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sexta-feira, 23 de maio de 2014

A CIDADANIA E OS DESAFIOS DA NOVA LIDERANÇA E DOS PRECONCEITOS

“O líder e a atual encruzilhada humana
       
          Estamos vivendo uma era de transformações. A realidade do mundo moderno, as inovações tecnológicas e as mudanças nos padrões culturais e sociais estão alterando sensivelmente as relações do ser humano com seu ambiente familiar e corporativo.
          Antes vivíamos conectados com a natureza, a terra, a água, as coisas que nos faziam bem. Hoje estamos, durante todo o tempo, conectados a um smartphone e a internet, compartilhando individualidades, em uma busca desenfreada pela exposição e com um sentimento de competição. Por fim, fica a sensação de que o dia foi insuficiente para resolver todas as nossas tarefas.
          Nossos amigos agora são virtuais; compartilhamos mensagens em vez de emoções. Pergunto-me se e pergunto-lhes será esse o caminho para o desenvolvimento da humanidade. Se a informação por si só nos levasse a bons lugares, estaríamos vivendo no paraíso. Entretanto, as pessoas estão cada vez mais querendo disputar e demonstrar um status econômico e social. Isso faz com que elas sofram dentro do ambiente corporativo.
          Sabemos que uma organização se faz com a união de pessoas focadas em trabalhar, se organizar e ganhar dinheiro, pois necessitam satisfazer suas necessidades pessoais e econômicas. Nesse ambiente, a palavra solidariedade deve caminhar junto à competitividade e, infelizmente, não é o que observamos atualmente. As pessoas, cada vez mais, tem visto seus colegas de trabalho como concorrentes ou ameaças. Isso gera um sofrimento por estresse, doenças psicossociais ou até físicas e apatia no trabalho. Elas vivem a segunda-feira como um martírio e terminam a sexta-feira como se estivessem saindo de uma prisão.
          De acordo com pesquisa realizada pela International Stress Management Association, no Brasil, quase metade dos profissionais, hoje, está apresentando sintomas de estresse. E o trabalho é a principal causa disso. Ainda segundo a pesquisa, quase 71% das pessoas entrevistadas apontaram a falta de tempo, as relações e o excesso de tarefas como causas primordiais do estresse.
          Diante desse cenário sem perspectivas de mudanças em curto prazo, a figura do novo líder desponta como fator transformador dentro das organizações e na sociedade. Grandes líderes sempre motivaram grandes mudanças movendo as pessoas e as nações pela inspiração, pelo exemplo e pelas atitudes.
          Segundo o físico quântico indiano Amit Goswani, em seminário recente no Brasil, o novo líder deve basear-se no princípio de amor no cérebro, liberando o medo e a necessidade de controle, para deixar a intuição influir. O papel do novo líder é esse. Motivar, transformar ambientes corporativos, defender e proteger o meio ambiente, zelar pelos valores éticos e morais; ser uma vela sempre acesa, inspirando a transformação em outras pessoas. E para isso, é preciso investir fundo no autoconhecimento.
          Um verdadeiro líder precisa, antes de tudo, alcançar a liderança de sua própria vida, para depois seguir como exemplo de transformação. O exemplo de Nelson Mandela como um líder, que passou por um processo profundo de autoconhecimento durante seu exílio e prisão mostrou como ele ficou depois disso, preparado para conduzir uma revolução no seu país e promover mudanças que repercutiram em todo o mundo. Essa é a encruzilhada atual da humanidade. Ou investimos nesse caminho de autoconhecimento, estando preparados para as mudanças necessárias, ou ficamos reféns dos modelos mentais coletivos, correndo o risco de passar a vida sem deixar um legado.”

(GLAUCUS PASSOS BOTINHA. Diretor do grupo Selpe Recursos Humanos e diretor da Associação Comercial e Empresarial de Minas, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de maio de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 21 de maio de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, escritor, autor de A obra do artista – uma visão holística do Universo (José Olympio), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Preconceitos
       
          García Márquez, em Doze contos peregrinos, conta a história de um cachorro que, todos os domingos, era encontrado no cemitério de Barcelona, junto ao túmulo de Maria dos Prazeres, uma ex-prostituta.
          Com certeza se inspirou nas histórias reais de Bobby, um terrier de Edimburgo, Escócia, que durante 14 anos guardou o túmulo de seu dono, enterrado em 1858. Pessoas comovidas com a sua fidelidade cuidavam de alimentá-lo. O animal foi sepultado ao lado e, hoje, há ali uma pequena escultura dele e uma lápide, na qual gravaram: “Que a sua lealdade e devoção sejam uma lição para todos nós”.
          Em Tóquio, ergueram também uma estátua na estação Shibuya, em homenagem a Hachiko, cão da raça Akita que todos os dias ali aguardava seu dono retornar do trabalho. O homem morreu em 1925. Durante 11 anos o cachorro foi aguardá-lo na mesma hora em que costumava regressar. Hoje, a estação tem o nome do animal.
          Cães e seres humanos são mamíferos e, como tal, exigem cuidados permanentes, em especial na infância, na doença e na velhice. Manter vínculos de afeto é essencial à felicidade da espécie humana. A Declaração da Independência dos EUA teve a sabedoria de incluir o direito à felicidade, considerada uma satisfação das pessoas com a própria vida.
          Pena que atualmente muitos estadunidenses considerem a felicidade uma questão de posse, e não de dom. Daí a infelicidade geral da nação, traduzida no medo à liberdade, nas frequentes matanças, no espírito bélico, na indiferença para com a preservação ambiental e as regiões empobrecidas do mundo.
          É o chamado “mito do macho”, segundo o qual a natureza foi feita para ser explorada, a guerra é intrínseca à espécie humana, como acreditava Churchill; e a liberdade individual está acima do bem-estar da comunidade.
          O darwinismo social é uma ideologia cujos hipotéticos fundamentos já foram derrubados pela ciência, em especial a biologia e a antropologia. Basta ler os trabalhos do pesquisador Frans de Waal, editados no Brasil pela Companhia das Letras. Essa ideologia foi introduzida na cultura ocidental pelo filósofo inglês Herbert Spencer, que no século 19 deslocou supostas leis da natureza, indevidamente atribuídas a Darwin, para o mundo dos negócios. John D. Rockfeller chegou ao ponto de atribuir à riqueza um caráter religioso ao afirmar que a acumulação de uma grande fortuna “nada mais é que o resultado de uma lei da natureza e de uma lei de Deus”.
          Na natureza há mais cooperação que competição, afirmam hoje os cientistas. O conceito de seleção natural de Darwin deriva de sua leitura de Thomas Malthus, que em 1798 publicou um ensaio sobre o crescimento populacional. Malthus afirmava que a população que crescer à velocidade maior que o seu estoque de alimentos seria inevitavelmente reduzida pela fome.
          Spencer agarrou essa ideia para concluir que, na sociedade, os mais aptos progridem à custa dos menos aptos e, portanto, a competição é positiva e natural. E os que são cegos às verdadeiras causas da desigualdade social alegam que a miséria decorre do excesso de pessoas neste planeta, e que medidas rigorosas de limitação da natalidade devem ser aplicadas.
          Nem Malthus nem Spencer colocaram uma questão muito simples que, em dados atuais, merece resposta: se somos 7 bilhões de seres humanos e, segundo a FAO, produzimos alimentos para 12 bilhões de bocas, como justificar a desnutrição de 1,3 bilhão de pessoas? A resposta é óbvia: não há excesso de bocas, há falta de justiça.
          Quanto mais são derrubadas barreiras entre classes, hierarquias, pessoas de cor de pele diferente, mais os privilegiados e seus ideólogos se empenham em busca de possíveis justificativas para provar que, entre humanos, uns são naturalmente mais aptos que outros.
          Outrora, os nobres eram considerados uma espécie diferente, dotada de “sangue azul”. Como quase não tomavam sol e tinham a pele muito branca, as veias das mãos e dos braços davam essa impressão.
          Com a Revolução Industrial, gente comum se tornou rica, superando em fortuna a nobreza. Foi preciso então uma nova ideologia para tranquilizar aqueles que galgam o pico da opulência sem olhar para trás. “Que o Estado e a Igreja cuidem dos pobres”, insistiam eles. E tão logo o Estado e A Igreja passaram a dar atenção aos pobres (e é bom frisar, sem deixar de cuidar dos ricos, que o digam o BNDES e a Cúria Romana), como no caso do Estado de bem-estar social, do socialismo e da Teologia da Libertação, os privilegiados puseram a boca no trombone, demonizando as políticas sociais, acusadas de gastos excessivos, e a “opção pelos pobres” da Igreja.
          Preconceitos e discriminações não nascem na natureza. Brotam em nossas cabeças e contaminam as nossas almas.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)    a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos (por exemplo, os sempre crescentes congestionamentos especialmente nas regiões metropolitanas...);

     c)    a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais particularmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...