética do sucesso: todo respeito à diversidade
        
          O sucesso tornou-se imposição cultural. O fracasso se execra. Ao êxito se associa a euforia, a alegria, a felicidade. Ao insucesso, a depressão, o abatimento, a tristeza. Então se levanta no horizonte a luz fulgurante do triunfo a atrair-nos todo o tempo. Ela ilumina-nos o cotidiano de modo que não permanece nenhum rincão escuro sem que não seja penetrado por ela.
         Ao exercer tanto fascínio sobre nós,  esquecemos facilmente qualquer outra circunstância que envolva a vontade de sair-nos bem. No cotidiano acontece que não raro o nosso êxito se constrói à custa do fracasso do outro ou, pelo menos, em cima dele. As vitórias trazem a sequela da derrota do adversário. As manchetes vivem a contrapor tal jogo. Que digam os atleticanos e cruzeirenses.
         As crianças, bem pequeninas, experimentam já a disputa em busca do sucesso, desde a frequência de melhor escola até nas avaliações escolares. Tudo se mede a partir da escala de rendimento. À medida que se cresce e se entra na selva de competições, a força do êxito se faz maior. Não há limite para há limite para tal campo: vida profissional, vida afetiva, vida social, vida familiar. Tudo se mede pela hierarquia milimétrica das vitórias, dos triunfos.
         Sob o olhar da ética, o quadro se modifica. Em vez do próprio sucesso, surge outra pergunta: para que e para quem ele traz vantagens ou desvantagens? E, a partir daí, se julga o valor de tal desejo e realização. Existem triunfos que nos conduzem à arrogância, a julgar-nos superiores aos outros e assim a agir. Nada nos faz romper a barreira ética da igualdade fundamental de todos os seres humanos a ponto de considerarmos outros inferiores. Além do mais, há mistério nas pessoas  que não nos permite entendê-las totalmente, mesmo quando lhes detectamos comportamentos repreensíveis. Elas são mais que os próprios atos. Ninguém se identifica totalmente com determinado agir, nem para bem, nem para mal.
         Atravessa todas as ações humanas certa ambiguidade no jogo de bem e mal. Naturalmente,  não na mesma medida, mas o suficiente para tirarmos da ocular o juízo peremptório sobre nós mesmos e sobre os outros. A ética aproxima-nos do respeito à diversidade, aos problemas alheios que talvez lhes tenham provocado insucessos. E, mesmo os próprios triunfos se devem a tantas outras pessoas, circunstâncias independentes de nós e a dons recebidos. Atribuí-los ao esforço e ao mérito pessoal soa, não raro, pretensioso.
         A ética conduz-nos mais longe. Desperta-nos o sentimento de cuidado precisamente para aqueles aos quais a realidade tem reservado dificuldades, momentos difíceis e de malogros. Em vez de compararmo-nos com eles em tom de superioridade, conduz a atitude oposta de compreensão, ajuda e presença. O sucesso não merece ser considerado o valor decisivo da existência. Conta muito mais a proximidade com os desventurados a fim de animá-los em face do que lhes acontece. Abre-se-lhes então espaço de esperança e confiança não só em si, mas no valor transcendente que os habita. E a fé cristã traz acréscimo  à ética ao sinalizar que no fracassado da cruz Deus realizou a maior vitória para a humanidade: sua salvação e essa terminou na vida pela ressurreição.”

(J. B. Libanio. Teólogo, escritor e professor; padre jesuíta, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 25 de agosto de 2013, caderno O.PINIÃO, página 21).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de agosto de 2013, caderno PENSAR, página 2, de autoria de JOÃO PAULO, que é editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“Está faltando conversa
        
         A mais civilizada das artes é a conversa. Sem ela, o terreno está aberto para o exercício arbitrário do poder. Quem conversa sabe ouvir. Quem  não ouve só entende a linguagem da submissão. A política, deixando de lado as teorias, nada mais é que o território do diálogo. As pessoas conversam não apenas para concordar, mas fundamentalmente para deixas claras as divergências. Como dizia o saudável João da Ega, de Os Maias, de Eça de Queiroz, o desacato é condição do progresso. Sem um bom papo, nem a discórdia é possível e com isso não se avança.
         Por isso é preocupante o atual cenário de monólogos que não se misturam, de pessoas retiradas em células, em casulos eletrônicos nos quais trocam palavras apenas entre iguais. A anulação do debate e o reforço de preconceitos pelo assentimento do outro têm gerado um território inimigo da política. As pessoas que amam odiar a política estão satisfeitas com seus pares e espalham o anátema a quem pensa diferente.
         Os comentários cheios de ira que circulam na rede são a prova da solidão que se multiplica aos milhões. Sem precisar argumentar, sobram imprecações ou manifestações de poder discricionário. Ninguém que saber de debater, de ouvir e de realmente partilhar. No sítio defeso da internet, o outro é sempre ameaça.
         Essa sensação vem se espalhando de forma perigosa até mesmo em setores que têm história rica de democracia e sempre prezaram o jogo político. Como os músicos, por exemplo. Nos anos 1960, mesmo com grandes diferenças estéticas, artistas eram ponta de lança do projeto de fazer a sociedade pensar em seus rumos. Com isso, criaram-se correntes, movimentos e coletivos, que, mesmo apontando para horizontes distintos, tinham capacidade de diálogo e mobilização.
         Não é por acaso que, no Brasil, a música popular ocupe lugar tão destacado no nosso jeito de ser e pensar o país. O que os escritores representam em alguns lugares, como a França, cantores e compositores cumprem no nosso destino de nação. Gostamos de saber o que Chico e Caetano pensam de política, do rap, dos índios. Achamos que um bom samba retrata o país melhor que o cinema, por exemplo.
         O processo de redemocratização foi animado em comícios cheios de artistas populares. Canções como Pelas tabelas, que funde o destino pessoal com o processo mais amplo de criação do país, é uma espécie de síntese dos dois lados do coração brasileiro. As ruas cantam o que vai na alma. É por isso que os artistas, com sua mobilização, ajudaram a politizar o Brasil quando ele mais precisou.
         Mas está faltando conversa. A recente divisão da classe artística acerca do processo de arrecadação e distribuição de direitos autorais deixou de ser debate político para se tornar disputa de poder. Não é nada bom ver gente que sempre esteve do mesmo lado trocando ofensas por discordâncias que deveriam ser resolvidas na mesa. Não se trata de consenso, mas de conflito mediado por argumentos. Resumindo: de fazer política.
         Os artistas da música popular estão em pé de guerra. Por trás disso não se vê o estatuto da criação, mas de que forma ela pode render mais, ainda que não para todos. Na verdade, o jogo de interesses impede o diálogo. Ainda que alguns apontem que a divisão se dá entre concepções modernas e atrasadas de direito à propriedade e tecnologia, o que se observa é a incapacidade de se colocar no lugar do outro. Os músicos não estão em harmonia.
         Neste momento em que a sociedade parece descrer da política e a juventude procura formas mais imediatas de inserção no jogo público, os músicos não podem representar o que eles mesmos ajudaram a superar: a arrogância dos que estão, por algum motivo, próximos do poder político e econômico. A MPB foi uma escola de participação para muita gente. Não pode perder essa marca e criar cisões que não valorizam ninguém.

SEM TEMPERANÇA A mesma sensação de falta de diálogo escorreu da discussão entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e o ministro Ricardo Lewandowski. Por uma discordância em torno de questão técnica, Barbosa acusou o colega de fazer chicana, o que, no repertório jurídico, é ofensa grave. O mal-estar cresceu com a recusa do presidente em se retratar no momento da ofensa, o que significa confirmar a intenção injuriosa.
         Não se trata de temperança que deveria dirigir as ações dos magistrados, mas, novamente, da incapacidade de dialogar. As diferenças entre os dois, que se traduzem em concepções jurídicas e políticas distintas em torno da arrastada Ação Penal 470, anularam não apenas o argumento do outro, mas sua pessoa integral.
         O fato de a corte simbolizar para os brasileiros o ápice do sistema em que as divergências devem ser dirimidas à luz da lei torna a situação ainda mais preocupante. Quando não pode apelar para o Supremo, por sua incapacidade de superar conflitos que parecem ter inspiração mais psicológica que política, o cidadão perde a referência do universal que sustenta a lei.
         Pode-se argumentar que Barbosa, com sua incontida inclinação para responder de bate-pronto, esteja inaugurando um momento menos hipócrita, que se traduziria, com o tempo, em ambiente mais transparente e verdadeiro. A se louvar  em seu destempero o fato de não duplicar a moral entre a conveniência de um lado e a lei de outro. Ele não falaria pelas costas, o que é uma vantagem.
         No entanto, em política – e é disso que se trata – até a raiva precisa ser democrática. Se apenas o presidente tem o direito de ofender, cria-se um regime de tirania. Se há um lugar em que falar e ouvir não deveria ser contido pelo relógio, esse espaço é a corte. Assim como os chefes indígenas, que falam sem se preocupar em serem ouvidos, os ministros precisam fazer a palavra circular. Eles são portadores.
         Esses fatos, sintomas da falta de conversa, podem afetar, e muito, o tempo político que se avizinha. Não podemos cair no cinismo de que a política não serve para nada e de que nesse campo todos são iguais. Não são. E é para não chafurdar no pântano da alienação satisfeita que os donos da voz precisam voltar às origens e fazer do papo a concretização, na arena política, daquilo que é a amizade na vida privada.
Só a conversa pode nos salvar.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
  
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
    
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, isto é, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (por exemplo, informa-nos a mídia: “o efeito multiplicador da corrupção faz com que cada R$ 1 desviado represente R$ 3 de perda para a sociedade”); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
  
    c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projeto do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações,  da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...